• Nenhum resultado encontrado

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Maria Lucia da Cunha Waldow

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Maria Lucia da Cunha Waldow"

Copied!
111
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Maria Lucia da Cunha Waldow

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da

voz cantada: um estudo acústico e perceptivo

Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

(2)

Maria Lucia da Cunha Waldow

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da

voz cantada: um estudo acústico e perceptivo

Dissertação apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, sob orientação da Profª. Drª. Zuleica Camargo.

(3)

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA

Waldow, Maria Lucia da Cunha

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz cantada: um estudo acústico e perceptivo, 2015.

108p.: il.; 30 cm

Dissertação de Mestrado apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem.

Orientador: Camargo, Zuleica

(4)

Maria Lucia da Cunha Waldow

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz cantada: um estudo acústico e perceptivo

Dissertação apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, sob orientação da Profª. Drª. Zuleica Camargo.

Aprovada em: ____ / ____ / ______

Banca Examinadora

Prof. Dr. ____________________________________________________________ Instituição: _____________________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. ____________________________________________________________ Instituição: _____________________________ Assinatura: ___________________

(5)
(6)

AGRADECIMENTO ESPECIAL

(7)

AGRADECIMENTOS

Este trabalho só aconteceu graças à colaboração e ao apoio de muitas pessoas que se envolveram com o projeto e contribuíram para seu desenvolvimento e realização.

Agradeço, com todo o meu amor, aos meus amados Horácio e Babu, família escolhida, por todo afeto, por toda a inspiração e toda a força!

Para Fabíola, todo meu amor, admiração e gratidão sempre, minha irmã querida. Sem você, não teria conseguido seguir, meu porto seguro!

Para Mônica Castro e Francisca Monteiro, meus profundos agradecimentos pela escuta, apoio, torcida, carinho e colo nas horas difíceis!

Para Ching Wong Ann e Célia Strauss, meu obrigada pelo suporte, ensinamentos e ajuda logística para enfrentar os desafios do projeto no contexto do cotidiano.

Agradeço o apoio e carinho dos meus queridos Adriana Prior, Rogério Nascimento e Sylvia Vitalle.

Agradeço à Profª. Drª. Sílvia Pinho por ter partilhado tantos conhecimentos em seus cursos e por ter me ensinado a importância do conhecimento da fisiologia da voz para o estudo, a performance e o ensino do canto.

Agradeço ao Prof. Dr. Celso Carvalho e equipe, em especial, aos pesquisadores Desiderio Cano e Renata Claudim por toda atenção e ensinamentos preciosos sobre respiração e possibilidades de pesquisa e avaliação do comportamento respiratório, no laboratório e ambulatório de fisioterapia do Instituto Central do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Agradeço as contribuições e reflexões propostas pela Profª. Drª Gláucia Salomão durante a qualificação, importantes motivações e esclarecimentos para a finalização deste estudo.

(8)

Agradeço ao Prof. Dr. Luiz Carlos Rusilo por todo suporte e contribuição essencial nas questões estatísticas deste trabalho.

Para a doutoranda Nathalia Reis, meus agradecimentos por todo o suporte técnico, ensinamentos, companheirismo e generosidade.

Agradeço ao Prof. Dr. Enio Lopes por toda a contribuição, envolvimento e apoio na fase de definição do experimento e das coletas de dados.

Agradeço à Profª. Drª. Lilian Kunh pelos ensinamentos do PRAAT, etiquetagem e colaboração nas coletas.

Agradeço à doutoranda Andrea Baldi por todo suporte, apoio, conversas, colo acadêmico e aprendizado, além de toda ajuda com a Plataforma Brasil e durante as coletas.

Agradeço todas as risadas, cafés e ajudas providenciais da mestranda Layla Penha nas versões do resumo para o inglês e no companheirismo durante as disciplinas do curso.

Agradeço à mestranda Gabriela Luiza Daneluci por seu coleguismo e por sempre partilhar informações importantes.

Agradeço às estagiárias do LIAAC pela ajuda na finalização da etiquetagem dos arquivos.

Agradeço ao Luiz Hirano e ao CEM pelo apoio e pela torcida constante ao longo de todo o curso de mestrado.

Agradeço, de todo o coração, aos meus alunos pela renovação de perspectivas, alegrias e amor pelo canto.

(9)

Agradeço as contribuições de Ingrid Galleazzo.

Agradeço Mariana Waldow, Vinícius Waldow e Tiaraju Aronovich pelas ajudas com traduções, computadores, PowerPoint e localização de artigos. Agradeço ao Luís Eduardo Waldow por seu carinho.

Agradeço aos meus pais pela possibilidade da existência e do estudo.

Agradeço a generosidade e o apoio de todos aqueles que me auxiliaram com questões técnicas, metodológicas e criativas durante o projeto.

A lista é grande e aumenta a cada dia, fato que renova minha motivação para a pesquisa, para o canto e a música e para continuar seguindo, mesmo em períodos de extremo desafio.

(10)

RESUMO

Waldow, M. L. C. Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz cantada: um estudo acústico e perceptivo. [Dissertação]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015.

A qualidade vocal constitui um elemento fundamental da expressão do canto. Estratégias respiratórias utilizadas durante a produção da voz cantada podem promover inúmeras mobilizações pneumofonoarticulatórias e, desta forma, demonstram-se relevantes para a função vocal como um todo e para a produção e variação da qualidade vocal. O objetivo desta pesquisa foi o de investigar os efeitos de estratégias respiratórias na qualidade da voz cantada, em indivíduos saudáveis e sem treinamento profissional. Participaram do estudo quatro sopranos com idades entre 25 e 35 anos. Os procedimentos de coleta foram realizados por meio da avaliação da estratégia respiratória utilizada pelos sujeitos, realizada por juiz credenciado no método GDS (Godelieve Dennys-Struyf Method), e registro de amostras em formato de áudio. O corpus foi composto por um trecho de canção e uma vocalização, realizadas a partir das estratégias respiratórias clavicular e costodiafragmática abdominal, em forte e fraca intensidades. As amostras de áudio foram submetidas à análise perceptivo-auditiva (julgamentos de similaridade, afinação, agradabilidade, intensidade e tensão), por juízes com experiência na área de canto, e à análise acústica (medidas de f0, intensidade, declínio espectral e espectro de longo termo, extraídas a partir do script ExpressionEvaluator no

software PRAAT). Os dados foram analisados por meio de análise estatística de natureza multivariada. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da PUC-SP sob o número de 782.680. Os resultados indicaram a diferenciação das medidas acústicas para as estratégias respiratórias, especialmente em termos da média e do desvio-padrão de declínio espectral. Na etapa perceptiva, estas diferenças acústicas, produzidas a partir de cada estratégia respiratória, foram detectadas pelos juízes. Correlações entre as esferas acústica e perceptiva foram demonstradas na análise integrada, destacando-se a influência da estratégia respiratória no julgamento da agradabilidade da voz e do padrão de afinação, assim como a relação entre as medidas relativas à tensão laríngea (média e desvio-padrão de declínio espectral) e a percepção das diferenças de qualidade vocal.

(11)

ABSTRACT

Waldow, M. L. C. Respiratory strategies and their effects on voice quality in singing: an acoustic and perceptual study. [Dissertation]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015.

