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Procedimento legal da transação penal

Capítulo 2 – Transação Penal

2.4. Procedimento legal da transação penal

Para a compreensão deste item é preciso analisar as condições de funcionamento do sistema dos Juizados Especiais Criminais, pelo menos até a fase de transação penal, que é o foco em pauta.

Regula a Lei n. 9.099/1995 que a notícia de uma infração de menor potencial ofensivo deverá ser apresentada à autoridade policial, que então lavrará termo circunstanciado de ocorrência41.

Empós, o agente tido como autor da infração é levado ou compromete-se a comparecer42 ao Juizado Especial Criminal43 territorialmente competente44, onde será realizada a audiência preliminar.

Nesta audiência, de acordo com os artigos 72 a 76 da Lei 9.099/1995, o suposto autor do fato, seu defensor, a vítima (se houver), o responsável civil (se possível o comparecimento), o conciliador e o magistrado envidarão esforços para obter o consenso no caso sub judice.

41 Geraldo Prado afirmou ser o termo circunstanciado de ocorrência nada mais que uma investigação

criminal sumária (Transação penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 141). Por sua vez, Luciano Anderson de Souza conceituou: “Destarte, pode-se afirmar que o Termo Circunstanciado de ocorrência policial é um substitutivo do auto de prisão em flagrante delito nas hipóteses de infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o sujeito ativo da infração penal (autor dos fatos) for imediatamente encaminhado ao Juizado Especial Criminal ou assumir o compromisso de comparecimento em data futura.” (SOUZA, Luciano Anderson de. Termo circunstanciado: ilegalidade de sua elaboração quando não presente o autor dos fatos e medidas pertinentes. Disponível em <www.jus.uol.com.br>. Acesso em 19.nov.2006, 15:16).

42

Art. 71 da Lei 9.099/1995: “Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.”

43

Art. 69 da Lei 9.099/1995: “A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.”

44

Art. 63 da Lei 9.099/1995: “A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.”

Releva-se que se faz obrigatória a presença do patrono do imputado à audiência preliminar em comento, como bem decidiu o Supremo Tribunal Federal45:

HABEAS CORPUS. JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS. AUDIÊNCIA PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE ADVOGADO E DE DEFENSOR PÚBLICO. NULIDADE. Os artigos 68, 72 e 76, § 3º, da Lei n. 9.099/90 exigem, expressamente, o comparecimento do autor do fato na audiência preliminar, acompanhado de seu advogado ou, na ausência deste, de defensor público. A inobservância desses preceitos traduz nulidade absoluta. Hipótese em que o paciente não foi amparado por defesa técnica nem lhe foi nomeado defensor público na audiência preliminar na qual proposta a transação penal. Ordem concedida.

A primeira via consensual a ser analisada a viabilidade na audiência preliminar é a composição dos danos civis com eficácia penal. Trata-se de situação inovadora já que um acordo de reparação de danos civis decorrentes do suposto ilícito apurado acarretará efeitos na seara penal.

Sendo o caso de crime de ação penal privada ou pública condicionada à representação, a transação civil acarreta a renúncia ao direito de queixa ou de representação, extinguindo assim a punibilidade do fato.

Luís Eduardo Barros Ferreira discorreu com precisão:

Por certo como forma de se evitar a ação indenizatória em sede de jurisdição cível e até mesmo o desenrolar de uma possível ação penal, primando pela informalidade e celeridade dos atos processuais ou procedimentos, vez que ainda não há que se falar em processo, o legislador possibilitou em uma primeira fase do rito estabelecido para os delitos de menor potencial ofensivo, a tentativa de conciliação acerca dos danos civis, como forma de se solucionar o conflito de interesses entre autor do fato e vítima, e ainda, entre a famigerada pretensão punitiva do Estado e o autor do fato. Em um só golpe o legislador alcançou a possibilidade de se solucionar as questões inerentes a jurisdição civil e penal.46

45 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC n. 88797/RJ. Relator Ministro Eros Grau. Julgamento em

22.ago.2006. Segunda Turma. Publicação: DJU I, 15.set.2006, p. 63.

