• Nenhum resultado encontrado

Devido às limitadas informações sobre a quantidade de organizações existentes no estado,2 partiu-se para mapear e cadastrar as organizações atuantes, procurando atin-

gir os diferentes tipos de organizações3 nas 15 regiões de planejamento econômico

do Estado.4 Definiu-se os municípios de forma a abranger três tamanhos de popula-

ção: até 20 mil habitantes, ente 20 e 40 mil e acima de 40 mil habitantes. Nessa etapa da pesquisa, por limitações operacionais, foram excluídos os municípios com carac- terísticas de metrópole e aqueles com população acima de 200 mil habitantes (Salva- dor, Vitória da Conquista, Feira de Santana e Ilhéus). A partir de informações locais, em especial obtidas junto a sindicatos, prefeituras, igrejas e outras organizações que pudessem facilitar o acesso às organizações, chegou-se a listagens iniciais, ponto de partida para o trabalho de campo.

Embora não fosse preocupação central o rigor estatístico, buscou-se orientar a sele- ção dos municípios e das organizações por parâmetros que nos permitissem certa confiabilidade nos dados. O número de municípios utilizado como base de cálculo, depois de excluídos os municípios com população acima de 200 mil habitantes, ficou em 413. Sobre esse número foi aplicada a fórmula para população pequenas, com um nível de confiança de 95%, com um intervalo de confiança de 10%, resultando numa amostra mínima de 81 municípios. Tomando-se por parâmetros o tamanho da popu- lação e a quantidade de municípios em cada região de planejamento econômico do estado, chegou-se à definição da quantidade de municípios que deveria ser seleciona- da por região. Por fim, a seleção nominal dos municípios, em cada segmento e em cada região, deu-se por sorteio, contemplando 84 municípios.

Para cadastrar as organizações, utilizou-se um questionário que buscava levantar in- formações sobre o Perfil das Organizações (tipo, fundadores, apoiadores, número de associados, área geográfica de atuação, ações realizadas etc.). Estas informações per- mitiram elaborar uma tipologia de organizações, condizente com suas especificida- des, possibilitando captar algumas peculiaridades, nem sempre visíveis em classifi- cações oficiais, como, por exemplo, a do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, da Secretaria da Receita Federal. Nesta fase foram cadastradas – e segmentadas por tipo – 1821 organizações.

O passo seguinte foi realizar entrevistas estruturadas, buscando-se atingir um per- centual de 20% de cada tipo de organização cadastrada, atingindo-se um total de 673 organizações. As entrevistas tiveram o objetivo de aprofundar as informações sobre

2 O cadastro mais completo, em termos quantitativos, era o da Receita Federal que continha dados formais

mínimos, sem informações qualitativas de interesse da pesquisa e cuja disponibilidade implicava num alto custo.

3 Excluiu-se, apenas, as especificamente religiosas e esportivas, sem atuação nas políticas públicas. 4 Segundo critérios da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, órgão do Governo do

Estado da Bahia, o Estado está dividido em 15 regiões econômicas (Metropolitana, Litoral Norte, Recôncavo Sul, Litoral Sul, Extremo Sul, Nordeste, Paraguaçu, Sudoeste, Baixo Médio São Francisco, Piemonte da Diamantina, Irecê, Chapada Diamantina, Serra Geral , Médio São Francisco e Oeste).

44

SOCIEDADE CIVIL NA BAHIA...

a dinâmica das associações, seu funcionamento interno e sua infra-estrutura, identifi- cando, assim, as condições de exercerem um papel efetivo na elaboração, implanta- ção e controle das políticas públicas, bem como os meios de ação coletiva utilizados. Para que se pudesse examinar este papel, voltou-se para colher informações sobre as relações das associações com o poder público, focando-se os Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, o Ministério Público e os Conselhos de políticas públicas. A relação com alguns órgãos públicos federais, mais presentes nos municípios, foi tam- bém objeto de análise. Na medida em que a problemática das políticas públicas en- volve concepções políticas e partidárias, procurou-se também pesquisar as relações das associações com os partidos políticos e o processo eleitoral.

Portanto, os dados apresentados neste trabalho estão referidos à duas amostras. A primeira formada por 1821 organizações cadastradas, fornece os dados para o desenho de quadros com informações mais gerais sobre as organizações, incluindo sua caracte- rização e as ações desenvolvidas. Estes quadros são apresentados, respectivamente, nos capítulos Perfil das Organizações e Ações Coletivas. A segunda amostra, formada pelas 673 organizações entrevistadas, fornece as informações necessárias para se apro- fundar aspectos específicos, cuja análise é apresentada nos capítulos Funcionamento das Organizações, Organizações e Relações com o Poder Público, Participação no Pro- cesso Político Eleitoral e Conquistas e Dificuldades das Organizações.

