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Arquitetura de emergência

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

I

A

RQUITETURA DE

E

MERGÊNCIA

U

M ABRIGO DE TRANSIÇÃO NUMA CIDADE DESTRUIDA,

A

LEPO

INÊS

RENDEIRO

MARQUES

RIBEIRO

(Licenciada)

Projeto Final para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura

ORIENTAÇÃO CIENTÍFICA:

Professora Doutora Margarida Louro Professor Doutor José Luís Mourato Crespo

JÚRI:

Presidente: Bárbara Lhansol da Costa Massapina Vaz Vogal: Carlos Jorge Henriques Ferreira

Vogal: Margarida Maria Garcia Louro do Nascimento e Oliveira

DOCUMENTO DEFINITIVO

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(3)

I “Architecture and war are not incompatible. Architecture is war. War is architecture. (…) I am an architect, a constructor of worlds, a sensualist who worships the flesh, the melody, a silhouette against the darkening sky. I cannot know your name. Nor can you know mine. Tomorrow, we begin together the construction of a city.”

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II

A

RQUITETURA DE

E

MERGÊNCIA

U

M ABRIGO DE TRANSIÇÃO NUMA CIDADE DESTRUIDA,

A

LEPO

I

NÊS

R

ENDEIRO

M

ARQUES

R

IBEIRO

(Licenciada) PROJETO FINAL DE MESTRADO Para a obtenção de Grau de Mestre em Arquitetura

ORIENTAÇÃO CIENTÍFICA:

Professora Doutora Margarida Louro Professor Doutor José Luís Mourato Crespo

Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Lisboa, Outubro 2018

(5)

III

R

ESUMO

O tema Arquitetura e Guerra, tem como principal enquadramento a reflexão sobre o papel da arquitetura e a sua relação com os contextos de guerra, destruição e crise. Perante estes contextos de instabilidade há que encontrar soluções para problemas que vão sendo criados. Sendo a arquitetura, na sua base estrutural, um sistema de ordenação, regra e harmonia, no confronto com o colapso, instauram-se novas lógicas de sobrevivência e espacialidade perante esta imprevisibilidade.

Neste sentido, para entender essa restruturação, assumem-se como os principais objetivos desta investigação e intervenção, os seguintes pontos: analisar o tema das cidades destruídas e o papel que a arquitetura tem na sua relação com a memória dos espaços e dos lugares destruídos; perceber qual é a verdadeira importância da arquitetura de emergência, num cenário de destruição e colapso; propor uma solução de abrigo, para responder a necessidades reais focando um cenário concreto, num contexto de análise, face a uma situação imediata de resposta a curto e médio prazo.

Esta proposta tem como estudo a cidade de Alepo, considerada uma cidade massacrada onde coexistem ainda centenas de habitantes que coabitam nesse contexto de destruição. Deste modo, tem como principal foco, as respostas de emergência, e de que maneira a arquitetura e o arquiteto podem ser motores fundamentais no processo de transição.

PALAVRAS-CHAVE:

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IV

E

MERGENCY

A

RCHITECTURE

S

HELTER OF TRANSITION IN A CITY DESTROYED,

A

LEPO

I

NÊS

R

ENDEIRO

M

ARQUES

R

IBEIRO

(Degree) MASTER FINAL PROJECT To obtain the title of Master's Degree in Architecture

SCIENTIFIC ADVISOR:

Professora Doutora Margarida Louro Professor Doutor José Luís Mourato Crespo

Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Lisboa, October 2018

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V

A

BSTRACT

The theme Architecture and War, has as main frame the reflection on the role of architecture and its relation with the contexts of war, destruction and crisis. Faced with these contexts of instability, it is necessary to find solutions to problems that are being created. Since architecture, in its structural basis, is a system of order, rule and harmony, in confrontation with collapse, establish new logics of survival and spatiality in the face with unpredictability.

In order to understand this restructuring, the following points are taken as the main objectives of this investigation and intervention: analyze the theme of destroyed cities and the role that architecture plays in its relation with the memory of spaces and places destroyed; realize the true importance of emergency architecture in a scenario of destruction and collapse; to propose a shelter solution to respond to real needs by focusing on a concrete scenario in a context of analysis, given an immediate response situation in the short and medium term.

This proposal has as study the city of Aleppo, considered a massacred city where hundreds of habitants coexist in this context of destruction. In this way, the main focus is the emergency responses, and how architecture and the architect can be the key in the transition process.

KEYWORDS:

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(9)

VII

A

GRADECIMENTOS

Aos meus orientadores, professora Margarida Louro pelo interesse, entusiasmo e dedicação que sempre demonstrou pelo tema proposto, e toda a orientação no sentido de me conduzir neste estudo sobre a emergência em países afetados por catástrofes, tendo em consideração, sempre o verdadeiro sentido do habitar como elemento básico da nossa existência. Ao professor José Luís Crespo pela sua disponibilidade total e por sempre me ter ajudado a manter focada em todo este processo, por todos os conselhos e apoio para a concretização deste projeto.

A todos os meus colegas que me mostraram a importância do trabalho em equipa e em como é fundamental dar abertura a críticas para poder evoluir enquanto profissional. A todos os professores agradeço a partilha de conhecimentos, técnicas e experiência que me passaram.

Agradeço aos meus amigos, por todos os momentos de partilha e cumplicidade que me motivaram e me ajudaram a conseguir cumprir os meus objetivos. Em especial à Rita que sempre se mostrou disponível para me ajudar e me acompanhou neste caminho ajudando-me a tornar o fim desta etapa uma realidade.

À minha família, agradeço todo o apoio ao longo destes anos, que sempre me ajudaram a concentrar nos meus objetivos e comemoraram comigo todas as conquistas. Em especial à minha mãe que esteve a meu lado neste percurso académico valorizando-o sempre e mostrando-me a importância deste objetivo cumprido.

Ao Zé, pela paciência e companheirismo em todos os momentos de ausência e por partilharmos juntos a felicidade de eu completar todas as fases deste meu percurso.

Dedico este trabalho aos meus pais por sempre me terem conduzido no caminho da edução e formação, dando sustento e apoio, e por serem pilares fundamentais para o meu equilíbrio e motivação.

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(11)

IX

Í

NDICE GERAL

RESUMO ... III ABSTRACT ... V AGRADECIMENTOS ... VII ÍNDICE GERAL ... IX ÍNDICE DE FIGURAS ... XI LISTA DE ACRÓNIMOS ... XIII

INTRODUÇÃO ... 1

Tema e motivação ... 3

Objetivos e questões de trabalho ... 3

Metodologia ... 4

Estrutura do PFM ... 5

A CIDADE DESTRUÍDA: A MEMÓRIA E A GUERRA ... 7

A Memória como identidade ... 9

A Destruição da Memória da Arquitetura ... 13

Lebbeus Woods, War and Architecture ... 14

A ARQUITETURA EM CONTEXTOS DE EMERGÊNCIA ... 21

Arquitetura e emergência ... 23

Emergência social ... 25

O Abrigo ... 33

UM ABRIGO DE TRANSIÇÃO EM ALEPO ... 43

Contextualização e análise de Alepo ... 45

Estratégia de Projeto ... 63

O Projeto: proposta de um abrigo de transição ... 66

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 79

BIBLIOGRAFIA ... 83

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XI

Í

NDICE DE FIGURAS

Todas as figuras que não têm indicação de fonte foram produzidas pela autora

Figura 1 – Desalojados, criança e mãe a caminhar ... XIV

Figura 2 – Perspetiva de uma cidade destruída ... 6

Figura 3 - Menina síria que se rende à câmara, imaginando tratar-se de uma arma, 2015... 12

Figura 4 – Rapazes carregam caixas perto de entulho de ... 12

Figura 5 - Cristãos acolhem muçulmanos durante bombardeiros em Alepo, 2016 ... 12

Figura 6 - Lebbeus Woods, “Berlin Free-Zone 3-2”,1990 ... 14

Figura 7 - Ambiente durante a guerra, Welcome To Sarajevo de Michael Winterbottom ... 16

