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CONTRATOS ALEATÓRIOS

11. Princípio da Eficiência do Mercado

Do princípio da eficiência do mercado podemos retirar quatro elementos importantes, a saber: o providenciar de maior proteção para os investidores, maior cuidado com os produtos financeiros complexos, mais transparência e maior equidade e equilíbrio na relação jurídica entre o intermediário financeiro e os investidores.

162 Carlos Ferreira de Almeida, “Relações de Clientela na Intermediação de Valores Mobiliários”, in DVM,

No que concerne a proteção dos investidores, enquanto intervenientes nos mercados financeiros, podem ser entendidos como entidades com capital, com disponibilidade financeira para, confortavelmente, investir nos mais diversos produtos financeiros disponíveis no mercado de valores mobiliários, com maior ou menor adversidade ao risco que lhes é inerente, tendo sempre como finalidade a obtenção de lucro ou de uma mais valia, a curto ou a longo prazo. Na verdade, não é possível conceber a ideia de um mercado de valores mobiliários sem a figura dos investidores, uma vez que é através do capital investido por estes que o fluxo monetário circula nos mercados, são, permita-se a analogia, o um motor do mercado. Por isso, é possível ver aqui a relação íntima entre a proteção dos investidores e a defesa do mercado. Enquanto os investidores continuarem a investir, com confiança, o mercado permanece saudável.

Podemos encontrar referência à eficiência do mercado como uma das incumbências prioritárias do Estado, no artigo 81.º, al. f) da CRP, ou seja, para ser configurada nestes termos na própria Lei Fundamental, onde se pode ler que “Incumbe prioritariamente ao Estado no âmbito económico e social: (…) f) Assegurar o funcionamento eficiente dos mercados, de modo a garantir a equilibrada concorrência entre as empresas, a contrariar as formas de organização monopolistas e a reprimir os abusos de posição dominante e outras práticas lesivas do interesse geral” isto significa que existe um interesse de cariz público subjacente a este princípio. Esta norma parece chocar com os ‘ideiais-base’ da economia capitalista ocidental, inicialmente defendida por Adam Smith, na sua teoria da mão invisível, certo de que os mercados se Autorregulariam, não devendo existir, para isso, a intervenção do Estado.

Mas a importância do bom funcionamento dos mercados é tão elevada que não faria sentido excluir por completo a intervenção do Estatal163 . É, por isso uma tarefa

pública garantir a informação e a sua assimetria para que alcançar a eficiência dos mercados. Consideramos, portanto, na senda de Eduardo Paz Ferreira, que o princípio da eficiência do mercado é, sem sombra de dúvida, um princípio com finalidades de interesse público, logo este será o fim a prosseguir e o bem jurídico a proteger.

163 Eduardo Paz Ferreira, “A Informação no mercado de valores mobiliários”, Direito dos Valores Mobiliários, Volume III, Instituto dos Valores Mobiliários, Coimbra Editora, 2001, p. 137-169, p. 145

O dever de informação funciona em prol da preservação deste princípio. Paulo Câmara refere quatro finalidades do dever de informação, em que todas têm uma relação direta ou indireta com a proteção do mercado, são elas a proteção dos investidores, o robustecimento da governação, a defesa do mercado e a prevenção de ilícitos. Vejamos o que o Autor entende sobre cada uma delas.

Quanto às primeiras, as regras de deveres informativos funcionam como um instrumento de proteção dos investidores 164 . Os investidores considerados

individualmente, ainda assim, quando os investidores estão mais informados sobre os produtos financeiros, sobre os mercados, sobre os riscos ligados ao seu investimento, terão maior confiança no mercado. A confiança nos mercados é um fator de extrema importância na medida em que maior confiança significa mais e melhor investimento. Neste sentido, ainda que indiretamente, a proteção dos investidores através de uma política de implementação de deveres de informação, é fator instigador da confiança que aqueles depositam no mercado de valores, o que contribui para a sua fluidez.

Quanto ao robustecimento da governação, o Autor refere-se ao sistema de governação dos emitentes, uma vez que a maximização dos deveres de informação implica que os próprios emitentes sejam transparentes quanto às decisões, quanto aos valores mobiliários que emitem, quanto aos relatórios anuais ou informação semestral sobre o estado dos seus negócios vêm, que em muito “favorecem o efeito disciplinador do mercado de capitas”165.

No que diz respeito à defesa do mercado, os deveres de informação “salvaguardam o regular e eficiente funcionamento dos mercados. Com efeito, e em primeira linha, cumprem o objetivo de assegurar a uma igualdade de oportunidades na realização de decisões de investimento, para que a informação relevante seja acessível a todos em termos imediatos e paritários, contribuindo para a redução do risco de utilização de informação privilegiada. Além disso, a informação procura contribuir para uma adequada formação dos preços, através do estabelecimento dos alicerces necessários para que a

164 Paulo Câmara, Manual de Direito dos Valores Mobiliários, Almedina, 2016, 3ª Edição, p. 704 e 705 165 Paulo Câmara, Manual de Direito dos Valores Mobiliários, Almedina, 2016, 3ª Edição, p. 705

eficiência dos mercados seja assegurada normativamente, através de um amplo e eficaz conjunto de deveres informativos. A este desiderato legislativo subjazem razões económicas, na medida em que a obrigação de prestar informação ao mercado acaba por reduzir os custos que os investidores suportam na sua obtenção para a tomada de decisões de investimento. Paralelamente são reduzidos os custos de capital na obtenção de financiamento pelas empresas”166.

Por último, o Autor ainda menciona os deveres de informação como meio idóneo à prevenção de ilícitos de mercado, permitindo-se através dela a exposição de negócios de carácter fraudulento. A própria censura social às práticas ilícitas que vêm a ser reveladas ou publicitadas, desmotivam os agentes de mercado menos bem- intencionados167.

Como podemos verificar, o princípio da eficiência dos mercados, apesar de estar consagrado no artigo 304.º n. 1, do CVM, a verdade é que não se limita a à atividade do intermediário financeiro, mas é subjacente a todo o Direito dos Valores Mobiliários e vincula todos os intervenientes do mercado. A sua consagração naquele artigo, vem sublinhar a sua importância, em especial, para o intermediário financeiro, uma vez que é a figura central que medeia as forças da oferta e da procura no mercado de valores, pelo que os princípios e deveres que regem a sua atividade têm de se apresentar firmes e constantes, em prol da eficiência do mercado.

Aqui chegados, estamos em condições de afirmar que o artigo 304.º. n. 1 do CVM apresenta dois princípios com base em interesses antagónicos, o princípio da defesa dos interesses dos clientes e o princípio da defesa da eficiência do mercado, pelo que cumpre encontrar um ponto de equilíbrio entre eles. Entendemos que os intermediários financeiros devem proteger o interesse do seu cliente, sim, mas não ao ponto de ferir a eficiência do mercado. Este último, deve ser o foco da sua atividade de intermediação porque é um princípio transversal de não só a esta, mas a todo o universo que compõe o Direito dos Valores Mobiliários.

166 Paulo Câmara, Manual de Direito dos Valores Mobiliários, Almedina, 2016, 3ª Edição, p. 705 167 Paulo Câmara, Manual de Direito dos Valores Mobiliários, Almedina, 2016, 3ª Edição, p. 705 e 706