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CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METOLÓGICOS DE COLETA E

3.5 Procedimentos de coleta das informações

A pesquisa social como meio de investigação dos fenômenos sociais é atravessada por diversos problemas que são construídos socialmente, o “mundo social não é um dado natural” (GASKELL, 2008, p. 65), constantemente contradições e incongruências ressoam no cotidiano

social, de tal forma que este se configura como ponto de partida dos cientistas sociais, no emprego de métodos e procedimentos de pesquisa que buscam interpretar as “crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos” (GASKELL, 2008, p. 65). A descrição do mundo social e de contextos específicos dos grupos sociais e dos entrevistados constitui-se como condição sem a qual não se realiza a pesquisa social. O conhecimento sobre a realidade ou estado do conhecimento permite a análise e a construção de estratégias de referenciais para pesquisas, bem como a “fornecer dados para testar expectativas e hipóteses desenvolvidas fora de uma perspectiva teórica específica” (GASKELL, 2008, p. 65).

Quanto aos procedimentos de coleta das informações na pesquisa, foram realizadas 61 entrevistas com adaptação da técnica de triagem sucessiva. As técnicas empregadas em entrevistas constituem-se como meios sistemáticos, que permitem ao inquirido se expressar o mais seguramente e inteiramente possível (GUIGLIONE; MATALON, 1993, p. 98). O método de hierarquização por itens ou triagens hierarquizadas sucessivas (SÁ, 1996) consiste em partir de itens previamente produzidos em uma tarefa de evocação livre de palavras. Na seguinte pesquisa, esta tarefa foi construída a partir de uma pesquisa anterior, desenvolvida no ano de 2016 com os professores da educação infantil (SILVA; FERREIRA; ROSSO, 2017), ao identificar o núcleo central do desgaste docente na educação infantil. Neste estudo, 15 palavras comporiam o núcleo central, dentre elas: salas lotadas; desvalorização profissional; recursos humanos; descomprometimento familiar; salário; cobrança; desrespeito; indisciplina; trabalho excessivo; carga horária; formação; gestão; hora-atividade; infraestrutura; material didático. Contudo, para o desenvolvimento da técnica de triagens hierarquizadas sucessivas, um conjunto relativamente grande (32 itens em geral) seria suficientemente necessário, conforme figura 2 abaixo:

Figura 2. Fichas usadas nas triagens hierárquicas sucessivas para as entrevistas e o gravador utilizado.

Fonte: A autora.

A partir da composição das 32 palavras, desde as mais frequentes quanto as menos frequentes, o entrevistador apresentava o conjunto das (32) palavras ao entrevistado e pedia-lhe que o escolhesse (16) itens que julgasse ser mais característico ao objeto de estudo; posterior a esta operação, procedia-se a repetição, separando (8) palavras com maior representatividade sobre o objeto de pesquisa; ainda, após as 8 mais prontamente lembradas, pedia-se novamente a escolha das (4) palavras mais importantes. Ao final, com a escolha dos 4 elementos, o

entrevistador solicitava ao entrevistado que realizasse a hierarquização dos itens, segundo o seu grau de importância em relação ao desgaste docente.

Com a seleção das palavras, a pesquisadora dava início ao processo de entrevista, ao inquirir questões relativas à abordagem dimensional das representações sociais, que procura identificar quais são os conhecimentos, imagens e atitudes sobre o objeto selecionado (MOSCOVICI, 2012). Basicamente, a partir da técnica de hierarquização por itens, a entrevistada possui a liberdade e a livre escolha dos itens a serem discutidos, ainda sobre as indagações relativas aos sentimentos, metáforas ou comparações semelhantes ao item escolhido. Posterior a essas questões, a entrevistadora realizava o fechamento da entrevista com a seguinte pergunta: Como esses elementos se interligavam no conjunto? com o objetivo de dessensibilizar a diminuição progressiva da sensibilidade perante o ato da pesquisa; e, ainda, frente a isso: Qual seria o seu sonho para a educação infantil?. Algumas evocações referentes à técnica da pesquisa merecem destaque:

Eu gostei, foi bom, foi um desabafo, a gente aproveita para desabafar. Porque a gente nunca fala, nós não temos a oportunidade de falar. (Suj_5 *Trn_2 *Fet_2 *Ltr_1 *Ctr_2 *Sfm_2 *Flh_1 *Chor_2 *Etrb_1 *Naln_1 *Frm_4 *Aql_2 *Tmg_3 *Vsal_2 *Csal_4).

Foi válida, interessante, e criativo o jeito de se fazer a entrevista. (Suj_1 *Trn_2 *Fet_2 *Ltr_1 *Ctr_2 *Sfm_2 *Flh_2 *Chor_2 *Etrb_1 *Naln_1 *Frm_4 *Aql_2 *Tmg_3 *Vsal_2 *Csal_2).

