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2 EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO AMAZONAS:

2.3 PESQUISA DE CAMPO: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS EVADIDOS DO ANO DE

2.3.2 Principais achados do estudo

Foi constatado no momento inicial desse estudo um alto índice de evasão nas três escolas que atendem à Educação de Jovens e Adultos e que estão vinculadas a Coordenadoria Distrital 3. Por meio de consulta ao Sigeam identificou-se entre os alunos que deixaram de frequentar e aqueles que foram submetidos a reprovações, um contingente de alunos que se matricularam na EJA no ano de 2014, e que por motivos diversos não concluíram o ano letivo, tampouco

voltaram a se matricular nas redes Municipais e Estaduais de ensino da Capital que oferecem a referida modalidade de ensino.

Ao analisar isoladamente a realidade de cada escola pesquisada percebeu-se que na escola A houve um percentual de evasão de 42% no EF (de 165 alunos matriculados, 70 evadiram). Já no EM dos 160 alunos matriculados, 35 evadiram.

Dentro da escola B de um quantitativo de 165 alunos matriculados no EF 62 evadiram, o que equivale a uma perda de aproximadamente 37%. No EM o percentual ampliou para quase 40%, dos 179 matriculados, 70 deles evadiram. Porém, convém destacar que dentro das análises das informações obtidas dentro da escola B constatou-se um quantitativo elevado de alunos reprovados (73 EF e 49 EM).

No contexto da escola C a evasão atingiu tanto os alunos do Ensino Fundamental quanto do Ensino Médio, 166 alunos matriculados no EF, 90 evadiram (atingindo um percentual superior a 50%) e no EM de 191, 40 não voltaram a se matricular na EJA nos anos consecutivos, caracterizando aproximadamente 20% de evasão.

Nas três escolas, A (EF 42% e EM 21%), B (EF 37% e EM 40%) e C (EF 54% e EM 21%), o percentual de evasão foi significativo, e os motivos apresentados pelos alunos evadidos para tais evidências foram variados, envolvendo fatores internos e externos à escola.

Com relação ao perfil dos alunos, o primeiro elemento constatado foi a diferença de faixa etária, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio. Nas escolas A e B, no EF, os alunos entre 21 a 30 foram os que mais evadiram, enquanto que na escola C, houve maior evasão entre os alunos com até 20 anos de idade. Dentre os alunos do Ensino Médio, o maior quantitativo de alunos evadidos, nas três escolas observadas, ocorreu entre os alunos de 21 a 30 anos.

Quanto a situação de moradia, os alunos que participaram do estudo apresentam um realidade econômica vulnerável, já que apenas 13 deles possuem casa própria, de um universo de 109 alunos. Os demais precisam pagar aluguéis (51 alunos) ou viver em espaços cedidos (45 alunos) pelos parentes. Eles compartilham a moradia com várias pessoas (50 alunos moram com até 4 pessoas, 48 alunos moram com até oito pessoas, 04 alunos moram com até dez pessoas e 7 deles moram sozinhos).

O tipo de moradia está diretamente relacionada com a situação socioeconômica que vivem os alunos e seus respectivos familiares, pois esses sujeitos educativos possuem responsabilidades quanto à geração de renda para manutenção própria e de seus dependentes financeiros. De modo que, a busca pela inserção no mercado de trabalho continua sendo algo extremamente almejado pelos alunos, que enfrentam em seu cotidiano, situação de desemprego

(44 alunos), e a responsabilidade em amparar economicamente as pessoas com quem reside (65 alunos). Nesse mesmo contexto, percebeu-se que o desemprego também impacta a realidade econômica dos demais familiares do aluno, dificultando ainda mais os fatores relacionados a sobrevivência.

Os alunos participantes do estudo, independente do estado civil (57 solteiros, 40 casados e 12 sem relação oficializada) possuem a responsabilidade em ajudar na manutenção da família, mesmo apresentando situações de desemprego pessoal (44 alunos) e de seus familiares, mesmo trabalhando várias horas diárias (38 alunos não possuem jornada fixa), no comércio (25 alunos), em atividades informais, não ultrapassam a renda mensal de três salários mínimos.

