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Mapa 5: Modelo Digital Terrano (MDT) - Canal do Baldo, Passo da Pátria, Natal-RN

É evidente o descaso do poder público perante a comunidade, que vem reclamando constantemente, conforme os próprios moradores. Segundo eles, o Complexo é uma área isolada da cidade, sendo assim esquecida ou negligenciada pelos governantes. Na visita a campo foi constato esses inúmeros problemas relatados pelos moradores. As imagens a seguir foram retiradas das áreas correspondentes às de maior risco.

Várias casas da comunidade, sobretudo próximas ao Canal do Baldo apresentam adaptações, construções, melhoramentos feitos pelos próprios moradores para tentar impedir que as águas de inundações invadam suas casas e que percam seus pertences, entre essas medidas, encontramos casa com mureta na porta para conter a entrada da água em períodos de chuvas, calçadas altas, muros de contenção, além de sacos de areia usados como barreiras de contenção (próximo ao talude do Canal do Baldo).

Inúmeras marcas de água puderam ser vistas nas paredes das casas que indicam a altura que a água atingiu durante a última inundação. Vários domicílios já foram e tiveram seus moradores afetados por consequências dos períodos chuvosos. Na figura 16, através de uma trena métrica, podia notar que várias calçadas encontravam em torno de 60 cm e que mesmo assim de acordo com os moradores a água ainda adentravam.

Figura 16: Imagem de algumas calçadas em casas próximas ao Canal do Baldo, no

Complexo do Passo da Pátria. Calçadas aumentadas pelos próprios morados ao longo do tempo como medidas de contenção a inundação.

Fonte: Arquivo Georisco, visita de campo realizada em 30/09/2017.

Em conversa, descobrimos que uma das últimas grandes inundações que os moradores se recordam ocorreu há 10 anos atrás, contudo inundações de menores graus acontecem constantemente, como alega a moradora Rejane Mari que em conversa informal, alegou que a água subiu 1 metro em fevereiro de 2017 e que ela teve que sair de casa com seus familiares e logo em seguida adotar medidas para aumentar a calçada

da sua casa e colocar suportes para levantar moveis, como o sofá, geladeira, estante, entre outros.

Figura 17: Imagens de rachaduras na estrutura do Canal do Baldo no Complexo do

Passo da Pátria.

Fonte: Arquivo Georisco, visita de campo realizada em 30/09/2017.

A estrutura do canal está bem deteriorada (Figura 17). Vale salientar que o canal é um talude artificial e instável e sem estriamento. Em conversa informal com a moradora Maria das Dores, onde informa que mesmo depois do talude a água já chegou a entrar, ou seja, que há uma falha ou ineficiência do Canal. O Canal apresenta em várias partes rachaduras, mostrando estar bem deteriorado além de não apresentar manutenção adequada, apresentando construções com risco de cair.

Figura 18: Imagens do Canal do Baldo no Complexo do Passo da Pátria, em sua vista

lateral, apresentando muito lixo, sujeira, estruturas precárias e aguais residuais.

A ausência de educação ambiental ou até mesmo pela falta de coleta dos resíduos sólidos faz com que muitos moradores joguem lixo próximo ao Canal, que acaba sendo carregado pela água e levado para o Rio Potengi, boa parte do lixo acaba contribuindo no assoreamento e, consequentemente no transbordamento do mesmo.

Figura 19: Imagens do Canal do Baldo no Complexo do Passo da Pátria, em sua vista

lateral, apresentando muito lixo, sujeira, estruturas precárias e aguais residuais.

Fonte: Arquivo Georisco, visita de campo realizada em 30/09/2017.

4.2 Eventos pluviométricos

A tabela 1 mostra todos os dias em que houve precipitações igual ou acima de 60 mm no período de 1987 a 2017 na cidade do Natal. Nesse período de 30 anos foram registrados 88 dias em que a precipitação foi igual ou superior a 60mm. A partir desses dados foi feito um apanhado de notícias de jornais, constatando que vários problemas foram registrados na cidade do Natal de uma forma geral, como também no Complexo do Passo da Pátria. Vale ressaltar que não há uma série histórica de grandes registros de inundações pela Defesa Civil.

De uma forma geral os registros de jornais as análises em si apenas reafirmam a falta de planejamento urbano da cidade para eventos de precipitações elevadas e que os problemas relacionados às inundações urbanas repetem-se a cada ano, bem como seus problemas de alagamentos e inundações de ruas próximas a rios e valetas, movimento de massa, asfalto e trânsito interrompidos, entre outros.

