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4. Metodologia

4.2. Procedimentos de coleta de dados

As sessões de gravação foram realizadas em ambiente acusticamente tratado, no Laboratório de Rádio da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes (FAFICLA) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

Os registros de áudio foram realizados de forma simultânea à avaliação do comportamento respiratório e da validação da estratégia respiratória solicitada, por parte de juiz credenciado no método de Estruturação de Cadeias Musculares e Articulares GDS (Godelieve Dennys-Struyf) (Apêndice 5).

Para as gravações em áudio, foi utilizada mesa de som digital 16 canais, Soundcraft 328XD. O software utilizado foi o SoundForge P2011.0

Antes das gravações, dentro da cabine do estúdio, foi posicionada uma câmera de vídeo a uma distância de um metro e meio e ângulo de 45º do local demarcado para o posicionamento dos indivíduos. Neste local, foi posicionada uma estante de partitura metálica e foram dispostas cópias para consulta dos trechos a serem cantados, as quais puderam ser acompanhadas durante a execução das tarefas e gravações.

Foram realizadas as calibragens antes e depois de cada coleta, e observadas as mesmas condições de gravação para todos os sujeitos de pesquisa. Para o procedimento de calibragem, foi utilizado um medidor de pressão sonora (Radio Shak Sound Level Meter; catálogo número 33-2055; Radio Shak Corporation, Forth Work, TX) a uma distância de 12cm da saída de reprodução de um sinal de 1kHz, gerado pelo software Praat. Os dados de calibragem foram anotados e esse parâmetro de distância foi registrado e utilizado para posicionar o microfone de cabeça nos pesquisados, observando a mesma distância de 12 cm entre microfone e comissura labial direita. O microfone utilizado foi modelo Shure Headset WH20.

Os indivíduos realizaram todas as tarefas na posição em pé e com inspiração oronasal. A avaliação do comportamento respiratório e da movimentação toracoabdominal foi realizada por juiz credenciado no método de Estruturação de Cadeias Musculares e Articulares GDS (Godelieve Dennys-Struyf). Este juiz esteve presente durante todas as coletas e foi responsável por avaliar e validar ou não as amostras de áudio, pelo critério da execução das estratégias respiratórias solicitadas. Quando algum sujeito de pesquisa não alcançou a validação do juiz, ou seja, não foi capaz de realizar determinada tarefa cantada com a estratégia respiratória solicitada, a amostra foi descartada e nova coleta foi realizada. Só foram aproveitadas as amostras das tarefas cantadas com as estratégias respiratórias solicitadas e validadas pelo avaliador.

A coleta de dados também contou com a complementação do registro em vídeo (câmera Panasonic-FP1– Lumix 12 Megapixel), realizado por dois membros da equipe TV-PUC.

Para observação detalhada da movimentação toracoabdominal durante as respirações, os sujeitos utilizaram roupas similares, fornecidas pelo pesquisador

(legging preto e regata branca, sem folgas no tecido, principalmente na parte superior do corpo).

As tarefas solicitadas foram: respiração clavicular (também identificada como alta nos resultados) e respiração costodiafragmática abdominal (também identificada como baixa nos resultados), para realização de trecho cantado e vocalização em forte e fraca intensidades.4

As partituras e o áudio foram previamente fornecidos aos sujeitos.

Como suporte sensorial proprioceptivo, para facilitar a realização das tarefas com estratégias respiratórias diferentes – respiração clavicular e respiração costodiafragmática abdominal –, foram posicionadas duas fitas sintéticas, coloridas e elásticas no corpo das cantoras, acima da regata e legging, seguindo os seguintes critérios:

- Durante todas as tarefas realizadas com estratégia de respiração

clavicular (trecho de canção e vocalização), duas fitas foram posicionadas: uma na região clavicular e outra nas cristas ilíacas, com a

instrução de que, aquela posicionada na região clavicular deveria ser esticada, durante a inspiração, pela entrada de ar concentrada na parte superior do tórax; e que a fita posicionada na região das cristas ilíacas, abaixo do umbigo, deveria manter-se frouxa (ou seja, só a parte superior do corpo deveria ser mobilizada na inspiração, a parte dos intercostais e do abdômen inferior deveriam se manter sem expansão) (Figura 7).

