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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

2.5 PROCEDIMENTOS DE GERAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA

A geração dos dados percorre um tempo e espaço específicos. Geramos nossos dados no interregno de agosto de 2013 a setembro de 2015, em se tratando da realização dos eventos de letramento literário propriamente ditos. Em se tratando dos diálogos travados via bate-papo

de rede social, o interregno é um pouco maior compreendendo o período de agosto de 2013 a maio de 2016. Essa diferença no cômputo do tempo ocorre porque os eventos têm uma fixação cronológica estipulada e realizada; os diálogos, por sua vez, ocorrem de maneira mais fluida e não convencional, sem agendamento pré-estabelecido. Por essa razão, volta e meia os colaboradores conversam sobre o projeto de forma espontânea a qualquer hora ou momento imprevisível. A data limite de geração de dados, via diálogos online, é maio de 2016, na ocasião em que conversamos com a vice-diretora do Djalma Marinho a respeito do retorno à escola no segundo semestre de 2016.

A pesquisa qualitativa de vertente etnográfica crítica assumirá uma postura heterodoxa na geração dos dados. Tal postura resvala para a complexidade das relações estabelecidas entre os colaboradores. Diferentemente da perspectiva positivista, com delimitação quase matemática de um dado corpus, compreendemos nossa pesquisa no limiar de um universo de cultura amplo, multidimensional, com respeito às vicissitudes e às subjetividades envolvidas – na exata medida em que somos pesquisadores de identidades. Nessa nossa ótica, todo momento é o momento de gerar os dados, haja vista que as interações sociais e culturais ocorrem a toda hora, desde que formamos a comunidade a que pertencemos, independentemente do script da pesquisa. Cada instante de interação é instante de pesquisa, muito embora nem tudo se reverta ao escopo e ao escrutínio do trabalho escrito da pesquisa.

Não obstante tal vastidão, e com o fito de não perdermos em objetividade, fixamos tempo e espaço próprios com intuito de criar o supra sumo da miríade de pesquisa em que nos envolvemos.

Os dados da pesquisa são o resultado das aulas de Língua Portuguesa e Literatura nos três IFRN’s (Macau, Nova Cruz e São Gonçalo); das reuniões de planejamento do DLCL; dos eventos e atividade de letramento nas três escolas visitadas (Djalma Marinho, Alberto Maranhão, em Nova Cruz; e Canto do Papagaio, em Macau) e nos IFRN’s (Nova Cruz e São Gonçalo do Amarante); das cenas nos ônibus (durante o deslocamento para as escolas) e dos momentos de lazer e descontração (lanche nas escolas, após a realização dos eventos e pontos turísticos de Macau).

Além da geração de dados ocasionadas pelos eventos e atividades propriamente ditas, perfazem valoroso mecanismo de geração de dados os diálogos travados entre os colaboradores via bate-papo de rede social, sem os quais tornar-se-ia mais difícil a compreensão dos perfis identitários e sem os quais teríamos mais reduzidas as chances de dar voz aos colaboradores para que eles pudessem manifestar seus posicionamentos críticos a respeito do projeto.

Os dados gerados a partir da história e memória coletiva do grupo servirão como suporte para contar essa história. Portanto, os dados (materiais lidos e escritos em sala de aula; textos literários de autoria dos próprios colaboradores, textos diversos em gêneros diversos produzidos no decorrer, as fotos, relatos de histórias de letramento e, sobretudo, a matéria de memória) serão revisitados pelo nosso olhar que “recupera” a história do grupo. Trata-se da história, que será relembrada e narrada dos eventos e práticas vividos pelo grupo do DLCL.

Os dados não são mais importantes do que as histórias de vidas que geraram os dados (estes meramente técnicos). Por isso, a voz de quem participou (algumas vezes ilustrada nos dados técnicos) é quem guia o fluxo contínuo desse método que almeja a emancipação.

Às reuniões, seguiam-se as visitas às escolas. Foram, então, registrados os momentos, com fotos e filmagens. Na sequência de cada visita, fazíamos reuniões para avaliação e discussão no grupo acerca de como se dera o evento. Todos tinham liberdade de ponderar acerca de suas expectativas e acerca dos aspectos positivos e negativos da execução das atividades.

Os textos produzidos pelos colaboradores, em forma de depoimento acerca do projeto, são um dos dados gerados mais importantes do DLCL.

A escrita desses depoimentos sempre ocorreu de forma espontânea em atendimento ao pedido de que eles escrevessem, caso considerassem importante, um relato de impressões acerca do projeto e dos eventos que realizamos. A adesão à atividade, significativamente atrelada às memórias do grupo, não tem o condão de avaliação formal ou catalogação de dados. O objetivo principal é o memorialístico, com ênfase nas experiências de vida.

Somados aos depoimentos e aos diálogos online, outro procedimento inafastável de geração dos dados são os registros fotográficos. Nesse escopo está nosso artefato de pesquisa primordial. O registro fotográfico de que dispomos reconstrói o passo a passo de nossos eventos: as reuniões, ensaios, eventos, atividades. Nosso acervo fotográfico e as escritas colaborativas configuram o acervo de portfólio (VILLAS-BOAS, 2012) da trajetória do DLCL.

Outro procedimento adotado foram as filmagens com a finalidade do resgate memorialístico literal, isto é, resgatamos a cena na íntegra para fortalecimento da memória.

Além do que já afirmamos, acerca do processo de geração dos dados, urge destacar um aspecto interessantíssimo a ser destacado: a participação dos alunos como etnógrafos (EGAN- ROBERT; BLOOME, 1998), ou seja, nossos colaboradores são pesquisadores da cultura na qual estão inseridos. Em todas as etapas do projeto, eles atuam ativamente na construção dos registros e dados. Filmam, fotografam, registram por escrito suas declarações e impressões

dos eventos. A relevantíssima colaboração deles não se dá como mero apoio técnico de registro. Eles registram e o tempo inteiro manifestam opiniões críticas e consistentes acerca dos acontecimentos. Manifestam também, através das redes sociais, falas de apreço, de carinho e também de críticas relativas aos momentos vividos.

Os pressupostos atinentes às comunidades de aprendizagem (OLIVEIRA, 2010c) destacam-se quando se tem alunos etnógrafos. Revelam também que, contrariamente ao modelo convencional de ensino, as ações e falas não se concentram única e exclusivamente no professor. A construção do conhecimento e valorização das experiências ocorrem simultaneamente resgatando um protagonismo importante que se opõe à tradicional verticalização “de cima para baixo” da voz do professor “que sabe tudo” e do aluno passivo “que acumula conhecimento”.

A construção desse “eu” (self) etnográfico já se revela de primordial conotação a partir dos registros das memórias de letramento de cada um. É a ênfase memorialística através de relatos de leituras literárias de épocas de vida diferentes dos colaboradores. O resgate desses dados são marcas identitárias, haja vista o espaço que damos no projeto aos letramentos familiares e individuais restabelecidos pela memória.

Portanto, os alunos, a um só tempo colaboradores e etnógrafos, são a evidenciação de uma postura crítica que coloca em evidência sujeitos de dizeres fortalecidos e fortalecedores em sua própria prática.