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“Os princípios simplesmente são e, portanto, preexistem às normas, fundamentando e justificando a ação, enquanto aquelas a dirigem na prática [...], os princípios refletem o estágio em que se encontra a ciência da contabilidade” (BASSO, 2011, p. 350).

Os princípios de contabilidade representam o núcleo central da própria contabilidade, na sua condição de ciência social, sendo a ela inerentes. Os princípios constituem sempre as vigas-mestras de uma ciência, revestindo-se dos atributos da neutralidade e veracidade, conservando validade em qualquer circunstância (BASSO, 2011, p. 349).

Os princípios são revestidos de universalidade e generalidade, elementos que caracterizam o conhecimento científico, justamente com a certeza, o método e a busca das causas primeiras.

O CRCRS (2011, p. 17) em disposto à Lei nº 750/93 art. 2º, estabelece que os princípios de contabilidade: “representam a essência das doutrinas e teorias relativas à ciência da contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso País”.

Os denominados Princípios Fundamentais de Contabilidade são macro regras para a política informativa patrimonial das aziendas ou entidades, baseados em doutrinas e teorias científicas, tendo por objetivos básicos uniformizar a terminologia, aproximar a imagem fiel do patrimônio e guiar as normas gerais reguladoras dos sistemas normativos (SÁ, 2000, p. 23).

“O critério hoje aceito pela maioria dos grandes expoentes da contabilidade é o de que os princípios devem apoiar-se em doutrinas e teorias e as normas devem apoiar-se em princípios” (SÁ, 2000, p. 16).

Figura 2: Conhecimento Racional e seu Processo Normativo.

Doutrinas e Teorias

Princípios de Contabilidade

Normas Brasileiras de Contabilidade

Fonte: Elaborado pela autora a partir do livro Princípios Fundamentais de Contabilidade (Sá 2000, p. 16).

A partir das doutrinas e teorias é que se deduzem os princípios e estes orientam as normas contábeis, pois, o cumprimento aos princípios representa condição de conformidade às normas contábeis, ou seja, os princípios são para as normas o que a constituição é para as leis de um país, ou ainda, as normas não podem contrariar os princípios (SÁ, 2000).

O CFC, como órgão normativo da atividade contábil do Brasil, em 1981 decidiu rever os denominados princípios de contabilidade geralmente aceitos, que resultou na publicação da Resolução CFC nº 530/81, instituindo os princípios fundamentais de contabilidade. Onze anos depois, em decorrência de uma avaliação dos mesmos, instituiu novos princípios, totalizando então, em sete princípios fundamentais de contabilidade, regidos pela Resolução CFC nº 750/93 (BASSO, 2011).

Após a reformulação da contabilidade societária em decorrência da vigência das leis nº 11.638/07 e nº 11.941/09, estão organizados em seis, chamados de princípios de

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contabilidade, revogado, o princípio da atualização monetária pela Resolução CFC nº 1.282/10.

Os princípios da contabilidade são: 1. Entidade

2. Continuidade 3. Oportunidade

4. Registro pelo valor original 5. Competência

6. Prudência

Eles devem ser obrigatoriamente observados no exercício da profissão contábil, para registro dos fatos contábeis e elaboração das demonstrações contábeis, prevalecendo à essência sobre a forma, com o objetivo de tornar as informações uniformes, confiáveis e úteis para os seus usuários.

“A inobservância dos princípios de contabilidade constitui infração às alíneas “c”, “d” e “e” do art. 27 do Decreto-Lei n° 9.295/46 e, quando aplicável, ao Código de Ética Profissional do Contabilista” (CRCRS, 2011, p. 21).

1. Princípio da Entidade

O princípio da entidade reconhece o patrimônio como objeto da contabilidade, onde o patrimônio da entidade jamais se confunde com o dos sócios.

Conforme o CRCRS (2011) em disposto à Lei nº 750/93, art. 4º, o patrimônio pertence à entidade e nela deve haver a diferenciação de um patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes do patrimônio da entidade.

“O que a Resolução fixa, portanto, como bases, são as seguintes razões: a entidade é autônoma; o patrimônio da entidade é objeto da ciência contábil e não se confunde com aquele de seus proprietários; e o patrimônio é parte da entidade” (SÁ, 2000, p. 56).

Como por exemplo, observa-se uma ação trabalhista, onde deve ser proposta pelo empregado contra a entidade, e não contra seus sócios.

2. Princípio da Continuidade

O princípio da continuidade reconhece que a entidade existirá infinitamente, onde, este princípio deixará de existir se cessarem total ou parcial as atividades da entidade.

Conforme o CRCRS (2011, p. 18) em disposto à Lei nº 750/93, art. 5º, “pressupõe que a entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância”.