Figura 8 - Price of peace de David J. Rothkopf, 1998 ... 16

Figura 9 - Guerra de Bósnia, 1992 – 1995 ... 16

Figura 10 - Lebbus Woods, Projects for the reconstruction of Sarajevo, 1993–1996 ... 17

Figura 11 Lebbus Woods, La Habana Vieja: Wall. 1994-95. ... 17

Figura 12 - Lebbeus Woods, Radical Reconstruction, 1997 ... 17

Figura 13- Sarajevo: Meditations, 2001 ... 19

Figura 14 - Ajuda humanitária, socorrista ... 20

Figura 15 - Cruz Vermelha ... 27

Figura 16 - Cruz Vermelha na Síria ... 27

Figura 17 - Médicos sem fronteiras ... 28

Figura 18 - Save the Children ... 28

Figura 19 - Arquitectos sem fronteiras ... 29

Figura 20 - Campo de refugiados Dadaab ... 30

Figura 21 - Campo de refugiados no Quénia ... 30

Figura 22 - Campo de refugiados Zaatari... 30

Figura 23 - Campo de refugiados ... 30

Figura 24 - Campo de Dollo Ado ... 30

Figura 25 - Campo de refugiados Dollo Ado ... 30

Figura 26 - Refugiados sudaneses no campo de Yida ... 31

Figura 27 - Refugiados no campo Yida, Sudão do Sul ... 31

Figura 28 - Shigeru Ban ... 33

Figura 29 - Shigeru Ban Japan Pavilion Expo 2000 Hannover ... 33

Figura 30 - Shigeru Ban utilizando a estrutura de Casas Paper Log ... 33

Figura 31 - Construção de Casas Paper Log Japão ... 34

Figura 32 - Modelo Casa Paper Log Japão ... 34

Figura 33 – Implantação de várias Casas Peper Log Japão ... 34

Figura 34 - Desenhos técnicos Casa Paper Log Japão ... 34

Figura 35 - Perspetiva explodida e sistemas de ... 34

Figura 36 - Perspetiva explodida e sistemas de Casas Paper Log Índia ... 35

Figura 37 - Implantação das Casas Paper Log, Índia ... 35

Figura 38 - Interior de uma Casa Paper Log Índia ... 35

Figura 39 - Estudo de implantação do Abrigo de Borracha Nepal ... 35

Figura 40 - Estudo do interior do Abrigo de Borracha Nepal ... 35

Figura 41 - Buckminster Fuller ... 36

Figura 42 - Estrutura geodésica ... 36

Figura 43 - Montagem de uma estrutura geodésica ... 36

Figura 44 - Implantação de uma Pallet House ... 36

Figura 45 - Vista do interior de uma Pallet House ... 36

Figura 46 - Material utlizado Pallet House ... 37

Figura 47 – Implantação do material utlizado Pallet House ... 37

(14)

XII

Figura 49 - Espaço entre Pallet House ... 37

Figura 50 - Sistema construtivo de uma Pallet House ... 37

Figura 51 - Robert Kronenburg ... 38

Figura 52 – Exemplo de uma casa utilizando contentores ... 38

Figura 53 - Veiculo transformado em habitação ... 38

Figura 54 - Exemplo de um sistema portátil de habitação ... 38

Figura 55 - Placas de contentores ... 39

Figura 56 - Sistema de montagem ... 39

Figura 57 - Exemplo de estrutura tênsil ... 39

Figura 58 - Abrigos de refugiados em tensil ... 39

Figura 59 - Nader Khalili ... 40

Figura 60 - Interior de um abrigo em superadobe ... 40

Figura 61 - Construção do abrigo em superadobe ... 40

Figura 62- Cidadela, Alepo ... 42

Figura 63 - Mapa de enquadramento Síria e Portugal ... 45

Figura 64 - Mapa de localização Alepo ... 46

Figura 65 - Cronologia das civilizações que ocuparam Alepo ... 47

Figura 66 - Localização das ocupações das diferentes civilizações... 48

Figura 67 - Localização do património no território Síria ... 49

Figura 68 - Fotografias do património na Síria Fonte: adaptado de www.aleppo2080.com ... 49

Figura 69 - Localização da evolução da ocupação das forças governamentais na Síria ... 50

Figura 70 - Cronologia dos confrontos recentemente ... 51

Figura 71 - Cerco de Alepo ... 52

Figura 72 – Crianças a brincar ... 53

Figura 73 – Homem no meio da casa destruída ... 53

Figura 74 - Fotografia e biografia de Bana Alabed ... 54

Figura 75 - Fotografias e biografia de Osmar ... 57

Figura 76 - Capacetes brancos em missão ... 58

Figura 77 - Mapa do edificado de Alepo ... 59

Figura 78 - Mapa do edificado destruído de Alepo ... 60

Figura 79 - Mapa de destruição dos bairros de Alepo ... 61

Figura 80 - Mapa do nível de destruição nos bairros de Alepo ... 62

Figura 81 - Cenários de destruição ... 63

Figura 82 - Diversos cenários de destruição em Alepo ... 64

Figura 83 - Cenários pós guerra em Alepo ... 65

Figura 84 - Possíveis materiais para construção do módulo: Destroços; Têxteis; Pneus; Malha metálica; Ferro do betão armada; Tijolo; Tubos; Chapas; Terra; ... 66

Figura 85 - Crianças a apanhar destroços ... 66

Figura 86 - Construção com materiais recolhidos, pneus e terra ... 66

Figura 87 - Módulo ... 67

Figura 88 - Módulo 3D ... 68

Figura 89 - Elementos tubulares ... 68

Figura 90 - Elemento de cobertura do módulo e esquema de construção ... 68

Figura 91 - Modelação tridimensional ... 69

Figura 92 - Materiais e quantidades ... 69

Figura 93 – Agregação do módulo ... 70

(15)

XIII

L

ISTA DE ACRÓNIMOS

ACNUR –Alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados IMC - International Medical Corps

MSF - Médicos Sem Fronteiras ONU – Organização da Nações Unidas ONG - Organizações não governamentais PFM - Projeto final de Mestrado

(16)

XIV

(17)

1

I

NTRODUÇÃO

Este trabalho de Projeto Final de Mestrado (PFM) tem como fundamento dar continuidade ao projeto inicialmente desenvolvido na Unidade Curricular de Laboratório de Projeto VI, lecionada no 5ºano curricular no 1ºsemestre, do Mestrado Integrado em Arquitetura. O Projeto Final de Mestrado tem como tema central a Arquitetura de Emergência, e como subtema Um abrigo de transição numa cidade

destruída, Alepo.

Este capítulo descreve assim, sucintamente as motivações que levaram à abordagem do tema e à reflexão sobre a guerra e a arquitetura. Assinala as principais questões do trabalho, e mostra o processo de abordagem, pesquisa e análise destas questões levantadas. Apresenta ainda a estrutura do documento permitindo assim uma melhor leitura.kkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkk

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(19)

3

T

EMA E MOTIVAÇÃO

O tema proposto, Arquitetura de Emergência, surge da necessidade que há em estudar e ajudar a desenvolver respostas a necessidades atuais. Atualmente vivem-se tempos de instabilidade na nossa sociedade, e é importante encontrar soluções para novos problemas que vão surgindo, acreditando cada vez mais que o conceito de imprevisibilidade faz parte do nosso quotidiano. Um dos grandes flagelos do século XXI é a explosão de conflitos e ameaças que surgem de todas as partes, sem sabermos quando e onde os esperar. Os conflitos armados têm sido cada vez mais uma realidade. Diariamente os media reportam situações de guerra, de atentados, e de mortes inesperadas tornando este um tema pertinente.

