• Nenhum resultado encontrado

Moisés Domingos Correia41

Mamim Alfissene Baciro Baldé42

RESUMO: O contexto histórico colonial desenvolveu “mapas” promotores de estereótipos

que subalternizam o “Pensamento Africano” e “Pensamento Negro”. Como consequência da intervenção do racismo científico, a “África”, sua História e os seus povos foram empurrados na senda da circunstância apocalíptica canibal. Não obstante, devir de uma consciência histórica da sua diáspora e resistência de todas as naturezas contra o opressor sistema, saudou-se à “liberdade de pensamento” Negro. Pretendemos nesse artigo, problematizar os procedimentos laboratoriais, contextos e propósitos pelos quais tais conhecimentos estão sendo produzidos e como tudo isso poderá liderar-nos para novas dinâmicas libertadoras. Compreende-se pelo estranhamento sociológico a premência de autoquestionar à ausência da coerência científica e à progressiva estandardização da extrema dependência científica do Norte, perante a desmistificação proativa da planície africana. Entretanto, para sistematização e análise da problemática empreendida nessa elaboração, mergulhamos em abordagens multidisciplinares e transculturais presentes na literatura crítica sobre África, porque nos permitem absorver e introjetar pela criticidade tendências para pensamentos africanos reflexo de si.

PALAVRAS-CHAVE: Estudos Africanos; laboratórios científicos; Ausências versus

Coerência.

DOI: 10.46696/issn1983-2354.RAA.2020v13n37.dossieeduchist68-80

41 Mestrado em andamento em Ciência Política pela Universidade Federal de Piauí; Licenciatura em

Sociologia e Bacharelado em Ciências Humanas ambos pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro- Brasileira/UNILAB-CE; ysneyomberg@aluno.unilab.edu.br.

42 Licenciatura em sociologia e Bacharel em Ciências Humanas ambos pela Universidade da Integração

69

INTRODUÇÃO

[…] todas as coisas africanas se tornam científicas quando se aplica o conhecimento além do tempo e do espaço.

(ELSIMAR S. MARTINS ET. ALL, 2019, p. 85).

O modo de produção de conhecimento científico nas ciências sociais sobre a África e os povos africanos tem provocado incertezas, contradições e condescendências para a sua aceitabilidade entre os pesquisadores africanos e africanistas, devido à ausência de observações críticas das variáveis observadas nos objetos de estudos. Embora não teria constituído patológico constatar certa resistência no campo de Estudos Africanos entre os pesquisadores, porque o ofício científico demanda a “falseabilidade” tendo em consideração que nenhum estudo científico per si, principalmente, nas áreas humanas e sociais consegue explicar todas as variáveis que compõem o comportamento social individual ou coletivo.

Se evolução histórica e cultural dos povos demandam, na contemporaneidade, a inserção de novas tecnologias de elaborações científicas para preservação e maximização do custo à vida humana, muitos Estados-nações e continentes estão a compilar esforços necessários e preparando consecutivamente políticas de defesa para fazer face às ameaças ecológicas, “biopoderização” ou “necropolíticas” geoestratégicas de Estados. Nessa volatilidade, a África ficou com o ônus de ser o continente menos preocupado com esses desafios, uma estranha indisposição ou inércia que se explica pelo processo de desestruturação contínua preconizado por vários fatores de ordem imperialista. Contudo que esmiuçar esses fatores não constitui o nosso objetivo neste trabalho, mas sendo relevantes, limitaremos em mencionar, a partir de um diálogo com literatura existente: o colonialismo, a delimitação territorial, o racismo científico, a escamoteação e estigmatização de culturas locais, os ajustes estruturais e a democratização como espectros estruturantes na inferiorização e subdesenvolvimento do continente.

Por outras entrelinhas, as percepções projetadas pelos pensadores africanos e africanistas contemporâneos – integrados em mais variados campos de saberes –, além de criticidade da história e da desconstrução de Negro frente ao discurso Ocidental, também suas pesquisas apontam para novas roupagens que o mundo está a acomodar, no qual a África tornou-se o centro da discussão e a fuga do cérebro fez com que aqueles que têm condições e criatividades passam a constituir a mão-de-obra para a sofisticação da estrutura econômica do Ocidente. Portanto, o “devir-se” instaurar numa ocasião oportuna para a resiliência do pensamento africano em condescendência conflita com outros conhecimentos como modo de impulsionar a reconfiguração do espaço de África, dos povos africanos e as suas identidades culturais no enquadramento geopolítico neoliberal.

Em compensação, a implementação nacionalista de aparatos políticos híbridos como Estado pós-coloniais a olhos do Ocidente, sistemas monetários e democráticos, sociedades civis e direitos humanos levantam novos debates, mas tendo como o enfoque a africanização desses “mapas” determinantes da vida política no “Velho continente”, todavia, e por constituir problemáticas centrípetas, necessitar seus diagnósticos de levantamentos estatísticos e interpretações qualitativas que condizem com a realidade socioeconômica, política e cultural à medida que conduziria as contradições e as mediações para resoluções que convergiriam as variáveis científicas para que África possa ter uma transição

70

aconselhada e adoção de mecanismo do desenvolvimento que não se determina pelo PIB, mas pela valorização da vida.

Entretanto, nesta construção, argumenta-se através de uma análise crítica da literatura e estranhamento do processo laboratorial de estudos africanos, conceder especial relevância às diversas variáveis imbuídas que, de certa forma, permitir-nos-ão não só ter um conhecimento africano autônomo, bem como a partir da sua consistência metodológica – empírica e epistemológica – encontrar viés para a sua exequibilidade, portanto, resolver problemas seculares que os países africanos perpassam hodiernamente. Contendas que vão desde instituições consistentes para efetivação da investigação científica coerente até a utilidade dos resultados obtidos para a transformação social e política das Áfricas43.

Exposto isto, o trabalho está organizado em dois momentos importantes. Para além desta nota introdutória, problematizar-nos-emos certos conceitos metodológicos elaborados para a categoria negra perante o europeu e, na sequência, como foram-se configurar essas discussões na academia, sua “desmistificação” e apontar alguns aspectos prementes para elaboração científica autônoma no continente.