• Nenhum resultado encontrado

PROBLEMAS RELACIONADOS COM A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

3 PROBLEMAS NA GESTÃO E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM LICENCIAMENTOS AMBIENTAIS ESTADUAIS

3.6 PROBLEMAS RELACIONADOS COM A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Diversos problemas quanto à produção do conhecimento e divulgação científica resultantes dos estudos/pesquisas e resgate dos acervos exumados na GPA dos licenciamentos remontam desde a vigência da Portaria nº 230, conforme descrito por Gomes (2017), tais como ausência de produção científica, falta de qualidade dos estudos, falta de reconstituição mínima aceitável do passado,

66 Tais como desconhecimento das coleções (pelo IPHAN e pelas instituições de salvaguarda), extravio (não encaminhamento do material exumado e/ou de comprovação do mesmo, problemas internos nas instituições), dispersão e descontextualização dos acervos (decorrentes do envio para instituições distintas e pela falta de encaminhamento da documentação produzida nas pesquisas), falta de entrega e pouca qualidade dos inventários.

restrição aos projetos e relatórios protocolados no IPHAN e mero relato dos resultados obtidos, além da falta de divulgação, entre outros.

Tal afirmativa pode ser corroborada por Fogolari (2007, p. 88-89) ao descrever:

Muitos arqueólogos de contrato apoderam-se dos recursos e do material arqueológico sem qualquer divulgação ou responsabilidade social de extroversão. Quanto à arqueologia acadêmica, também negligencia os saberes, restringindo-se ao seu universo particular e destinando grande parte dos recursos dos projetos a “qualificações e viagens pessoais”.

[...] É nesse sentido que Bastos (2007, p. 78) discorre: a ação dos pesquisadores sobre os bens arqueológicos encontra não uma lacuna entre palavras e atos, mas uma inversão de sentido: o que deveria ser público, em larga medida torna-se privado e, pode ser medido pela prática enraizada de alguns pesquisadores da arqueologia em omitir dados em relação ao patrimônio arqueológico, que vão desde o não registro dos sítios arqueológicos, conforme a norma legal [...]

Mourão (2007 apud FOGOLARI, 2007, p. 86) afirma que “tem-se, assim, um saber segmentado, restrito aos arquivos dos órgãos licenciadores e dos escritórios das empresas especializadas”, acrescentando-se o disposto por Rufino (2014, p. 32) sobre a falta de divulgação produzir “vazios de conhecimento científico sobre determinadas áreas”.

Críticas acadêmicas “à falta de acesso aos achados relacionados com os contratos e seu isolamento das diversas partes interessadas, em sua maioria de âmbito local”, são apontadas por Gnecco e Dias (2015, p. 6), que também descreve:

O “controle de qualidade” da arqueologia regida pela lógica do capital passa a ser medido pela eficiência das empresas de consultoria em atender o cronograma dos empreendimentos. Em consequência, os relatórios gerados raramente são publicados, restringindo-se sua circulação ao âmbito legal, o que impossibilita a avaliação crítica do efetivo papel do IPHAN nestas estratégias de mediação (GNECCO E DIAS, 2015, p. 16).

Destaca-se ainda que a produção documental exige a utilização de ferramentas para a gestão, com vistas à organização das informações, o que nem sempre ocorre de modo adequado. Conforme Martins (2011, p. 163):

A prática dos procedimentos operacionais destinados à preservação dos acervos arqueológicos vem exigindo ainda métodos para a organização das informações. Esse fato vem se consolidando em virtude da preocupação em ampliar o modo de ver o acervo documental da pesquisa que já acumula uma história como bem cultural resgatado de sua origem e que ganha, paulatinamente, novos elementos, ao nível da memória, e produz novas relações entre o acervo e entre seus usuários.

De acordo com o evidenciado, a efetividade da produção do conhecimento e divulgação científica na AC tem sido questionada, sendo “um assunto polêmico e controverso, de acordo com os relatos de vários pesquisadores” (GOMES, 2017, p. 47).

É importante salientar que “a preservação é, em primeiro lugar, um trabalho de registro com o propósito de produzir ou proporcionar a produção de conhecimento sobre os testemunhos arqueológicos”, conforme descreve Martins (2011, p. 162):

Esses testemunhos da pesquisa arqueológica são considerados como fonte inesgotável de informações. Admite-se que, a cada novo olhar sobre o objeto, novas informações se revelam e novas interpretações são traçadas. Num segundo momento, por meio do conhecimento produzido, o trabalho possibilita a reformulação ou estabelecimento de critérios e normas de intervenção para os sítios arqueológicos e a base de dados fica preservada. Ainda, “a função social do patrimônio exige que esse conhecimento vá além dos processos protocolados no IPHAN, das publicações na academia, dos relatórios para empreendedores e órgãos ambientais para alcançar de forma efetiva as diversas camadas da sociedade” (MONTALVÃO E GONÇALVES, 2016, p. 30).

Mesmo que a IN tenha conferido avanços na tentativa de assegurar a produção do conhecimento e divulgação científica na AC, conforme abordado adiante, não há indícios de que as determinações foram suficientes para a solução desta problemática, no tempo transcorrido da publicação da normativa até a pesquisa efetuada para este estudo. Pelo contrário, o próprio IPHAN reconhece que a instituição até então esteve focada na preservação dos sítios e das coleções, aproximando-se do momento de trabalhar a questão documental (SAB, 2016l).

Ainda, entende-se como necessário um distanciamento temporal maior para a identificação dos resultados obtidos relacionados à efetividade dos procedimentos específicos ao tema definidos da IN.

Diante do exposto, são ainda destacados no contexto atual questionamentos apontados por Gomes (2017, p. 48) como importantes para a reflexão da problemática, uma vez que não foram ainda identificadas respostas para os mesmos:

O conhecimento produzido está sendo realmente efetivo para a preservação do patrimônio arqueológico? “A quantidade de dados coletados realmente contribui para o conhecimento arqueológico? A documentação desses sítios realmente compensa as enormes verbas gastas com ela? Ou deveria haver uma reflexão sobre o que é e o que não é relevante?” (FERRIS, 2002 apud CALDARELLI, 2008, p. 42) O conhecimento produzido na Arqueologia de Contrato tem sido tratado apenas como uma mercadoria, produzida e vendida a quem paga mais?

3.7 PROBLEMAS DE CUNHO GERAL NA GESTÃO DO PATRIMÔNIO

Documentos relacionados