Surgiu então a necessidade de desenvolver uma proposta tendo como principal foco a emergência, tentando perceber de que forma a arquitetura e o arquiteto podem ser motores fundamentais no processo de transição entre o imediato, uma situação de destruição e incerteza, até um momento definitivo, correspondente à regeneração e recuperação da cidade destruída. Para isso foi escolhido um caso prático, uma realidade contemporânea que vai ajudar a perceber algumas necessidades reais, em situações reais. Alepo é uma cidade na Síria que se encontra em permanente destruição diária, e surge neste trabalho como exemplo de uma situação específica e real onde podemos demonstrar a viabilidade das propostas de projeto. Um dos maiores desafios deste estudo é encontrar, através do exemplo trágico de Alepo, soluções que se moldem e adaptem a qualquer emergência de guerra, promovendo alguma qualidade de vida a quem habita em cenários como este.

O

BJETIVOS E QUESTÕES DE TRABALHO

A necessidade de responder a algumas questões com que somos diariamente confrontados faz-nos pensar em soluções que permitam estarmos prevenidos para um cenário de emergência. O principal objetivo é encontrar, através da arquitetura soluções que se adaptem a diferentes acontecimentos, necessidades e atmosferas, promovendo novos estados de urbanidade e salvaguardando condições de habitualidade básica do ser humano em situações extremas. A análise deste caso prático, Alepo, permitir-nos-á ter acesso às verdadeiras necessidades das pessoas num cenário de emergência numa situação de conflito, e mais importante que isso perceber como se reage quando tudo aquilo que se conhece é destruído, sendo confrontadas, as pessoas, com a possibilidade de terem de abandonar o seu lar e as suas raízes.

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4

Enunciam-se, assim, os seguintes objetivos do PFM:

I. Analisar o conceito de memória na arquitetura tendo como base o tema das cidades destruídas;

II. Perceber a importância da arquitetura de emergência em situações limite de sobrevivência; III. Desenvolver uma estratégia de intervenção, com base em diferentes aplicações de materiais e

sistemas construtivos, para a construção autónoma de abrigos de transição em cenários de emergência.

M

ETODOLOGIA

Para concretização destes objetivos a metodologia utilizada foi qualitativa, através de uma diversidade de métodos e técnicas de recolha e analise da informação.

Numa primeira fase, passou pela recolha de informação e estudo de autores cujas investigações abordam os temas propostos, de forma a fundamentar e responder às questões levantadas anteriormente. Numa segunda fase foi feita uma recolha de projetos de referência que ao longo dos anos ajudaram a enriquecer a forma de fazer arquitetura de emergência, permitindo a construção de abrigos mais funcionais e adequados às circunstâncias e aos lugares. Ainda dentro do capítulo emergência, foi feita uma pesquisa das instituições e organizações que apoiam estas causas e ajudam no terreno, passando ainda pela pesquisa e análise dos maiores campos de refugiados no mundo com o objetivo de consciencialização daquilo que já existe e já foi feito nesta área da arquitetura de emergência.

Depois de feita a pesquisa e análise da fundamentação teórica, entramos no caso prático de Alepo, a cidade escolhida como exemplo de aplicação da proposta de projeto devido à relevância que a guerra civil na Síria está a ter e do seu impacto no mundo. Inicialmente foi feita uma recolha do que se estava a passar em tempo real na Síria e em Alepo, acompanhando o cerco de Alepo, através das televisões, pela internet e redes sociais. Para a proposta foi importante fazer uma análise, a partir de documentação variada, à cidade passando pela sua história para perceber a importância patrimonial daquele lugar, visto tratar-se de um cenário de destruição.

A partir da informação recolhida e analisada, e depois de perceber os materiais disponíveis no terreno e de fácil acesso aos habitantes foi feito um plano estratégico de possíveis abrigos para construir com materiais locais explicados através de guias de construção. Numa última fase foi feita a proposta de projeto.

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5

E

STRUTURA DO PFM

Este projeto final de mestrado organiza-se em 4 partes sendo que a primeira trata do enquadramento e introdução do tema proposto. Os dois grupos seguintes tratam os temas teóricos abordados nas questões de trabalho, ou seja, a cidade destruída e a arquitetura em contextos de emergência, as bases de fundamentação para a proposta final que se desenvolve na última parte do trabalho.

Este último capítulo aborda o local escolhido, Alepo, onde é feita a contextualização e análise da cidade seguida de testemunhos reais de cidadãos sírios que se mantiveram a viver nesta cidade destruída em plena guerra.

Para concluir este capítulo é apresentada a proposta de projeto, um módulo, construído com materiais locais, com respostas a três situações de abrigo, criando a segurança para se poder habitar.

Este projeto final de mestrado termina com o capítulo das considerações finais onde foi feita a conclusão deste estudo e desta análise.

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6

(23)

7

A

C

IDADE

D

ESTRUÍDA:

A

M

EMÓRIA E A

G

UERRA

Uma das principais questões num cenário de pós-guerra é pensar a reestruturação das cidades destruídas e tentar reerguer dos escombros memórias de tempos de paz. Para ser possível propor alguma solução para um lugar em emergência é necessário analisar o impacto que a arquitetura e a guerra têm na memória das pessoas, do património e da cidade. Neste segmento serão abordados os temas da memória como identidade onde são referidos conceitos como a memória, o sentido do lugar e a sua caracterização; o tema da destruição da memória na arquitetura onde o autor Robert Bevan e o arquiteto Lebbeus Woods nos ajudam a perceber melhor o impacto que a destruição em massa tem nas cidades e na memória de quem as vive, fazendo uma reestruturação do pensamento do arquiteto relativamente à recuperação urbana no pós-guerra.

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9

A

M

EMÓRIA COMO

I

DENTIDADE

Para perceber o comportamento das pessoas numa situação de emergência de guerra, onde a sua cidade, as suas casas e todas as suas raízes passam a fazer parte de um cenário de destruição é importante analisar qual é a relação entre a memória e a arquitetura. Esta análise vai ajudar-nos a perceber todas aquelas pessoas que não querem deixar as suas casas e se esforçam para viver diariamente numa situação imprevisível como um cenário de guerra e, desenvolver novas formas de pensar a arquitetura tendo como base tudo aquilo que a destruição nos deixa.

CONCEITO DE MEMÓRIA

A memória é nos apresentada como uma faculdade humana psíquica que nos permite armazenar informação. É com esta característica que os conhecimentos se consolidam permitindo-nos aprender. A nossa identidade é formada por tudo aquilo que experienciámos desde que o nosso cérebro desenvolveu esta capacidade de reter informação. Aquilo que gostamos ou não de comer, ouvir, sentir, como nos relacionamos ou como reagimos ao que nos acontece diariamente é sempre consequência das experiências que ficam retidas na nossa memória.

A MEMÓRIA NA ARQUITETURA

Um dos principais elementos que fundamentam a arquitetura é a memória. Desde os antigos que a arquitetura é mais do que um elemento de abrigo, conforto e segurança, tem um lado não racional que também a define e lhe dá um verdadeiro significado.

John Ruskin (2008) destacou e trabalhou a sensibilidade subjetiva e emotiva em contraponto com a razão. O homem constrói a sua casa pensando na durabilidade permitindo assim passar de geração em geração dando um significado à existência do homem, a de deixar para os seus filhos um lar, como sinal de honra e respeito, que lhes permita criar memórias e guardá-las. No seu livro A lâmpada da memória, o autor refere que a sua definição de restauração dos patrimónios históricos é a real destruição daquilo que não pode ser salvo.

Segundo Ruskin a memória na arquitetura é nos dada como uma recordação, a ideia de construir um espaço que proporcione o conforto e segurança de um lar que se possa manter ao longo do tempo passando de geração em geração tornando-se uma herança familiar. Esta tese é reflexo do homem antigo caracterizado como o homem pobre, desajeitado, o homem trabalhador que constrói o seu lar onde habita e o preserva para que persista. Esta noção de durabilidade da arquitetura é o que permite criar esta memória tornando a própria arquitetura numa herança.

Com o pensamento de John Ruskin conseguimos fundamentar aquilo que a memória trás para a nossa noção do valor da arquitetura, uma casa é no nosso quotidiano o acumular de inúmeras ações e experiências que vamos colecionando ao longo da vida e que vai ajudar-nos a definir cada espaço que habitamos. Se é possível que um espaço seja vivenciado consecutivamente por diferentes pessoas que

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fazem dela a mesma experiência, mesmo que em diferentes gerações, vai conferir-lhe uma importante carga emocional, ganhando também um valor patrimonial. Portanto a arquitetura é tão mais valiosa quanto mais memória temos da experiência que fazemos dela.