Voice quality is a key element in singing. Respiratory strategies used during the production of singing may promote several pnemophonoarticulatory movements and, thus, are relevant for vocal function as a whole, as well as for production and variation of vocal quality. The objective of this study was to investigate the effects of respiratory strategies on voice quality in singing in healthy individuals without professional training. The subjects of the study were four sopranos, aged between 25 and 35 years old. Collection procedures included an assessment of the respiratory strategy used by the subjects, conducted by a GDS Method – accredited judge (Godelieve Dennys-Struyf Muscular Chains Method), and recording the samples in audio format. The corpus comprised an extract of a song and a vocalization, performed from clavicular and abdominal costal diaphragmatic respiratory strategies, in strong and weak intensities. Audio samples were submitted to perceptual analysis, conducted by judges with experience in the area of singing on similarity, tuning, pleasantness, intensity and tension. An acoustic analysis (measures of f0, intensity, spectral slope and long-term spectrum) was conducted in PRAAT software using

ExpressionEvaluator script. Data were submitted to multivariate statistical analysis. Project approved by PUC-SP Ethics and Research Committee under number 782.680. Results indicate different acoustic measures depending on respiratory strategies, particularly in terms of average and standard deviation spectral slope. In the perceptual analysis, judges were able to detect the differences produced by each respiratory strategy. Correlations between the acoustic and perceptual areas were shown in an integrated analysis, highlighting the influence of the respiratory strategy in judging voice pleasantness and tuning pattern, as well as the relationship between measures relative to laryngeal tension (average and standard deviation spectral slope) and perception of voice quality differences.

(12)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise discriminante para estimação das tarefas trechos de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave) a partir das medidas acústicas. ... 66 Tabela 2 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise

discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de amostras de trechos de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e grave). ... 71 Tabela 3 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise

discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de amostras de trechos de canção inicial (sem agudo final sustentado). ... 72 Tabela 4 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise

discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de amostras de trechos de canção final (sustentação de agudo). ... 73 Tabela 5 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise

discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de amostras de vocalização (oitava). ... 74 Tabela 6 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise

discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de amostras de vocalização (sustentação de grave). ... 75 Tabela 7 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise

(13)

Tabela 8 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise discriminante para estimação de intensidade a partir das medidas acústicas das amostras de trechos de canção (parte inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave). ... 78 Tabela 9 – Síntese de variáveis relevantes (em %) da análise discriminante das

respostas às questões 1 a 5. ... 80 Tabela 10 – Níveis de correlação (em %) das respostas às questões 1 a 5 da

(14)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Tradução dos termos da Figura 1. ... 27

Quadro 2 – Tradução dos termos da Figura 3. ... 34

Quadro 3 – Tradução dos termos da Figura 5. ... 38

Quadro 4 – Tradução dos termos da Figura 6. ... 47

Quadro 5 – Características dos sujeitos do grupo estudado quanto a idade, formação musical, experiência em canto coral e características biofísicas. ... 50

(15)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Aparelho fonador: trato vocal e vias aéreas (traqueia, brônquios e pulmões). ... 27 Figura 2 – Imagem ilustrativa da ligação biomecânica entre a musculatura

respiratória e o volume pulmonar. ... 32 Figura 3 – Cartilagens e respectivos músculos intrínsecos da laringe. ... 33 Figura 4 – Imagem esquemática: pressão subglótica vibração das pregas

vocais... 35 Figura 5 – Representação esquemática da produção vocal. ... 38 Figura 6 – Imagem esquemática do Modelo fonte-filtro para a produção das

vogais – Teoria acústica da produção da fala – estruturas fisiológicas e representações do espectro da fonte glótica, da filtragem supraglótica (transferência) e da saída (outputvocal). ... 46 Figura 7 – Set de gravação, cantora realizando estratégia de respiração

clavicular (respiração alta). ... 54 Figura 8 – Set de gravação, cantora realizando estratégia de respiração

costodiafragmática abdominal (respiração baixa). ... 54 Figura 9 – Imagem da partitura de referência da tarefa trecho de canção:

partitura adaptada de trecho da canção renascentista “Pase el Agua” (compositor anônimo), com sustentação da nota Fá 4 no final. ... 58 Figura 10 – Imagem da partitura de referência para tarefa vocalização de oitava

em [a], com sustentação inicial da nota Dó 3, solicitada durante a coleta de dados. ... 58 Figura 11 – Imagem de tela do software PRAAT com trecho de arquivo e

(16)

Figura 12 – Imagem da partitura correspondente a etiquetagem da tarefa trecho de canção – trecho de canção inicial (parte sem sustentação de agudo) e trecho de canção final (sustentação agudo final). ... 62 Figura 13 – Imagem de tela do software PRAAT com trecho de arquivo e

exemplo do padrão de etiquetagem utilizado para separação e organização das amostras do exercício de vocalização de oitava com sustentação de grave inicial. ... 63 Figura 14 – Imagem da partitura correspondente a etiquetagem da vocalização

(sustentação de grave inicial e oitava). ... 63 Figura 15 – Gráfico de centroides da análise discriminante das tarefas trechos

de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave) a partir das medidas acústicas. ... 66 Figura 16 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia

respiratória a partir de medidas acústicas extraídas das amostras de trechos de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave)... 72 Figura 17 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia

respiratória a partir de medidas acústicas das amostras de trechos de canção inicial (sem agudo final sustentado). ... 73 Figura 18 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia

respiratória a partir de medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de trechos de trechos de canção final (sustentação de agudo final). ... 74 Figura 19 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia

respiratória a partir de medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de trechos de vocalização (oitava). ... 75 Figura 20 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia

respiratória a partir de medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de trechos de vocalização (sustentação de grave). ... 76 Figura 21 – Gráfico de centroides da análise discriminante de cantoras, a partir

(17)

de canção (parte inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave)... 77 Figura 22 – Gráfico de centroides da análise discriminante da intensidade, a

partir de medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de de trechos de canção (parte inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave). ... 78 Figura 23 – Dendograma da análise aglomerativa hierárquica de cluster

(18)

SUMÁRIO

1. Introdução ... 18

2. Objetivo ... 25

3. Revisão de Literatura ... 26

3.1.Mecanismos básicos subjacentes ao canto... 26

3.2. Questões pedagógicas do canto ... 38

3.3. Fundamentação teórica para estudos acústicos e perceptivos da qualidade da voz cantada ... 44

3.4.Instrumentos de investigação da qualidade vocal ... 47

4. Metodologia ... 49

4.1.Descrição dos sujeitos ... 49

4.2. Procedimentos de coleta de dados ... 51

4.3. Procedimentos de análise dos dados ... 59

4.3.1. Análise das estratégias respiratórias ... 60

4.3.2. Análise das amostras de áudio... 61

4.3.2.1.Análise acústica por meio do script Expression Evaluator (BARBOSA, 2009) ... 61

4.3.2.1.1. Análise estatística dos dados acústicos ... 65

4.3.2.2.Análise perceptivo-auditiva ... 67

4.3.2.2.1. Análise estatística dos dados perceptivos ... 70

4.3.3. Análise integrada de dados ... 70

5. Resultados ... 71

5.1. Dados de análise acústica ... 71

(19)

5.1.2. Análise discriminante das cantoras ... 76

5.1.3. Análise discriminante da intensidade ... 78

5.1.4. Análise aglomerativa hierárquica de cluster ... 79

5.2.Dados de análise perceptiva ... 80

5.2.1. Análise de confiabilidade intra e interjuízes ... 80

5.2.2. Análise discriminante para as respostas das questões 1 a 5 ... 80

5.3.Dados de análise integrada: acústicos e perceptivos ... 81

5.3.1. Análise de correlação canônica ... 81

6. Discussão ... 82

7. Conclusões ... 93

8. Referências ... 94

Anexo 1 – Autorização para uso do scriptExpressionEvaluator... 101

Anexo 2 Autorização para uso de imagem ... 102

Apêndice 1 Roteiro de perguntas para inclusão ou exclusão de sujeitos de pesquisa ... 103

Apêndice 2 Termo de consentimento livre e esclarecido ... 104

Apêndice 3 Tutorial para coleta de dados ... 106

Apêndice 4 Roteiro para realização de tarefas nas coletas para a pesquisa ... 107

(20)

1. INTRODUÇÃO

Um dos desafios do ensino e aprimoramento técnico do canto reside no fato

de que a maior parte dos mecanismos de controle da produção vocal não é passível

de observação direta.