- Durante todas as tarefas realizadas com estratégia de respiração

costodiafragmática abdominal (trecho de canção e vocalizações), duas fitas foram posicionadas: uma na região dos intercostais (quinta costela) e

outra nas cristas ilíacas, com a instrução de que, nesta tarefa, ambas as fitas deveriam ser esticadas no momento da entrada do ar (pela ampliação toracoabdominal, consequente à estratégia respiratória costodifragmática abdominal) (Figura 8).

Figura 7 – Set de gravação, cantora realizando estratégia de respiração clavicular (respiração alta).

Figura 8 – Set de gravação, cantora realizando estratégia de respiração costodiafragmática abdominal (respiração baixa).

Na sequência, as partes e o roteiro de coleta serão apresentados no texto. Assim, a fase de preparo das cantoras (prévia à coleta) pode ser descrita como:

- realização de aquecimento vocal, com duração aproximada de dez minutos - explicação detalhada das tarefas, divididas em dois grupos (A e B)

- orientação para realização de ambos os grupos de tarefa na postura em pé e com respiração oronasal

- orientação de que, ao final de cada grupo de tarefas, a cada final de gravação, a tarefa seria novamente descrita e rememorada, assim como uma referência de afinação seria oferecida

- disponibilização da escuta da gravação referência fornecida para estudo, veiculada por meio das caixas de som no estúdio

Terminadas as instruções, as cantoras foram posicionadas na marca no chão, estabelecida para a câmera. Finalizando os preparativos, foi ajustado um microfone, modelo de acoplagem em cabeça Shure WH20, unidirecional a 12 cm de distância da comissura labial direita das participantes. Todas também foram alertadas para a importância de manter o microfone na mesma posição ao longo de toda aquisição das amostras, assim como de evitar ruídos com os cabos dos equipamentos durante os registros.

Neste posicionamento demarcado no chão, os indivíduos puderam ser avaliados, durante as coletas, pelo juiz credenciado, solicitado a permanecer no ambiente de coleta durante todo o experimento, para que pudesse avaliar a execução da estratégia respiratória solicitada. O juiz permaneceu fora da cabine de gravação, separado pela proteção de vidro, a uma distância de aproximadamente dois metros e meio, em um ângulo de 45º em relação à cantora. Neste posicionamento, tinha amplo acesso visual ao sujeito em atividade.

O padrão inspiratório escolhido para este experimento, como supracitado, foi oronasal para todos os sujeitos e tarefas do experimento, uma vez que essa inspiração é o tipo predominante durante as atividades de fala e canto.

Todas as cantoras realizaram todas as tarefas na mesma sequência e receberam partituras e áudio, assim como cantaram as melodias na mesma tonalidade.

A sequência e o roteiro realizados durante as coletas, e as partituras do trecho de canção e da vocalização serão apresentados a seguir.

O tutorial seguido para os procedimentos pré-coleta e coleta estão no Apêndice 3.

Para melhor compreensão da sequência de tarefas, apresentamos os grupos de tarefas “A” e “B” e a sequência realizada por todos os sujeitos de pesquisa:

GRUPO “A” DE TAREFAS

EMISSÕES DE CANTO COM ESTRATÉGIA DE RESPIRAÇÃO CLAVICULAR (ALTA):

1. Trecho de canção, com estratégia de respiração clavicular, emissão em forte intensidade.

2. Trecho de canção, com estratégia de respiração clavicular, emissão em fraca intensidade.

3. Vocalização com estratégia de respiração clavicular, em forte intensidade, com a vogal [a].

4. Vocalização com estratégia de respiração clavicular, em fraca intensidade, com a vogal [a].

GRUPO “B” DE TAREFAS

EMISSÕES DE CANTO COM ESTRATÉGIA DE RESPIRAÇÃO

COSTODIAFRAGMÁTICA ABDOMINAL (BAIXA):