Assim, destaca-se que essa busca pela sobrevivência não se estabeleceu somente na fase adulta, pelo menos 101 alunos de um total de 109, começaram a trabalhar antes dos 18 anos de idade, para auxiliar o sustento familiar ou ser independente. Nenhum deles buscou o campo de trabalho precocemente para investir em sua educação.

Mesmo tendo sua trajetória estudantil interrompida, em decorrência de fatores externos à escola, os alunos demonstraram interesse em dar continuidade aos estudos (60 alunos), ampliar sua aprendizagem (14 alunos), outros enfatizaram a necessidade de conseguir um emprego melhor (29 alunos), ou até mesmo auxiliar seus filhos ou netos nas atividades escolares (06 alunos).

Porém, muitas das vezes, a vontade em concluir os estudos não é suficiente para superar os elementos impeditivos que dificultam a permanência do aluno na escola. Esses sujeitos agora estão imersos em muitas outras responsabilidades como trabalho (69 alunos), família (17 alunos), problemas de saúde (14 alunos), cansaço (50 alunos), falta de segurança (24 alunos) e de recursos financeiros. Além de se deparar metodologias incompatível com a realidade dos alunos (02 alunos), o que dificulta o processo de aprendizagem, os professores eram despreparados e faltavam muito (10 alunos), ocorriam muitos conflitos entre professores e alunos (07 alunos), carga horária inadequada (14 alunos), a escola ficava longe suas residências (22 alunos) e não tinham dinheiro para pagar o transporte (15 alunos), ou até mesmo a diferença de interesses entre os alunos mais novos e mais velhos (23 alunos), ainda tinham que enfrentar a violência externa, etc.

Frente a essa realidade conflituosa entre demandas pessoais e a falta de condições em atender às exigências de mercado, muitos alunos acabam voltando ao espaço escolar, por considerar a escola o local propício para a conclusão de seu processo de aprendizagem, que deveria direcionar os alunos para estágios e empregos (20 alunos), bem como oportunizar cursos de capacitação (10 alunos). De um universo de 109 alunos respondentes do questionário,

incluindo as escolas A, B e C, nas etapas Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio, pelo menos 50 deles (aproximadamente 50%) afirmaram que a escola é um local de aprendizagem, enquanto outros informaram que seu papel está relacionado ao resgate da autoestima, realização pessoal, algo valorizado pela sociedade e, apenas 02 alunos (EM da escola B) fizeram associação da escola a um ambiente de reprovação.

Sobre os fatores internos, dos 109 alunos partipantes do estudos, 55 deles ao lembrarem das experiências vividas na EJA, recordaram de momentos de aprendizagem, outros ressaltam as amizades (14 alunos), relacionamentos (14 alunos), bem como momentos desagradáveis de preconceito (04 alunos) e punição (01 aluno). Além disso, houve alunos que destacaram o desinteresse (11 alunos) em permanecer no espaço escolar, a dificuldade em aprender (04 alunos) e o cansaço (06 alunos).

Quando indagados acerca das atividades diferenciadas desenvolvidas dentro dos contextos escolares, os alunos da escola A e B desenvolviam a maioria de suas atividades na sala de aula, somente a escola C utilizava quadra de esportes, biblioteca e laboratório como alternativas para a melhoria da aprendizagem dos alunos.

Diante dos achados desse estudo, convém destacar que a Educação de Jovens e Adultos tem a responsabilidade de oportunizar saberes aos sujeitos que não tiveram acesso ao conhecimento em idade considerada própria, em decorrência de fatores sociais e econômicos. Assim, a escola da EJA precisa se tornar um ambiente atrativo ao aluno, aliando o conhecimento pedagógico presente no currículo com práticas almejadas pelos alunos, como a busca por um emprego melhor. Essas informações e análises servirão de suporte e direcionamento para a elaboração do Plano de Ação Educacional (PAE), elaborado e apresentado no capítulo 3 dessa pesquisa.

3. PLANO DE AÇÃO EDUCACIONAL: MELHORIAS PARA COMBATER A EVASÃO NA