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Procedimentos de reconstrução de tecidos moles

CAPITULO I Revisão Bibliográfica

6. Tratamento

5.1 Procedimentos de reconstrução de tecidos moles

5.1.1 Sobreposição do retináculo lateral

Este simples procedimento pode ser efetuado em conjunto com outras técnicas, nomeadamente com as suturas antirrotacionais patelar e/ou tibial (Piermattei et al., 2006). Depois de realizada a incisão parapatelar, a cápsula articular e a fáscia profunda são suturadas à patela por baixo da fáscia superficial, que por sua vez será suturada, juntamente com o retináculo lateral à fáscia contralateral (Figura 9), aumentando desta forma a tensão lateral sobre a patela (Piermattei et al., 2006).

5.1.2 Sobreposição de Fáscia Lata

A sobreposição de fáscia lata é apenas aplicada em luxações mediais, quando utilizada como único método de tratamento esta está indicada apenas em membros com conformação normal (grau de luxação I). Tal como a anterior, esta técnica pode ser associada com outras técnicas, e tem como objetivo aumentar a tensão lateral sobre a patela (Piermattei et al., 2006).

Figura 9. Sobreposição do retináculo lateral. Adaptado de Piermattei et al., 2006.

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A fáscia lata é incidida pela sua anastomose com o músculo bíceps femoral ao nível da patela, tão próximo quanto possível, até metade da diáfise femoral. O bordo livre do músculo bíceps femoral será de seguida suturado, com pontos simples, à aponevrose entre o músculo vasto lateral e reto femoral, localizada profundamente à fáscia lata (Figura 10). Esta sutura prolonga-se distalmente pelo tendão do músculo quadríceps, e os pontos mais distais são aplicados já no tendão patelar. A fáscia lata superficial, que se encontra livre, é rebatida caudalmente sobreposta ao músculo bíceps femoral, e a ele suturada com pontos simples combinados com pontos de Lambert. Caso se verifique essa necessidade é possível retirar a fáscia lata que se encontre em excesso antes de realizar a sutura (Tomlinson e Constantinescu, 1994; Piermattei et al., 2006).

Devem ser tomadas as precauções necessárias, avaliando a tensão adequada, para que utilizando esta técnica de correção de luxação medial, não se provoque uma luxação lateral (Tomlinson e Constantinescu, 1994).

5.1.3 Suturas antirrotacionais patelares e tibiais.

As duas suturas referidas podem ser combinadas, e na maioria das situações, utilizadas em combinação com outras técnicas de trocleoplastia, descritas mais abaixo (Piermattei et al., 2006).

Em algumas situações, a tuberosidade tibial não apresenta qualquer grau de deslocamento ou rotação (graus de luxação I e II), nestas é possível notar que quando a patela luxa medialmente a tíbia roda internamente. A prevenção desta rotação, através de suturas antirrotacionais, reduzirá

Figura 10. Sobreposição da fáscia lata. Adaptado de Piermattei et al., 2006.

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significativamente a tendência da patela para luxar. Estas suturas, muitas vezes, acabam por se quebrar ou afrouxar. Ainda assim o tecido fibroso que entretanto se formou envolvendo a sutura, e ainda o realinhamento de tecidos moles, conservam a nova posição da tíbia e da patela (Piermattei et al., 2006).

Com auxílio de uma agulha de meio círculo de Mayo ou uma agulha uterina de Martin, é passado um fio de poliéster por detrás da fabela lateral, ficando ancorado no ligamento femorofabelar. A sutura é então realizada em volta da patela, iniciando pelo tendão patelar, de lateral para medial, continua pelo lado medial da patela de proximal para distal, e volta de medial para lateral através do tendão patelar, um padrão em semi-bolsa de tabaco que cobre a face medial da mesma (Figura 11). Todos os pontos são profundos e o mais próximo possível da patela, sem contactar com a cartilagem articular. Depois de recolocar a patela, a sutura é apertada com tensão suficiente para prevenir a reluxação patelar, tendo em atenção, como na técnica anterior, de que a tensão deve ser a adequada e não exagerada, pois nesse caso poderia levar a uma luxação lateral (Tomlinson e Constantinescu, 1994; Piermattei et al., 2006; Schulz, 2013).

A fabela é o centro do arco de rotação da patela, assim a sutura permanece relativamente tensa quer em extensão quer em flexão do joelho (Piermattei et al., 2006).