46 FERREIRA, Luís Eduardo Barros. Composição civil no Juizado Especial Criminal. Abordagem

prática. Renúncia condicionada ao direito de representação. Disponível em: <www.jus.uol.com.br>. Acesso em 15.dez.2006, 20:16.

Porém, se o delito for de ação penal pública, o único efeito decorrente da transação civil é que a sentença homologatória do acordo servirá de título executivo judicial. Aliás, dita conseqüência também se constata quando do acordo civil em ilícitos de ação penal privada ou pública condicionada à representação47.

Desse modo, a composição dos danos civis independe para o deslinde do procedimento dos Juizados Especiais Criminais quando de delitos de ação penal pública incondicionada.

Entrementes, uma exceção é vista na legislação pátria. A Lei n. 9.605/1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, no art. 27 assevera:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada incompatibilidade.

Explica Celso Antônio Pacheco Fiorillo48:

Destarte, embora não adotando modelo mais adequado para a atual realidade de produção legislativa (elaboração de normas processuais/procedimentais em harmonia com o direito material criado a exemplo da Lei Federal n. 8.078/90 e mesmo da Lei Federal n. 6.938/81, dentre outras na atualidade), procurou o legislador adequar a Lei n. 9.099/95 às necessidades da tutela ambiental (art. 28, I e II), não se olvidando de fixar critérios, tão-somente subsidiários, direcionados à tutela jurisdicional e sua efetividade.

Portanto, apenas na hipótese de crime ambiental, em que a ação penal é pública incondicionada49, a composição dos danos civis é requisito para a

47Art. 74 da Lei 9.099/1995: “A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada

pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.”

propositura da transação penal, salvo comprovada incompatibilidade, haja vista a natureza especial de tal ilícito.

Pois bem, na hipótese de se cuidar de crime de ação penal pública condicionada, não tendo havido acordo civil, ou então de crime de ação penal pública incondicionada, segue-se o procedimento para que o Ministério Público proponha a transação penal, se acaso preenchidos os requisitos legais.

É importante ressaltar, como outrora dito, que a transação penal não é alternativa processual para o arquivamento do termo circunstanciado de ocorrência. Só pode haver proposta de transação penal se existirem pressupostos e condições para o oferecimento da denúncia, pois o arquivamento é mais benéfico para o autuado50.

Na proposta de transação penal deverá vir especificado o fato investigado, com todas as circunstâncias, a incursão delituosa, a qualificação do autuado, bem como a pena a ser imposta, a qual pode ser restritiva de direitos ou multa.

Com esteio no princípio da proporcionalidade e por expressa autorização legal51, nas circunstâncias em que a pena de multa for a única aplicável, o magistrado poderá reduzi-la até a metade.

Aceitando a proposta o autor do fato e seu defensor, será a mesma submetida ao crivo do juiz que, acolhendo-a, aplicará a penalidade avençada, que não importará reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos52.

49

Art. 26 da Lei 9.605/1998: “Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública incondicionada.”

50 Cf. PINHO, op. cit., p. 46. 51 Art. 76, §1º, Lei n. 9.099/1995. 52 Art. 76, §§3º e 4º, Lei n. 9.099/1995.

Registre-se que, se houver conflito entre a vontade do suposto autor do fato e de seu advogado na aceitação ou não da proposta, apregoaram Grinover et alii:

O juiz deverá, antes de mais nada, usando de bom senso e equilíbrio, tentar solucioná-lo. Mas, se não houer mesmo consenso, pensamos que deve prevalecer a vontade do envolvido, desde que devidamente esclarecido das conseqüências da aceitação. Só a ele caba a última palavra quanto à preferência pelo processo ou pela imediata submissão à pena, que evita as agruras de responder em juízo à acusação para lograr um resultado que é sempre incerto.53

Vistos estes pontos essenciais acerca do instituto da transação penal, examinar-se-á então as conseqüências do descumprimento do acordo pelo beneficiado.

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