Assim, a busca pela integração dos recursos perceptivos e metafóricos

tradicionalmente utilizados no ensino do canto às informações geradas pelas

pesquisas científicas na área de voz faz-se cada vez mais presente. Tal fato não

deixa de ser também uma consequência das atuais demandas do ensino e da

performance da voz cantada (APPELMAN,1986; COELHO, 1994; SCARPEL,

PINHO, 2001; CORDEIRO, PINHO, CAMARGO, 2007; MELLO, 2008; PINHO,

KORN, PONTES, 2014).

A expressão e a comunicação na fala e no canto são possíveis, em parte,

pela possibilidade de controle dos mecanismos do aparelho fonador. Fala e canto

são funções adaptadas que envolvem e mobilizam estruturas dos aparelhos

respiratório e digestório, e solicitam do corpo a organização e coordenação de

diversos e sofisticados ajustes (MATEUS et al, 2005; FERREIRA, 2012; PINHO,

KORN, PONTES, 2014). Tais ajustes mobilizam a coordenação de conjuntos de

estruturas (MELLO, 2008; MELLO, ANDRADA E SILVA, 2009). Dessa forma,

percebemos que as atividades do canto e da fala envolvem mecanismos

associados: neurolinguísticos, aerodinâmicos, fonatórios, articulatórios, acústicos e

auditivos (ABERCROMBIE, 1967; SUNDBERG, 1987; CAMARGO, 2002; PINHO,

KORN, PONTES, 2014).

Essas atividades são, portanto, extremamente elaboradas, frutos da

adaptação e do desenvolvimento do corpo pela evolução, em prol da necessidade

de comunicação e expressão humanas.

Aspectos da dinâmica vocal produzidos pela variação da altura, da

intensidade e da duração são propriedades prosódicas e podem ser modificados por

meio do controle dos mecanismos do aparelho fonador. Além desses aspectos da

(21)

musculares de longo termo que podem ocorrer simultaneamente nos níveis laríngeo

(ajustes fonatórios), supralaríngeo (ajustes articulatórios) e de tensão muscular

(ajustes de tensão laríngea e supralaríngea). A qualidade vocal significa, portanto, a

complexa resultante de características multidimensionais da voz de cada falante ou

cantor (LAVER, 1980; BJORKNER, 2006; PINHO, KORN, PONTES, 2014). O

controle das variações da qualidade vocal e dos aspectos da dinâmica vocal são

mecanismos da produção da voz utilizados para expressar emoções e atitudes na

fala e no canto (BEHLAU, PONTES, 2001; CAMARGO, 2002; MADUREIRA, 2004;

SALOMÃO, 2008; GUSMÃO et al, 2010).

A qualidade vocal, dentre estes recursos de controle e variação da expressão

da voz, é um dos elementos de grande interesse nas pesquisas sobre a produção da

voz humana e representa uma das questões centrais no treinamento e na

construção da proficiência no canto (SUDBERG, 1987; BJORKNER, 2006). Assim

como na fala, diferentes qualidades vocais são utilizadas durante a voz cantada e,

como supracitado, acontecem pela integração de múltiplos fatores em função da

demanda expressiva e técnica da performance musical (ADLER, 1965; APPELMAN,

1986; SCARPEL, PINHO, 2001; BJORKNER, 2006; PETER PINHO, 2007;

SALOMÃO, 2008).

A coordenação desses fatores, enquanto demanda multifacetada do canto,

impõe ao corpo e, especialmente ao aparelho fonador, uma exigência

significativamente maior e mais refinada que a imposta pela fala cotidiana. São os

mesmos órgãos pneumofonoarticulatórios1 acionados, mas, na maior parte dos

cantos que se pretendam artísticos nos moldes ocidentais, os ajustes precisam ser

produzidos a partir de planejamento e de escolhas técnicas, a fim de alcançar

determinado resultado expressivo e musical (CELLETTI, 1996; BJORKNER, 2006;

PETER, PINHO, 2007; MELLO, ANDRADA E SILVA, 2008; SALOMÃO, 2008;

PINHO et al, 2014). Ou seja, há uma clara necessidade de construção de controle

da resultante vocal e, portanto, de conhecimento dos mecanismos subjacentes a

(22)

esta produção, assim como a consciência sobre a interferência da variação de seus

elementos no resultado qualitativo da voz.

Recursos pedagógicos proprioceptivos, assim como a experimentação

corporal, respiratória e vocal durante os treinamentos da voz cantada, já

contribuem com subsídios de autopercepção e elaboração de sensações ligadas

ao comportamento da voz enquanto instrumento (APPELMAN, 1986; FERREIRA,

1988; CELETTI, 1996; COELHO, 1994; COSTA, ANDRADA E SILVA, 1998;

PACHECO, 2006). Mas a falta de consenso na área do canto a respeito da

descrição, da conceituação e do treinamento adequado das estruturas envolvidas

reforça a importância de agregar informações advindas de estudos experimentais

em voz para os procedimentos pedagógicos.

Esse tipo de abordagem de ensino resulta em méritos importantes para o

desenvolvimento vocal e musical. Entretanto, a construção técnica gerada por um

maior conhecimento do funcionamento e das possibilidades de controle do

instrumento vocal promove condições para o aprimoramento destas ferramentas

pedagógicas. Um exemplo do acréscimo desse tipo de enfoque é o próprio

refinamento da percepção em si, proporcionado pelo olhar mais abrangente sobre o

produto vocal final da voz cantada. Com essa soma de perspectivas, há a

possibilidade de associar a percepção sensorial da qualidade vocal do canto com

seus possíveis correlatos fisiológicos, aerodinâmicos e acústicos. Tal integração na

condução do treinamento vocal redimensiona o recurso perceptivo que passa a não

só fornecer sensações metafóricas sobre o som, mas oferece pistas sobre os ajustes

corporais relacionados na produção vocal.

Apesar da falta de consensos pedagógicos e conceituais na área do canto, a

respiração sempre foi apontada por respeitadas escolas e metodologias como um

dos pilares técnicos da voz cantada (MARCHESI, 1970; APPELMAN, 1986;

CELETTI, 1996; COELHO, 1994; THOMASSON, 2003; BJORKNER, 2006;

PACHECO, 2006; GAVA JÚNIOR et al, 2010). A respiração também é citada como

um dos elementos básicos da comunicação, expressão e produção vocal

(MASSINI-CAGLIARI, (MASSINI-CAGLIARI, 2001; SILVA, 2002; MADUREIRA, 2004). Dessa forma, o

papel ocupado pela respiração na produção da voz e a dificuldade de consenso a

(23)

os efeitos acústicos e perceptivos que diferentes estratégias respiratórias podem

promover sobre a qualidade da voz cantada.

Sem dúvida, o canto é resultado de múltiplos fatores e não somente da

respiração, mas, talvez, o papel da respiração como personagem central das

questões vocais tenha uma resposta na própria funcionalidade do corpo enquanto

instrumento do canto.

A produção vocal, tanto na fala quanto no canto, é possível a partir de vários

comportamentos respiratórios (SUNDBERG, 1992; THOMASSON, 2003; STARK,

2008). De qualquer forma, é perceptível que cada manobra de respiração utilizada,

dentro de um contexto de canto, pode resultar em qualidades vocais diversas.