A arquitetura é consequência de um conjunto de experiências que lhe confere um caracter único. Cada lugar é um lugar singular e cada objeto de arquitetura tem um cheiro, uma temperatura, e uma atmosfera diferente. Esta característica da arquitetura permite que cada um de nós experimente de diferentes modos cada elemento arquitetónico, permite que nos relacionemos de forma particular, com experiências únicas, quase como se de uma relação humana se tratasse.

Vários autores estudaram e explicam de que maneira esta humanização da arquitetura nos relaciona com os espaços e nos dão o verdadeiro sentido dos lugares, que nos permite criar com um espaço físico um reservatório de memórias.

“Desde os tempos remotos tem-se reconhecido que diferentes lugares têm diferente carácter. Tal diferença de carácter é muitas vezes tão forte que é suficiente para determinar as propriedades básicas das imagens exteriores da maioria das pessoas presentes, fazendo-as sentir o que experimentam e que pertencem ao mesmo Lugar. [...] o espaço existencial não pode ser compreendido somente por causa das necessidades do Homem, mas antes unicamente como resultado da sua interacção e influência reciproca com um ambiente que o rodeia, que tem de compreender e aceitar.

(Norberg-Schulz, 1975, p. 33)

O SENTIDO DO LUGAR

Norberg-Schulz (1975) usa o conceito de “espaço existencial” como forma de analisar esta relação entre um espaço e o caracter.

Para além das necessidades básicas de abrigo, aquilo que nos prende a um lugar específico e não a qualquer um é a experiência que tivemos com o lugar. Esta experiência é feita na forma como nos movimentamos no espaço e a forma como nos orientamos. É importante para o homem saber onde

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11 está e identificar uma localização. A estrutura na arquitetura dá-nos elementos reais e físicos que nos permitem, através da experiência, identificarmo-nos ou não com os lugares.

Toda a informação que retemos ao longo da vida, resultado das nossas ações e das nossas vivências resultam de coisas simples como testar o que nos rodeia com base nos 5 sentidos. É o paladar, o tato, a audição, a visão e o olfato a base da nossa experiência, e é isto que vai fazer com que nos identifiquemos ou não com os lugares que frequentamos e que vamos querer habitar.

Norbeg-Schulz introduz o conceito de “Genius Loci” que passa pela personificação da experiência que é feita de um lugar. Através deste conceito conseguimos perceber o verdadeiro significado de cada espaço, através da experiência que fazemos dele conferindo-lhe assim carácter único. Se tivermos a noção de que cada ser sente de forma diferente o mesmo espaço sempre com a influência daquilo que é o seu “eu” definido pela memória que é resultado de um armazenamento de experiências ao longo da vida, então percebemos que o mesmo espaço vai ter diferentes sentidos.

O “Genius Loci” é um conceito que permite vermos cada lugar como um espaço insubstituível porque a partir do momento em que existe um significado passa a existir uma identidade própria do lugar conferindo-lhe assim um sentido único, tornando-o insubstituível.

Este lado poético da arquitetura permite-nos enquanto arquitetos criar experiências e proporcionar ao utilizador, não só o conforto e a função mas essencialmente criar estímulos que tornem a experiência que é feita do espaço que fique na memória e se torne um elemento único.

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(Esquerda para a direita)

Figura 3 - Menina síria que se rende à câmara, imaginando tratar-se de uma arma, 2015

Fonte: https://www.jb.com.br/internacional/noticias Figura 4 – Rapazes carregam caixas perto de entulho de edifícios danificados em Aleppo, na Síria, 2016 Fonte: https://www.cbc.ca

Figura 5 - Cristãos acolhem muçulmanos durante bombardeiros em Alepo, 2016

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A

D

ESTRUIÇÃO DA

M

EMÓRIA DA

A

RQUITETURA

É cada vez mais difícil não nos preocuparmos com a destruição que está a ser feita ao património de inúmeros países que nos últimos anos entraram em conflitos armados.

No livro The Destruction of Memory, Robert Bevan (2005) ajuda-nos a pensar em como existe sempre uma relação entre a destruição de edifícios e as mortes, e em como nestes cenários de guerra e conflito a destruição da arquitetura não é só um dano colateral mas sim a principal forma de promover a guerra. Destruir todos os edifícios de uma cidade cria não só uma nova realidade psicológica como também a destruição de uma nação e um reescrever da história.

Bevan descreve-nos três modos de destruição da arquitetura com diferentes exemplos históricos. O primeiro reflete-se na destruição de comunidades étnicas e genocídio como a destruição da antiga Jugoslávia onde se criou uma nova realidade étnica com a perda de comunidades multiétnicas e de herança Islâmica, ou os nazis que destruíram a arquitetura judaica como um princípio para o holocausto. Em segundo lugar os ataques terroristas, que nos últimos anos temos verificado o seu crescimento principalmente na Europa. Os ataques terroristas têm como principal objetivo baixar a confiança dos opositores, um dos maiores exemplos disto é o 11 de Setembro em 2001, um ataque terrorista planeado contra alguns edifícios “(…) notáveis americanos gerando um clima de terror e tensão com o objetivo de existirem mudanças políticas.”. Esta forma de destruição totalmente desnecessária é revelada no livro como “vandalismo vingativo” (Bevan, 2005, p. 82).

O último modo de destruição referenciado por Robert Bevan (2005), é relacionado com a reorganização de territórios, exemplo disso é Israel, onde a arquitetura foi destruída para refletir uma presença judaica contínua - aldeias árabes inteiras foram demolidas, "(…) o desejo do conquistador de deixar nada reconhecível para o exilado retornar." (p. 104). Ou seja trata-se de reorganizar territórios que foram conquistados ou para reafirmar por exemplo uma mudança de governo, para regimes revolucionários, como a União Soviética, a destruição de edifícios associados a governos anteriores era uma evidência imediata de mudança.

É assim percetível a importância da arquitetura enquanto colecionadora de memórias e consequentemente a perda que provoca quando destruída e afetada por situações inesperadas de guerra. A relação que as pessoas criam com os espaços em que habitam dão-lhes o sentimento de segurança necessário para preferirem continuar o seu dia-a-dia nos seus lares, mesmo sabendo o perigo que correm, do que ir procurar paz em zonas desconhecidas. Nesta situação o incerto de um novo lar provoca mais medo e insegurança do que permanecer num lugar de boas memórias.

É importante então criar soluções para estas pessoas que permanecem em zonas de guerra, ou qualquer outra situação de emergência onde seja necessário providenciar segurança e condições básicas de sobrevivência para quem nela se encontra.

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14

Figura 6 - Lebbeus Woods, “Berlin Free-Zone 3-2”,1990

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15

L

EBBEUS

W

OODS,

W

AR AND

A

RCHITECTURE

CERCO DE SARAJEVO 1992 (GUERRA DA BÓSNIA)

O cenário de guerra na Bósnia há uns anos permitiu colocar algumas questões sobre a reestruturação da cidade e de que maneira faria sentido esta recuperação depois de tanta destruição. O arquiteto Lebbeus Woods foi uma das pessoas que foi até Sarajevo para ajudar no debate desta reestruturação pós-guerra e propor uma nova forma de pensar a cidade destruída.

A Guerra

A guerra da Bósnia deu se entre 1992 e 1995, tratou-se de uma rivalidade entre diferentes etnias que resultou num confronto armado onde morreram mais de 100.000 pessoas. (Silva, Gustavo, 2011) Em 1945 foi fundada a República socialista federativa da Jugoslávia que agrupava diferentes países como a Sérvia, Croácia, Eslovénia, Montenegro, Macedónia e Bósnia-Herzegovina. Durante este período as rivalidades étnicas foram controladas pelo regime ditatorial de Tito. Os movimentos pela independência começaram em 1991 com o fim da influência soviética, entretanto já desde o início da década de 1990 que os debates políticos se tinham voltado para a questão étnica.

