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3. MÉTODOS DA PESQUISA

3.2 Procedimento da pesquisa

O desenvolvimento de modelos ou a modelagem, seja para apoio a tomada de decisão ou não, possui um caráter criativo de modo que depende também em pequena parcela da “inspiração” do desenvolvedor. Além disso, de Almeida (2013) destaca que o procedimento de construção de modelos, em específico para apoio a decisão, deve estar ancorado no conhecimento cientifico e nos fundamentos já consagrados nesse campo de estudo. Ou seja, o desenvolvedor do modelo necessita considerar padrões já estabelecidos em literatura para evitar a introdução de erros conceituais em seu modelo.

Dentro desse contexto, o presente estudo propõe um modelo construído tendo por base modelos desenvolvidos e apresentados em trabalhos qualificados e propostos por diversos autores no campo de Análise de Decisão Multicritério. Nesse sentido, a Figura 06 ilustra e resume às etapas para construção do modelo de apoio a decisão elaborado por esta pesquisa.

Figura 06: Etapas para construção do modelo de apoio à decisão.

A Figura 06 é composta por dois passos preliminares e três etapas subsequentes. O primeiro ponto do modelo enfatiza a necessidade da realização de revisão bibliográfica. Nesta revisão devem-se buscar artigos qualificados, livros ou outros documentos científicos que abordem a temática de decisão multicritério para introduzir suas definições, pressupostos, métodos e limitações.

Miguel (2010) ao apresentar o processo de pesquisa em Engenharia de Produção, aponta a revisão da literatura como atividade inicial comum a projetos de pesquisa como teses e dissertações. Além disso, o autor complementa ao afirmar que o objetivo da revisão de literatura é apropriar-se dos modelos e conceitos anteriormente desenvolvidos para posteriormente, a partir deles, construir outros modelos.

Depois de imerso na literatura referente à análise de decisão multicritério e seus principais trabalhos, é possível identificar o problema de pesquisa. Esse problema consiste em uma questão de determinada situação que demanda discussão, avaliação e solução ou tomada de decisão. Em outras palavras, o problema é um questionamento para o qual a pesquisa procura apresentar uma resposta (PROVDANOV; FREITAS, 2013; RODRIGUES, 2006; SILVA; MENEZES, 2005).

Finalizada a fase preliminar, ou seja, identificado o problema de pesquisa, tem início as etapas com foco na construção do modelo de apoio a decisão. A primeira etapa versa sobre a estruturação do problema de decisão e abrange cinco passos, são eles: Caracterizar decisor(es) e outros Stakeholders; identificar objetivos; estabelecer critérios; estabelecer espaço de ações e problemática; identificar fatores não controlados.

A caracterização dos stakeholders é necessária para a identificação dos atores que influenciam no processo de tomada de decisão. Nesse sentido, os atores são caracterizados na figura de um indivíduo ou de um grupo. Segundo Roy (1996) existem duas formas de atuação dos atores. A influência de primeiro grau ligada diretamente às intenções do ator e a influência de segundo grau decorrente da forma como ele atua sobre outros indivíduos determinando suas intervenções no processo.

Quanto à identificação dos objetivos, de Almeida (2013) caracteriza como um processo criativo e reflexivo em relação ao contexto da decisão. Esse contexto deve estar alinhado com os objetivos. Keeney (1992) classifica os objetivos em duas categorias: fundamentais e objetivos-meio. Os objetivos fundamentais representam a finalidade ou principais interesses dentro do contexto ou situação em que a decisão está inserida. Os objetivos-meio são aqueles que possuem um nível de interferência nos objetivos fundamentais.

Após identificar os objetivos é necessário estabelecer os critérios considerados para o processo de tomada de decisão (ROY,1996; BELTON; STEWART, 2002; DE ALMEIDA, 2013; BYSTRZANOWSKA; TOBISZEWSKI, 2018; HONGOH et al.,2011). Esses critérios ou atributos tem como propósito representar os objetivos e avaliar as alternativas. Nesse sentido, os critérios ou atributos consistem em variáveis utilizadas para avaliar o desempenho de determinadas alternativas em relação aos objetivos almejados pelo tomador de decisão (DE ALMEIDA, 2013; BYSTRZANOWSKA; TOBISZEWSKI, 2018). Para Roy (1996), dessa maneira é possível avaliar as consequências decorrentes da decisão que se pretende efetuar.

Na fase seguinte é necessário investigar o espaço de ações presentes no problema, ou seja, identificar as alternativas consideradas para o problema. As alternativas implicam em ações que, por sua vez, possuem consequências dentro do contexto de decisão

Neste sentido, é verificado se as ações representam um conjunto discreto ou contínuo. Essa especificação contribui para posteriormente definir o método multicritério a ser aplicado ao problema (ROY,1996). Ainda dentro dessa fase, também é definida a problemática para a tomada de decisão. Como supracitado, a problemática pode referir-se à escolha de determinada ação, a realização de ranking das ações existentes, a classificação dessas ações em categorias ou grupos e a necessidade de descrever as ações consideradas para o problema (ROY,1996).

O próximo ponto finaliza a etapa de estruturação do problema, de modo que são investigados e identificados os fatores não controlados no problema considerado. De acordo com de Almeida (2013) esses fatores são variáveis que

não estão sob o controle do tomador de decisão, de forma que não é possível modelar as consequências decorrentes dessas variáveis para determinada alternativa/ação.

