A Sondagem Vesical de Demora é um dos procedimentos mais comuns no ambiente de terapia intensiva, que podem ter algumas indicações como: drenagem urinária, mensuração do débito urinário, irrigação vesical em pacientes que apresentam obstrução (coágulos, cálculos ou tumores) ou em pós-operatório de cirurgias urológicas, instilação de
medicamentos em pacientes portadores de cistite intersticial (dimetilsulfóxido – DMSO) ou ONCO-BCG como imunoterapia no câncer de bexiga (HOMENKO, 2003).
Potter (1998) e Cruz (2005) definem como sondagem ou cateterismo vesical, a introdução de um dispositivo plástico ou de borracha (sonda vesical) estéril pelo meato uretral até a bexiga para drenagem da urina, com o objetivo de promover o completo esvaziamento da urina e de maneira contínua. Porém recomenda-se recorrer a outros métodos de esvaziamento da bexiga, por representar um risco de aquisição de infecção do trato urinário.
4.2.1 Indicação da sondagem vesical de demora, baseado em Potter (1998):
- Presença de algum obstáculo à eliminação da urina, como estenose uretral e aumento de volume da próstata.
- Pacientes submetidos à cirurgia envolvendo a uretra e/ou as estruturas vizinhas. - Prevenção de obstrução da uretra por coágulos sanguíneos, como tumores de bexiga. - Controle rigoroso de diurese em pacientes inconscientes.
- Evitar lesões de pele em pacientes inconscientes ou seriamente desorientados. - Favorecer irrigação contínua ou intermitente da bexiga.
4.2.2 Procedimento para a inserção da SVD, segundo e Homenko (2003) e Cruz (2005):
- Verificar a indicação e a finalidade do procedimento;
- Escolher a sonda de acordo com o objetivo e sexo do paciente: sexo feminino, do nº 10F ao 14F, e para o sexo masculino, pode-se chegar até ao nº 16F.
- Lavar as mãos e preparar o material numa bandeja: pacote de cateterismo vesical esterilizado, contendo cuba-rim, cuba redonda (cúpula), gazes estéreis, luvas estéreis (2 pares), luvas de procedimento não estéril (01 par), solução antisséptica, ampola de água destilada (10 ml), seringa de 10 ml e agulha de 40x12, lubrificante (xylocaína gel), coletor de urina sistema fechado, fita adesiva para fixação da sonda.
- Explicar o procedimento para o paciente. - Isolar o ambiente com biombos.
- Realizar higiene íntima, com luvas de procedimento não estéril. - Lavar as mãos novamente.
3.2.1.1 Feminino (posição ginecológica)
- Abrir o pacote de cateterismo.
- Colocar o antisséptico na cúpula estéril.
- Abrir o material descartável e colocá-lo sobre o campo (sonda, gaze, coletor de urina sistema fechado).
- Colocar o lubrificante sobre a gaze.
- Preparar a seringa com água destilada na quantidade indicada na sonda de Foley. - Calçar luvas estéreis e aproximar o material do cateterismo até a região vulvar. - Testar o balonete da sonda.
- Conectar o coletor de urina à sonda de Foley.
- Lubrificar a ponta da sonda, mantendo-a protegida com gaze.
- Fazer a antissepsia da vulva com o auxílio de uma pinça e da gaze embebida em antisséptico.
- Separar os grandes lábios com os dedos indicador e polegar até visualizar o meato urinário, mantendo essa posição até a introdução completa da sonda.
- Iniciar a limpeza pelo meato urinário; utilizando uma gaze diferente para cada movimento. - Fazer movimentos de cima para baixo, no sentido púbis-ânus.
- Introduzir a sonda no meato sem forçar, até observar a drenagem da urina.
- Insuflar o balonete com a seringa e água destilada, tracionando delicadamente a sonda em seguida.
- Fixar a sonda com adesivo e prender a bolsa coletora em nível abaixo do corpo (na cama, por exemplo).
- Recolher o material, lavar as mãos e anotar no prontuário o procedimento realizado, bem como suas intercorrências.
4.2.2.2 Masculino (decúbito dorsal, com os membros inferiores afastados)
- Abrir o pacote de cateterismo. - Colocar o antisséptico na cúpula.
- Abrir o material descartável (sonda, gaze, coletor sistema fechado).
- Preparar a seringa com água destilada na quantidade indicada pela sonda de Foley. - Calçar as luvas estéreis.