Os conflitos começaram quando a Bósnia Herzegovina quis também afirmar a sua independência depois de países como a Eslovénia, a Croácia e a Macedónia a terem conseguido. Apesar da intenção de independência, a Bósnia Herzegovina tinha um real problema de diversidade étnica em 1991 onde dos 4,4 milhões de habitantes 44% eram bósnios muçulmanos, 31% sérvios e 17% croatas. (Silva, Gustavo, 2011, p. 17)

A grande responsabilidade deste genocídio realizado para a declaração de independência da Bósnia é atribuída a Radovan Karadzic líder e representante dos sérvios bósnios. Cada grupo defendia diferentes resoluções para a independência da Bósnia Herzegovina, os Bósnios defendiam a independência total da Bósnia com a formação de um novo governo totalmente Bósnio, por outro lado os sérvios defendiam uma anexação de territórios bósnios (onde a maioria da população era Sérvia) à Jugoslávia e os croatas defendiam também uma anexação de territórios mas à Croácia.

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O Cerco a Sarajevo

Ao comando de Radovan Karadzic os sérvios mantinham uma postura agressiva perante o facto de a Bósnia poder tornar-se totalmente independente, consequência desta postura agressiva foi o início da guerra em Abril de 1992 quando as tropas sérvias foram deslocadas para os arredores de Sarajevo e cercaram totalmente a cidade.

O cerco de Sarajevo foi resultado de um massacre em massa, os Sérvios tinham armamento em massa que lhes permitia atirar consecutivamente durante meses e ordens para bombardear indiscriminadamente sobre a população. Resultou na morte de mais de 8.000 pessoas e na condenação de Radovan a 40 anos de prisão por genocídio. (Diário noticias, Abril 2018)1

A guerra terminou em 1995 com uma negociação de paz com o acordo de Dayton. Neste acordo foram estabelecidos termos para a independência da Bósnia e manter a paz entre as partes, criaram-se duas federações para agrupar os dois movimentos étnicos, a federação da Bósnia e Herzegovina sobe o controlo dos bósnios e croatas e a república Sérvia da Bósnia sobe o controlo dos sérvios.

Impacto da Guerra e a Destruição

Esta guerra que decorreu num período de três anos provocou em Sarajevo uma total destruição. À época este acontecimento levantou diferentes preocupações ao nível da recuperação e reconceptualização não só da cidade destruída mas também da forma como se pensa o espaço urbano e a arquitetura.

A nível internacional o interesse em Sarajevo era notório, a destruição de monumentos históricos levantaram o interesse pela ideia da memória e da destruição do património, por outro lado a mudança das dinâmicas do quotidiano quando se vive numa cidade cercada e em constante bombardeamento, tudo isto levantou o interesse dos media e consecutivamente deu abertura à discussão pública sobre a situação de Sarajevo.

1Disponível em:

www.dn.pt/mundo/interior/karadzic-recorre-a-justica-internacional-para-anular-sentenca-por-crimes-nabosnia-9280359.html (De cima para baixo)

Figura 7 - Ambiente durante a guerra, Welcome To Sarajevo de Michael Winterbottom

Fonte: http://www.denofgeek.com

Figura 9 - Guerra de Bósnia, 1992 – 1995

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_da_Bosnia

Figura 8 - Price of peace de David J. Rothkopf, 1998

Fonte: https://www.nadirkitap.com/the-price-of-peace-david-j-rothkopf-kitap6112907.html

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War and Architecture - Lebbeus Woods

Numa situação de grande mediatismo em torno da cidade de Sarajevo, foram vários os interessados em explorar alternativas e em desenvolver discussões sobre o período após a guerra, analisando todo o cenário de destruição e propondo novas alternativas relativamente à reestruturação da cidade destruída. Entre muitos arquitetos, Lebbeus Woods, com o seu pensamento singular relativamente à relação que a arquitetura e a guerra estabelecem, no reflexo da reconstrução de uma cidade, desenvolveu uma proposta estratégica de intervenção.

A sua estratégia passou pela reflexão sobre o papel da arquitetura enquanto materialização da memória em situações de recuperação física como é um pós guerra. Para Woods a solução de uma cidade em ruína não passa pela total demolição do antigo, nem por uma total reabilitação tentando ter a cidade que era antes da catástrofe.

A estratégia de Lebbeus Woods passou pela mudança do pensamento e da forma como o arquiteto pensa procurando dar um significado à arquitetura para que a própria arquitetura tenha impacto na memória das pessoas e para evitar que situações graves como este cerco em Sarajevo sejam esquecidas.

“A arquitetura deve aprender como transformar a violência assim como a violência tem o poder de mudar a arquitetura.” (Woods,1993, p. 24).

Para os edifícios arruinados e os sítios devastados pela guerra, Woods delineia uma estratégia de intervenção que passa por três gestos, scab, injections, e scar. O arquiteto usa a metáfora da crosta e da ferida como comparação perfeita para a destruição provocada pela guerra e a sua respetiva reconstrução.

O primeiro gesto scab (conceito crosta), passa pela criação de um involucro de proteção das feridas da construção protegendo os espaços para futuras intervenções, nesses espaços protegidos pode concretizar-se o segundo gesto, as injeções (injections). Este conceito surge com o objetivo de preservar os vazios provocados pela destruição da guerra, trata-se de buracos ou outros vazios provocados por bombas ou derrocadas.

As estruturas injetáveis têm como propósito promover a experiência mais ativa do espaço, onde cada um poderia experimentar um lugar consequente da destruição, permitindo assim uma reflexão, Woods fala em “(…) ferramentas para o jogo essencial da vida experimental, estendendo as faculdades humanas para experimentar, pensar e agir.” (Woods, 1993, p.29).

(De cima para baixo)

Figura 10 - Lebbus Woods, Projects for the reconstruction of Sarajevo, 1993–1996

Fonte: http://thirdrailquarterly.org/joshua-johnson-lebbeus-woods-at-the-drawing-center/

Figura 11 Lebbus Woods, La Habana Vieja: Wall. 1994-95.

Fonte: https://archi.ru/events/10624/lebbeus-vuds

Figura 12 - Lebbeus Woods, Radical Reconstruction, 1997

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O último conceito desta estratégia, a cicatriz (scar) vem ressaltar esta ideia de memória que a arquitetura pode partilhar depois de uma grande guerra, a ideia de que ficam nos edifícios algumas marcas da destruição e do sofrimento do passado, permitindo que seja testemunha da história transformadora de uma cidade e avisando às futuras gerações o horror que não pode ser ignorado. A cicatriz será mais um elemento que vai articular os tecidos velhos com os novos tecidos urbanos. Em conclusão, o pensamento de Lebbeus Woods e desta análise, em que vê a arquitetura como uma possível materialização da memória, vem fundamentar a importância que a memória tem na história, na reconstrução e no futuro. Para atuar num cenário de guerra e para ajudar a restabelecer pessoas, e reabilitar lugares será fundamental pensar na destruição como possível impulsionadora de novas ideias e novas formas de se propor o futuro.

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Figura 13- Sarajevo: Meditations, 2001

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A

A

RQUITETURA EM

C

ONTEXTOS DE

E

MERGÊNCIA

Ao entrar no mundo da arquitetura de emergência com o objetivo de dar algum contributo positivo no sentido de melhorar a vida das pessoas é necessário tentar perceber o que se tem feito nos últimos anos nesta área e que tipo de ajuda já existe. Este capítulo aborda de uma forma geral todas as principais áreas fundamentais da emergência, as organizações e instituições existentes, espaços de refúgio e abrigo, e diversos projetos de referência que contribuíram para a evolução das técnicas de construção de abrigos ao longo dos anos.

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A

RQUITETURA E

E

MERGÊNCIA

Cada vez mais percebemos que a arquitetura tem um papel fundamental no quotidiano de todos nós permitindo-nos ter qualidade de vida, mas principalmente permite-nos cada vez mais encontrar soluções para obstáculos que muitas vezes achávamos não serem possíveis de ultrapassar.

