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3. OBJECTIVOS E METODOLOGIA

3.6. Procedimentos de Análise de Dados

3.6.1. Procecimentos de análise de conteúdo

Considerando os objectivos desta investigação e, de acordo com a problemática em estudo (i.e. experiência subjectiva da doença oncológica em sobreviventes de cancro pediátrico) optou-se por uma metodologia de análise de conteúdo, de entre os vários métodos de análise qualitativa.

Segundo Bardin (2004, p. 33), a análise de conteúde pode ser entendida como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações” que visam descobrir o que o indivíduo tenta transmitir na sua mensagem. Assim, o principal objectivo deste procedimento é a obtenção de um conhecimento não alcançável pela simples leitura ou audição cumulativa (Esteves, 2006). Deste modo, trata-se de uma verificação e interpretação cuidadas, detalhadas e sistematizadas de um conjunto particular de informação no qual se pretende identificar padrões, temas, categorias ou significados (Berg, 2009; Berg e Latin, 2008).

Contudo, é importante que a análise de conteúdo seja executada de forma rigorosa e válida, permitindo que a mesma ou uma semelhante interpretação dos dados seja alcançada por diferentes leitores ou investigadores aquando da sua leitura (Berg, 2009). Para tal, a análise de conteúdo realizada nesta investigação procurou orientar-se por critérios de precisão e validade sugeridos por diversos autores (Berg, 2009; Fortin, 1999; Deschamps, 1993; Smith e Eatough, 2006).

Neste sentido, foram seguidas as seguintes fases da análise de conteúdo:

1) Etapa 1 – Fase preliminar: Num primeiro momento procedeu-se à audição e à morosa transcrição das sessões de entrevista gravadas em áudio, seguindo-se a preparação do material com a organização dos dados de cada caso em estudo (eliminação da identidade do sujeito, respeitando o seu anonimato; e classificação com uma letra do alfabeto). Posteriormente, realizou-se uma leitura integral de cada entrevista, procurando obter-se uma visão global e uma familiarização com as significações do sujeito em relação ao fenómeno em estudo.

2) Etapa 2 – Identificação e organização dos temas em análise: Nesta fase foram construídas tabelas de análise (anexo V) que permitiram organizar as verbalizações em discurso directo em relação a cada uma das questões da entrevista e

das dimensões e sub-dimensões em estudo. Neste sentido, obteve-se um total de 11 tabelas, uma por cada elemento da amostra, que serviram de base para a posterior análise. Seguidamente, iniciou-se a desconstrução do texto global, reconhecendo-se de forma espontânea os conteúdos mais relevantes que emergiam das verbalizações. Para tal, foram identificados nas tabelas os conteúdos temáticos referentes a cada sub- dimensão. De modo a garantir que todas as verbalizações importantes para o estudo foram incluídas nas tabelas de análise, procedeu-se, seguidamente, à revisão desta etapa.

3) Etapa 3 – Análise dos temas e conteúdos das verbalizações e identificação das categorias: O objectivo desta fase foi analisar cuidadosamente o conteúdo das verbalizações em relação a cada dimensão/sub-dimensão em estudo, bem como os temas identificados na etapa anterior, de modo a obter uma estruturação em categorias. O sistema de categorias não estava definido a priori, resultando da análise progressiva dos conteúdos das verbalizações de cada sujeito e dos procedimentos descritos nas etapas supramencionadas. Foi este processo que levou à identificação das categorias estabelecidas no final da análise de dados.

No entanto, no processo de categorização procurou utilizar-se designações frequentes na literatura referentes às temáticas em estudo (a experiência dos sobreviventes em relação da doença e o voluntariado). Deste modo, foi utilizada uma categorização mista, envolvendo simultaneamente uma abordagem indutiva e dedutiva (Berg, 2009). Com isto, pretendeu-se que as categorias surgissem naturalmente por análise sistemática dos dados, respeitando a especificidade do discurso de cada sujeito e evitando limitações impostas por categorias pré-estabelecidas. Mas, concomitantemente, procurou-se aproximar a classificação categorial à classificações teóricas, de modo a facilitar a posterior análise dos dados em relação às perspectivas e resultados da literatura sobre a problemática em estudo.

Como forma de garantir uma maior validade do trabalho realizado nesta etapa, a categorização e o procedimento de análise de conteúdo foram continuamente discutidos, verificados e supervisionados pela orientadora da investigação, especialista neste tipo de avaliação.

4) Etapa 4 – Síntese do conjunto dos temas identificados: Por fim, foi realizada uma síntese do resultado da análise de conteúdo de modo a facilitar a resposta aos objectivos da presente investigação. Esta síntese foi apresentada segundo uma

abordagem de estudo de caso, na qual se procedeu a uma breve narrativa sobre cada sujeito. Por último, procedeu-se à elaboração de uma tabela de síntese (Quadro 1) constituída pelas categorias e sub-categorias que resultaram da análise de conteúdo e pelo registo de frequência, com indicação dos casos, em cada uma das sub-categorias de resposta.

3.6.2. Abordagem de Estudo de Caso

Considerando a finalidade desta investigação, recorreu-se a uma abordagem de estudo de caso como orientadora deste trabalho. Esta metodologia revelou-se muito pertinente porque se pretendeu recolher informações aprofundadas sobre a idiossincrasia de cada indivíduo, de modo a perceber o seu modo de actuação e funcionamento relativamente à temática em estudo (Berg, 2009; Stake, 2005).

Tal como Kazdin (1980, p. 9) referiu, “o estudo de caso é, de várias formas, o primeiro passo em direcção à compreensão de determinado fenómeno do comportamento humano”. Deste modo, esta abordagem permitiu olhar à especificidade de cada sujeito em estudo, sem perder a perspectiva holística e integrativa da pessoa e dos vários factores constituintes do seu contexto e da sua vivência.

Assim sendo, a análise dos resultados será feita individualmente para cada um dos 11 casos em estudo, considerando as verbalizações e as manifestações não comportamentais dos participantes ao longo da sessão de entrevista. Este método, por um lado, facilita a apresentação e análise dos dados e, por outro lado, permite controlar a subjectividade da metodologia qualitativa. Isto porque, a abordagem de estudo de caso possibilita a referência a traços e a características de cada sujeito que, juntamente com o verbatim das entrevistas, justificam de forma mais completa a interpretação e a categorização realizadas no procedimento de análise de conteúdo. Com isto, é possível que elementos exteriores à investigação obtenham uma visão mais alargada de cada caso, percebendo o contexto e o funcionamento do sujeito em relação às temáticas em estudo (Berg, 2009).