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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 Problema de pesquisa

Pelo desenvolvimento desta pesquisa, pretende-se responder o seguinte problema: como as manifestações culturais, sob a perspectiva da integração, diferenciação e fragmentação, de uma organização familiar de Uberlândia, atuam, limitando e/ou possibilitando a sua continuidade?

Para desvendar o problema proposto, define-se como objetivo geral: identificar as manifestações culturais sob a perspectiva da integração, diferenciação e fragmentação, de uma organização familiar de Uberlândia, que atuam como limites e/ou possibilidades de sua continuidade.

Define-se também, como objetivos específicos: i) reconhecer as manifestações culturais presentes na organização; ii) verificar as interpretações dos membros e dos grupos da organização para as manifestações culturais; iii) identificar quais manifestações correspondem à integração, diferenciação e fragmentação, de acordo com Martin (2002); iv) analisar quais as manifestações são limites e/ou possibilidades à continuidade da organização.

A abordagem da pesquisa é qualitativa. Segundo Godoy (1995), de acordo com a natureza do problema que se pretende solucionar e dos objetivos que orientam a pesquisa, a opção pela perspectiva qualitativa pode ser a mais apropriada:

Quando o estudo é de caráter descritivo e o que se busca é o entendimento do fenômeno como um todo, na sua complexidade, é possível que uma análise qualitativa seja a mais indicada. Ainda quando a nossa preocupação for a compreensão da teia de relações sociais e culturais que se estabelecem no interior das organizações, o trabalho qualitativo pode oferecer interessantes e relevantes dados. (GODOY, 1995, p. 63).

De acordo com Minayo e Sanches (1993), a abordagem qualitativa é típica de pesquisas que procuram revelar aspectos subjetivos e simbólicos, em compreender as relações e as atividades humanas com os significados que lhes dão formas. O papel dessa abordagem é definir o que se encontra imerso na experiência e ações dos indivíduos, que se refere à subjetividade, ao nível simbólico, aos significados e a intencionalidade.

Como proposto por Godoy (1995), a pesquisa qualitativa possui como características básicas o ambiente natural como fonte de dados e o pesquisador como instrumento fundamental, pois o indivíduo pesquisador é o instrumento mais confiável de observação, seleção, análise e interpretação daquilo que é coletado. É descritiva, considerando que a palavra escrita é o destaque, desempenhando o papel indispensável tanto na coleta de dados como nos resultados. O significado entendido acerca das coisas e da vida pelas pessoas é a preocupação essencial do pesquisador, pois a compreensão deve ser feita a partir da perspectiva dos participantes. E, por

fim, os pesquisadores se baseiam no enfoque indutivo quando da análise dos dados, pois, como não partem de informações pré-estabelecidas, não buscam por resultados que corroborem ou refutem tais informações, e sim partem de questões ou focos de interesse abrangentes que, no decorrer da investigação, adquirem direcionamentos e especificidade para um foco bem definido. É interessante ressaltar que, mesmo assumindo uma capacidade de abrangência e profundidade quando utilizada em estudos de fenômenos culturais, a pesquisa qualitativa está condicionada a limites. Esse tipo de abordagem pode não compreender os fenômenos como um todo e/ou conduzir a erros, devido ao próprio olhar do pesquisador quando da apreensão ou análise dos dados. No entendimento de Minayo e Sanches (1993, p. 244), “a abordagem qualitativa realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto”.

No entanto, ainda que existam limites, considerando o ponto de vista metodológico, a pesquisa qualitativa, como afirma Godoy (1995), constitui uma maneira perspicaz para captar a realidade, pois ela permite ao pesquisador olhar o ambiente pesquisado, com o olhar do outro, como um membro daquele grupo, e ao mesmo tempo estranhar as diferenças como um indivíduo externo àquele espaço.

Quanto à natureza, por se tratar de um estudo associado às Ciências Sociais, esta pesquisa será de natureza aplicada, que, de acordo com Andrade (2004), busca a solução de problemas concretos.