É em situações de destruição total que percebemos a verdadeira importância dos recursos que temos, como o acesso à água potável, o saneamento, a segurança de um espaço que nos abrigue e dê alimentos. Tudo isto são bens essenciais que marcam a diferença entre sobreviver ou não. Estas situações são muitas vezes provocadas por fenómenos naturais, outras vezes são provocadas pelo homem, conhecidas por todos nós como catástrofes e os conflitos armados.

A arquitetura atua nestes cenários unicamente com um papel social, o objetivo é criar zonas de segurança e permitir proporcionar os meios essenciais de sobrevivência, providenciar abrigos, hospitais, e saneamento. Infelizmente nos anos em que vivemos estes fenómenos são cada vez mais presentes surgindo assim a arquitetura de emergência.

Arquitetura de Emergência é uma das vertentes da arquitetura onde cada vez mais jovens arquitetos procuram intervir, e o arquiteto passou a ter um papel social fundamental nestes cenários de crise. Esta forma de arquitetura, devido ao seu caracter de emergência requer uma variedade de soluções resultantes de diversas experimentações que se moldam consoante o lugar em que se inserem.

Segundo Ian Davis (1980) no seu livro Shelter After Disaster existem três fases de atuação num cenário pós catástrofe: a imediata, a primeira fase e o período do socorro imediato, a temporária, uma segunda fase de reabilitação, e a permanente, última fase de reconstrução (Davis, 1980, p. 13).

FASE IMEDIATA

Na fase imediata existe uma necessidade de procurar abrigo quase como instintivo à necessidade de sobreviver. Quando se dá uma catástrofe e existem pessoas desalojadas é necessário encontrar locais onde se possam abrigar todos aqueles que não conseguem encontrar alojamentos em casa de familiares e amigos, ou não tenham meios financeiros para ficarem em dormitórios públicos. Normalmente na fase imediata a proteção civil encarrega-se deste encaminhamento para zonas seguras.

A arquitetura, numa fase imediata encontra-se no seu estado primário e mais puro onde a prioridade funcional é dar proteção a alguém vulnerável, e a sua técnica parte de elementos básicos e primários procurando materiais do lugar ou de fácil acesso, pode ser uma construção ou partir apenas de um processo. O importante não é a durabilidade mas sim o cumprimento do seu objetivo primordial, a segurança.

FASE TEMPORÁRIA

Esta fase temporária caracteriza-se pela fase de transição, onde existe um período de mudança e adaptação. É a fase que transita entre a emergência do imediato e a reabilitação do definitivo (fase permanente). Aqui a arquitetura ganha outra característica porque já é importante garantir um caracter de temporalidade e habitação mínima ao desalojado.

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A noção de abrigo passa assim de atender só à necessidade de proteção e segurança, passando a atender às necessidades básicas da condição do habitar. Permitindo assim que haja uma nova relação com o lugar que se habita, devolvendo assim ao desalojado a sua dignidade e direitos.

Esta fase é fundamental para a recuperação emocional do desalojado que nestas situações de emergência vê tudo a ser-lhe retirado, até o direito à vida.

FASE PERMANENTE

A fase permanente tem como principal objetivo a reabilitação das cidades, dos espaços e das pessoas. Tudo é pensado de uma forma mais definitiva, onde já se reúnem todas as condições necessárias para habitar, passa-se a fase em que se responde só ao necessário. Nesta fase já é possível começar a integrar as pessoas nos lugares tentado restabelecer as rotinas.

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E

MERGÊNCIA

S

OCIAL CRISE HUMANITÁRIA

Uma crise humanitária caracteriza-se por uma situação de estado de emergência onde um grande grupo de pessoas são privadas de bens essenciais de sobrevivência como alimentação, saúde, segurança e bem-estar. Nos últimos anos têm sido várias as situações de crise humanitária a que temos tido acesso. Numa publicação no jornal Público de 11 de Março de 2017, o vice-secretário-geral para as questões humanitárias e coordenador do auxílio de emergência da Organização da Nações Unidas (ONU) veio alertar a população dizendo que estamos a viver uma das maiores crises humanitárias desde 1945.

Atualmente há mais de 20 milhões de pessoas vivendo sob ameaça de morrerem à fome em países como Iémen, Somália, Sudão do Sul e Nigéria.

A conjugação da seca com a subida significativa dos preços dos alimentos deixou mais de 14 milhões de pessoas necessitadas de ajuda alimentar urgente. As deficientes condições sanitárias e de higiene e as baixas taxas de imunização em algumas áreas também têm alimentado surtos de doenças e colocado em sério risco mães e recém-nascidos.

A realidade do nosso mundo já não é tão linear como a separação entre o rico e o pobre. Se antes a noção de crise humanitária surgia em países de terceiro mundo com carências básicas devido à falta de meios e informação, hoje qualquer lugar pode precisar a qualquer momento de apoio humanitário. Infelizmente vive-se um período de conflitos, incoerências e diferentes interesses e opiniões, onde o homem assumiu um papel tão importante como definir a paz ou o terror de uma Nação.

Em situações de conflitos armados como é a situação da Guerra civil na Síria, os habitantes sentem necessidade de abandonar o seu país, as suas cidades, as suas raízes para procurarem o conforto de um lar que lhes foi tirado. Para além da destruição das casas a população confronta-se com falta de meios de sobrevivência tão básicos como a água e para as organizações humanitárias a sua acessibilidade a todas as pessoas torna-se difícil no meio de um cenário de guerra. A melhor solução é conseguir tirar todos os civis do meio do fogo cruzado da guerra e tentar em lugares controlados e em segurança trazer a paz a estas pessoas.

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REFUGIADOS

Um refugiado é uma pessoa que tem que sair do seu país de origem sem poder regressar devido a motivos de perseguição quer por motivações raciais, políticas ou simplesmente porque os seus direitos são violados discriminadamente sendo obrigados a procurar refúgio em outros países.

O estatuto do refugiado não é recente, desde 1951 que na Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados está definido o refugiado como “(…) pessoa que receia, com razão, ser perseguida em função da sua raça, religião, nacionalidade, pertença a um determinado grupo social ou opinião política e não possa ou, em virtude daquele receio, não queira, pedir proteção do seu país.". (capitulo 1, artigo 1, 1951)2 Apesar de esta crise ter assumido um papel de maior importância agora na época contemporânea, o início de todo este processo começou depois da II Guerra Mundial quando se criou o Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), um organismo que começou a tratar deste assunto com maior importância.

A contemporaneidade é marcada por um período de extrema violência e já são várias as organizações e instituições de apoio a cenários de crise e emergência.

ORGANIZAÇÕES / INSTITUIÇÕES

As Organizações não-governamentais (ONG) são organizações formadas pela sociedade civil sem fins lucrativos e que têm como missão a resolução de algum problema da sociedade.

Na Síria são inúmeras as organizações que nas suas diferentes especialidades estão na linha da frente a prestar auxílio a todas as vítimas da guerra, e fundamentalmente permitindo a algumas delas criar a ponte de ajuda em todos nós e aqueles que se encontram presos na guerra.

Cruz Vermelha e Crescente Vermelho

O principal lema da Cruz Vermelha é “Por um mundo mais humano”, há 150 anos a 11 de Fevereiro de 1865, José António Marques um médico militar organizou a “Comissão portuguesa de socorro a feridos e doentes militares em tempos de guerra” que foi a primeira designação da Cruz Vermelha. Surgiu no seguimento de uma conferência realizada em Genebra em 1864 onde se decidiu a neutralidade "das ambulâncias e dos hospitais, assim como do pessoal sanitário, das pessoas que socorressem os feridos e dos próprios feridos no tempo de guerra”, onde Portugal fez parte de um grupo de 12 países que assinaram a I Convenção de Genebra que tinha como destino melhorar a sorte dos militares feridos.3 A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho têm o principal objetivo de conseguir prevenir o sofrimento humano em Portugal e no Mundo. É movida pelos princípios fundamentais da Humanidade, Imparcialidade, Neutralidade, Independência, Voluntariado, Unidade e Universalidade. Para o bom

2Disponível em: www.acnur.org 3Disponível em: www.cruzvermelha.pt

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27 desempenho desta organização como em todas as outras é fundamental o apoio dos voluntários, parceiros e doadores.