“Tal princípio baseia-se na premissa de que as demonstrações contábeis devem identificar o estado especial pelo qual a empresa passa e, não o fazendo, é de supor-se que a atividade continua normalmente e não tem intenções de paralisar” (SÁ, 2000, p. 79).

Como exemplo, pode ocorrer de haver contrato ou lei, que determinam o prazo de duração da entidade, ou de as evidências nos levarem à conclusão de que ela não continuará a desenvolver suas operações por muito tempo.

3. Princípio da Oportunidade

O princípio da oportunidade determina que os registros contábeis sejam feitos no momento em que ocorrem, imediatamente e de forma integral.

Conforme o CRCRS (2011, p. 19) em disposto à Lei nº 750/93, art. 6º, “este princípio refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas”.

“Tal princípio preocupa-se com a matéria relativa ao registro contábil e com as caracterizações precisas das dimensionalidades relativas aos diversos fatos patrimoniais” (SÁ, 2000, p. 97).

Um exemplo é o registro da depreciação, onde o tempo de vida útil de um bem é baseado numa hipótese mais ou menos fundamentada tecnicamente e dependente de diversos fatores aleatórios. Apesar disso, a depreciação deve ser registrada no momento em que há a perda de valor do bem.

4. Princípio do Registro pelo Valor Original

O princípio do registro pelo valor original determina que os registros da contabilidade devem ser feitos pelos valores originais das transações (BASSO, 2011).

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Conforme o CRCRS (2011, p. 19) em disposto à Lei nº 750/93, art. 7º, “determina que os componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional”.

Para este princípio apresentam-se as seguintes bases de mensuração, as quais são usadas e combinadas de diferentes formas: (Resolução CFC nº 1.282/10).

Custo histórico: Os ativos são registrados desembolsados no presente ou no futuro em

caixa ou equivalente de caixa pelo valor justo na data de aquisição. Já os passivos pelos valores de recursos recebidos em troca da obrigação, ou pelos valores de caixa ou equivalente que serão necessários para liquidar o passivo.

O custo histórico apresenta as seguintes variações:

Custo corrente: Os ativos são reconhecidos pelos valores de caixa ou equivalentes de

caixa, os quais deveriam ser pagos se fossem adquiridos na data de levantamento das demonstrações contábeis. Os passivos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, necessários para liquidar a obrigação na data de levantamento das demonstrações contábeis;

Valor realizável: Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes

de caixa, que poderiam ser obtidos na venda. Os passivos são mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, que seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da entidade;

Valor presente: Os ativos são reconhecidos pelo valor presente de entrada líquida de

caixa que se espera ser gerado no curso normal das operações da entidade. Os passivos reconhecidos pelo valor presente, do fluxo futuro de saída líquida de caixa que será necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da entidade;

Valor justo: É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre as partes dispostas a transação sem favorecimentos; e

Atualização monetária: Os impactos de mudança do poder aquisitivo da moeda

nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento formal dos valores dos componentes patrimoniais.

O referido princípio “cuida da formação e da conservação do valor, aceitando o misto conceitual de valor histórico e valor ajustado ou competente para espelhar proximidade com a atualidade” (SÁ, 2000, p. 117).

No caso de aquisição de um ativo, por exemplo, deve-se adotar o seu custo histórico para efeito de registro, ou seja, o valor pago ou a pagar em dinheiro ou o valor justo dos recursos a serem transferidos ao fornecedor na data da aquisição.

5. Princípio da Competência

O princípio da competência determina que as despesas e receitas devem ser contabilizadas no momento da sua ocorrência, independente do recebimento ou pagamento.

Conforme o CRCRS (2011, p. 21) em disposto à Lei nº 750/93, art. 9º, “determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento”.

“O princípio tem como fundamentos: a temporalidade de receita e despesa; a correlação entre receita e despesa; e a independência entre sistema de resultado e sistemas outros” (SÁ, 2000, p. 172).

Por exemplo, realizada a receita da venda de mercadoria ou da prestação de serviços, devem ser consideradas incorridas, simultaneamente, as despesas relativas aos custos das mercadorias vendidas ou serviços prestados.

6. Princípio da Prudência

O princípio da prudência especifica que entre duas alternativas igualmente válidas, seja adotado o menor valor para os bens e direitos e o maior valor para as obrigações e exigibilidades, portanto, a que apresentará um menor Patrimônio Líquido.

Conforme o CRCRS (2011, p. 21) em disposto à Lei nº 750/93, art. 10º, “pressupõe certo grau de precaução no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade”.

Por exemplo, se a companhia é acionada judicialmente, isso não é suficiente para seu contabilista constituir provisão. Com base na avaliação de casos semelhantes, caso se conclua que a Justiça tende a dar ganho de causa para a empresa, não deverá ser lançada provisão.