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PRINCIPAIS DIRETRIZES FORMATIVAS DAS SOCIEDADES OCIDENTAIS

SOBRE A UNIVERSIDADE

SOCIEDADES OCIDENTAIS E SEUS PROJETOS PEDAGÓGICOS PREDOMINANTES

3.2. PRINCIPAIS DIRETRIZES FORMATIVAS DAS SOCIEDADES OCIDENTAIS

Diante do exposto ao longo desse capítulo, pode-se constatar que a história da formação humana foi permeada por concepções de ideal de formação fortemente influenciadas pelos aspectos ou doutrinas da ideologia dominante em cada época. A educação do homem na família, na escola, na universidade ou instituição equivalente seguia as diretrizes orientadoras que caracterizavam seu projeto pedagógico, para buscar a formação do homem de acordo com o ideal forjado em cada concepção de sociedade, levando em conta com maior ou menor intensidade, em cada época ou região, a política, a vida social, a religião, a ciência, a informação e a tecnologia.

A Antiguidade Clássica, com seu ideal de homem belo, heróico, saudável, corajoso, vinculado à polis; a Idade Média, com sua religiosidade exacerbada, voltando todo seu potencial educativo para a salvação da alma; a Modernidade, com o iluminismo e a didática, disseminando a leitura e escrita, as escolas como lugar de aprendizado e a separação entre conhecimento e religião, voltada para a formação do homem, saudável, e culto, embora ainda carregado de uma religiosidade mais tolerante; a sociedade contemporânea, tida como sociedade do conhecimento e da informação, cujo projeto pedagógico aponta para a tecnização, embora ainda não se possa delinear com clareza.

O grande desafio está posto: qual o projeto pedagógico da Contemporaneidade? Na verdade, constitui tarefa extremamente árdua identificar quais as diretrizes formativas da sociedade dita Pós-moderna, entretanto, podem ser feitas algumas considerações na tentativa de elucidar um pouco esta questão. Iniciando pela observação de que a Pós-modernidade ainda não se apresenta como realidade para todos os países e nos países para todos os segmentos sociais, culturais e religiosos; em segundo lugar, algumas instituições responsáveis pela formação estão imbricadas nas características da sociedade moderna, notadamente as universidades, que vivenciam na atualidade projetos pedagógicos fortemente centrados na

concepção moderna. Contudo, a cidadania, o conhecimento e a competência profissional são pontos que podem ser ressaltados nesses projetos.

Enfim, foram extraídos dos textos pesquisados elementos que constituem a essência daquilo que se poderia caracterizar como projeto pedagógico, em cada sociedade estudada, apresentados, de forma sucinta, no Quadro 3.

Quadro 3 – Elementos do Projeto Pedagógico das Sociedades Ocidentais

Sociedade Período Localização

Geográfica Projeto Pedagógico Principais Diretrizes Antiguidade Clássica 440 a.C. – Séc. XI

Grécia Paidéia Formação do Homem

• Estética – busca da beleza • Arete (virtude) – heroísmo

guerreiro

• Aspiração à arete como valor

moral

• Inspiração na aristocracia • Significado Pedagógico do

exemplo

• Realização pela morte física do

herói

• Sofistas – virtude pelo saber

Formação do Cidadão

• Homem político

• Virtude – fortaleza, piedade,

justiça, prudência

• Realização – morte heróica pela

pátria

• Imortalidade – lembrado pela

sociedade como herói

• Educação popular – justiça e

trabalho

Medieval Séc.XI -

XVI

Europa Escolástica • Salvação da alma pela fé

• Intolerância religiosa • Formação do clero

• Castigos corporais como forma de

aprendizagem

• Religiosidade exacerbada • Fé como fonte do conhecimento • Poder centrado na Igreja católica