Na Síria o Crescente Vermelho tem sido fundamental no processo de salvamento na sobrevivência de todos os habitantes.4

4Disponível em: https://icrc.org/pt/onde-o-cicv-atua/middle-east/siria

Figura 15 - Cruz Vermelha

Fonte: https://www.cruzvermelha.pt

Figura 16 - Cruz Vermelha na Síria

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Médicos sem Fronteiras

Em 1971 em França foi criada por médicos e jornalistas esta organização humanitária internacional que desde então leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição com pessoas sem quaisquer acessos a assistência médica. Na Síria também esta é uma das principais organizações de assistência médica, no site https://www.msf.org.br são inúmeros os testemunhos de voluntários que foram para as frentes de guerra dispostos a ajudar sem qualquer noção do que poderia acontecer, só com a certeza que a sua missão é ajudar a salvar o maior número de pessoas possível.

Save the Children

Esta é uma organização focada na proteção e desenvolvimentos das crianças em risco. Não só em cenários de guerra mas em todos os contextos em que as crianças estão sujeitas a violência, exploração, abuso e negligência a Save the Children intervém. Estima-se que em todo o mundo existem:

- 150 milhões de crianças estão envolvidas em trabalho infantil; - 1 em cada 4 mulheres entre 20 e 24 anos eram noivas; - Existem 250.000 crianças-soldados;

- 13 milhões de crianças são órfãs, tendo perdido ambos os pais.

Em situações de emergência são criados espaços seguros para crianças que estão marcadas pelas suas experiências, ajudando a protegê-las dos grupos armados e muitas vezes ajudar a reunir famílias.5

Arquitetos sem fronteiras

5Disponível em: www.savethechildren.net

Figura 17 - Médicos sem fronteiras

Fonte: https://www.msf.org.br/

Figura 18 - Save the Children

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29 Os arquitetos sem fronteiras é uma associação sem fins lucrativos que tem como base o voluntariado, e que tem como objetivo cooperar com as comunidades desfavorecidas ajudando, dentro do âmbito da arquitetura e urbanismo, no combate à precaridade e na edificação, no planeamento e tecnologia e a combater alguns problemas sociais.

Cada vez mais existem conjuntos de pessoas a reunir-se e a criar grupos de apoio social a situações de emergência. A grande maioria destas organizações vive do voluntariado e dos donativos e servem de elo de ligação entre nós cidadãos e as zonas de conflito. Com a ajuda destas pessoas conseguimos ter acesso a zona de difícil acesso onde só estas organizações conseguem chegar com negociações.

Para este projeto de investigação e para a arquitetura de emergência no geral, são uma ferramenta fundamental para chegar às populações e conseguir disponibilizar as ferramentas que vão auxiliar e proporcionar a segurança e os meios de suporte necessários à sobrevivência daquelas pessoas.

Para além da possibilidade de movimentação em zona de conflito que algumas organizações de apoio social têm, existem também zonas fixas de apoio e abrigo social, são conhecidas por grandes campos onde são providenciados pequenos hospitais, habitações entre outros equipamentos necessários à convivência de um enorme número de população que ficou sem abrigo e precisa de apoio social durante largos períodos de tempo.6

6Disponível em:www.asfp.pt

Figura 19 - Arquitectos sem fronteiras

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Figura 21 - Campo de refugiados no Quénia

Fonte: http://www.unhcr.org

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Figura 22 - Campo de refugiados Dadaab

Fonte: http://www.unhcr.org

Figura 20 - Campo de refugiados Zaatari

Fonte: https://www.abc.net.au

Figura 24 - Campo de refugiados

Fonte: https://www.csis.org

Figura 25 - Campo de Dollo Ado

Fonte: http://actualidad-solidaria.blogspot.com

CAMPOS DE REFUGIADOS

Campos de refugiados são construídos provisoriamente, têm a intenção de ser temporários e poderem providenciar as necessidades básicas de sobrevivência. São normalmente construídos por organizações internacionais ou não-governamentais, são organizações humanitárias sem fins lucrativos.

Foi anunciado em 2016 que até ao final de 2015 foram deslocadas mais de 65.3 milhões de pessoas. (ACNUR, junho 2016)7

Campo de refugiados Dadaab, Quénia

O maior campo de refugiados do mundo é o campo Dadaab no Quénia, alberga mais de 350 mil pessoas, é um complexo dividido em seis acampamentos que acolhem pessoas forçadas a fugir de perseguições e guerras na África. 8

Campo de refugiados Zaatari, na Jordânia

O campo de Zaatari é o terceiro maior campo de refugiados do Médio Oriente, é um assentamento temporário e mais de metade da população de Zaatari é formada por crianças, sendo que uma em cada três não frequenta a escola. De acordo com o ACNUR, existem também mais de nove mil jovens no campo com idades entre 19 e 24 anos que precisam de formação profissional. Cerca de 5,2% destes jovens estavam na universidade na Síria, mas abandonaram os estudos devido ao conflito. (ACNUR, julho 2015)9

Campo de refugiados Dollo Ado, Etiópia

O complexo de Dollo Aldo, localizado no sudeste da Etiópia, é composto por cinco campos e abriga somalianos que fugiram das condições precárias de seu país, especialmente motivados pela fome e seca. Com mais de 213 mil refugiados, o campo recebe desde 2011 famílias que lutam contra a desnutrição. Organizações como Médicos Sem Fronteiras (MSF) e International Medical Corps (IMC) são responsáveis pelos centros nutricionais. De acordo com o MSF, ali são atendidas cerca de 200 crianças desnutridas. (Portal EBC, junho 2016) 10

7Disponível em: www.acnur.org

8Disponível em: www.brasildefato.com.br/node/32816

9Disponível em: www.acnur.org/portugues/2015/07/28/campo-de-refugiados-de-zaatari-na-jordania- 10Disponível em: http://www.ebc.com.br/noticias/2016/06/d

Figura 25 - Campo de refugiados de Dollo Ado

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Campo de refugiados Yida, Sudão do Sul

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) está a atuar em Yida, no estado de Unity no Sudão do Sul, desde novembro de 2011. Lá a organização administra um hospital no campo de refugiados e um serviço de consultas. Com mais de 70 mil refugiados, Yida, no Sudão do Sul não foi reconhecido oficialmente como um campo de refugiados nem pelo ACNUR e nem pelo governo do sul-sudanês. Para o MSF, o crescimento desordenado do acampamento ameaça as condições de saúde dos refugiados de forma geral. Além disso, existem problemas relacionados com a segurança devido à proximidade do território controlado por forças rebeldes. (Portal EBC, junho 2016)

(De cima para baixo) Figura 26 - Refugiados sudaneses no campo de Yida

Fonte: http://www.acnur.org

Figura 27 - Refugiados no campo Yida, Sudão do Sul

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O A

BRIGO

Um abrigo é um lugar que pretende proteger, amparar e esconder aquilo que nele se abriga. De características naturais ou artificiais a noção de abrigo ganhou ao longo do século XX uma importância significativa. São inúmeros os fenómenos que tornaram estes um tema de grande importância principalmente na arquitetura, o que levou à investigação de novas técnicas e novas soluções que permitiram dar respostas rápidas a problemas drásticos de falta de abrigo. Arquitetos como o Shigeru Ban (construção em Cartão), Buckminster Fuller (arquitetura high-tech, estrutura geodésica), Nader Khalili (construção em terra) e o Robert Kronenburg (sistemas portáteis: módulo, flat-pack, tênsil e pneumático), foram fundamentais para perceber como é possível hoje resolver problemas de emergência social em curtos espaços de tempo.

