2. O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA SÉRIE HELLPETS 19
2.3 PRINCIPAIS REFERÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA ARTE 42
Para as referências que influenciaram o processo de desenvolvimento da arte de Hellpets é preciso considerar os desenhos animados dos estúdios da Hanna-Barbera e da Cartoon Network do final dos anos 90, sobretudo as séries do animador Genndy Tartakovsky, ‘O laboratório de Dexter’,1996 e do animador Craig
McCracken, ‘As Meninas Superpoderosas’,1998 (Figura 16).
Observa-se algumas características desses cartuns referenciadas em Hellpets, como o colorido dos personagens, os grossos contornos e também, a
apropriação do estilo Chibi8, uma variação do estilo de desenho japonês mangá,
cuja proporção de todo o corpo do personagem equivale ao tamanho de sua cabeça, às vezes, até menos. Normalmente não é desenhado o nariz e os olhos são muito grandes. De acordo com Brenner (2007), o estilo Chibi é o mais expressivo estilo de mangá entre todos, pois é eloquente em representar emoções
com poucas linhas.
Este estilo de desenho tornou-se uma tendência nas animações dos anos 2000, não só na produção original dos estúdios Cartoon Network, mas em outros, como os norte-americanos Nickelodeon Animation Studios e Mondo Mini Shows, o sul-coreano Vooz e o nacional Fábrica de quadrinhos – Mundo Canibal, dos Irmãos
Piologos. É um estilo que funciona muito bem com softwares de animação vetorial.
Apesar de todas as influências citadas serem produzidas através de arte vetorizada, a arte de Hellpets não segue este estilo, mas é feita com desenho e colorização digital. A escolha por esta técnica foi pessoal da autora, de acordo com seu domínio da técnica. A arte foi embasada na técnica de desenho à mão, com o uso do computador apenas como ferramenta.
8 Em tradução livre da lingua japonesa, significa "baixinho". O estilo chibi é utilizado pelas
histórias em quadrinhos japonesas, mais conhecido com anime ou mangá. É um desenho com traços muito estilizados com cabeça bem grande ocupando metade do desenho, isto é, o tamanho da cabeça é igual à do corpo do personagem. Os aspectos do traço chibi caracterizam-se por serem bem simplificado onde quase não se desenha o nariz e a boca não é finalizada.
Figura 16: Personagens das animações ‘O Laboratório de Dexter’ e ‘As meninas superpoderosas’, dos estúdios Cartoon Network, 1996 e 1998
Fonte: www.catoonnetwork.pt.9
Além dos personagens, o cenário compõe a criação e tornou-se um elemento de importante expressão na arte da série. Tendo o inferno como cenário principal, este foi criado a partir de desenhos, e colorido de forma a harmonizar com os personagens e reforçar que se trata de um lugar fantástico. Já para a construção dos cenários em roteiros que se passassem na terra, o projeto experimentou utilizar suporte fotográfico. A intenção era inserir os personagens em locais reais, sugerindo a ideia irônica de uma existência real de demônios entre os humanos. Na figura 17 vemos o primeiro estudo para a composição com fotografia. Esta ideia surgiu da observação de vinhetas do canal Cartoon Network, que desde os anos 2000, criavam pequenos curtas-metragens de animação de personagens interagindo em vídeos filmados em cenários reais (Figura 18).
Ao longo do desenvolvimento da série, a experimentação dos cenários fotográficos foi sendo repetida e revisada, sendo ora utilizadas imagens de criação própria e ora de arquivos livres. Aqui nos deparamos com um momento em que as limitações da materialidade implicam em buscar uma nova forma para o desenvolvimento da obra, pois foi observado que algumas aplicações não foram bem sucedidas, e o projeto prevê apenas o uso de imagens autorais no futuro.
Figura 17: Estudo de composição de cenário com fotografia.
Fonte: a autora (2012)
Figura 18: Frame extraído da vinheta ‘Chega de Bullying’, 2012.
Fonte: https://www.youtube.com/user/BRCartoonNetwork.10
10 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=eku02kR61y4. Acessado em 07 de janeiro de 2016.
3. DESCRIÇÃO DOS PERSONAGENS
3.1 CARONTE
Caronte – Filho de Érebo e da Noite. Divindade infernal cuja função era fazer as almas dos mortos atravessarem o Aqueronte, rio que as separava dos Infernos. Velho, seminu, de expressão combria e sinistra, apenas dirigia a barca fúnubre;; os próprios mortos sucumbiam-se de remar. Só recebia as almas daqueles que tivessem sido sepultados e exigia-lhes o pagamento da travessia. Por essa razão, os parentes do defunto costumavam colocar-lhe um óbolo (moeda) sob a língua. As almas que não levavam o óbolo eram impedidas de embarcar;; permaneciam às margens do Aqueronte ou do Cocito, chorando por toda a eternidade ou pelo período de 100 anos. Caronte não podia transportar qualquer ser vivo. (ANDRADE;; SIMÕES, 1973).
Como Caronte foi o primeiro personagem fixo da série, suas características são bem diferentes dos demais. Nele há pouco detalhamento, uma vestimenta simplória, e um tom de pele acinzentado, referenciando sua sobrenaturalidade. Por ser uma figura sombria, apenas uma túnica escura forma a silhueta de todo o seu corpo, que deixa aparecer somente parte de sua face. Seus braços e pernas são
desprezados, evidenciando suas expressões faciais (Figura 19).
Analisando um dos documentos arquivados do processo de criação, é possível verificar que sua versão final não ficou muito diferente do que foi idealizado inicialmente (Figura 20) no projeto, o qual este personagem deveria ser a morte ceifadora, uma representação popular de personificação da morte. Porém, ao contrário da morte, este personagem seria um anfitrião do inferno, logo, não iria atrás das almas. Ele deveria estar situado em um local específico, uma ambientação própria. Assim, o projeto foi alterado, a morte transformou-se em
Caronte, mas sua caracterização ficou ainda bem sugestiva à ideia inicial.
Buscando referências para desenvolvê-lo, encontrei representações em obras de arte de grandes artistas, como Eugène Delacroix que em 1822 pintou ‘A barca de Dante’ (Figura 21).
[…]Descreve a cena onde os poetas Dante e Virgílio encontram-se numa embarcação ameaçada de naufrágio por condenados do inferno que emergem do rio e tentam sobreviver, agarrando-se a ela. Ao fundo, a cidade de Dis incendeia, romendo uma escuridão infernal. […] Dante destaca-se do conjunto pelo seu gesto, suas roupas e pelo vermelho de seu capuz. Virgílio, a figura central, está envolvido por uma penumbra que o coloca em segundo plano;; e o torso helênico de