Moderna Séc. XVI -

XX

Europa Didática • Salvação da alma pelo

conhecimento

• Educação para todos

• Renascimento – volta às origens • Humanismo - negação da tradição

escolástica

• Iluminismo – predominância da

razão sobre a fé na busca do conhecimento

• Valorização da infância

• Aprendizado de forma agradável

Contemporânea Segunda

Metade do Séc. XX

Mundo Cidadania • Formação do cidadão

• Habilidades e competências

sociais e profissionais

• Informação

• Mundialização do conhecimento

Considerando a discussão acerca das diretrizes orientadoras da formação do homem nas sociedades ocidentais, fica evidenciado o modelo de racionalidade que está associado a cada época. Os grandes paradigmas do pensamento filosófico ocidental fundamentaram-se, inicialmente, no mito, no sobrenatural, na magia e na religião. A partir da modernidade, a consciência da razão humana como capaz de dar conta de todas as questões, por meio da relação sujeito (cognoscente) - objeto, ou paradigma da consciência ou do sujeito, trouxe um modelo de racionalidade subjacente, a que se poderia denominar racionalidade cognitivo- instrumental, com ênfase no domínio da natureza e da técnica: o homem precisa conhecer a natureza para dominá-la, libertando-se assim, de todos os medos e superstições em que se envolveu até o final da era medieval.

Entretanto, a pretensa liberdade do homem pela razão, trouxe consigo outros males, pois a compreensão de racionalidade passou a ser sinônimo de relação custo versus benefício, produtividade, domínio da técnica, e domínio do próprio homem. A sociedade contemporânea defrontou-se com o problema da escravidão do homem por outros homens em nome de um modelo de racionalidade pelo qual isso se torna possível.

A busca de um novo paradigma que ajude a dar conta dos problemas das relações entre os homens, especialmente aquelas ocorridas no mundo da educação e mais especificamente nas universidades, traz uma aproximação dos estudos desenvolvidos por Jürgen Habermas acerca do paradigma da comunicação ou da linguagem, que aponta para um modelo de racionalidade comunicativa, considerando que as relações ocorrem intersubjetivamente, possibilitando o conhecimento sobre a natureza, assunto a ser mais aprofundado no próximo capítulo

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL

Partindo-se da compreensão de que o projeto de uma instituição universitária é o produto de seu processo de planejamento institucional, foi possível observar, diante das considerações apresentadas no capítulo anterior, que a abordagem pedagógica não tem sido uma preocupação central desse processo. A predominância de uma racionalidade técnico- instrumental nas diretrizes emanadas do Ministério da Educação podem ser claramente identificadas no modelo de planejamento consolidado no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), anteriormente comentado.

Buscando fundamentar a afirmativa de que um projeto político pedagógico deverá ser o resultado do processo de planejamento universitário, serão abordadas no presente capítulo as categorias temáticas “projeto”, “pedagógico” e “político”, numa tentativa de aproximar a concepção do planejamento universitário de uma racionalidade fundamentada na intersubjetividade, possibilitando a compreensão do sentido da formação nas universidades federais e da educação enquanto ação social e conseqüentemente intersubjetiva, que tem no projeto político pedagógico um desafio em busca de novos caminhos para a universidade brasileira.

2.1. PLANEJAMENTO E PROJETO PEDAGÓGICO

Voltando ao tema central do presente trabalho que é o planejamento e sua vinculação com o projeto pedagógico, há que se considerar que projeto e planejamento são conceitos que estão intimamente imbricados. Quando a legislação educacional prescreve uma “proposta pedagógica” determina que se trabalhe com planejamento (GANDIN; GANDIN, 2002:21).

O vocábulo projeto, segundo Ferreira (1982, v.3, p.985,) vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que traz a idéia de lançar para a frente; formar, executar ou realizar algo no futuro; consiste em um plano, um empreendimento a ser realizado dentro de determinado esquema. É um esboço de uma obra a realizar, podendo tratar-se, por exemplo, de um projeto de estatuto, projeto de tese, projeto de lei, projeto gráfico.

O plano é o produto momentâneo do progresso pelo qual um sujeito seleciona uma cadeia de ações para alcançar seus objetivos. Em seu significado mais genérico, pode-se falar de plano de ação como algo inevitável na prática humana, cuja única alternativa é o domínio da improvisação.

Esse conceito genérico de plano não depende, por conseguinte, de sua pertinência a um sistema econômico-social determinado, mas do uso da razão na tomada de decisões. Sempre existe, porém, o perigo de confundir este processo com um cálculo determinado por leis científicas precisas, apoiado num diagnóstico objetivo da realidade.

