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4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 Os diferentes grupos sob a perspectiva da integração, diferenciação e fragmentação

4.2.2 Sob a perspectiva da diferenciação

De acordo com Martin et al. (2004), o estudo que mostra a existência de cinco subculturas em uma empresa de alimentos, apresentado por Bartunek e Moch em 1991,

evidencia até que ponto o consenso existe em uma organização. Sob a perspectiva da diferenciação, há o consensual, mas dentro dos limites das subculturas.

A diferenciação torna-se evidente nas temáticas divergentes presentes e nas falas dos grupos de atores. As manifestações que compõem a perspectiva da diferenciação aparecem nos temas próprios de cada grupo de atores que não encontram consonância entre si, enfocando as diferenças existentes entre os diversos grupos que compõem a organização (CAVEDON; 2000).

No entendimento de Martin (2002), a perspectiva da diferenciação, compreende aquelas manifestações que estão presentes em um único grupo, e não podem ser observadas em outros grupos. Para a autora, diferentes grupos são formados, emergindo subculturas que podem coexistir em harmonia, independentes ou em conflito.

Para a Categoria 1 - Como as Coisas Funcionam, o grupo da diretoria se diferencia pela manifestação que forma o tema Realização de um sonho e a empresa é o sustento da família.

Para o grupo da administração, foram expressos os seguintes temas, na mesma categoria: Resistência para com a pesquisa; A Fábrica de Festa é diferente; e Não aceitação de quem não contribui com o espírito de equipe.

O grupo de nível operacional manifestou, dentro da perspectiva da diferenciação, o tema Não conhecem todos os colegas.

Ainda, na Categoria 1 - Como as Coisas Funcionam, as manifestações acerca de Muita movimentação no espaço de trabalho e Pouca movimentação no espaço de trabalho diferenciam os grupos, apesar de terem sido manifestadas por todos eles. Foi verificado que os motivos que levam os grupos a expressarem a muita, ou a pouca movimentação foi característico de cada grupo. Sendo assim, essas duas manifestações se diferenciam nos grupos.

Para o grupo da diretoria, o ambiente de trabalho oscila entre o muito ou pouco, de acordo com o momento e com a presença ou ausência dos diretores. Para o grupo da administração, a manifestação de muita ou pouca movimentação transparece pelo tipo de ambiente que está sendo observado, havendo ambientes agitados e outros mais tranquilos. Já para o nível operacional, o tipo de trabalho realizado por determinada função é que define a muita ou a pouca movimentação no ambiente de trabalho.

Do mesmo modo, os temas Pessoal em detrimento ao negócio e Negócio em detrimento ao pessoal constituem uma diferenciação para os grupos da Fábrica de Festa. Foram temas que estão presentes em todos os grupos, mas as manifestações que estão associadas a eles se divergem, pois apresentam formas de expressarem as decisões, seja para os negócios ou para o pessoal, apoiadas por motivos e obrigações diferenciadas, quando comparadas entre grupos.

Para o grupo da diretoria, os assuntos negócios ou pessoais estão em um movimento harmônico, entrelaçados constantemente e dividindo sempre o tempo destinado ao trabalho com o período destinado às necessidades pessoais, com liberdade de decisão para este ou aquele. No grupo da administração, o tema Negócio em detrimento ao pessoal é mais presente, pois este grupo não possui a liberdade de horário e períodos de trabalho flexíveis, quando comparado à diretoria. Já para o grupo de nível operacional, esta liberdade é ainda menos presente, pois é um grupo para o qual a atividade de trabalho mal fornece espaço para tomadas de decisões, se comparado aos outros dois grupos.

Na Categoria 4 - Política de Remuneração, a diretoria se diferencia pelo tema Salários compatíveis com o mercado, cargos e responsabilidades.

Para a Categoria 2 - As Brincadeiras e Piadas que as Pessoas Fazem, Categoria 3 -

Adequação da Estrutura Física e Equipamentos e Categoria 5 - Relacionamento Entre os Pares e Outros Grupos, não foram encontradas manifestações de diferenciação.

Nesse sentido, a formação de grupos ocorre de acordo com os interesses que permeiam cada grupo, remetendo a uma cultura de diferenciação (MARTIN, 2002).

Outras manifestações que contribuem na evidência da diferenciação entre os grupos na Fábrica de Festa são aquelas que desvendam a presença de lideranças que extrapolam a hierarquia formal. Um funcionário é sempre procurado para dar conselhos ou explicar a “melhor maneira de fazer as coisas”. Em alguns momentos, esse funcionário também desempenha papéis de dar conselhos e proteção, por vezes, característicos das afetividades paternais, consolando e tranquilizando outros funcionários. “Quando saiu, o funcionário [29] disse que o outro funcionário [25] é como um filho” (Diário de Campo, fevereiro de 2010).

Em outro momento, um funcionário buscava auxílio e apoio, sendo prontamente atendido por outro funcionário [29].

O funcionário [26] não soube explicar o que teria acontecido. Estava apreensivo, ficou inquieto por não ter e não encontrar uma explicação para o diretor. A funcionária [29] explicava para o funcionário [26] com bastante calma e tranquilidade, buscando esclarecer os pontos não entendidos sem deixar constrangimentos. Ela estava tentando ajudá-lo a encontrar as respostas [...]. O funcionário [29] ficou o tempo todo conversando com ele: “– Não precisa se preocupar, isso acontece” (Diário de Campo, fevereiro de 2010).

A diferenciação pode ser observada em atitudes que fazem funcionários optarem por esta ou aquela ação, de acordo com suas afinidades. Os funcionários procuram por aqueles que servem de conselheiros e indicam como as coisas funcionam na organização, desde que se sintam atraídos, no sentido de concordância, com o modo como as coisas funcionam. Isso faz

com que grupos se formem em torno de ideias e indivíduos que buscam pelo “nosso modo”, que é certo, e repudiam “aquele modo”, que é errado.

De acordo com Martin (2002) e Martin et al. (2004), o consenso ocorre somente dentro de certos limites, das subculturas, e aquilo que é bem expresso e declarado existe apenas dentro dessas subculturas, embora ambiguidades apareçam nos interstícios subculturais.

Ávila (2007) entende que, para os defensores da perspectiva da diferenciação, as empresas são organizações multiculturais, em que há a existência de culturas diferenciadas, homogêneas e coesas. No entanto, esse movimento de coesão se manifesta apenas dentro do limite de cada subcultura, pois, quando o olhar se estende para além dos limites internos de cada grupo, as manifestações se tornam diferentes e ambíguas.