SHIGERU BAN – CONSTRUÇÃO EM CARTÃO

Shigeru Ban11 é um arquiteto japonês cujo trabalho tem sido focado na arquitetura de emergência. Ganhou o prémio Pritzker em 2014 distinguido pela inovação de técnicas e aplicação de materiais pouco usuais em arquitetura. Nasceu a 5 de Agosto de 1957 em Tóquio cresceu numa casa tradicional japonesa em madeira e desde sempre lhe surgiu o interesse pela carpintaria tradicional porque estas casas requerem uma manutenção regular feita por carpinteiros. Os interesses dos pais por música clássica ou mesmo o facto de a sua mãe projetar figurinos de alta-costura proporcionaram a Ban um ambiente criativo. Na sua juventude deixou-se guiar pela influência de John Hejduk, depois de ler um artigo do arquiteto Ban decidiu ingressar na Escola de Arquitetura da Cooper Unionem Nova Iorque, começando assim o seu percurso na arquitetura.

Os projetos de Ban sempre tiveram como base a experimentação em relação a materiais e sistemas construtivos. Usando como base normalmente papel, madeira, tecidos etc.

11Disponível em: www.archdaily.com.br

(De cima para baixo) Figura 28 - Shigeru Ban

Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com

Figura 29 - Shigeru Ban Japan Pavilion Expo 2000 Hannover

Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com

Figura 30 - Shigeru Ban utilizando a estrutura de Casas Paper Log

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Na década de 1990 percebeu que os seus projetos inovadores se enquadravam para solucionar e melhorar a vida dos refugiados vítimas de desastres naturais e guerras. Em 1994 desenvolveu o seu primeiro projeto de arquitetura pós catástrofe para vítimas desalojadas da guerra civil em Ruanda, tornando-se assim consultor do Alto-comissário das Nações Unidas.

As suas estruturas em cartão são económicas, fáceis de construir e flexíveis o que permite satisfazer as necessidades específicas de cada situação.

Ban passou assim a apoiar vítimas de desastres dando assistência a países como a Turquia, Índia, Sri Lanka, China, Itália, Haiti, Japão, entre outros, graças à ONG que fundou, a Voluntary Architects’ Network (VAN).

Casas Paper Log - Kobe, Japão, 1995

Um projeto humanitário de apoio às vítimas do terremoto em Kobe em 1995. Este abrigo é composto por tubos de papel com 4 mm de espessura e 106 mm de diâmetro, as fundações são feitas com caixas de cervejas preenchidas com sacos de areias que foram doadas pelas pessoas.

Como isolamento foi usada uma fita de esponja à prova de água feita com adesivo que foi colocada entre cada tubo de papel. Este projeto tem uma elevada importância de apoio social, a custos reduzidos recorrendo à reutilização de materiais possibilitando uma fácil montagem, e uma possível reutilização dos materiais usados.

Figura 32 - Modelo Casa Paper Log Japão

Fonte: http://www.dma-ny.com

Figura 31 – Implantação de várias Casas Peper Log Japão

Fonte: http://www.dma-ny.com

(De cima para baixo)

Figura 33 - Construção de Casas Paper Log Japão

Fonte: http://www.dma-ny.com

(Da esquerda para a direita) Figura 34 - Desenhos técnicos Casa Paper Log Japão

Fonte:http://www.dma-ny.com

Figura 35 - Perspetiva explodida e sistemas de construção da Casa Paper Log Japão

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(De cima para baixo) Figura 36 - Perspetiva explodida e sistemas de Casas Paper Log Índia

Fonte: http://www.urbanhabitatchicago.org

Figura 37 - Implantação das Casas Paper Log, Índia

Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com

Figura 38 - Interior de uma Casa Paper Log Índia

Fonte:http://www.shigerubanarchitects.com

Figura 39 - Estudo de implantação do Abrigo de Borracha Nepal

Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com

Figura 40 - Estudo do interior do Abrigo de Borracha Nepal

Fonte: http://www.shigerubanarchitects.com Casas Paper Log - Índia, 2001

Este abrigo de Shigerun Ban na Índia tem especial interesse arquitetónico pela forma como foi pensado estruturalmente, sempre tendo como base os tubos de cartão por ele usados desde 1994, a principal novidade está na cobertura e nas fundações. As caixas de cervejas que estavam disponíveis em Kobe não se encontravam nesta situação, então foram substituídas por entulho existente no local que foi revestido por um pavimento de argila tradicional. Para a cobertura foi usado bambu como elemento estrutural, por exemplo como viga, que serviu de suporte para um elemento feito de cana que rematou a cobertura e criou uma antecâmara nos abrigos, protegida da chuva, depois de serem adicionados plásticos a este elemento vertical. Estas peças feitas em cana na cobertura permitiram a existência de ventilação natural pois foram abertos pequenos buracos entre as canas que faziam circular o ar.

Com estas inovações no conceito de abrigo em papel o arquiteto conseguiu proporcionar aos locais pequenas experiências como poderem cozinhar dentro do abrigo por existir ventilação.

Abrigo de Borracha – Nepal, 2015

Estes abrigos de borracha foi uma proposta do arquiteto para construir um abrigo emergencial no Nepal. O principal objetivo de Ban é planear um abrigo que seja possível ser construído por qualquer pessoa. A estrutura é feita com elementos modulares de madeira e os espaços são preenchidos com tijolos de borracha reciclada, as ligações da cobertura são feitas também com elementos de cartão. Esta fácil montagem diz Shigerun Ban, permite que este abrigo seja levantado rapidamente e logo ocupado.

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BUCKMINSTER FULLER - HIGH-TECH, ESTRUTURA GEODÉSICA

Richard Buckminster Fuller12 nasceu a 12 de Julho de 1985 em Massachusetts onde morreu com 88 anos. Para além de arquiteto e designer foi um visionário, em 1950 a sua carreira foi marcada pelo sucesso das cúpulas geodésicas. Sempre foi conhecido por procurar soluções tentado antecipar alguns problemas da humanidade, proporcionar qualidade de vida para as pessoas com poucos recursos, foi um dos principais objetivos do seu trabalho. A sua principal invenção, que lhe deu o reconhecimento, foi a concretização das cúpulas geodésicas ou Domos geodésico, que consiste numa estrutura conhecida pela sua estabilidade e resistência mecânica, e é uma solução estrutural mais leve e com uma melhor relação custo benefício.

O domo geodésico pelas suas características de estabilidade permitem criar inúmeras estruturas, é uma das técnicas mais utilizada em abrigos e situações de arquitetura efémera onde é possível criar uma estrutura muitas vezes modular com resistência, estabilidade e é leve o necessário para uma fácil montagem.

I-Beam Design – Pallet House

O projeto Pallet House13 surgiu pela primeira vez numa proposta a um concurso de habitação transitória para refugiados do Kosovo, proposto pela Architecture for Humanity, em 1999.

Os arquitetos Azin Valy e Suzan Wines da I-Beam Design, apresentaram uma proposta que consistia na construção modular com paletes de madeira. Este material é regularmente utilizado para transporte de suporte básico a zonas de emergência social, como o transporte de medicamentos e alimentos, e é um material de fácil acesso, a custo reduzido e de fácil transporte. A construção em paletes permite inúmeras variantes de conjugações de formas da habitação incluindo a produção de mobiliário compondo também o espaço interior.

12 Disponível em: www.archdaily.com

13 Disponível em: http://www.i-beamdesign.com/the-pallet-house-newyork/ (De cima para baixo)

Figura 41 - Buckminster Fuller

Fonte: https://www.bfi.org

Figura 42 - Estrutura geodésica

Fonte: https://www.archdaily.com.br

Figura 43 - Montagem de uma estrutura geodésica

Fonte: https://www.archdaily.com.br

Figura 44 - Implantação de uma Pallet House

Fonte: http://www.i-beamdesign.com

Figura 45 - Vista do interior de uma Pallet House

Imagem

Figura 2 – Perspetiva de uma cidade destruída
Figura 3 - Menina síria que se rende à câmara, imaginando  tratar-se de uma arma, 2015
Figura 6 - Lebbeus Woods, “Berlin Free-Zone 3-2”,1990  Fonte: https://lebbeuswoods.wordpress.com/
Figura 7 - Ambiente durante a guerra, Welcome To  Sarajevo de Michael Winterbottom
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Referências

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