Assim, podemos deduzir que cada escolha respiratória pode promover interações

variadas das estruturas envolvidas na produção da voz e, possivelmente, diferentes

recursos de controle dos mecanismos vocais (SUNDBERG, 1987; COSTA,

ANDRADA E SILVA, 1998; GAVA JÚNIOR et al, 2010). Observa-se também que,

embora exista certa independência entre vários aspectos da relação entre sopro,

fonação e emissão, há um limite de realização de compensações nas esferas

glóticas e supraglóticas para atenuar, “corrigir” ou até mesmo tentar anular

determinadas consequências das estratégias respiratórias no canto resultante

(SUNDBERG, 1992; PINTO, 2012).

Alguns pesquisadores e professores da atualidade confirmam a importância

da respiração na performance do canto, mas apresentam questionamentos sobre o

papel e o espaço que esse parâmetro ocupa dentro da trajetória da pedagogia e das

técnicas de treinamento para a voz cantada. Para estes, a respiração no canto é

relevante quando realizada em conjunto com outros recursos de controle vocal.

Exercícios específicos para a dinâmica inspiratória e expiratória, fora do contexto da

prática em si, são considerados essenciais no processo inicial do aprendizado. Tais

autores argumentam que a respiração deve ser exercitada, preferencialmente, em

situações em que esteja associada a outros mecanismos do aparelho fonador

(VENNARD, 1967; STARK, 2008).

Em vista das várias abordagens técnicas e pedagógicas pesquisadas, assim

como das características fisiológicas e perceptivas que permeiam a voz cantada,

(24)

relevante pensar a questão respiratória e a escolha da estratégia de respiração

como ação organizadora do corpo, durante a atividade do canto. Outra questão

levantada refere-se a em que medida é possível reconhecer acusticamente e

perceptivamente os efeitos de diferentes comportamentos respiratórios na qualidade

da voz cantada. Ou seja, seria possível esboçar uma reflexão sobre a questão

respiratória, pensando-a como um vetor, um fator-chave capaz de coordenar ajustes

pneumofonoarticulatórios a partir dos subsídios e índices de informações oferecidos

pela qualidade vocal produzida no canto?

Um fator que sinaliza a favor da respiração como um vetor capaz de promover

diferentes interações das estruturas do aparelho fonador e condições diversas de

fonação é a própria natureza da sua função na cadeia de eventos subjacentes à

emissão do canto: o papel de provimento da energia aerodinâmica que inicializa o

processo de geração da energia acústica que será transformada em voz

(SUNDBERG, 1987; PINHO, 1998; SALOMÃO, 2008).

Como mencionado, é por meio do suprimento aerodinâmico que os eventos

relacionados à produção vocal são iniciados. Ou seja, é a existência deste

suprimento aéreo e sua associação aos componentes mioelásticos que criam as

condições para o processo fonatório e garantem a emissão na fala e no canto.

Durante a produção da voz, a laringe é responsável pela modificação do fluxo de ar

que sai dos pulmões, sendo a resistência das pregas vocais que gera o aumento da

pressão subglótica. Essa interação é responsável por desencadear uma complexa

dinâmica entre os elementos das forças aerodinâmicas e mioelásticas (VAN DEN

BERG, 1958; SUNDBERG, 1987; CUKIER, 2006; SALOMÃO, 2008).

Verifica-se, então, que tal dinâmica depende diretamente do fluxo aéreo que

sai dos pulmões. O início desse processo está diretamente ligado à geração do fluxo

de ar e à pressão subglótica adequada. E há o pressuposto de que o fluxo de ar e a

pressão subglótica exercem influência nas condições de vibração das pregas vocais.

Tais aspectos fazem-nos refletir a respeito das interações e dos ajustes corporais

que podem ser estimulados, a partir de estratégias respiratórias diversas, no

momento de origem da primeira informação acústica que resultará na voz. Ou seja,

nas mudanças apresentadas pelo canto e pela fala em seus produtos finais e seus

(25)

das variadas interações entre respiração e fonação (APPELMAN, 1986; LAVER,

1980; PINHO, 1998; SALOMÃO, 2008). Esse aspecto da dinâmica vocal e de

associações das instâncias mioelásticas e aerodinâmicas será retomado mais

detalhadamente na revisão de literatura.

Além destas considerações, é importante ressaltar que a própria conformação

mecânica dos órgãos que compõem a estrutura comum aos aparelhos respiratório e

fonador atua como catalisadora de interações. O fenômeno conhecido como

“tracheal pull”, traduzido como “tração da traqueia”,2 por exemplo, pode ser

considerado como um destes efeitos ocasionados pela atuação direta entre órgãos

que estão ligados mecanicamente e são dotados de versatilidade funcional

(SUNDBERG et al, 1989; SUNDBERG, 1992; VILKMAN et al, 1996; IWARSSON,

SUNDBERG, 1998; IWARSSON, 2001). Esta característica da fonação, a integração

de um conjunto de estruturas que se coordenam, sugere a interferência mútua dos

órgãos que se mobilizam para a produção da voz.

Tais particularidades e as solicitações específicas do corpo e do aparelho

fonador durante o canto podem encontrar na fonética, em suas vertentes perceptiva,

acústica e articulatória, respaldo e referencial teórico capaz de aprofundar o

conhecimento sobre os complexos sistemas e mecanismos da voz. Como ciência

dedicada ao estudo da produção e percepção dos sons produzidos pelo aparelho

fonador, a fonética oferece a possibilidade de análise tanto da fala quanto do canto

sob perspectiva científica, oferecendo instrumental que torna possível este tipo de

abordagem multidisciplinar e integrada (LAVER, 1980; LAVER, 2000; CASSOL et al,

2001; CAMARGO, 2002).

O respaldo em teorias e modelos que permitam o estudo das características e

interações de produção e percepção são particularmente interessantes para os

estudos da voz cantada, pois oferecem a possibilidade de exploração destas

relações sob o prisma qualitativo e não só quantitativo dos fenômenos envolvidos.

Nesse sentido, esta pesquisa buscará fundamentos na teoria acústica de produção

da fala (FANT, 1970), em que se destacam os princípios do modelo linear da fonte e

do filtro. Tal teoria considera as ações dos elementos glóticos e supraglóticos do

(26)

aparelho fonador, permitindo a investigação e descrição da produção vocal por meio

de correlações perceptivas, fisiológicas e acústicas destas instâncias. Além disso,

possibilita o estudo destas esferas separadamente em suas específicas ações e

interações (FOURCIN, ABBERTON, 1999; CAMARGO, 2002; VIEIRA, 2004).

Assim, a partir da perspectiva fonética e seu recurso analítico, consideramos

as questões expostas nesta introdução acerca da voz cantada e o papel da

respiração para sua realização e definimos, como principal objetivo da presente

pesquisa, a investigação dos efeitos de diferentes estratégias respiratórias sobre a

qualidade da voz cantada. Para efeito de uma delimitação das variáveis que foram

envolvidas nesta pesquisa, o grupo estudado foi constituído por indivíduos

saudáveis, de mesma classificação vocal, com condições anatomofisiológicas

equivalentes e sem treinamento profissional para o canto.

Neste estudo, portanto, buscamos caracterizar os efeitos das estratégias

respiratórias clavicular e costodiafragmática abdominal, relacionando os dados das

amostras de áudio obtidas, a partir de cada estratégia, com suas características

acústicas e perceptivas. Também procuramos esboçar as possíveis consequências

das diferentes estratégias respiratórias na qualidade vocal durante o canto, em

consonância com as questões teóricas e metodológicas da linha de pesquisa

Linguagem e Patologias da Linguagem e do Grupo de Pesquisa de Estudos sobre a

(27)

2. OBJETIVO

O objetivo desta pesquisa foi o de investigar os efeitos acústicos e

perceptivos de diferentes estratégias respiratórias na qualidade da voz cantada em

(28)

3. REVISÃO DE LITERATURA

Neste tópico, serão apresentadas uma descrição básica das principais

estruturas e mecanismos acionados para a produção do canto, uma abordagem

sobre algumas questões pedagógicas em relação às manobras e aos treinamentos

respiratórios para a voz cantada, bem como a explanação acerca da fundamentação

teórica desta pesquisa e das técnicas de investigação sobre qualidade vocal

envolvidas neste estudo.