- Fazer a antissepsia, erguendo o pênis com indicador e o polegar em posição perpendicular ao abdome e exponha a glande; fazendo limpeza em movimentos circulares, partindo sempre do meato urinário.
- Lubrificar a sonda com xylocaína gel.
- Introduzir a sonda no meato, sem forçá-la, até observar a drenagem da urina.
- Insuflar o balonete com água destilada, tracionando delicadamente a sonda, fixando-a na região supra-púbica, mantendo o pênis elevado, prendendo o coletor de urina em nível baixo. - Recolher o material.
- Lavar as mãos.
- Registrar no prontuário o procedimento, anotando todas as observações e intercorrências.
4.2.3 Principais cuidados relacionados ao procedimento de sondagem vesical, segundo Constantino (1990), Homenko (2003) e Getliffe (2006)
- Na escolha do diâmetro do cateter, vimos que quanto maior o diâmetro, melhor a drenagem. Porém, os cateteres de maior calibre podem levar à oclusão das glândulas parauretrais, levando a formação de abscessos e estenose, bem como erosão do esfíncter externo e do ângulo penoescrotal. Por esse motivo, deve-se escolher um diâmetro que, seguramente, não cause nenhum desses traumas, ou seja, um de menor calibre que também favoreça a uma boa drenagem (HOMENKO, 2003). A indicação dos cateteres mais calibrosos somente deve estar restrito a procedimentos urológicos passíveis da formação de coágulos (CONSTANTINO, 1990; GETLIFFE, 2006).
- Quanto ao uso de lubrificantes para a introdução da sonda, é preferível o uso de substâncias hidrossolúveis, como a lidocaína geléia a 2%, pois têm sido relatados alguns casos de embolia gordurosa devido à absorção de substâncias oleosas, como a vaselina estéril (HOMENKO, 2003).
- A drenagem da urina pode ser verificada da posição intravesical até a extremidade distal da sonda. Porém, em pacientes do sexo masculino, recomenda-se introduzir o cateter até a extremidade distal para que possamos confirmar que o balão de retenção está dentro da bexiga, inviabilizando sua insuflação na uretra. Em casos de imperícia, a extremidade distal do cateter não atingir o “oco” vesical, permanecendo na luz da uretra posterior, ao insuflar o balão, poderemos causar traumatismo uretral, causando graves seqüelas.
- Recomenda-se encher o balão de retenção com água destilada, pois as soluções salinas, ou com outros eletrólitos, trazem risco de cristalização após longos períodos, o que podem dificultar a deflação do balão no momento da retirada o cateter.
- É ideal encher o balão de retenção com o volume de 5 – 10 ml de água destilada. Sabe-se que a hiperinsuflação pode causar irritação do colo vesical, podendo levar a contrações involuntárias da bexiga, e possíveis perdas urinárias pericateter.
4.2.4 Cuidados com a SVD e sistema coletor de urina
- Segundo Pratt (2007), numa revisão no guideline baseado na prevenção de cuidados à saúde do CDC, refere à necessidade de ter uma cuidadosa higienização do meato uretral com água e sabão neutro, uma vez ao dia, ou somente quando necessário.
- Utilização de um sistema de drenagem urinária que possa garantir a esterilidade do sistema como um todo, com o uso de bolsas plásticas descartáveis, munidas de alguns dispositivos que visam diminuir ainda mais a incidência de infecção urinária, como válvula anti-refluxo, câmara de gotejamento e local para coleta de urina, de látex auto-retrátil, para exames (HOMENKO, 2003).
- Manter a bolsa coletora em nível abaixo do nível de inserção do cateter, evitando refluxo intravesical de urina.
- Observar cor da urina drenada, prevenir dobras ou tensões no tubo extensor e monitorar rigorosamente os sinais e sintomas de infecção do trato urinário.
- A desconexão do sistema coletor deve ser rigorosamente evitada, pois indicaria a quebra da esterilidade do sistema. Para Stamm (2001), o único motivo para haver a desconexão, é a obstrução do sistema.
- Não mais se recomenda trocar a SVD em intervalos pré-determinados. Sua troca deverá ser avaliada individualmente (WONG, 2001; HOMENKO, 2003).
- São imprescindíveis a lavagem e higienização das mãos imediatamente antes e após a manipulação de sondas e coletores de urina (HOMENKO, 2003).
- A remoção da SVD o mais precoce possível, funciona como um dos principais fatores que devem ser considerados pela equipe de saúde, no âmbito da prevenção de ITU (HOMENKO, 2003; MURPHY, 2007).