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No início da pesquisa, foram realizados contatos com os profissionais das instituições participantes, sendo-lhes expostos os objetivos e a população-alvo deste estudo. Estes profissionais realizaram uma pré-seleção das crianças que se enquadravam nos critérios estabelecidos. Em uma das instituições, também foram selecionadas crianças por meio das listas de espera, visto o pequeno número de crianças que preenchiam o perfil desejado.

Após esta pré-seleção, os responsáveis que autorizaram a participação das crianças assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (vide APÊNDICE A). As crianças pré- selecionadas foram, então, avaliadas por meio dos itens de instrução do Teste de Conceitos Básicos de Boehm adaptado, que apresentam questões relativas a objetos familiares à maioria das crianças, tais como: peças do vestuário, meios de transporte, frutas, objetos de mesa, móveis e animais. Como exemplo destas questões, entre os desenhos de uma colher, um copo e uma xícara, pede-se para a criança indicar o copo. Estes itens de instrução destinam-se a orientar a criança quanto à maneira adequada de responder às perguntas do teste propriamente dito, mas foram utilizadas, aqui, também com o objetivo de avaliar se a criança apresentava condições de responder de maneira satisfatória ao teste, ou seja, se ela conseguiria visualizar adequadamente os desenhos apresentados, se compreenderia as perguntas feitas pelo examinador e se apresentava alguma forma de comunicação que permitiria responder às questões, fosse por meio da fala, de gestos ou do olhar.

As crianças que responderam adequadamente aos itens de instrução (ou seja, que acertaram ao menos quatro dentre as seis questões), realizaram o teste de conceitos adaptado na íntegra. O formato das questões do teste era semelhante ao dos itens de instrução, tal como exemplificado anteriormente, ou seja, eram mostrados três desenhos e a criança era solicitada a

indicar o desenho que se relacionava ao conceito de interesse do pesquisador. Por exemplo: mostrava-se à criança o desenho de uma mesa com três bolas em diferentes posições espaciais e pedia-se que ela indicasse a bola que estava “debaixo” da mesa. Neste exemplo, investigava-se o conhecimento do conceito “debaixo”, pertencente ao domínio conceitual de espaço.

Durante a aplicação do pré-teste, não era permitida a presença de cuidadores ou professores da criança, para que estes não interferissem nos resultados da pesquisa, devido à possibilidade de ensinarem à criança os conceitos mencionados durante o teste. Entretanto, era facultada a presença de outros profissionais da instituição. Do mesmo modo, as crianças não eram informadas quanto aos acertos ou aos erros, visto que o mesmo instrumento seria utilizado no pós-teste.

Após a seleção das crianças que participaram da pesquisa e após a realização do pré-teste, os seus cuidadores foram solicitados a responder aos questionários sobre as brincadeiras que as crianças realizavam e sobre o seu desenvolvimento. Estes dados foram utilizados para auxiliar na análise dos resultados da pesquisa, pois permitiram identificar a presença das brincadeiras no dia a dia da criança, bem como observar como ocorria a participação da criança nas vivências familiares.

As crianças selecionadas para a pesquisa e avaliadas passaram, a seguir, por atendimentos de Terapia Ocupacional, que ocorreram individualmente, em sessões semanais de 50 minutos à uma hora cada (variando de acordo com as condições de cada instituição), por quatro ou cinco meses, totalizando 16 atendimentos. Estes atendimentos foram centrados no uso de atividades lúdicas, possibilitando que a criança, apesar de sua limitação motora, conseguisse brincar da maneira mais autônoma possível. A pesquisadora brincava com a criança e possuía um papel de mediadora, enriquecendo a brincadeira, fornecendo suporte técnico caso a criança não conseguisse manusear os objetos ou necessitasse de auxílio para manter um posicionamento

adequado e utilizando a linguagem verbal com o objetivo de estimular o desenvolvimento dos conceitos avaliados no pré-teste.

Durante estes atendimentos, era facultada a presença de um acompanhante, sendo que o mesmo era convidado a participar das brincadeiras, juntamente com a criança e a pesquisadora. Em uma das instituições, as sessões também contaram com a presença de uma estagiária41, que participava das brincadeiras e auxiliava a pesquisadora na organização da sala de atendimentos.

No decorrer desta pesquisa, foi realizada uma seleção de brincadeiras, desde jogos com regras a atividades de livre expressão, que podem envolver conceitos e que, com ou sem adaptações e/ou ajuda de outras pessoas, podem ser realizadas por crianças com alterações motoras. Algumas destas brincadeiras foram oferecidas às crianças participantes da pesquisa, sendo as atividades realizadas de acordo com o interesse de cada criança.

No início de cada sessão, a criança era solicitada a escolher, dentre algumas atividades sugeridas pela pesquisadora, qual desejava realizar, mantendo-se, assim, a natureza voluntária da brincadeira. Para tanto, a pesquisadora apresentava três ou quatro opções de brinquedos e explicava brevemente o seu funcionamento. A criança, então, mostrava a brincadeira escolhida, seja por meio da fala, de gestos ou do olhar. Além de serem oferecidos brinquedos diferentes, era sempre dada a opção de a criança repetir as brincadeiras que já haviam sido realizadas. Também foram realizadas outras atividades sugeridas pela própria criança, cabendo à pesquisadora incluir os conceitos estudados na dinâmica da brincadeira. Dentre todas as brincadeiras selecionadas pela pesquisadora, apenas as brincadeiras efetivamente realizadas pelas crianças foram analisadas por meio dos critérios mencionados anteriormente e estão descritas mais adiante (APÊNDICE D).

41 Ao procurar a instituição de ensino para realizar a pesquisa com as crianças atendidas na clínica-escola, houve um

interesse por parte da instituição quanto à participação de um aluno do curso de Terapia Ocupacional. Por este motivo, foi aberto um projeto de iniciação científica, oferecendo uma vaga que foi preenchida por meio de um processo seletivo realizado pela coordenadora do curso. A aluna selecionada participou de todos os atendimentos oferecidos às crianças e elaborou um relatório final sobre a experiência vivenciada com uma das crianças participantes da pesquisa.

Após o período de intervenção, as crianças incluídas na pesquisa foram reavaliadas por meio do mesmo instrumento utilizado no pré-teste, incluindo-se os itens de instrução, que, nesta fase, visavam somente reorientar a criança quanto à forma de responder ao teste.

Foram feitos registros, no diário de campo, de todas as atividades desenvolvidas em cada atendimento, incluindo-se a dinâmica da brincadeira, a participação da criança e de seu acompanhante, as dificuldades encontradas pela pesquisadora e as reflexões tecidas ao longo do estudo. Após o término do período de intervenção, estes diários de campo foram lidos várias vezes, para que fossem progressivamente resumidos, mantendo-se apenas os fatos essenciais para a compreensão da evolução de cada criança. Estes dados foram correlacionados aos resultados dos testes e às informações coletadas por meio dos questionários. Cada caso foi analisado individualmente e, em seguida, todos os relatos foram lidos sequencialmente, para que fossem identificados aspectos semelhantes e distintos, o que permitiu a análise conjunta dos casos em questão.

CAPÍTULO 6 RESULTADOS