3.1. Mecanismos básicos subjacentes ao canto

O canto, assim como a fala, depende da adaptação e da mobilização de

complexas e múltiplas estruturas periféricas, especialmente aquelas dos aparelhos

respiratório e digestório. Assim, sob esta perspectiva, é possível dizer que as vias

aerodigestivas superiores, envolvidas nesta atividade adaptativa, compõem o

aparelho fonador humano. O aparelho fonador é formado, portanto, pelo trato vocal

(delimitado pelos lábios e pregas vocais) e pelas vias aéreas inferiores (traqueia,

brônquios e pulmões), conforme apresentado pela Figura 1 (WARD, 1988; PINHO,

1998; CAMARGO et al, 2004; RUA, 2006; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Podemos observar que, além de estruturas periféricas, o complexo

anatomofisiológico acionado para o canto mobiliza mecanismos neurolinguísticos,

aerodinâmicos, fonatórios, acústicos e auditivos. As estruturas envolvidas no canto

desempenham mais de uma função: dependendo do momento, atuam na

respiração, na deglutição ou na fonação. Todas essas funções são complexas e,

mesmo assim, o corpo é capaz de coordenar sua alternância em pequenas frações

(29)

Figura 1 – Aparelho fonador: trato vocal e vias aéreas (traqueia, brônquios e pulmões). Fonte: <http://www.voiceproblem.org/anatomy/learning.asp>.

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 1:

Brain: cérebro

Nasal Cavity: cavidade nasal

Soft palate: palato mole

Oral cavity: cavidade oral

Lips: lábios

Tongue: língua

Vocal folds: pregas vocais

Pharinx or throat: faringe ou garganta

Epiglotis: epiglote

Larynx or voice box: laringe ou caixa da voz

Trachea or windpipe: traqueia

Chest walls and muscles: caixa torácica e músculos

Lungs: pulmões

Diaphram: diafragma

Abdominal muscles: músculos abdominais

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 1:

Resonating e Modifying System: ressonância e sistema de modificação

Resonators X Articulators: ressoadores X articuladores

Vocal tract: trato vocal

Vibratory system: sistema vibratório

Air pressure system: sistema de pressão de ar

(30)

Diante dessas interações e estruturas multifuncionais coordenadas, as

relações entre respiração e fonação apresentam grande complexidade e constituem

desafio para o conhecimento e a compreensão da produção da voz cantada e sua

qualidade, como veremos a seguir.

Thomasson (2003) descreve que o sistema respiratório é constituído pelo

sistema pulmonar, que engloba as vias respiratórias e os pulmões, pela caixa

torácica, pelo abdômen e pelo músculo diafragma. As cavidades nasal, oral e

faríngea constituem as vias aéreas superiores e estão separadas das vias aéreas

inferiores pela laringe. Abaixo desta há ainda a traqueia, os brônquios, os

bronquíolos e os alvéolos, onde ocorrem as trocas gasosas, função primordial do

sistema (WARD, 1988, PINHO, 1998; CUKIER, 2006; RUA, 2006). Tais trocas

gasosas são chamadas de homeostase e são vitais para o corpo. Para que a

homeostase possa acontecer, é preciso que o ar chegue até os alvéolos no

movimento de inspiração e que seja expelido no movimento de expiração (WARD,

1988; THOMASSON, 2003). Este movimento ventilatório, assim como a fonação,

depende da ação de forças musculares, forças elásticas e forças gravitacionais que

atuam durante a respiração (SUNDBERG, 1992; FELTRIM, 1994; CUKIER, 2006;

PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Além do papel fundamental na homeostase, as duas fases da respiração

(inspiração e expiração) também são essenciais na atividade fonatória. Em cada

uma delas, ocorre uma sinergia entre as ações das forças musculares, elásticas e

gravitacionais, que interagem promovendo as condições para a produção vocal.

Na inspiração, as forças musculares dos intercostais externos e a contração

do diafragma são acionadas (forças musculares inspiratórias) e as forças elásticas

atuam permitindo a variação de volume da caixa torácica. Essa associação de

mecanismos promove a ampliação do volume de ar dentro dos pulmões e a

suspensão das costelas. Durante o movimento inspiratório, acontece a abdução das

pregas vocais para que o ar possa entrar nos pulmões, momento no qual temos a

ação dos músculos cricoaritenóideos posteriores, consequência da ativação dos

motoneurônios laríngeos e dos movimentos respiratórios de inspiração: contração do

(31)

(APPELMAN, 1986; SUNDBERG, 1992; IWARSSON et al, 1998; BJORKNER, 2006;

CUKIER, 2006; PARREIRA et al, 2010).

Para que a fonação aconteça, é necessária a existência de pressão aérea

alta dos pulmões, sobrepressão de ar capaz de colocar as pregas vocais em

movimento, denominada pressão subglótica (SUNDBERG, 1992; CUKIER, 2006;

SEARA et al, 2011).

A expiração também demanda forças variadas agindo em sincronia. Forças

musculares expiratórias são exercidas pelos músculos intercostais internos e pelos

músculos da parede abdominal, e as forças elásticas da caixa torácica permitem sua

variação de tamanho e o esvaziamento dos pulmões. Na expiração (repouso), o

espaço glótico é estreitado. Para a produção da voz, além do relaxamento da

musculatura envolvida na inspiração, é possível observar a contração da

musculatura intercostal interna em demandas vocais maiores, como o canto

(SUNDBERG, 1992; PINHO, 1998; CUKIER, 2006).

As forças gravitacionais interferem em ambas as fases descritas da

respiração (SUNDBERG, 1987; BJORKNER, 2006).

Além das funções de ventilação, regulação da quantidade de água do

aparelho respiratório e resfriamento corporal, o sistema respiratório é o

responsável por gerar e controlar a pressão subglótica necessária para a fonação.

Podemos dizer que, tanto no canto, como em qualquer demanda fonatória, a

possibilidade de controle voluntário dessa função é um aspecto diferenciador de

outras atribuições do sistema. Tal fato contrasta com a expiração silenciosa, por

exemplo, quando os músculos envolvidos agem automaticamente para a posição

de relaxamento e repouso (WARD, 1988; BJORKNER, 2006; THOMASSON,

SUNDEBERG, 2001; PINHO, KORN, PONTES, 2014). Embora possa ocorrer por

mecanismos reflexos ou involuntários, a fonação pode estar associada também a

mecanismos voluntários que acontecem de acordo com as necessidades de

comunicação e expressão dos indivíduos por meio da voz. Esse contraste entre a

respiração utilizada para a ventilação do corpo e a respiração utilizada para a

produção da voz nos permite perceber que há a possibilidade de diferenças entre

comportamentos e características das estratégias respiratórias acionadas pelo

(32)

cada solicitação do corpo. Algumas, como já dito, são reguladas de forma

automática e outras podem ser fruto de escolhas de uma determinada estratégia

como acontece no canto, por exemplo (SUNDBERG, 1987; WARD, 1988; THORPE

et al, 2001; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Em geral, o comportamento respiratório recebe as seguintes nomenclaturas:

- Quanto ao modo: oral, nasal ou oro-nasal (mista). Corresponde ao

predomínio respiratório revelado pelo indivíduo durante as situações de repouso,

fora dos momentos de fonação.

- Quanto ao tipo: clavicular (ou costal superior), diafragmática (inferior) e

costodiafragmática abdominal (associação da inferior com a expansão e sustentação

dos intercostais).

