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Capítulo 6. Procedimentos Metodológicos

6.3. Procedimentos para o tratamento e análise das informações

Os dados dos questionários foram organizados em tabelas, a partir da construção de categorias que englobavam as respostas e permitiam a diferenciação entre elas, informando- nos sobre as características dos professores e sobre as concepções que expressaram nas perguntas abertas.

As categorias sobre a escolha profissional, definição de jogo, dificuldades e objetivos foram construídas com base nas seguintes perguntas:

1) Como foi sua escolha pela Educação Física? Por que escolheu esta área? 2) Defina jogo.

3) Quais as dificuldades que você encontra ao trabalhar com o jogo em suas aulas? 4) Qual o principal objetivo de trabalhar com o jogo nas aulas?

Assim, com base nas respostas a estas questões, construímos as seguintes categorias: Para a questão 1: A) Porque a área contempla meus gostos; B) A área permite determinados trabalhos; C) “Pelo acaso”.

Para a questão 2: A) Definem o jogo pela sua natureza; B) Definem o jogo pelos elementos que o caracterizam e o compõem; C) Definem o jogo pelos objetivos/finalidades e resultados que ele alcança; D) Definem o jogo pelas habilidades que ele envolve.

Para a questão 3: A) Condições de trabalho; B) Dificuldades apresentadas pelos alunos; C) Características do jogo que não incluem a todos; D) Não tem dificuldades.

Para a questão 4: A) Aprendizado do convívio social (socialização); B) Habilidades motoras, cognitivas e criatividade; C) Construção de regras e disciplina; D) Saber ganhar e perder; E) Prazer de brincar; F) Autoconhecimento e conhecimento do mundo.

Para tratamento e interpretação das informações obtidas pelos relatos verbais diretos foram seguidos os procedimentos dos “núcleos de significação” da forma como nos propõem Aguiar e Ozella (2006), que são formas dialogantes de produzir informações. Esta forma de análise nos permitiu analisar os motivos que impulsionam o professor a utilizar o jogo, o valor dado a ele e o objetivo a ser alcançado, além de embasar a forma como ele trabalha com o jogo em suas aulas.

Considerar a linguagem como instrumento de comunicação e organizadora do pensamento é o elemento fundamental, neste tipo de análise, para compreendermos as ações do sujeito e para podermos nos aproximar da compreensão da subjetividade, uma vez que a

131 linguagem contém os sentidos que são carregados de significações coletivas, as quais buscamos conhecer.

Os “Núcleos de Significação” propostos por Aguiar e Ozella (2006) nos permitem destacar e analisar, na fala dos sujeitos, as palavras com significados dentro do contexto social no qual estão inseridas, aproximando-nos da zona de sentidos, revelando o pensamento do sujeito.

As palavras materializam-se de alguma forma nas significações constituídas no processo social e histórico da EF escolar quando, por exemplo, o professor utiliza o jogo em suas aulas como um meio para alcançar objetivos físicos e motores, ou quando o jogo é desenvolvido para alcançar objetivos prioritários de outras disciplinas, ou ainda quando é atribuída ao professor de EF a função de desenvolver talentos esportivos.

Portanto, analisamos os relatos verbais diretos dos professores de EF, buscando nos aproximarmos dos sentidos constituídos em torno do jogo. No entanto, para apreender os sentidos subjetivos constituídos pelo professor sobre o jogo é preciso ir além da fala, buscando compreender seu pensamento que é “sempre emocionado, temos que analisar seu processo, que se expressa na palavra com significado e, ao apreender o significado da palavra, entendemos o movimento do pensamento” (AGUIAR; OZELLA, 2006, p.226).

Primeiramente, realizamos várias leituras flutuantes das falas obtidas por meio das entrevistas aplicadas aos professores de EF atuantes na rede estadual da DRE de São José dos Campos, com o objetivo de nos familiarizarmos com o material. Em seguida, destacamos e organizamos os pré-indicadores, que são unidades constituídas por expressão do sujeito. Os pré-indicadores são compostos por várias dimensões, conteúdos presentes nas expressões do sujeito que indiquem certa frequência, seja por sua repetição ou pela reiteração. Como os pré- indicadores reúnem uma grande diversidade, os autores propõem aglutiná-los por temática, seja por similaridade ou semelhança, seja por complementaridade ou contraposição, que servirão de orientação para estudar a concepção, o valor e a importância do jogo para esses sujeitos; constrói-se aqui o que Aguiar e Ozella (2006) chamam de indicadores.

Antes do próximo passo, denominado de construção dos Núcleos de Significação, os autores recomendam que se faça uma releitura do material, aproveitando para selecionar trechos dos discursos que possam dar nomes aos núcleos.

O núcleo de significação é caracterizado por um processo de articulação dos indicadores, que resultará num processo de análise intranúcleo e internúcleo entre os vários núcleos de significação.