1. Trecho de canção, com estratégia de respiração costodiafragmática abdominal, em forte intensidade.

2. Trecho de canção, com estratégia de respiração costodiafragmática abdominal, em fraca intensidade.

3. Vocalização, com estratégia de respiração costodiafragmática abdominal, em forte intensidade, com a vogal [a].

4. Vocalização com estratégia de respiração costodiafragmática, em fraca intensidade, com a vogal [a].

As cantoras realizaram 3 repetições de cada tarefa dos grupos A e B. O intervalo entre as três etapas de coletas foi de, aproximadamente, 10 minutos. A hidratação dos sujeitos foi permitida livremente, sempre que julgassem necessário.

O corpus, portanto, foi constituído por um pequeno trecho de canção e vocalização curta em [a] realizadas nas estratégias respiratórias clavicular (alta) e costodiafragmática abdominal (baixa), em forte e fraca intensidades (correspondentes aos termos musicais forte e piano, utilizados nos resultados e gráficos).

O trecho de canção renascentista selecionado para a gravação tinha aproximados 25 segundos e possuía, na sua linha melódica, a sustentação da nota Fá45 no final.

A vocalização escolhida foi um exercício de oitava, com sustentação da nota mais grave inicial, Dó3.6 A vocalização foi solicitada na vogal [a], e alcançou cerca

de 21 segundos.

Tanto o trecho de canção, quanto o exercício de vocalização foram escolhidos pela simplicidade de suas características musicais e por suas estruturas apresentarem demandas recorrentes na performance e na aprendizagem da técnica do canto, nos moldes ocidentais.

Essa simplicidade das tarefas musicais permitiu que a investigação dos efeitos de estratégias respiratórias na qualidade da voz cantada não sofresse a interferência de demandas vocais ou musicais mais complexas.

Além desse aspecto, o trecho de canção (com letra) e a vocalização em [a] ofereceram ao experimento uma diversidade complementar de informações: o trecho canção solicitou a articulação de texto e a sustentação do agudo final, e o exercício de vocalização exigiu a realização da tarefa com apenas uma vogal – [a] – e a sustentação do grave.

Os trechos escolhidos para gravação estavam sempre na mesma tonalidade para todos os sujeitos.

5 Esta nota corresponde ao Fá uma sexta menor acima do Lá3 (8 semitons acima do Lá3),

considerando-se o Lá3 o Lá 440Hz (MED, 1996).

6 Esta nota corresponde ao Dó uma sexta maior abaixo do Lá3 (9 semitons abaixo do Lá3),

As partituras do trecho de canção e da vocalização em [a] solicitados durante a coleta são apresentadas a seguir nas Figuras 9 e 10:

Figura 9 – Imagem da partitura de referência da tarefa trecho de canção: partitura adaptada de trecho da canção renascentista “Pase el Agua” (compositor anônimo), com sustentação da nota Fá 4 no final.

Figura 10 – Imagem da partitura de referência para tarefa vocalização de oitava em [a], com sustentação inicial da nota Dó 3, solicitada durante a coleta de dados.

Um roteiro para organização das sessões de coleta foi estabelecido e é apresentado no Apêndice 4.

Algumas amostras tiveram de ser gravadas mais de uma vez durante as coletas. Isso ocorreu quando:

- O juiz avaliava que a meta para realização da estratégia respiratória não havia sido atingida

- Em caso de equívoco na pronúncia (vogal ou consoante) - Na situação de perda acentuada da afinação e da tonalidade

Nenhuma repetição para aquisição do registro da amostra excedeu o número de três tentativas em uma mesma coleta, evitando fadiga e desgaste para as cantoras.

O projeto descrito foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, via Plataforma Brasil, e aprovado sob o número 782.680 no ano de 2014.

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