Os tipos e modos respiratórios, assim como os volumes e as capacidades

respiratórias variam de acordo com características de gênero, idade e altura

(PINHO, 1998; THOMASSON, 2003; CUKIER, 2006).

Para a fonação, em geral, é preconizado como ideal o padrão respiratório

costodiafragmático abdominal. Este padrão respiratório promove a anteriorização do

osso esterno, a abertura das costelas, a ampliação da cavidade torácica na fase de

inalação, a redução de tensão nos ombros e na pressão subglótica, além do

abaixamento do músculo diafragma e consequente expansão abdominal. Tal

abordagem respiratória permite maior controle vocal, se comparada com a

respiração clavicular ou costal superior. Também denominada como respiração alta,

a respiração clavicular não promove a ampliação corporal, que acontece no outro

tipo de respiração, a costodiafragmática abdominal. Ao contrário, na respiração alta,

acontece a diminuição da dimensão do aparato respiratório e o tensionamento de

diversas estruturas do corpo (APPELMAN, 1986; SUNDBERG, 1992; FERREIRA,

PONTES, 1994; IWARSSON et al, 1998; PETER et al, 2001; THOMASSON, 2003;

CUKIER, 2006; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Estas diferenças e contrastes entre comportamentos respiratórios nos

demonstram que o sistema pode ser treinado e ter as suas ações inspiratórias e

expiratórias planejadas, de acordo com a demanda de fonação a ser enfrentada.

Além disso, pode-se perceber que a movimentação corporal diferenciada entre as

(33)

entre cantores e falantes, tornando-se importante ferramenta de avaliação

perceptiva do comportamento respiratório. A possibilidade de constatação dessas

diferenças é necessária para o treinamento vocal, sendo o tipo respiratório

empregado um aspecto relevante para o produto vocal final e um agente modificador

das condições de fonação. Como sua ação interfere nos recursos corporais

responsáveis pela dinâmica e qualidade da voz, é essencial ter a informação acerca

dos ajustes associados a determinadas pistas corporais, como a expansão

abdominal (ligada ao abaixamento e à contração diafragmática decorrente da

respiração costodiafragmática abdominal) ou a elevação dos ombros e a redução da

caixa torácica (consequência da respiração clavicular superior) (APPELMAN, 1986;

SUNDBERG, 1987; DINVILLE, 1993; COELHO, 1994; PINHO, 1998; COSTA, 2001;

MELLO, 2008).

Portanto, fatores como o tipo e o modo respiratório constituem possíveis

agentes modificadores das condições de fonação. Assim, podemos dizer que as

estratégias respiratórias adotadas representam influência nas interações das

estruturas e dos recursos corporais responsáveis pela dinâmica e pela qualidade da

voz cantada, podendo ser percebidas, entre outros recursos, por meio da

perceptivo-visual (APPELMAN, 1986; SUNDBERG, 1987; DINVILLE, 1993).

Diante desta estrutura e das capacidades do aparelho fonador, percebe-se

que a complexa interação entre respiração e fonação é estabelecida não só pelo

papel de suprimento de energia para a movimentação das pregas vocais. Tal ligação

ocorre efetivamente no aspecto biomecânico também. Há uma conexão física entre

diversas estruturas componentes.

As pregas vocais, responsáveis pela produção do primeiro sinal sonoro que

irá se transformar na voz humana, estão situadas dentro da laringe, um tubo

cartilaginoso alongado que, por sua vez, está ligada à traqueia, que está ligada aos

pulmões. O diafragma possui fibras musculares em suas extremidades inferiores

inseridas no contorno da parte inferior da caixa torácica.

Assim, quando o volume de ar nos pulmões aumenta na inspiração e o

diafragma desce, ocorre um abaixamento da traqueia e esta também traciona a

laringe para baixo (Figura 2). Para esse evento, o volume do ar inspirado é um dos

(34)

de ar inspirado está associado a um abaixamento mais significativo da laringe. Tal

evento é denominado de “tracheal pull” ou tração da traqueia (SUNDBERG 1992;

THOMASSON 2003; BJORKNER, 2006; CRUZ, 2006; CORDEIRO, PINHO,

CAMARGO, 2007).

Tais interações do aparelho fonador ainda não foram completamente

esclarecidas, mas, segundo estudos, interferem e, por vezes, definem as

configurações laríngeas e supralaríngeas durante a produção vocal no canto

(SUNDBERG, 1992; IWARSSON, SUNDBERG, 1998; IWARSSON, 2001;

BJORKNER, 2006).

Figura 2 – Imagem ilustrativa da ligação biomecânica entre a musculatura respiratória e o volume pulmonar.

Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-hFuPMJUvQrk/TfkF7F9CehI/AAAAAAAAAis/jIXzN9srB4A/s1600 /yoga-respira%25C3%25A7%25C3%25A3o%252Bdiafragmatica.jpg>.

Para melhor entender as possíveis consequências fonatórias do fenômeno

“tracheal pull” (tração da traqueia) e o efeito em cadeia que pode ocorrer entre os

órgãos que compõem o aparelho fonador, é importante realizar uma descrição da

laringe e das pregas vocais (SUNDBERG, 1992, IWARSSON, SUNDBERG, 1998;

IWARSSON, 2001, PETER et al, 2001; BJORKNER, 2006).

A laringe localiza-se no pescoço e é um tubo alongado, composto por

(35)

interior, ficam as pregas vocais (duas estruturas formadas por músculo e mucosa,

em posição horizontal). Apesar de se apresentar sustentada por membranas,

ligamentos e músculos ligados ao osso hioide, a laringe pode movimentar-se

verticalmente quando tracionada. Extremamente complexa em sua estrutura e

funções, desempenha vários papéis de vital importância fisiológica: respiração,

proteção dos pulmões, apoio para realização de movimentos de força com membros

superiores e fonação. Segundo Pinho, Korn e Pontes (2014), algumas dessas

atividades são reflexas e involuntárias, como o selamento dos pulmões; e outras

podem acontecer voluntariamente, como o início da respiração (embora a respiração

tenha mecanismos de regulação involuntários também) ou a própria fonação

(ADLER, 1965; APPELMAN, 1986; LAVER, 1980; SUNDBERG, 1987; WARD, 1988;

DINVILLE, 1993; SALOMÃO, 2008; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

(36)

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 3:

Adam’s Apple: proeminência laríngea

Vocal ligaments: ligamentos vocais

Thyroid cartilage: cartilagem tireoide

Arytenoid cartilage: cartilagem aritenoide

Interarytenoid muscle: músculo interaritenóideo

Posterior cricoarytenoid muscle: músculo cricoaritenóideo posterior

Lateral cricoarytenoid muscle: músculo cricoaritenóideo lateral

Cricoid cartilage: cartilagem cricoide

Trachea: traqueia

Quadro 2 – Tradução dos termos da Figura 3.

Na fonação, a laringe é responsável por modificar o fluxo de ar que sai dos

pulmões, o qual encontra as pregas vocais aduzidas. A resistência das pregas

vocais a esse fluxo gera o aumento da pressão subglótica. No momento em que a

pressão subglótica gerada vence a resistência oferecida pelas pregas vocais em

adução, elas se afastam e, imediatamente, diversas forças agem em conjunto,

promovendo um novo fechamento glótico. Entre essas forças, as de maior

relevância são a elasticidade das pregas vocais (regulada pela musculatura

intrínseca da laringe) e o efeito de Bernoulli (a relação entre a velocidade do fluxo

de ar e o estreitamento glótico, que resulta no efeito similar ao de sucção das

pregas vocais). Assim que o ar passa pela glote (espaço entre as pregas vocais), a

pressão subglótica diminui e a força que está abduzindo as pregas vocais também

é reduzida, ocorrendo a reaproximação delas. Há novamente uma sinergia de

fatores: conservação da força adutora intrínseca da laringe, elasticidade dos

tecidos e a ação do efeito de Bernoulli. Quando o fechamento glótico se completa,

a pressão subglótica volta a aumentar e a fonação recomeça (VAN DEN BERG,

1958; LADEFOGED, 1973; PINHO, 1998; SUNDBERG, 1987; PINHO, KORN,

PONTES, 2014).