Tabela 1: Dias com precipitação igual ou acima de 60 mm

Fonte: BDMEP – INMET - Organização Davi S. F. Pontes (2018) BDMEP – INMET

Estação: NATAL - RN (OMM: 82598) Período solicitado dos dados: 01/01/1987 a 31/12/2017 Os dados listados abaixo são os que encontram-se digitados no BDMEP

Data Precipitação Data Precipitação Data Precipitação

10/06/1987 74.9 20/07/2000 66.4 09/06/2008 210.4 18/02/1988 66.6 02/08/2000 82.2 16/06/2008 111.7 05/05/1988 168.4 12/09/2000 70.8 01/07/2008 107.8 13/06/1988 87.8 28/04/2001 77.1 02/07/2008 216.8 25/06/1988 74.5 29/04/2001 70 07/08/2008 97.7 04/07/1988 87.6 05/06/2001 64.1 08/08/2008 171.9 07/07/1988 73.2 17/06/2001 153.1 17/01/2009 115.5 08/06/1989 72.5 07/03/2002 80.2 23/02/2009 66.1 03/06/1990 88.4 08/03/2002 83.7 24/02/2009 60.6 16/04/1991 87.1 23/03/2002 91.5 17/03/2009 63.6 18/04/1991 70.8 31/03/2002 70.5 20/04/2009 111.2 25/05/1991 65.5 18/06/2002 66.4 25/04/2009 70.7 30/05/1991 92.7 17/08/2002 117.5 11/05/2009 104.8 06/06/1991 62.2 18/08/2002 63.3 23/06/2009 97.1 27/06/1991 93.4 21/03/2003 72.7 24/06/2009 66.3 16/03/1992 72.2 11/06/2003 72.6 26/08/2009 72.8 01/04/1992 61.6 23/01/2004 60.4 06/05/2010 63.4 03/04/1992 60.5 26/01/2004 83.6 24/01/2011 115.6 04/04/1992 64.8 27/01/2004 64.4 13/04/2011 114.7 22/05/1992 61 28/01/2004 84.1 04/05/2011 73.9 10/06/1992 94.2 07/03/2004 104.4 04/06/2011 98.4 29/03/1993 65 01/06/2004 87.5 29/06/2011 75.7 22/04/1993 70 11/06/2004 78.4 16/07/2011 60.4 04/06/1994 66.8 18/06/2004 130.2 13/07/2012 92.7 14/06/1994 61.4 23/06/2004 92.8 15/05/2013 85.1 29/06/1994 84.6 14/07/2004 79.2 18/05/2013 96 04/07/1994 79.2 15/07/2004 152.4 09/06/2013 64.5 15/07/1994 73.3 12/05/2005 86 22/06/2013 77.9 16/07/1994 87.4 16/05/2005 163.5 02/07/2013 120.4 16/03/1995 103.8 03/06/2005 118.3 04/09/2013 125.6 03/05/1996 73.4 07/06/2005 96.7 14/03/2014 111.4 03/04/1997 119.1 23/06/2005 60.9 14/06/2014 131 02/05/1997 147.7 24/06/2005 64.6 15/06/2014 222 16/06/1998 68.3 22/02/2006 62.4 04/08/2014 62.2 09/07/1998 79.6 21/03/2006 70.1 09/09/2014 73.8 10/07/1998 69.9 30/04/2006 128.9 06/03/2015 66.2 19/07/1998 93.3 28/06/2006 69.5 25/06/2015 69.9 20/07/1998 77.6 02/03/2007 91.6 27/07/2015 66.6 29/07/1998 134.8 01/06/2007 60.4 11/05/2016 92.6 30/07/1998 253.2 13/06/2007 64.5 03/03/2017 73.7 27/05/1999 122.6 17/06/2007 118.4 30/04/2017 67.7 11/06/2000 89.2 29/03/2008 69.8 08/05/2017 64.8 27/06/2000 184.8 24/04/2008 105 30/05/2017 62 01/07/2000 141.2 29/04/2008 70.6 06/07/2017 116.1

O complexo do Passo da Pátria foi corriqueiramente relatado, sobretudo por alertas de risco emitidos pela Defesa Civil em ditos períodos chuvosos. Alguns dos registros podem ser vistos nas figuras 20 e 21.

Figura 20: Imagem obtida a partir de notícia de jornais.

Fonte: Tribuna do Norte.