Visto que o trabalho se encontra ancorado na abordagem qualitativa, como já mencionado anteriormente por Godoy (1995), a pesquisa é descritiva. Andrade (2004) explica que a pesquisa descritiva observa, registra, analisa, classifica e interpreta os fatos sem interferir sobre eles. A pesquisa descritiva é feita normalmente por observações sistemáticas ou por um levantamento das características conhecidas, componentes do fato/ fenômeno/ processo (SANTOS, 2002).

O método de procedimento utilizado buscou aporte na etnografia e na análise documental.

Objetivando desvendar a cultura organizacional, que teve seu desenvolvimento na administração baseados nos estudos da antropologia, a etnografia se mostrou adequada.

Nesse sentido, Ávila (2007) menciona que a ancoragem em conceitos e métodos da antropologia interpretativa7 teve como resultado uma sofisticação dos estudos organizacionais. De acordo com Craide et al. (2006; p. 4), a etnografia “tem como pressuposto a total imersão do

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A antropologia interpretativa considera que a realidade social não é mais que uma construção subjetiva dos seres humanos, que utilizam e desenvolvem a linguagem comum e suas interações habituais, do dia a dia, para criar e sustentar o mundo social de significados compartilhados. As ideias e os fatos são, em sua essência, criações sociais. A análise dos contextos sociais se fundamenta a partir da noção de que estes contextos são formados por vários indivíduos que interagem, empregando uma diversidade de práticas que criam, mantêm e conduzem definições particulares do mundo (MASCARENHAS et al., 2004).

pesquisador no campo de pesquisa, tempo, sensibilidade para poder estranhar o cotidiano, empatia com os pesquisadores e, principalmente, uma visão desprovida de preconceitos e julgamentos”. Para realizar a etnografia, é imprescindível que se estabeleça uma familiarização bastante próxima entre pesquisador e cultura analisada, por meio de uma interação social com o grupo e da observação.

Para Flores-Pereira e Cavedon (2009), a etnografia constitui no processo de realizar a descrição sobre um determinado grupo. O processo ocorre inicialmente pela delimitação do campo, do espaço a ser pesquisado. Posteriormente, o etnógrafo estabelece as fontes documentais disponíveis, das quais possa extrair informações importantes que elucidem aspectos pertinentes para a solução do problema proposto pela pesquisa. O pesquisador insere-se, então, no campo de pesquisa, mantendo o registro sistemático, por meio de um Diário de Campo, de tudo que é observado no dia a dia do grupo pesquisado, desde ações a emoções. É o momento em que o pesquisador também seleciona os possíveis informantes que irão contribuir nas entrevistas, que são os indivíduos que falam de maneira mais abertamente sobre a cultura da qual participam. Essa fase de permanência em campo é um momento de confronto contínuo da cultura pessoal do pesquisador com a cultura que se pretende desvendar, e deve-se buscar uma separação da perspectiva êmica (pressupostos dos pesquisados) da ética (pressupostos do pesquisador). Finalmente, o pesquisador abandona o campo para analisar o grupo com uma visão distanciada da visão que foi adquirida quando da permanência naquele contexto, a fim de reconhecer aquilo que é representativo da cultura que se pretende desvendar.

No entendimento de Mascarenhas (2002), a etnografia consiste em uma movimentação em direção ao acostumar-se, familiarizar-se com a cultura estudada, pois a observação e a imersão do pesquisador no ambiente permitem que ocorra uma longa interação social com o grupo.

O estudo de caso foi utilizado como uma estratégia para alcançar o objetivo proposto. Triviños (1987, p. 133, destaque do autor), conceitua que “o estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente”, em que nem as hipóteses e os esquemas de inquisição estão inicialmente estabelecidos, o que torna as análises mais complexas na medida em que se aprofunda no assunto.

Santos (2002) afirma que o estudo de caso pode ser qualquer fato/fenômeno/processo individual, ou apenas um de seus aspectos, e, por lidar com fatos/fenômenos/processos, normalmente, isolados, é que este estudo exige do pesquisador significativo equilíbrio intelectual e capacidade de observação, ou seja, um olhar clínico, além de parcimônia quanto à generalização dos resultados.