Ou seja, neste processo, acontece a conversão da energia aerodinâmica em

energia acústica, o que demonstra que a fonação acontece pela associação de dois

componentes: um aerodinâmico e um mioelástico (VAN DEN BERG, 1958;

APPELMAN, 1986; LAVER, 1980; SUNDBERG, 1987; PINHO, 1998; CUKIER, 2006;

(37)

Alguns parâmetros fisiológicos estão relacionados à modificação do fluxo

aéreo expiratório em som laríngeo. São eles: a pressão subglótica e as forças de

adução das pregas vocais, assim como sua extensão, massa e rigidez. Os músculos

intrínsecos da laringe, segundo Pinho, Korn e Pontes (2014), controlam a frequência

e a intensidade da voz por promoverem tensão das pregas vocais, modificações da

massa vibrante e variações na pressão aérea subglótica (Figura 4), evidenciando a

interação das forças aerodinâmicas, aéreas e as musculares supracitadas (VAN

DEN BERG, 1958; TITZE, 1980; LAVER, 1980; SUNDBERG, 1987; THOMASSON,

2003; CUKIER, 2006; SALOMÃO, 2008; PINHO, KORN, PONTES, 2014). Pinho,

Korn e Pontes (2014) ainda observam que a atividade neuromuscular é fundamental

para o controle da massa, tensão e elasticidade das pregas vocais (componente

mioelástico), mas, a partir daí, o fenômeno vibratório ocorre essencialmente pela

ação das forças aerodinâmicas relativas ao fluxo aéreo.

Figura 4 – Imagem esquemática: pressão subglótica vibração das pregas vocais. Fonte: <http://www.voiceproblem.org/pdfs/anatomy.pdf>.

Por interferir no comprimento, na massa e na espessura das pregas vocais,

pode-se dizer que tanto no canto, quanto na fala, a pressão subglótica é ajustada de

acordo com a intensidade vocal e a altura vocal pretendidas (LAVER, 1980;

SUNDBERG, 1987; PINHO 1998; BEHLAU, PONTES, 2001; SALOMÃO, 2008;

(38)

Tais parâmetros fisiológicos citados são, portanto, resultantes do tipo de

interação das esferas mioelásticas com o fluxo aéreo transglótico e possuem relação

com o ajuste laríngeo, a intensidade (loudness – percepção da intensidade) e a

frequência (pitch – percepção da frequência). Além disso, nessa interação do fluxo

aéreo transglótico e da vibração das pregas vocais, temos a variação do volume

torácico decorrente das interferências das variações respiratórias no comportamento

laríngeo, o qual representa importante fator para a qualidade vocal. Ou seja, as

configurações pneumofonoarticulatórias geradas por condições aerodinâmicas

diversas parecem resultar em diferentes condições fonatórias e, consequentemente,

variadas qualidades vocais, pois também alteram o ajuste geral do aparelho fonador

e seus mecanismos de ação (APPELMAN, 1986; LAVER, 1980; PINHO 1998;

BEHLAU, PONTES, 2001; THOMASSON, 2003; CUKIER, 2006; SALOMÃO, 2008;

PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Prosseguindo à descrição da laringe, ressaltamos que seus músculos

intrínsecos, subdivididos em abdutores, tensores e adutores, são responsáveis,

principalmente, pelos ajustes da fonte glótica:

- Abdutores: CAP (cricoaritenóideos posteriores, músculos pares, com

compartimentos horizontal e vertical).

- Tensores: TA interno (tireoaritenóideos internos, músculos pares, porção vocal

ou compartimento interno, responsável pelo encurtamento) e CT (cricotireóideos,

músculos pares, parte reta e parte oblíqua, responsável pelo alongamento).

- Adutores: AA (aritenóideos, músculo transverso ímpar e músculos oblíquos

pares); CAL: cricoaritenóideos laterais, músculos pares e TA externo

(tireoaritenóideos externos, músculos pares, porção tireomuscular ou

compartimento externo).

E, finalizando esta descrição básica da fisiologia da laringe, observamos a

participação da sua musculatura extrínseca nas funções exercidas pelo órgão. Além de

constituir um elo entre os sistemas respiratório, digestivo, fonatório e articulatório, esta

musculatura também é atuante, exercendo ajuda no desempenho geral da estrutura.

Os músculos extrínsecos são divididos em infra-hióideos (esternotireóideo,

esternoióideo e omoióideo), responsáveis por alterar a forma das cavidades de

(39)

(genioióideo, miloióideo e ventre anterior do digástrico), que elevam e tracionam

anteriormente a laringe e os constritores faríngeos (cricofaríngeo e tireofaríngeo),

que influenciam na produção vocal em ação conjunta com os demais. Portanto, a

movimentação da laringe é afetada por sua musculatura extrínseca e esses

músculos também influenciam nas condições glóticas. Durante o canto, a ação de

fixação da laringe é exercida pelo esternotireóideo (PINHO, 1998; HANAYAMA et al,

2007; PETER, PINHO, 2007).

Completando a descrição dos mecanismos atuantes durante as dinâmicas

respiratórias e de sustentação da voz, é relevante citar a participação do conjunto de

músculos que compõem a cinta abdominal. Esses músculos são indispensáveis para

a firmeza das costelas e sua atuação é essencial na fala e no canto em fortes

intensidades, assim como na utilização do ar de reserva (APPELMAN, 1986; PINHO,

1998; MELLO, ANDRADA E SILVA, 2009).

Concluímos esta parte da revisão de literatura, acrescentando alguns

conceitos frequentes e úteis para a reflexão e o estudo da instância respiratória:

- Volume corrente: volume de ar que flui durante a respiração em repouso.

- Capacidade pulmonar total: volume de ar total ao final de uma inspiração

máxima e que compreende a capacidade vital ou quantidade de ar máxima

mobilizável durante a respiração.

- Volume residual: ar que permanece sempre nos pulmões, mesmo após a

expiração máxima.

- Capacidade residual funcional: posição de repouso do sistema, ocorre na

porção expiratória final do volume corrente.

Todas as manobras e produtos vocais, resultantes dos refinados mecanismos

descritos neste breve panorama, possuem suas correspondências perceptivas e

acústicas. Abaixo, na Figura 5, segue a representação das conexões entre as

(40)

Figura 5 – Representação esquemática da produção vocal. Fonte: <www.ispl.korea.ac.kr/~wikim/research/speech>.

Quadro 3 – Tradução dos termos da Figura 5.

3.2. Questões pedagógicas do canto

Além dos complexos aspectos e interações anatomofisiológicas envolvidas na

produção da voz expostos no tópico anterior, o estudo e a reflexão acerca do canto

deparam-se com questões pedagógicas particulares. A pesquisa sobre a voz

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 5:

Muscle force: força muscular

Lungs: pulmões

Trachea: traqueia

Vocal cords: pregas vocais

Pharyngeal cavity: cavidade faríngea

Tongue hump: curvatura da língua

Velum: véu ou palato mole

Nasal cavity: cavidade nasal

Oral cavity: cavidade oral

Nose output: sinal de saída (nasal)

(41)

cantada encontra variações de conceitos, terminologias e abordagens tão amplas

que tal diversidade de termos e ausência de consenso torna-se praticamente uma

característica intrínseca à tradição pedagógica e artística no canto.