O plano, na vida real, está rodeado de incertezas, imprecisões, surpresas, rejeições e apoio de outros sujeitos, tratando-se de uma ação social, uma interação, portanto intersubjetiva. Em conseqüência, seu cálculo é nebuloso e sustenta-se na compreensão da situação, ou seja, a realidade analisada na particular perspectiva de quem planifica. Eventualmente, este plano conduz à ação, de modo que pode-se dizer que o plano é uma mediação entre o conhecimento e a ação. Tal mediação, contudo, não se produz através de uma relação simples entre a realidade e as ciências, porque o conhecimento da primeira vai além do âmbito tradicional da segunda.

Planejamento, por sua vez, consiste no estudo prévio e detalhado de problemas inerentes a atividades que se quer desenvolver, compreendido como um processo histórico, trazendo marcas da produção e das circunstâncias em que foi construído. Significa um profundo conhecimento do objeto do processo de planejamento, tentando reduzir as incertezas do futuro, por meio de um plano. Desta forma, o planejamento é uma produção social (MATUS, 1993).

Diferentes correntes do pensamento organizacional indicam metodologias de planejamento, que buscam adequar-se às peculiaridades e características próprias de cada organização, de acordo com as suas finalidades: públicas, privadas, com ou sem fins econômicos. De acordo com Galbraith (2001, p.133), tem havido grande progresso no planejamento da organização, baseado no conhecimento dos últimos 25 anos, considerando-se que a pesquisa moderna sobre estruturas empresariais, foi iniciada provavelmente com o trabalho Strategy and Structure, de Chandler.

Na metade dos anos 60, foi introduzida a metodologia do Planejamento Estratégico mediante proposições do prof. Igor Ansoff, dos pesquisadores do Stanford Research Institute e dos consultores da McKinsey Consulting Co (ALDAY, 2000, p.10).

O termo strategos de origem grega, significava general. Posteriormente, passou a significar “a arte do general”, ou seja, as habilidades psicológicas e comportamentais com as

quais exercia seu papel. Ao tempo de Péricles (450 a.C.), passou a significar habilidades gerenciais (administração, liderança, oratória, poder). E, a época de Alexandre (330 a.C.), referia-se à habilidade de empregar forças para sobrepujar a oposição e criar um sistema unificado de governação global (MINTZBERG; QUINN, 2001, p.20).

Ainda de acordo com Mintzberg e Quinn (2001, p.22),

à medida que as sociedades cresciam e os conflitos se tornavam mais complexos, generais, estadistas e capitães estudavam, codificavam e testavam conceitos estratégicos essenciais até que um coerente corpo de princípios parece surgir. Entretanto, com poucas exceções, esses princípios mais básicos de estratégia estavam em vigor e registrados muito antes da era cristã.

Para definir estratégia podem ser destacados diversos autores da área de estudos organizacionais, dentre os quais alguns são citados a seguir.

Para Mintzber e Quinn (2001, p.21), “estratégias podem ser encaradas como afirmações a priori para orientar providências ou resultados a posteriori de um comportamento decisório real”.

Segundo Porter (2002, p.30-31),

estratégia é sinônimo de escolha. Portanto, agir estrategicamente é fazer escolhas, e consequentemente é deixar alguns clientes insatisfeitos para que outros possam verdadeiramente ficar contentes, objetivando sempre o melhor resultado econômico para a empresa.

Compreendendo o conceito de estratégia como a forma mais eficiente e eficaz de se alcançar o objetivo pretendido, tendo em vista o melhor resultado organizacional, há que se considerar um ênfase nos meios com vistas a um determinado fim, pressupondo nas entrelinhas o uso de poder, coerção ou cooptação ao invés do argumento comunicativo. O processo de planejamento adotado nas organizações privadas com fins econômicos, em sua maioria é do tipo estratégico, colocando-se por vezes a expressão planejamento como sinônimo de estratégia conforme se pode observar em Mintzberg e Quinn (2001), Porter (1999), Welch (1996), Ansoff, Declerck e Hayes (1990), Kaplan e Norton (1997).

Segundo Kotler (1975), “O Planejamento Estratégico é uma metodologia gerencial que permite estabelecer a direção a ser seguida pela Organização, visando maior grau de interação com o ambiente”. A direção engloba os seguintes itens: âmbito de atuação, macro- políticas, políticas funcionais, filosofia de atuação, macro-estratégia, estratégias funcionais,

macro-objetivos, objetivos funcionais. O grau de interação entre uma organização e o ambiente é variável, dependendo do comportamento estratégico assumido pela organização perante o contexto ambiental.