132 Com isto, demos visibilidade às significações do jogo presentes na EF escolar, permitindo levantar hipóteses sobre as estratégias, que incluem jogos que os professores utilizam em suas aulas. O estudo pretendeu contribuir com a presença mais forte e coerente do jogo e com a criação de formas de intervenção que contribuam para a formação desses profissionais, enriquecendo o processo ensino-aprendizagem do ensino da EF escolar. Segundo Aguiar (2009b), a linguagem é o instrumento fundamental no processo de constituição do sujeito, contato consigo mesmo, com os outros e com o meio e para apreensão dos sentidos e significados. Para tal, toma-se como referência a palavra, que é a menor unidade de apreensão dos sentidos, e que representa o objeto da consciência, possibilitando entender o movimento do pensamento. Depois que aplicamos os questionários, selecionamos os sujeitos para realizarmos as entrevistas de aprofundamento. Para a construção do roteiro de entrevista, partimos do questionário de cada um dos quatro sujeitos, da discussão teórica e do próprio objetivo da pesquisa e, então, criamos eixos temáticos organizativos para o debate junto aos professores.

Após a realização das entrevistas, partimos para a construção dos núcleos de significação. Realizamos o mesmo procedimento para cada um dos quatro sujeitos. Primeiramente, transcrevemos na íntegra a entrevista realizada com o professor Júlio César. Realizamos várias leituras, com o objetivo de compor os eixos temáticos com os discursos do professor. São eixos que apresentam uma similaridade nos temas, mas para cada um dos professores indicamos eixos temáticos específicos.

Para o professor Júlio César, construímos os seguintes eixos temáticos: Escolha/não escolha pela Educação Física/área; Valorização/desvalorização do jogo na formação; A função do trabalho com o jogo na escola; Como os outros professores e a equipe gestora encaram o trabalho com o jogo; Condições de trabalho com o jogo e Coerência entre planejamento e ação.

Segue parte da entrevista sobre o tema: escolha profissional, realizada com o professor Júlio Cesar. É apenas um exemplo para ilustrar como o processo de tratamento das informações obtidas por meio da entrevista foi constituído. Logo em seguida, apresentamos os eixos temáticos organizados a partir da entrevista com o professor Júlio César, a análise, discussão dos dados e, ao final, a síntese da entrevista. Procedemos da mesma maneira com os demais professores.

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Pesquisadora: Na questão sobre a escolha profissional, você alega, dentre outros motivos, que a escolha pela Educação Física/área foi porque passou no concurso. Você poderia explicar melhor sua resposta?

Professor: Assim, eu tive a oportunidade de partir para a área de engenharia. Fiz SENAI, aí

trabalhei quatro anos numa empresa, tava fazendo curso técnico, aí saí para mexer com esporte, competir com atletismo. Mas aí, assim, não suportava mexer com empresa (risos). Então, assim, eu tinha uma necessidade muito grande de trabalhar com gente e, justamente, quando eu comecei a mexer com colônia de férias, eu tive uma identificação muito grande com a área de Educação Física. Então, assim, eu tenho a vocação pra ser professor de Educação Física. Então, esta foi minha opção. E, antes, eu só mexia com academia, então, assim, logo que eu me formei sai, assim, pegando tudo que ... primeiros empregos, aí, eu consegui mexer com escola e academia. Só que, a escola, a educação sempre foi algo que eu gostei, mas não era minha atividade principal. E aí, a partir do concurso que se transformou atividade principal. Aí então... tanto é que eu pegava... tinha poucas aulinhas. Dava aula, acho que, um dia de natação e futebol numa escola de educação infantil, aí depois fui para esta escola particular que eu trabalho atualmente, de Educação Física de 1ª a 4ª, e aí eram poucas aulas, eram 5 ou 6 aulas por semana, o restante era só academia. Aí depois que eu passei no concurso do estado que eu inverti a carga horária.

Pesquisadora: Você era atleta de atletismo e concomitantemente trabalhava na empresa. Você não gostava de atletismo?

Professor: Eu não gostava de trabalhar na empresa. Assim, eu já tinha uma carreira mais ou

menos encaminhada, que eu fazia curso técnico na ETEP e trabalhava na área do curso técnico. Então, era só terminar curso técnico, já entrava... já estava dentro da empresa já e fazia engenharia.

Pesquisadora: Concomitante você era atleta?

Professor: Isso. E nas horas de lazer, como lazer, eu fazia o atletismo. Só que aí, nossa, ir

trabalhar na empresa pra mim era um desespero. Calçar o botinão, ficar lá, mexer com desenho, material, organizar as coisas. Nossa!

Pesquisadora: Interessante, algumas vezes, a gente houve depoimentos que a questão de ser atleta interfere, de alguma forma, na escolha; e você procurou algo diferente. Você pode falar sobre isso?

