O presente estudo utiliza como referencial teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais, em sua abordagem sociogenética ou processual q¨ue se interessa pelas representações em desenvolvimento, ou seja, diz respeito aos processos de construção das representações sociais e se faz adequada às questões educacionais, por realçar a importância de abordá-las não somente como fruto do pensamento grupal, mas também como processos, buscando entender como as representações se originam e são conservadas.
Utilizando tal abordagem, tenciona-se analisar as representações sociais de professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental II sobre o TDA/H com o objetivo de compreender as representações a ele atribuídas pelos entrevistados, assim como identificar elementos de objetivação e ancoragem, processos formadores das representações sociais.
3.1 O tema e o problema de pesquisa
O tema e o problema deste estudo inserem-se no universo profissional da pesquisadora que vem encontrando desafios que a induzem a conduzir esforços no sentido de entender as representações sociais dos docentes sobre o TDA/H para atuar em seu ambiente profissional de maneira lúcida e coerente.
Diante desse contexto, o tema deste estudo versa sobre representações sociais de professores sobre o TDA/H e pretende responder à seguinte questão Quais representações sociais possuem os professores sobre o TDA/H?
Tema e problema definem-se como lugar específico de aspirações e esforços para compreender as controvérsias que envolvem o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, questão que permeia o mundo profissional da pesquisadora, levando-a a empreender esta pesquisa.
Considerando que os professores são os sujeitos que, diretamente, podem interferir na aprendizagem e no diagnóstico do TDA/H, busca-se, neste estudo, analisar as representações sociais desses profissionais sobre o TDA/H, identificar que consequências essas representações geram na prática pedagógica dos indivíduos
que participaram desta pesquisa, assim como analisar que conhecimentos esses profissionais possuem sobre esse fenômeno.
Para refletirmos sobre o TDA/H na educação, enfatizamos as ideias partilhadas por um grupo, dando importância às contradições e às convergências da coletividade sobre o fenômeno que se encontra em processo de construção e longe de ser um fato acabado.
3.2 A população de pesquisa, os sujeitos participantes e seu perfil
A demarcação de critérios para selecionar os sujeitos que participaram do universo de investigação é de suma importância, pois intervém na qualidade dos dados a partir dos quais será possível edificar a análise e alcançar o entendimento do problema apresentado.
Referindo-se à constituição dos grupos, Potter e Litton (1985) demonstram sua inquietação com questões não satisfatoriamente esclarecidas, entre elas: que tamanho devem ter os grupos e qual o grau de concordância necessária para que se possa afirmar estarmos diante de uma representação social?
Para Veyne (1976, p. 74), os significados sociais do conhecimento não se prendem tanto à sua repartição entre várias pessoas, e sim à questão de que “o pensamento de cada um deles é, de diversas maneiras, marcado pelo fato de os outros pensarem da mesma forma sobre algo”, e, para Jodelet (2002, p. 34), “partilhar uma ideia ou uma linguagem é também afirmar um vínculo social e uma identidade”.
Assim, para buscar a identificação dessas representações sociais, foram entrevistados quinze docentes, que trabalham com crianças do Ensino Fundamental II em escolas públicas e privadas. A escolha se deve pelo fato de a pesquisadora atuar, em sua prática profissional, com crianças dessa etapa de ensino nos âmbitos público e privado.
Participaram do estudo três professores do sexo masculino e doze docentes do sexo feminino, que já concluíram algum tipo de pós-graduação e encontram-se na faixa etária entre os 35 e 40 anos. Os três docentes do sexo masculino atuam em escola particular, e das doze docentes cinco são professoras de escola particular, sendo sete de escolas públicas.
Quanto ao tempo de experiência na docência, a maioria apresenta entre dez e quinze anos de exercício de profissão em sala de aula.
3.3 Procedimentos de coleta de dados
Buscou-se examinar as representações sociais desses profissionais sobre o TDA/H utilizando a entrevista semiestruturada. Escolheu-se a entrevista semiestruturada por provocar, muitas vezes, no respondente, a explanação de sua subjetividade, auxiliando desse modo a compreensão das representações sociais na perspectiva do grupo, encontrando o que há de comum, como também as diversidades que os envolvem, permitindo analisar as representações sociais desses profissionais. Assim, de acordo com Manzini (2003), nesse tipo de entrevista, existe a possibilidade de surgirem informações mais espontâneas por meio de respostas não condicionadas a um modelo de alternativas.
Para a elaboração das perguntas da entrevista, foi organizado o quadro denominado “Quadro de Especificação da Entrevista” (anexo G), que traz os objetivos e as questões relacionados à busca das informações necessárias.
Após a elaboração do “Quadro de Especificação da Entrevista,” foi realizada uma entrevista-piloto, apresentada durante o processo de qualificação, cujo objetivo foi o refinamento do instrumento, e após essa etapa seguiu-se a fase das entrevistas propriamente ditas.
3.4 Procedimentos de análise dos dados coletados
Para examinar os dados obtidos nas entrevistas utilizou-se a Análise de Conteúdo que, conforme Franco (2012) é um procedimento de pesquisa situado na área da teoria da comunicação e tem como alicerce a mensagem. Logo, pode ser definida como um procedimento de análise das comunicações, que tem como objetivo a obtenção de indicadores que comportem a inferência de informações relativas às condições de produção e recebimento das mensagens, ou seja, nesse método, o pesquisador trabalha com palavras que possibilitem a inferência de conhecimentos a partir da mensagem dos enunciados.
De acordo com Franco (2012), a análise categorial é um dos procedimentos utilizados nesse método e os critérios de seleção das categorias são determinados pelos temas que dizem respeito ao objeto de pesquisa. Em nosso caso, as categorias foram definidas em função do objeto Representações sociais de professores sobre o TDA/H e do tema TDA/H, inserido em nosso objetivo de estudo.
No entanto, para chegarmos às categorias, transformamos o conteúdo das entrevistas em unidades de registro e unidades de contexto, sendo consideradas como unidades de registro as palavras que colaboraram para o estabelecimento das categorias. E, como unidades de contexto, foram destacados trechos de mensagem com o intuito de identificar as palavras definidas como unidades de registro.
Assim, na pré-análise, as entrevistas transcritas foram lidas com o intuito de encontrar unidades de significação e de contexto que observassem nossas questões de estudo.
Ao final da pré-análise, foram destacadas as seguintes categorias: Informações sobre o TDA/H; Atitude docente sobre o TDA/H; e Imagem. A partir dessas categorias, produzimos quadros com o intuito de organizar os dados brutos e analisamos a fala dos sujeitos entrevistados levando-se em consideração o objeto Representações sociais de professores sobre o TDA/H e o tema TDA/H, facilitando assim a etapa de análise propriamente dita.
Na categoria Informação sobre o TDA/H, foram identificadas as seguintes subcategorias: ambiente escolar, aprendizado e relacionamento. Na categoria Atitude docente, foram verificadas as subcategorias: experiência e prática docente. Por fim, inseridas na categoria Imagem, encontramos preconceito e medicalização como subcategorias.
Quadro 1 – Categorias e subcategorias
Categorias Subcategorias
Informação sobre o TDA/H Ambiente escolar, aprendizado, rela- cionamento
Atitude docente Prática docente
Imagem Preconceito, medicalização
Fonte: Elaborado pela autora (2018).
Assim, nas páginas a seguir, os dados coletados serão analisados e discutidos concomitantemente, extraindo-se deles os resultados obtidos.