De acordo com Ansoff, Declerck e Hayes (1990, p.15),

planejamento estratégico consiste na análise racional das oportunidades oferecidas pelo meio, dos pontos fortes e fracos da empresa e da escolha de um modo de compatibilização (estratégia) entre os dois extremos, compatibilização esta que deveria satisfazer do melhor modo possível aos objetivos da empresa.

O planejamento estratégico diz respeito à formulação de objetivos para a seleção de programas de ação e para sua execução, levando em conta as condições internas e externas à empresa e sua evolução esperada. Também considera premissas básicas que a empresa deve respeitar para que todo o processo tenha coerência e sustentação. Entretanto, é necessário que se reconheça que nessa visão o planejamento é inspirado em um modelo de racionalidade técnica, que visa fins determinados e busca a melhor forma, para a organização, de atingi-los (OLIVEIRA, 2007).

Considerando-se a educação como um processo eminentemente social, portanto, uma interação, há que se compreender que o processo de planejamento educacional deve utilizar metodologias adequadas a essas instituições, que contemplem uma visão diferenciada do planejamento de atividades empresariais. Como conseqüência do processo educativo o seu planejamento é também uma interação, necessitando, portanto, de um conceito mais ampliado de razão que contemple a comunicação entre os sujeitos envolvidos e afetados de forma direta ou indireta pelo projeto ou plano em seu processo de construção e implementação.

2.2. EUCAÇÃO E PEDAGOGIA

A educação é parte integrante e essencial da vida do homem, existindo desde que houve seres humanos na face da terra. Possui diferentes representações ou funções no contexto da sociedade, notadamente como meio para o desenvolvimento humano, pois somente nas sociedades humanas existe um processo intencional educativo que corresponde à formação de identidades pessoais (educação dos filhos), à reprodução cultural (apropriação de saberes) e à integração social (cooperação). Entretanto, a aspiração generalizada por

educação, aponta também para a sua compreensão como um bem de consumo, um meio para a sobrevivência financeira e social.

Assim, por uma ou outra compreensão, pode-se afirmar que a sociedade em geral considera a educação como necessária e importante, reconhecendo-a como condição coadjuvante e fundamental para maior igualdade social, para o desenvolvimento econômico, científico, humano, cultural, político e tecnológico. Na visão de Pimenta e Anastasiou (2002, p.97), a educação é um processo de humanização, pelo qual se possibilita que os seres humanos se insiram na sociedade humana, historicamente construída e em construção, rica em avanços civilizatórios e, conseqüentemente, com imensos problemas de desigualdade social, econômica e cultural, de valores e de finalidade.

Severino (2001) destaca a educação como “práxis fecundada pela significação simbólica, resultante da atuação subjetiva”.

De acordo com Libâneo (2002, p.64),

educação compreende o conjunto dos processos, influências, estruturas, ações, que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e de grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais, visando à formação do ser humano. A educação é assim uma prática humana, uma prática social, que modifica os seres humanos nos seus estados físicos, mentais, espirituais, culturais, que dá uma configuração à nossa existência humana individual e grupal.

Luzuriaga (1963, p.1) afirma que, por educação, se pode entender a

influência intencional e sistemática sobre o ser juvenil com o propósito de formá-lo e desenvolvê-lo. Mas significa também a ação genérica, ampla, de uma sociedade sobre as gerações jovens, com o fim de conservar e transmitir a existência coletiva.

De acordo com Larroyo (1970, p.13) a palavra educação, do latim educare e no grego paidagogein, tem sentido humano e social. Caracteriza-se como um processo por obra do qual as gerações jovens vão adquirindo os usos e costumes, as práticas e hábitos, as idéias e crenças, ou seja, a forma de vida das gerações adultas. A educação alimenta-se da tradição cultural, porém cuida de refletir sobre esta a fim de superar o estado de cultura já alcançado.

A tarefa da educação é, portanto, garantir que os jovens se apropriem da riqueza da civilização, do instrumental científico, tecnológico e econômico, mas também do pensamento político, social e de desenvolvimento cultural, e dos problemas que essa mesma civilização

produziu. A educação retrata e reproduz a sociedade, mas também projeta a sociedade que se quer.