A sutura antirrotacional tibial é também ela ancorada em volta da fabela lateral, para prevenir a rotação interna da tíbia, mas será fixada ou à tuberosidade tibial, através de um orifício na mesma, ou ao extremo distal do tendão patelar (Figura 12) (Vasseur, 2003; Piermattei et al., 2006).

De salientar que se deve ter o cuidado de que a sutura cruze profundamente o tendão patelar, e não superficialmente (Vasseur, 2003).

Figura 11. Pormenor da sutura antirrotacional em volta da patela. Adaptado de Piermattei et al., 2006.

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O membro é posicionado em vários graus de flexão para encontrar o ângulo que proporciona a máxima rotação interna da tíbia. A sutura é então apertada com tensão suficiente para prevenir essa rotação interna (Tomlinson e Constantinescu, 1994; Vasseur, 2003; Piermattei

et al., 2006).

5.1.4 Desmotomia medial e capsulectomia lateral parcial.

Estas técnicas raramente são aplicadas em exclusivo, sendo também preferencialmente utilizadas em combinação com outras técnicas (Denny e Butterworth, 2000; Piermattei et al., 2006; Schulz, 2013). No caso de luxação medial, o retináculo medial apresenta-se contraído. Também a cápsula articular medial, principalmente em luxações de grau III e grau IV, se encontra mais contraída e mais espessa que o normal. Nestas situações a cápsula articular medial bem como o retináculo medial devem ser incididos para aliviar a tensão medial existente (Johnson e Dunning, 2005; Piermattei et al., 2006; Schulz, 2013).

Durante a flexão e extensão do joelho é possível visualizar o efeito desta tensão, em que o curso da patela se torna oblíquo, no lugar do curso vertical normal. O objetivo deste procedimento será eliminar este movimento oblíquo (Piermattei et al., 2006).

A incisão inicia-se ao nível do plateau da tíbia e continua proximalmente, através de ambas as camadas da cápsula articular e do retináculo, o suficiente para libertar toda a tensão existente sobre a patela. Normalmente a incisão não é suturada, para evitar que a tensão sobre a patela se forme de novo. Nesse caso a membrana sinovial irá rapidamente selar o espaço articular

Figura 12. Sutura antirrotacional fabelotibial. Adaptado de Piermattei et al., 2006.

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para prevenir a perda de líquido sinovial. No entanto com o intuito de prevenir luxações laterais iatrogénicas pode ser efetuada uma sutura frouxa, pontos simples ou cruzados, que não reduza o espaço criado (Schulz, 2013, Piermattei et al., 2006).

A capsulectomia parcial refere-se à remoção de uma porção elíptica de cápsula articular e retináculo do lado lateral, no caso de luxação medial da patela. A sutura dos bordos livres leva a uma imbricação da cápsula articular lateral, que por sua vez induz uma tensão lateral sobre a patela, ajudando na prevenção da reluxação medial (Piermattei et al., 2006).

5.1.5 Libertação do músculo quadríceps femoral

No caso da contração dinâmica dos músculos sartório cranial e vasto medial provocarem um desvio medial da patela, a sua inserção deve ser libertada da patela proximal e suturadas ao músculo vasto intermédio (Schulz, 2013).

Em alguns casos, mais graves, de luxação de grau III e na maioria das luxações de grau IV, o músculo quadríceps encontra-se tão mal alinhado que causa uma tensão medial sobre a patela quando reduzida, tensão essa que força a reluxação (Slocum e Slocum, 1998; Piermattei et

al., 2006). Nesta situação, todo o mecanismo extensor do joelho deve ser dissecado até metade do

comprimento do fémur (Piermattei et al., 2006).

Devem-se efetuar incisões parapatelares bilaterais, através da cápsula articular e do retináculo. Estas incisões devem ser continuadas proximamente ao longo dos limites do músculo quadríceps femoral. Lateralmente, deve-se separar o músculo vasto lateral do músculo bíceps femoral. Medialmente a separação é efetuada entre o músculo vasto medial e a porção caudal do músculo sartório. Todo o músculo quadríceps femoral é então elevado do fémur. De seguida deve-se libertar a inserção na cápsula articular, proximal em relação à tróclea. As incisões da fáscia superficial são suturadas depois de terminados todos os procedimentos para correção da

luxação da patela (Piermattei et al., 2006).

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