Professor: Tanto é que, assim, quando no meu primeiro ano de faculdade, foi em Presidente

Prudente, eu pretendia continuar competindo, fazer a faculdade já... E aí eu tive contato, eu fui ver, tive a oportunidade de conhecer a vida de atleta mesmo. De que lá, em Presidente

134 Prudente tem equipe profissional, pessoal que vai para as Olimpíadas. E, assim, eu sabia que não ia chegar no nível olímpico (risos). Eu sabia das minhas limitações. Poderia ser um atleta de nível médio, disputar campeonatos brasileiros, estaduais. Quando eu vi a vida que o pessoal levava, eu falei: “Eu não quero isso pra mim não!” Então, eu vou me dedicar, justamente, a Educação Física. E, assim, durante a graduação, nossa, eu aproveitei muito a faculdade. Participava, assim ... logo no primeiro ano participava com o grupo que mexia com avaliação. Já fui mexer com Stard para dar aula de futebol. Assim, eu tinha vontade de mexer com Educação Física adaptada. Em Presidente Prudente eu ajudei a criar um grupo de atuação que trabalhava junto com a sala de recurso, procurei o professor, procurei a sala, e aí eu fui dar aula na sala de recurso. Aí depois, quando eu fui para Rio Claro, eu fui mexer com a Psicologia de Esporte, mexer com a parte de aprendizagem motora, fui mexer com a parte de Educação Física adaptada e aprendizagem motora, porque a professora trabalhava com as duas áreas. Uma coisa, a professora lançou um livro, lá e estava vendo um livro e utilizou muito da minha monografia. Não me citou! Eu vou brigar com ela. (risos).

Pesquisadora: A sua monografia foi sobre EF adaptada?

Professor: Foi. Foi sobre a inclusão, como ocorria a inclusão. Uma proposta para a inclusão

brasileira. Como ocorreu na Europa... na Espanha, na Alemanha, Inglaterra, Austrália, Estados Unidos e como estava ocorrendo no Brasil. Em cima disso eu fiz uma crítica e alguns indícios. Então, eu acho que toda esta miscelânea de coisas contribuiu pra a minha formação. E também, assim, sempre fui muito apaixonado pela área de Educação Física. E, depois que eu me formei nunca perdi o contato com a Educação. Não eram meus planos. Meus planos, de repente, estar mexendo... Eu tinha uma academia, antes... eu tinha academia de musculação, aí depois eu acabei tendo que vender... minha ideia era mexer com cardíacos, tudo, com clínica, mas aí, como surgiu essa oportunidade, principalmente, dentro do concurso, uma estabilidade financeira, daí, acabou contribuindo pra...

Os trechos destacados foram agrupados e dispostos em quadros, compondo a construção dos eixos temáticos. O critério realizado para agrupamento dos trechos foi de similaridade e contraposição. Cada quadro foi organizado com temas, de acordo com o objetivo da pesquisa. Os trechos destacados e agrupados em quadros correspondem aos eixos temáticos. Segue abaixo, um exemplo, da construção dos eixos temáticos:

Escolha/ não escolha pela Educação Física/área

135 (...) não suportava mexer com empresas.”

“(...) eu tinha uma necessidade muito grande de trabalhar com gente e, justamente, quando eu comecei a mexer com colônia de férias, eu tive uma identificação muito grande com a área de Educação Física.”

“(...) eu tenho uma vocação pra ser professor de Educação Física. Então, esta foi minha opção.”

“(...) antes, eu só mexia com academia, então, assim, logo que eu me formei sai, assim, pegando tudo que... primeiros empregos, aí, eu consegui mexer com escola e academia. Só que, a escola (...) não era minha atividade principal. (...) a partir do concurso que se transformou atividade principal.”

“Eu não gostava de trabalhar na empresa. (...) eu já tinha uma carreira mais ou menos encaminhada (...) era só terminar o curso técnico (...) já estava dentro da empresa já e fazia engenharia.”

“(...) ir trabalhar na empresa pra mim era um desespero. Calçar o botinão, ficar lá, mexer com desenho, material, organizar as coisas.”

“(...) tive a oportunidade de conhecer a vida de atleta mesmo. (...) Quando eu vi a vida que o pessoal levava, eu falei: „Eu não quero isso pra mim não! ‟”.

“(...) sempre fui apaixonado pela área de Educação Física. (...) não eram meus planos. (...) minha ideia era mexer com cardíacos, tudo, com clínica, mas aí como surgiu essa oportunidade, principalmente, dentro do concurso, uma estabilidade financeira (...)”

Após a construção e disposição dos eixos temáticos em quadros, realizamos várias leituras entre os eixos temáticos (intra e inter), com o objetivo de construir os núcleos de significação. Este procedimento contou, novamente, com o critério de similaridade e contraposição. O mesmo procedimento foi realizado com as outras três entrevistas. O trabalho segue com a análise das informações, primeiramente os dados obtidos por meio dos questionários e, em seguida, os dados obtidos por meio das entrevistas.

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