Sem dúvida, escolas e diferenças de estilos podem ser caracterizados e

identificados, mas, na prática, há divergência nas expressões utilizadas. Tal fato

ocorre, inclusive, por adeptos de uma mesma escola ou estilo e, por vezes, sobre

um mesmo parâmetro de dinâmica vocal, descrição de qualidade de voz ou, até

mesmo, sobre certa descrição de algum mecanismo fisiológico subjacente à

produção do canto (APPELMAN, 1986; LAVER, 1980; SUNDBERG, 1987; STARK,

2008; MARIZ, 2013).

Essa imprecisão não impede bons resultados de ensino, mas dificulta a

discussão em relação a determinadas instâncias do estudo e da pesquisa do canto

que pressupõe, além de capacidade perceptiva da sonoridade e da condição

corporal do aluno, a possibilidade de compreensão mais objetiva a respeito do

treinamento vocal. Por exemplo, uma mesma metáfora ou exercício pode promover

resultados completamente diversos em dois cantores diferentes. Sem o consenso de

terminologia e sem a construção de uma linguagem comum, inúmeras vezes

acontecem falhas ou limitações na comunicação da informação pedagógica e no

treinamento para a performance. Tal desencontro tende a ser reduzido com a

inclusão de conceitos e termos que possuem correlatos corporais e vocais já

consolidados no meio da pesquisa fonética ou da fisiologia da voz.

Hipócrates recebe os créditos de, ainda no século V a.C., ter apresentado as

primeiras especulações em relação ao papel e à importância dos pulmões, da

traqueia, dos lábios e da língua para a fonação. Entretanto, dentro da tradição do

canto ocidental, seja ele erudito ou popular, a inclusão de determinadas reflexões

associadas à constituição do instrumento vocal sob uma perspectiva científica é

datada do século XIX (GRANGEIRO, 1999; PACHECO, 2006; STARK, 2008;

PINTO, 2012).

Antes desta época, a característica primordial dos tratados e métodos de

ensino do canto era a da proposta prática e instintiva. Os exercícios utilizados

pelos professores durante as aulas seguiam esses mesmos preceitos. O foco

(42)

regras estilísticas e cuidados para um “bom cantar” descrito com adjetivos e termos

impressionísticos, com raras associações às questões fisiológicas. Muitas vezes,

os professores davam maior ênfase na orientação em relação ao comportamento

do pupilo. Desta forma, alguns conceitos utilizados até hoje no meio do canto

foram cunhados a partir da demanda musical, expressiva ou comportamental,

desprovidos de uma preocupação com os correlatos fisiológicos (PACHECO, 2004;

STARK, 2008).

A partir do século XVIII, começa a surgir uma preocupação maior em

descrever, em publicações e métodos de ensino, algumas estruturas e

movimentações de partes envolvidas no canto, mas, é com a chegada do século

XIX, que essa tendência ganha força e adeptos (STARK, 2008; PINTO, 2012;

MARIZ, 2013).

Em meio à explosão científica da era positivista, surge uma figura histórica

que é apontada por inúmeros estudiosos como um divisor de águas dentro das

abordagens do ensino do canto: Manuel Garcia II (RADOMSKY, 2005; PACHECO,

2006; SALOMÃO, 2008; STARK, 2008).

Nascido no início do século XIX, Manuel Garcia II (1805-1906) era de uma

família de músicos e teve a curta carreira de cantor interrompida por problemas

vocais. Passou, então, a dedicar-se exclusivamente ao ensino do canto. Colecionou

sucessos nessa empreitada, chegando a conquistar o posto de professor do

renomado conservatório de Paris. Além de somar sucessos em seus treinamentos

com cantores de ópera, Manuel Garcia II dedicou-se a pesquisar a fisiologia dos

mecanismos vocais. Tal fato produziu informações e descobertas que culminaram

no que é descrito por vários pesquisadores como “a grande virada” dentro da

pedagogia da voz cantada (RADOMSKY, 2005; PACHECO, 2006; SALOMÃO, 2008;

STARK, 2008).

Conta-se que ele, já interessado em buscar recursos para a visualização das

pregas vocais, viu o sol refletido nas janelas do Palais Royal e teve a ideia de

comprar um espelho dentário e acoplar ao final de um cabo, a fim de observar suas

(43)

laringoscopia indireta (PINTO, 2012).3 Com a evolução dos achados científicos,

aconteceu uma proliferação de tratados que incluíam as descrições fisiológicas da

voz cantada, mas, possivelmente, Manuel Garcia II foi o primeiro professor de canto

a investir na inclusão de informações de fisiologia da voz como estratégia de ensino

de canto e aprimoramento da técnica vocal (RADOMSKY, 2005; STARK, 2008;

PINTO, 2012; MARIZ, 2013).

Independentemente das controvérsias associadas aos seus métodos de

ensino (como as diferentes interpretações sobre sua técnica do golpe de glote),

Manuel Garcia II, mobilizado pela inquietude e pelas curiosidades científicas e

pedagógicas acerca da constituição e do funcionamento do aparelho fonador

enquanto instrumento do canto, acrescenta uma nova consciência aos

ensinamentos da voz cantada que transforma os rumos dos estudos nessa área.

Tal mudança de perspectiva na pedagogia da voz cantada (ocidental), a

partir da apropriação dos achados científicos para estruturação do treinamento

vocal e da formação do cantor, inaugura uma mudança de percepção do corpo e

da voz em relação a este corpo. Nesse momento histórico, há a profusão de

descobertas e descrições fisiológicas que permitem o conhecimento das

associações de várias estruturas do corpo. É neste contexto que Manuel Garcia II

inventa o laringoscópio, agregando aos seus estudos e aulas o recurso de

visualização da instância glótica. Tal recurso viabiliza, mesmo que ainda de forma

rudimentar, a observação das pregas vocais e dos mecanismos da fonação. A

fonte glótica e a geração do primeiro sinal acústico podem ser avaliadas durante o

canto, para melhor compreensão de sua relevância na qualidade vocal final. Assim,

mesmo que a “grande virada” de Manuel Garcia II não tenha sido propriamente um

divisor histórico entre procedimentos de ensino, mudança esta processual,

podemos dizer que ele iniciou uma nova tendência pedagógica que passaria a

Imagem

Figura 1 – Aparelho fonador: trato vocal e vias aéreas (traqueia, brônquios e pulmões)
Figura  2  –  Imagem  ilustrativa  da  ligação  biomecânica  entre  a  musculatura  respiratória  e  o  volume  pulmonar
Figura 3 – Cartilagens e respectivos músculos intrínsecos da laringe.
Figura 4 – Imagem esquemática: pressão subglótica  vibração das pregas vocais.
+7

Referências

Documentos relacionados

O art. 87, da OIT como bem se há de recordar, estatui que os trabalhadores têm o direito de constituir organizações que julgarem convenientes, o que implica na possibilidade

de uma instituição de ensino público federal e sua principal contribuição, tanto na perspectiva prática quanto teórica, reside na análise de aspectos da

Como cada algoritmo classificador possui sua característica própria, sendo seu desempenho dependente das características extraídas dos textos, e dos dados utilizados para

A falta de rotinas e procedimentos arquivísticos é resul- tado da não aplicação das normas prescritas pela legislação arquivística bra- sileira; da inexistência de um órgão

Por mais que reconheça a importância das políticas de redução de danos não apenas como estratégias progressistas, fundamentadas nos direitos humanos, que operam

• a família como aporte simbólico, responsável pela transmissão dos significantes da cultura boliviana, que marca o lugar desejante de cada imigrante nos laços sociais. Na

PUC-Campinas - Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Camilo - SP - Centro Universitário São Camilo São Judas

Com base nos estudos realizados a respeito das capacidades metalingüísticas e no meu trabalho como coordenadora pedagógica, a presente pesquisa pretende realizar