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Para análise do Estatuto utilizou-se da unidade de contingência tríplice, buscando identificar os termos da contingência presentes nos artigos do documento e descrever e relacionar os antecedentes, comportamentos e conseqüentes, visando identificar contingências. Para tanto foi adotado a seguinte definição dos termos de uma contingência tríplice, baseada em Catania (1999); Souza (2000); Todorov; Moreira; Prudêncio; Pereira (2005):

Antecedente: Refere-se a um estímulo ou evento que precede uma ação (comportamento),

podendo descrever o contexto, as condições e as circunstâncias para tal comportamento ocorrer, incluindo ações de outras pessoas. Os antecedentes podem ter função discriminativa ou evocativa (Michael, 1985), porém nesta ocasião serão caracterizados apenas por se constituírem as condições sob as quais um organismo emite respostas. São exemplos de antecedentes as ocasiões em que uma criança pede um brinquedo, as instruções que um aluno recebe de seu professor, as informações presentes em placas de trânsito, entre outros; portanto, podem assumir funções de antecedentes tanto um ambiente físico quanto um ambiente social.

Comportamento: Refere-se a uma ação do indivíduo na presença de um estímulo ou evento

antecedente, sendo que, essa resposta produz uma alteração no meio. Essas mudanças devem retroagir sobre o comportamento que as produzem, alterando a sua probabilidade de ocorrência futura. São exemplos de comportamentos o choro da criança que não obteve o

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Na ocasião da elaboração da presente pesquisa surgiu uma nova versão substitutiva, porém uma versão anterior é que foi utilizada para análise neste trabalho.

brinquedo pedido, as perguntas que o aluno faz após não entender uma instrução e a ação de parar o carro frente a uma placa de trânsito que sinalize tal comportamento.

Conseqüente: Refere-se a um evento que ocorre após um comportamento ou que é produzido

por uma reposta (comportamento), “o que é causado por algum evento ou o que acontece como resultado dele”. São exemplos de conseqüentes a criança ficar de castigo porque está chorando demais, a professora repreender o aluno por não ter prestado atenção às explicações dadas e o motorista ser multado caso não tenha parado frente à placa que sinaliza parada obrigatória.

Para classificação dos artigos segundo os critérios acima também levou-se em consideração o conteúdo contido em cada artigo sendo que aqueles que sinalizaram garantias de direitos receberam o status de antecedente por descreverem o contexto, as condições ou as circunstâncias relacionadas ao comportamento indicado; por outro lado, o rótulo de comportamento coube aos artigos cujo conteúdo descrevia ou indicava um dever que deveria ser executado por determinados agentes, configurando-se uma ação do indivíduo em resposta a um estímulo ou evento antecedente.

3.3 Procedimento

Realizou-se uma leitura prévia e geral do documento a fim de um conhecimento mais amplo do conteúdo presente no texto e fazer a análise da estrutura documental identificando e quantificando títulos, capítulos, artigos, parágrafos, incisos e alíneas, a saber:

a) Os artigos são agrupados em títulos e capítulos que são grafados em letras maiúsculas e identificados por algarismos romanos;

b) O artigo é indicado pela abreviatura "Art.", seguida de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste;

c) Os parágrafos são representados pelo sinal gráfico "§", seguido de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste utilizando-se, quando existente apenas um, a expressão "parágrafo único" por extenso;

e) As alíneas são representadas por letras minúsculas.

A análise dos 109 artigos, cuja finalidade era identificar os termos das contingências, foi conduzida da maneira descrita a seguir: o documento foi lido seguindo a ordem numérica dos artigos, buscando-se identificar artigos que descrevessem um antecedente. A partir da identificação do antecedente, pesquisava-se, no documento todo, a presença de artigos que contivessem comportamentos que deveriam ser apresentados nas circunstâncias descritas pelo antecedente. Posteriormente, pesquisava-se no documento os conseqüentes também relacionados ao comportamento relatado e a situação antecedente indicada.

Com este procedimento, as contingências foram agrupadas e classificadas. O agrupamento deu-se de acordo com os temas aos quais cada contingência estava relacionada. Para seleção desses temas, analisou-se o conteúdo a que cada contingência se referia e assim, no decorrer da identificação das contingências, foram identificados temas a que tais conteúdos se referiam. Quanto à classificação, as contingências foram agrupadas em completas ou incompletas de acordo com os critérios descritos na seção dos resultados.

Na maior parte do documento, considerou-se o artigo todo para análise, com exceção do Título VII – Dos crimes em espécie, em que tornou-se necessário desmembrá-lo em duas partes, visto que os artigos previam comportamentos e posteriormente indicavam penas (conseqüentes), como observa-se no artigo a seguir:

Ar t . 9 6. Praticar, induzir ou incitar a discriminação de pessoa, em função de sua deficiência. (comportamento)

Pena - Reclusão de um a dois anos e multa. (conseqüente)

Conforme a análise de um capítulo era finalizada, organizava-se o registro das contingências identificadas no computador (Microsoft Word) a fim de facilitar, posteriormente, a análise das mesmas (Apêndice 1).

A análise do Título V – Do Acesso à justiça (Capítulos I, II, III e IV), necessitou da parceria de um profissional de Direito para esclarecimentos de alguns termos específicos da área que interferiam na compreensão do artigo e conseqüentemente na sua classificação. O exemplo abaixo apresenta um artigo com alguns dos termos com destaque sublinhado:

Ar t . 8 1 . Compete ao Ministério Público:

I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos da pessoa com deficiência.

II – impetrar mandado de segurança, de injunção e hábeas corpus em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis relacionados à pessoa com deficiência;

III – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos da pessoa com deficiência em condições de risco;

IV – atuar como substituto processual da pessoa com deficiência em situação de risco;

V – promover a revogação de instrumento procuratório da pessoa com deficiência, nas hipóteses de situação de risco, quando necessário ou o interesse público justificar;

VI - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às pessoas com deficiência, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;

VII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social públicos para o desempenho de suas atribuições.

§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e a legislação em vigor.

§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Público.

§ 3º Para o exercício das atribuições de que trata este artigo, poderá o representante do Ministério Público efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública relativos à pessoa com deficiência, fixando prazo razoável para sua adequação.