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2. INTRODUÇÃO

6.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Neste estudo, as entrevistas aconteceram de acordo com a disponibilidade dos participantes, sendo que cinco (quatro pacientes e um familiar) foram agendadas previamente, conforme decisão deles, e as demais foram realizadas no mesmo dia do convite para participar do estudo.

O contato com os familiares ocorreu na própria UP, nos momentos de visita, pois não houve ajuda de custo para o transporte deste parente ao hospital.

Neste período de visitas, apresentei sucintamente a pesquisa e sondei o interesse e a disponibilidade dos familiares de participar da entrevista.

Destaco que, desde o início desta pesquisa, eu pretendia entrevistar um único familiar do paciente internado e que, ao longo da coleta, se fosse necessário, eu consideraria a participação de, no máximo, dois familiares – mas apenas nos casos em que houvesse a solicitação de que a entrevista ocorresse na presença de outro membro da família. Neste caso, o familiar também deveria se enquadrar nos critérios de inclusão.

Neste estudo, houve apenas duas famílias entrevistadas, ambas compostas pelo paciente e um único familiar; no caso, as respectivas esposas. Os demais participantes entrevistados não tinham vínculos familiares.

Apesar da presença de duas famílias, todas as entrevistas foram realizadas individualmente com cada participante; ou seja, não ocorreram entrevistas conjuntas.

As entrevistas foram registradas em áudio, com um gravador digital, e as respostas dos entrevistados foram transcritas, por mim, na íntegra. Posteriormente, foram corrigidos erros da língua portuguesa, mas sem modificar as características do conteúdo e de seu significado. Tal medida visou tornar a leitura das falas mais fluente e dinâmica durante sua apresentação.

Para facilitar a análise dos dados e garantir o anonimato dos sujeitos, a identificação de cada participante da pesquisa foi feita por letras do alfabeto latino e números arábicos. Para designar os familiares, foi utilizada a letra “F” e para os pacientes a letra “P”, seguidas do número correspondente à ordem em que a entrevista foi realizada.

Ainda visando manter o sigilo da identidade dos sujeitos da pesquisa, os nomes das pessoas citadas no contexto das entrevistas foram ocultados ou receberam designações correspondentes ao parentesco mantido com o entrevistado, enquanto que os membros da equipe de saúde da UPHG citados foram indicados por suas profissões, no gênero masculino, representando os profissionais de uma categoria de modo geral.

No local de pesquisa, tentei realizar a entrevista em um ambiente tranquilo e confortável, que garantisse a privacidade do participante,65 mas que também não atrapalhasse a rotina do serviço.

A maioria das entrevistas aconteceu no pátio externo à UP; cinco aconteceram ao lado do leito dos pacientes (P1, P3, P7, P8, F7) e uma ocorreu na sala de refeição (P6). As entrevistas no pátio externo permitiram aos participantes o afastamento físico da enfermaria; porém, eventualmente, houve como inconveniente algum barulho de fundo, provocado por carrinhos que circulavam neste local. Ao notar que o barulho poderia ser um problema, durante todas as entrevistas, mantive o gravador o mais próximo possível dos participantes, bem como, solicitei a eles a repetição da informação sempre que eu não ouvia ou não compreendia a resposta. Assim, não houve prejuízo significativo nas gravações.

No caso da observação participante, minha participação variou ao longo da pesquisa. No início, mantive-me um pouco distante, aguardando que me observassem e que me aceitassem naquele ambiente. Mas, à medida que as sessões de observação ocorriam, busquei envolvimento adequado ou parcial com o cenário de estudo e os sujeitos nele inseridos.60

O estabelecimento de relações interpessoais com o grupo no local de estudo favoreceu uma relação de confiança,60 que permitiu a obtenção de informações mais ricas para complementar a análise dos dados obtidos pelas entrevistas.

No que se refere ao relacionamento interpessoal, tentei controlar o nível da minha participação por meio de constantes avaliações e reflexões sobre o processo de observação, de modo a reduzir o envolvimento demasiado com os sujeitos do campo de estudo, para diminuir vieses e para não fugir dos propósitos da pesquisa.60

Vale esclarecer que a minha participação durante a observação não ocorreu de forma assistencial; ou seja, não participei das atividades de trabalho rotineiras do local de estudo, apenas observei o cenário para obter informações sobre a realidade estudada e os sujeitos de pesquisa.60

Reforço que não me privei de estabelecer contatos com as pessoas do ambiente de estudo, mas também não pretendi, na observação participante, estabelecer “um envolvimento por inteiro em todas as dimensões de vida do grupo a ser estudado”. Assim, busquei um envolvimento parcial, pois não houve participação plena, assim como não houve distanciamento total de participação.71

Destaca-se que a busca de equilíbrio entre observação e participação é difícil de ser atingida em determinadas situações.60 Por isso, há variações na técnica de observação participante, sendo que raramente elas ocorrem na sua forma conceitual pura.71

Portanto, neste trabalho, utilizei a técnica de observação participante, mas permitindo-me ajustar os procedimentos ao longo da observação, conforme a necessidade das situações ocorridas no campo. Assim, no início do período da observação, tentei manter distanciamento dos sujeitos de pesquisa, para gradualmente tornar-me uma participante (não assistencial) e adotar um envolvimento parcial com o grupo observado. Na fase final do período observacional, novamente adotei, gradualmente, uma postura mais distante do objeto de estudo.

