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PROBLEMÁTICA

No documento Arquitetura de emergência (páginas 79-82)

Atualmente a Síria é um território totalmente devastado, resultante de um enorme conflito de interesses políticos que se sobrepôs à vida humana e aos direitos do homem. Esta é uma realidade universal, as notícias sobre a crise humanitária e a chacina que está a ser feita nestes territórios alertam-nos para a nossa responsabilidade social. Hoje em Ghouta encontramos o mesmo cenário que vimos há uns meses atrás em Alepo, os consecutivos bombardeamentos por parte do regime seguido de um cerco feito à cidade limitando os acessos a zona sitiadas onde se encontram milhares de civis a viver e à procura de alguma dignidade e segurança. Nesta situação já foram mais de 900 os mortos na cidade de Ghouta.

A tendência deste cenário é que se alastre cada vez mais, a destruição tem sido consecutiva e as cidades têm sido reduzidas a escombros tornando-se forçosamente desertas, porque com os cercos totais feitos às cidades as pessoas são obrigadas a abandonar mesmo o seu país.

Devemos direcionar o nosso trabalho em zonas de destruição como esta. Felizmente vivemos num século onde a tecnologia quebra barreiras e distâncias permitindo o acesso a qualquer parte do mundo, e saber o que se passa nestas zonas de cerco armado.

São inúmeras as pessoas que partilham e descrevem o que se passa naqueles locais, procurando dessa forma pedir ajuda e tentar fazer circular o máximo de informação, ajudando assim também todas as organizações envolvidas no regaste e no auxílio nestas, a criar métodos de apoio tentando chegar ao maior número de pessoas.

A principal problemática neste caso na Síria é a crise humanitária e a situação das pessoas debatendo-se diariamente com a noção de sobrevivência. Atualmente as pessoas que ainda se encontram na Síria estão desalojadas e com carências de alimentação, higiene e muita dificuldade de acesso à saúde. Mesmo com a ajuda do Crescente Vermelho, das ONG’s e dos Capacetes Brancos é impossível acompanhar a velocidade da destruição e chegar a todos os que precisam de auxílio. O dia-a-dia destas pessoas é procurar bens que os suportem, que lhes permita sobreviver diariamente e tentar estar em segurança.

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Em segundo plano temos um país destruído, cidades inteiras devastadas e caídas no chão. A consequência a longo prazo para a humanidade será a perda enorme que representa esta destruição em massa, milhares de anos de história, memória e património perdidos e dificilmente recuperáveis.

Principais necessidades e carências

Acessibilidade

Quando nos apercebemos do cenário que se vive em Alepo rapidamente todos nós procuramos arranjar soluções, em primeiro lugar a prioridade é tirar destes territórios todos os sobreviventes de uma forma segura, para quem presta socorro e para quem vai ser resgatado.

Este seria o cenário ideal, no entanto com a estratégia tomada pelo regime Sírio de cercar as cidades uma a uma até conseguir tornar este território uma cidade deserta, deixa a tarefa mais difícil para todas as frentes de apoio.

Um dos principais problemas neste processo de salvamento é a capacidade de deslocação dos meios de socorro pelas ruas das cidades. Existem dois problemas de acessibilidade, o primeiro é causado pela destruição dos edifícios provocada pelos bombardeamentos constantes, e que tornaram as estradas e caminhos da cidade um manto de destroços e entulho. Este problema seria possível de contornar juntando esforços para retirar este material das estradas e voltar a abrir caminho, mas este não é o principal impedimento de acesso às pessoas. Os interesses do regime de Assad e as forças governamentais Russas não passam pela sobrevivência e pela prestação de auxílio aos civis, por isso um dos principais impedimentos desta concretização são todas as negociações que têm de ser feitas entre as entidades de emergência e os dois lados desta guerra, o governo e os rebeldes.

Todas estas pessoas ficam limitadas a uma área onde têm de encontrar forma de ter acesso a tudo o que precisam para viver. Os testemunhos recolhidos anteriormente ajudam-nos a ter alguma perceção de como é possível ou não ter acesso a alguns bens essenciais.

Figura 82 - Diversos cenários de destruição em Alepo

65 Quando as ONG’s conseguem chegar às zonas sitiadas ajudam a fornecer bens

necessários à alimentação, saúde e higiene.

Habitar

Em situações como estas a noção de habitar ganha um significado diferente. A noção de abrigo enquanto local de conforto passa para segundo plano porque a maior função do habitar, em situações de sobrevivência, é a proteção.

Durante o cerco, todas as pessoas que ainda têm acesso aos edifícios da sua residência optam por fazer vida ainda em suas casas, no entanto quando começam os bombardeamentos o único local onde se sentem seguros é nas caves dos prédios, a um nível subterrâneo, passam muito tempo nestes locais à espera que seja seguro sair. Existem ainda aqueles que ficaram completamente desalojados, sem ajuda e sem sítio para se abrigarem.

Em épocas mais calmas torna-se possível retomar alguma rotinas e assim passam a ser utilizadas outras estruturas de apoio à habitação, como por exemplo locais para ensino, apoio clínico, e mercearia. O principal objetivo em situações de conflito armado é conseguir levar as pessoas para lugares seguros e afastá-los o máximo possível das zonas de fogo.

Enquanto arquitetos podemos concluir que é fundamental dar ferramentas para que qualquer cidadão consiga construir ou desenvolver um abrigo, e procurar segurança e manter, durante o cerco, o máximo possível de pessoas abrigadas.

Figura 83 - Cenários pós guerra em Alepo

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No documento Arquitetura de emergência (páginas 79-82)

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