Figura 21: Imagem obtida a partir de notícia de jornais 2.

4.3 Avaliação do risco de inundações das habitações.

A partir o levantamento obtido pelo ARP foi gerado o ortomosaico do Complexo, foi possível vetorizar as casas presentes no local, uma vez que a imagem apresentada é de alta resolução para a área e de fácil manuseio. Com a elaboração do ortomosaico da área (Mapa 6), MDT (Mapa 7), combinação do MDT e ortomosaico (Mapa 8),e as curvas de nível do local (Mapa 9), foi possível produzir um mapa com as áreas mais suscetíveis à ocorrência de inundação (Mapa 10) com as cotas de 1 e 2 metros, sendo as mais baixas da comunidade e as que ficam mais próximas ao Canal do Baldo e Rio Potengi. Sendo assim, possível obter um mapeamento síntese do grau potencial de desastres associados à inundação, com base na identificação das áreas prioritárias de atuação para fins de planejamento e de intervenções imediatas

A aplicação do ARP, busca reforçar sua utilização e apontar um encaminhamento metodológico para avaliação do risco e do grau potencial de desastres associados à inundação. Conforme apontam Sausen e Narvaes (2015, p.121) os dados provenientes de ARP “podem monitorar as águas de inundação, mapear as áreas que potencialmente podem ser afetadas e apoiar ações de prevenção, sendo possível utilizá- los de forma eficiente e operacional nas mais diversas fases da gestão de desastres de inundação”.

Entende-se então que as casas sobre cotas de 1 metro e de 2 metros têm mais chances de ser invadidas pela água em uma eventual inundação devido a sua baixa altimétrica.

Aproximadamente 143 habitações foram contabilizadas dentro da área de risco dessas duas cotas de inundações no Passo da Pátria, levando em conta uma média obtida pelo Censo Demográfico de 2010 de 3,6 pessoas por habitação, ou seja, 514 pessoas aproximadamente encontram-se vivendo nessa área de risco e sujeita a inundação diretamente.

Tendo em mente as casas no arredor do Canal e dentro das cotas de 1 e 2 metros obtido um total aproximadamente de 97 habitações, apresentando aproximadamente 349 pessoas nessa área de risco que tende a ser a mais afetada mesmo com precipitações baixas como pode ser visto em analises de jornais e relatos de moradores.

De uma forma geral todo o Complexo deve receber mais visibilidade da Defesa Civil e dos Governantes, sobretudo uma atenção especial nessas áreas levando em conta

o risco de inundação que é alto, sem negligenciar é claro os outros tipos de risco naturais que a comunidade apresenta.

Essa análise permitiu constatar que a configuração espacial do grau potencial de desastres associados à inundação é complexa e dinâmica. Sendo assim, se faz necessária a atualização do Plano de Risco de Natal para entender melhor a área e apresentar critérios e medidas para que não haja mais inundações no local. Faz-se necessário também a aplicação constante de estudos que deem suporte na execução dos processos de gestão do risco e de desastres associados à inundação, com implantação tanto de medidas estruturais e não estruturais.

O mapeamento do grau potencial de desastres associados à inundação, a partir do cruzamento dos mapeamentos de risco do lugar à inundação, demonstrou ser uma metodologia eficaz para auxílio na tomada de decisão frente aos processos de prevenção e mitigação de desastres associados à inundação, não somente para a área, mas para outros locais de Natal e de outras regiões, uma vez que tal metodologia é muito pouco usada e conhecida, desconhecida sobretudo pelo Poder Público.

Com essa metodologia, etapas de prevenção podem ser aplicadas, tais como estudos de ameaças, vulnerabilidades em cenários de risco, estruturação e operação de monitoramento, alerta e alarme além de várias medidas não estruturais e estruturais visando a mitigação, já que “são poucos e recentes os trabalhos que usam o ARP para aquisição desses dados no contexto brasileiro (LONGHITANO, 2010; BUFFON et al., 2017).”

Os resultados indicam que a metodologia é de baixo custo e importante para as áreas desprovidas de imageamento em detalhe, e se mostrou eficiente como um sistema de apoio à decisão espacial frente à mitigação e prevenção dos desastres decorrentes de inundações, além de apresentar benefícios como redução dos custos de aquisição de imagens aéreas, flexibilidade na aquisição das imagens, melhor resolução espacial e temporal, possibilidade de maior nível de desagregação dos dados, entre outros. pois serve para auxiliar no planejamento urbano.