A observação ocorreu num prazo relativamente curto se comparado a um estudo etnográfico. Quando a observação em campo é realizada por longo período, há maiores chances de produzir inferências, interpretações e conclusões mais apuradas, pois há mais tempo de revê-las e redirecionar a atenção para determinados focos. Entretanto, o longo tempo de permanência no local de estudo não garante a validade dos dados coletados. Neste caso, outros fatores são considerados, como a habilidade e a experiência do observador, a acessibilidade aos dados, a forma como a pesquisa e o observador são recebidos pelo grupo, os objetivos do estudo e outros.72

Porém, por razões práticas e considerando a viabilização do cronograma da pesquisa, este estudo necessitou de período de observação mais curto – foram quase três meses de observação efetiva. Por isso, adotei algumas medidas, na tentativa de não comprometer a validade do trabalho. Um dos recursos foi explicitar os instrumentos e procedimentos utilizados para a obtenção dos dados observados. Daí a construção de um roteiro para sistematizar o processo de observação e o registro minucioso das informações. Também organizei observações de situações variadas e em momentos diferentes no campo.72

Os postos de observação adotados foram variados e escolhidos de acordo com as situações impostas pelo campo. Foi possível assumir a posição única (onde o olhar do observador fica em um mesmo local durante um período para observar as transações no ambiente), a posição múltipla (o olhar do observador

movimenta-se em diferentes pontos para ver os comportamentos) e a posição móvel (em que o olhar do observador acompanha uma pessoa durante certa atividade ou período).65

Durante a observação, minha posição foi, na maioria das vezes, múltipla; ou seja, meu olhar não estava fixo em um único evento-chave. A observação era flutuante, mudava conforme as várias situações que surgiam no ambiente. Eventualmente, eu tinha o propósito de fixar num único participante ou numa atividade específica, devido à necessidade de aprofundar a compreensão sobre tal sujeito ou objeto. Entretanto, era complicado realizar a observação participante com um único foco pré-estabelecido, por isso, eu elegia a priori algumas possibilidades de observação e tomava a decisão pelo que eu deveria observar, geralmente, no momento em que os eventos aconteciam.

Foi utilizado também um diário de campo para minhas anotações reflexivas e pessoais, numa tentativa de auxiliar a identificação de possíveis vieses nos dados observados, visto que minhas emoções, valores e preconceitos podiam gerar inferências equivocadas durante a observação.65

Esses critérios não são absolutos para determinar o quanto os dados obtidos foram válidos,69 mas espero que estas medidas evidenciem certo consenso entre os pares de que a interpretação feita da realidade estudada seja possível e aceitável, mesmo que existam outras igualmente aceitas.

Nesta pesquisa, o período de observação foi realizado até o momento em que houve a repetição dos fenômenos observados, sem o acréscimo de situações novas, e quando já havia dados significativos e suficientes para atender aos objetivos do estudo.

As observações foram realizadas alternadamente às entrevistas. Assim, houve alguns períodos curtos de observações intensivas, com pequenas interrupções para a realização das entrevistas. A opção pela observação alternada com as entrevistas permitiu observar os participantes do estudo. Se a escolha fosse por realizar primeiro um período de observação para só depois iniciar as entrevistas, possivelmente, muitos pacientes observados não teriam feito parte da amostra, visto que as internações na UPHG são, preferencialmente, de curta permanência.

A observação foi realizada em diferentes horas do dia e em dias diferentes da semana para garantir um tempo mínimo adequado de observação.41

Nos primeiros dias, as observações duraram uma hora ou menos, aumentando gradativamente conforme a confiança da equipe e dos usuários do serviço na minha presença.60 As observações estavam previstas para durarem no máximo até duas horas por dia, mas, em vários momentos, foi necessário estendê-las por até cinco horas por dia, devido à ocorrência de eventos-chave que pareceram importantes, à presença de mais familiares no local e à possibilidade de ampliar os momentos de aproximação com os paciente e os familiares.

As observações ocorreram somente nos plantões da manhã e da tarde. Optei por excluir os plantões noturnos, por tratar-se de um turno em que, geralmente, havia pouca atividade na UP – se comparado aos outros períodos. Segundo conhecimento prévio sobre o local de estudo e relatos informais de profissionais do serviço, considerei que os turnos da manhã e da tarde possuíam maior circulação de profissionais, pacientes e familiares, além de serem de maior diversidade de atividades na unidade. Deste modo, a observação nos períodos diurno e vespertino mostrou-se relevante e suficiente.

A equipe foi avisada da ocorrência da observação, assim como os participantes – que receberam esta informação por meio do TCLE. Entretanto, optei por não revelar explicitamente tal ação aos demais pacientes e familiares que não participaram da pesquisa, exceto quando os mesmos me solicitaram explicações sobre a atividade desenvolvida no local de estudo.

Esta restrição em revelar a observação para os pacientes e familiares que não participaram da pesquisa teve o propósito de reduzir a desconfiança das pessoas observadas e, principalmente, de evitar ou minimizar possíveis desconfortos ou agravamento de sintomas de alguns dos pacientes durante o período de internação, como em alguns casos paranoicos.

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