Pode-se então afirmar que a educação é um processo natural que ocorre na sociedade humana pela ação de seus agentes sociais como um todo, configurando uma sociedade pedagógica. Diversas situações podem exemplificar a presença do pedagógico na sociedade contemporânea, nas empresas e organizações públicas e notadamente nos instrumentos utilizados na mídia – rádio, televisão, jornais, revistas, vídeos - por intermédio dos quais podem ocorrer mudanças nos estados mentais e afetivos das pessoas, bem como no seu modo de pensar, disseminando saberes e modos de agir e de sentir (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p.64-65).

Apesar de a ação educativa encontrar-se disseminada na sociedade como um todo, isso não significa que os participantes desse processo tenham se apropriado dos estudos sistemáticos sobre educação realizados pela Pedagogia, que, na visão de Pimenta e Anastasiou (2002, p.65) tem por objeto de estudo a educação enquanto prática social.

De acordo com Therrien (2006c, p.298), educar, como processo intencional sistemático, implica tanto instrução, ou seja, propiciar o acesso ao domínio de conhecimentos teóricos e práticos, incluindo os simbólicos que a humanidade já produziu, bem como formação, que é criar condições para o emergir do sujeito cidadão, social, cultural, sob os aspectos político e profissional. Entretanto, a formação, dimensão mais complexa do ato de educar, é muitas vezes relegada a um segundo plano pelos educadores. O ato de instruir e educar envolve elementos que modelam e dirigem a prática docente, as suas intervenções interativas com o outro sujeito aprendiz. Esse núcleo constitui a dimensão pedagógica, sempre presente na prática educativa e que se encontra e se manifesta na postura do educador em relação à sua intervenção.

Conforme Libâneo (1998, p.22), Pedagogia é um campo de conhecimento sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se às finalidades da ação educativa, implicando objetivos sociopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa. O autor afirma (LIBÂNEO, 2002, p.59) que, em vários países europeus, a Pedagogia é reconhecida como ciência, mas em outros é substituída por “ciências da educação” ou tem seu conteúdo identificado com a didática.

a Pedagogia lida com o fenômeno educativo como expressão de interesses sociais em conflito na sociedade em que vivemos. É por isso que a Pedagogia expressa finalidades sociopolíticas, ou seja, uma direção explícita da ação educativa relacionada com um projeto de gestão social e política da sociedade. Dizer do caráter pedagógico da prática educativa é dizer que a Pedagogia, a par de sua caracerística de cuidar dos objetivos e formas metodológicas e organizativas de transmissão de saberes e modos de ação em função da construção humana, refere-se, explicitamente, a objetivos éticos e a projetos políticos de gestão social.

Libâneo e Pimenta (2002, p.29), afirmam ainda que a Pedagogia é uma reflexão teórica a partir e sobre as práticas educativas, que investiga os objetivos sociopolíticos e os meios organizativos e metodológicos de viabilizar os processos formativos em contextos socioculturais específicos. A Pedagogia é mais ampla que a docência, pois educação abrange outras instâncias além da sala de aula.

Luzuriaga (1963, p.2) conceitua Pedagogia como “reflexão sistemática sobre educação.” Para o autor, Pedagogia é a ciência da educação e por meio dela a ação educativa adquire unidade e deixa de ser um ato mecânico e rotineiro.

Schimied-Kowarzik (1983, apud LIBÂNEO, 2002, p.63), denomina a Pedagogia de

ciência da e para a educação, portanto, é a teoria e prática da educação. Tem um caráter ao mesmo tempo explicativo, praxiológico e normativo da realidade educativa, pois investiga teoricamente o fenômeno educativo, formula orientações para a prática a partir da própria ação prática e propõe princípios e normas relacionados aos fins e meios da educação.

Pode-se compreender que a Pedagogia, enquanto campo teórico da prática educacional, trata da teoria e ciência da educação e do ensino. A Pedagogia é formada por um conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um objetivo prático. Ou, ainda, Pedagogia é aquilo que se refere ao estudo dos ideais de educação, segundo uma determinada concepção de vida, e dos meios (processos e técnicas) mais eficientes para efetivar estes ideais.

A Pedagogia postula o educativo propriamente dito, embora a educação enquanto prática social constitua-se num fenômeno complexo, histórico, situado, que expressa as múltiplas e conflituosas determinações das sociedades humanas nas quais se realiza, necessitando, portanto, do aporte de outras ciências, como Sociologia, Psicologia, Filosofia,