Fez parte dos procedimentos metodológicos a realização de seminários regionais, não só para completar ou corrigir informações, mas para realizar uma discussão preliminar dos resultados tabulados com os participantes da pesquisa. Os seminários seguiram, em geral, o seguinte roteiro: contexto sócio econômico dos municípios pesquisados; perfil geral das organizações da região, com base nos cadastros; atuação das organiza- ções; relações com o poder político; desempenho de algumas organizações mais influ- entes na região; instrumentos de ação e indicações de um plano de ação. É oportuno lembrar aqui os ensinamentos de Thiollent (1985, p. 40) quando afirma que

[...] a relação entre pesquisa social e ação consiste em obter informações e conhecimentos sele- cionados em função de uma determinada ação de caráter social. A passagem do conhecer ao agir se reflete na estrutura do raciocínio, em particular em matéria de transformação de proposições indicativas ou descritivas [...] em proposições normativas ou imperativas. Isto supõe que seja estabelecido algum tipo de relacionamento entre a descrição de fatos e normas de ação dirigida em função de uma ação sobre esses fatos ou de uma transformação dos mesmos.

Pelo nível de relação que nos foi possível desenvolver com os sujeitos da pesquisa seria prematuro e até indevido pensar em proposições normativas ou indutivas de determinados tipos de ações; tratava-se, antes, de analisar criticamente a realidade, de identificar possibilidades de ação transformadora e de informá-los dos instrumen- tos disponíveis para realizá-la, mas a decisão sobre as ações caberia, não aos dirigen- tes, propriamente, mas às suas organizações e comunidades. Ao adotarmos tais pro- cedimentos, fazemos nossas as expressões de Sandra Jovhelovitch:

Não há intenção aqui de generalizar estes dados. Mas também não há intenção alguma de dizer que eles não expressam a realidade brasileira. Reivindicar a generalização somente a partir de

Procedimentos Metodológicos

grandes números despreza o fato mais profundo de que existem elementos do todo e até mesmo na mais singular das experiências. Sujeitos sociais revelam muito mais do que visões idiossincráticas quando se expressam: sua experiência não está descolada da experiência de sua sociedade (JOVHELOVITCH 2000, p. 113).

Assim, a pesquisa foi toda recortada por observações colhidas nas vivências com os atores locais – em especial nos seminários. Utilizamos também entrevistas com lide- ranças locais, pessoas que vivenciaram situações de conflito social ou de mobiliza- ções e que não estão mais à frente de organizações. Nos seminários regionais, que contaram com a participação de 333 representantes de 269 organizações, foram dis- cutidos os dados coletados, organizados por município e por região, além de identifi- cadas alternativas de ação que os dados sugeriam. Pode-se, assim, caracterizar a pesquisa com uma dimensão participante, embora sem seguir rigidamente essa metodologia.

Em síntese, as dimensões analisadas foram: 1) Perfil das organizações (tipos, articula- ção, objetivos, diretoria, infra-estrutura, meios de informação e de comunicação); 2)

Relações com o Poder Público – Legislativo, Executivo, Judiciário e Ministério Público

(meios utilizados, finalidades, resultados); 3) As organizações e o processo político elei-

toral e 4) Participação e ações coletivas (tipos, meios utilizados, dificuldades e conquis-

tas, conhecimento e participação nos projetos governamentais).

A análise de todos estes aspectos permitiu identificar as condições institucionais e sociais da participação das organizações da sociedade civil dos municípios pesquisa- dos, no processo de elaboração, implantação e controle das políticas públicas. Como essas condições não são explicitadas, passaram a ser estudadas a partir das relações que se travam entre as organizações e os agentes políticos e das ações realizadas na busca de efetivar direitos que deveriam ser contemplados por estas políticas, atos e decisões dos gestores.

Para maior compreensão da realidade estudada, fez-se uma síntese do contexto eco- nômico-social e político do Estado da Bahia, analisando os indicadores mais expressi- vos, tanto de crescimento, quanto de decréscimo e estagnação, assim como de me- lhorias, ou não, das condições sociais de sobrevivência da população e também do quadro político dominante, no sentido de poder interpretar com mais consistência e abrangência, os focos de análise escolhidos para a pesquisa.