A etapa seguinte do método de pesquisa consiste na modelagem das preferências do decisor associada a agregação do desempenho das alternativas. A primeira fase a ser executada nesta etapa é a modelagem de preferências. Nesse ponto, o objetivo principal é compreender como refletir as preferências do decisor em relação a um conjunto de consequências (DE ALMEIDA, 2013). Segundo Roy (1996), para obter as preferências do decisor as consequências podem ser comparadas utilizando as estruturas de preferência. Essas estruturas são situações que o decisor pode definir ao comparar duas consequências quaisquer. Ei-las: situação de indiferença; situação de estrita preferência; situação de preferência fraca e situação de incomparabilidade.

Compreendida a estrutura de preferências representativa para o decisor, segue a escolha preliminar do método MCDA a ser aplicado ao problema. A escolha do método a ser aplicado está diretamente ligado aos passos anteriores, de modo que fatores como o objetivo, a problemática e a modelagem de preferências possuem significativa influência nessa escolha. Outro fator importante para a definição do método MCDA consiste no caráter compensatório ou não-compensatório relacionado a estrutura de preferências do tomador de decisão (DE ALMEIDA, 2013). Essa característica compensatória ou não- compensatória foi apresentada na revisão de literatura Tópico 2.2.2.

Com o método multicritério estabelecido é possível efetuar as duas fases posteriores de avaliação intracritério e intercritério, respectivamente. Na avaliação intracritério é investigado o valor de desempenho apresentado por determinada alternativa em relação a um critério específico, de acordo com o tomador de decisão.

Definido o desempenho das alternativas para cada critério é necessário avaliar como os critérios estão relacionados entre si (intercritério). Nesse ponto, o tomador de decisão designa um fator de escala para cada critério, de modo que, esse fator será combinado ao desempenho das alternativas e dessa forma tornar possível realizar a comparação entre essas alternativas (DE ALMEIDA,

2013; BELTON; STEWART, 2002). Os fatores de escala também podem assumir o significado de “peso”, uma vez que, expresse o grau de importância do critério para o decisor (DE ALMEIDA, 2013).

A combinação da avaliação intracritério e intercritério fornece subsídio para a avaliação das alternativas consideradas no problema de decisão. Ou seja, nesta fase as informações oriundas das duas fases anteriores são processadas visando responder a problemática já estruturada. A maneira como essas informações são processadas depende do método multicritério aplicado ao problema (DE ALMEIDA, 2013; BELTON; STEWART, 2002). Como exemplo, existem métodos como o AHP que buscam representar a alternativa através de um valor global composto pelo produto do desempenho da alternativa em relação a um dado critério e o fator de escala deste critério.

Após a finalização da avaliação das alternativas tem início a etapa de investigação e desenvolvimento das recomendações para o problema de decisão.

A primeira fase desta etapa, consiste na análise de sensibilidade e robustez dos outputs resultantes da fase de avaliação das alternativas. De acordo com Belton e Stewart (2002), são realizadas mudanças em aspectos do modelo de decisão para verificar se as conclusões preliminares são robustas ou apresentam sensibilidade às alterações efetuadas.

Belton e Stewart (2002) apresentam ainda três perspectivas para a análise de sensibilidade, são elas: perspectiva técnica, perspectiva individual e perspectiva de grupo. Na perspectiva técnica são modificados parâmetros como o desempenho das alternativas e as constantes de escala para cada critério de modo que é verificado se essas alterações afetam de maneira significativa os resultados preliminares. A perspectiva individual examina se a percepção e a compreensão do problema por parte do decisor estão alinhadas ao modelo de decisão. Na perspectiva de grupo o propósito é investigar o problema de decisão sob a ótica de diferentes atores envolvidos na problemática.

Depois de avaliada a sensibilidade e robustez dos outputs obtidos em decorrência da aplicação de métodos multicritério, inicia-se a fase de apresentação dos resultados e elaboração das recomendações. De acordo com

de Almeida (2013), a apresentação dos resultados deve constar a análise de sensibilidade e quaisquer simplificações adotadas ao longo da construção do modelo.

Nesse sentido, é ideal que se apresente os dados utilizados e informações obtidas a partir do modelo de apoio a decisão. Em conjunto com os aspectos já descritos deve-se apresentar também a ação recomendada para o problema de decisão. Ou seja, caso a problemática seja de seleção, ao final da construção do modelo uma alternativa é indicada como adequada às preferências do decisor, de acordo com os critérios, o método e as alternativas consideradas para o problema.

Para finalizar a etapa de investigação e desenvolvimento das recomendações é proposta a fase de entrega do modelo formalizado. Nesse ponto é elaborado o relatório/documento contendo a recomendação e demais resultados e avaliações geradas ao longo da construção do modelo de decisão (DE ALMEIDA, 2013; SAMPAIO et al., 2006). Esse relatório tem o propósito de auxiliar os atores envolvidos no processo decisório a definir qual das ações consideradas no problema será implementada (DE ALMEIDA, 2013; SAMPAIO et al., 2006).

Depois de disponibilizado o relatório, aos atores inseridos no problema de decisão, tem início à etapa de validação do estudo. A sua primeira fase consiste em validar o modelo construído em conjunto com o responsável ou os responsáveis pela tomada de decisão e os principais envolvidos na problemática. Nesse sentido, o relatório elaborado na etapa anterior é avaliado, de modo que, são verificadas todas as etapas do modelo de apoio à decisão para analisar se o modelo é representativo sob a ótica do tomador de decisão.

Após validado o modelo, o presente estudo propõe a comparação das recomendações obtidas através do modelo com as apresentadas em processos licitatórios para aquisição de equipamentos médicos. O objetivo desta fase é investigar se os resultados do processo de licitação são consistentes com as recomendações estabelecidas a partir das preferências do tomador de decisão.

4. MODELO MULTICRITÉRIO DE APOIO A DECISÃO PARA CONTRATAÇÃO

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