Eu achei interessante, essa parte de selecionar as palavras, nunca tinha pensado. Eu achei interessante. (Suj_7 *Trn_1 *Fet_3 *Ltr_1 *Ctr_2 *Sfm_1 *Flh_1 *Chor_1 *Etrb_1 *Naln_2 *Frm_4 *Aql_2 *Tmg_3 *Vsal_2 *Csal_2).

Difícil selecionar palavras, porque a gente sabe o que está sentido, mas verbalizar o que sente é difícil, porque a gente tem medo até de errar sobre o que está falando, e não ser tudo isso mesmo, dessa forma (Suj_10 *Trn_1 *Fet_2 *Ltr_1 *Ctr_2 *Sfm_1 *Flh_1 *Chor_1 *Etrb_1 *Naln_2 *Frm_4 *Aql_2 *Tmg_3 *Vsal_2 *Csal_1). Eu achei legal, nunca tinha participado de uma entrevista assim. Eu achei mais dinâmico, se tivesse que fazer perguntas, eu iria demorar um tempo para responder e escrever. Você acaba falando de coisas que de repente eu não lembraria, mas as palavras chaves ajudam (Suj_12 *Trn_2 *Fet_3 *Ltr_1 *Ctr_2 *Sfm_1 *Flh_1 *Chor_2 *Etrb_1 *Naln_2 *Frm_4 *Aql_2 *Tmg_3 *Vsal_2 *Csal_1).

A entrevista constitui-se como instrumento de coleta de dados, cuja ferramenta está associada à abertura de pontos de vistas dos entrevistados numa abordagem não diretiva, em comparação a entrevistas com abordagens fechadas ou questionários (FLICK, 2009). Ademais, a entrevista tem por objetivo “dar voz” (FERREIRA, 2014) aos sujeitos investigados, fundamentalmente caracteriza-se por desembocar uma prática intencional, “que trata a situação

da entrevista como um processo social e a entrevista como um produto social” (GUIGLIONE; MATALON, 1993, p. 73).

Fatores intrínsecos à situação da entrevista, associados ao entrevistado e ao entrevistador, como disposição verbal; compreensão das questões; hesitação, receio ou até a rejeição a submeter-se a entrevista; pertinência do objeto de pesquisa aos anseios do entrevistado; suas cognições e percepções sobre o seu quadro de referência; além do mais, características físicas do entrevistador; linguagem utilizada; vestuário, capacidades cognitivas e técnicas e entre outras (GUIGLIONE; MATALON, 1993), constituem o processo de inquirição da entrevista de abordagem quanti-qualitativa.

A composição entre o objeto de estudo e o local da entrevista leva em conta fatores externos ao ambiente, seja desde características ruidosas, como uma sala barulhenta ou o local de trabalho, sob presença ou ausência de terceiros. No processo de inquirição, o dispêndio de tempo necessário para a realização necessita levar em consideração os compromissos ou responsabilidades dos inquiridos. Falando, especificamente da pesquisa, o tempo dos sujeitos investigados para a realização da entrevista estava condicionado à hora-atividade dos mesmos, ou seja, alguns professoras obtinham um número maior, outros um curto tempo para o desenvolvimento das atividades. O tempo total das 61 entrevistas foi de: 43 horas 02 minutos 28 segundos e a média por entrevistas 42 minutos 20 segundos distribuídas entre a técnica da triagem hierárquica sucessiva e as questões relativas à abordagem dimensional das representações sociais. A tabulação dos dados do dispêndio de tempo das entrevistas foi contabilizada no componente do office/excel, para o cálculo total das horas e média das entrevistas. Realizou-se o cálculo total de horas, sob a fórmula =SOMA(B2:B61) e a divisão do total =SOMA(B2:B61)/61, chegando-se à média. No quadro, no apêndice D, encontra-se o tempo detalhado das entrevistas.

As entrevistas foram tabuladas no componente do office/excel, formando a linha de comando das informações entre as variáveis censitárias e as questões de cunho narrativo, que compõem as informações, imagens e atitudes sobre o objeto de estudo das representações sociais. A tabulação das entrevistas formou um corpus de 200 páginas de textos transcritos, que foram analisados pelos softwares Ensemble de programmes permettante l’ analyse des

evocations (EVOC), o qual possibilitou a combinação da frequência com que cada palavra foi

evocada com a sua ordem média de evocação, bem como pretendeu identificar os prováveis elementos centrais e periféricos da representação, ainda, o software SIMI e o software Analyse

lexicale por Context D’um Esemble de Segments de Texte (ALCESTE) que realizam “a leitura

(ROSSO; CAMARGO, 2012, p. 186). A seguir, na tabela 3, apresenta-se o plano de coleta de análise:

Tabela 3. Plano de coleta e análise.

Informações e análise

Sujeitos Instrumentos de coleta de informações Procedimentos de análise dos dados Professoras da Educação Infantil da Rede Municipal de ensino de Ponta Grossa

Entrevistas com 61 professoras da Rede Municipal de Ensino

Análise e utilização dos

softwares EVOC, SIMI e

ALCESTE.

Fonte: A autora.