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1. INTRODUÇÃO

2.2. Gestão de risco de crédito

2.2.2. Gerenciamento do risco de crédito

2.2.2.1. Processo de análise de concessão de crédito

O processo de análise de concessão de crédito envolve várias atividades realizadas pelas instituições financeiras, sendo reconhecido como um dos principais recursos destas organizações, em razão de estar diretamente relacionado à atividade fim dos bancos, que é a intermediação financeira, em que a operação ativa refere-se ao fornecimento de crédito. “A

definição do tipo de análise e sua abrangência é seguramente um dos pontos importantes na avaliação do risco dos clientes” (SILVA, 2006, p. 94).

Reconhece-se que o processo de análise de crédito deve ser flexível, de modo a se ajustar à natureza de cada cliente e à operação, devendo estar alinhado às estratégias da instituição financeira, especificadas na política de crédito. Segundo Silva (2006), a escolha dos critérios de análise pode basear-se em distintos parâmetros, como a quantidade de propostas a serem analisadas, o valor dos financiamentos, a exposição e participação do banco no investimento financiado e os custos envolvidos com o processo de avaliação.

Conforme afirmam Caouette, Altman e Narayanan (1999), o processo de análise de crédito pode ocorrer por meio de critérios julgamentais (subjetivos), ou de critérios estatísticos (objetivos), ou, ainda, de uma combinação de ambos os critérios. Estes critérios referem-se à avaliação das características dos indivíduos envolvidos, da operação, do histórico e do contexto econômico para determinação da concessão do crédito.

A análise julgamental refere-se à avaliação feita com base na experiência do analista ou gerente de crédito, que a partir de informações da pessoa física ou empresa, aprova ou não a concessão do crédito. O conhecimento do analista ou gerente e os fatores considerados chaves, com seus respectivos pesos, são determinantes para a análise de crédito. De forma geral, as regras criadas para a realização dos julgamentos de crédito são feitas internamente, em função da cultura de crédito da instituição (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1999; SILVA 2006).

Caouette, Altman e Narayanan (1999) reconhecem que a análise de crédito é um processo estruturado que envolve diversos passos e pessoas. De forma sintética, a primeira função do analista de crédito é identificar as razões da solicitação de crédito e comparar o perfil da empresa com a estratégia e a política de crédito da instituição. Em seguida, deve-se avaliar a capacidade de pagamento do tomador de crédito, preferencialmente com base em suas demonstrações financeiras, de modo a analisar se a atividade econômica é capaz de honrar o montante solicitado. De forma conjunta, devem-se analisar a estrutura do setor, suas tendências e o posicionamento da empresa solicitante, além da administração da empresa, com ênfase na competência gerencial e operacional e na integridade dos sócios e funcionários. Uma vez realizados estes levantamentos e concluídas as análises qualitativas e/ou

quantitativas (a depender da estrutura de análise de cada instituição financeira), identifica-se o risco do crédito da empresa segundo os padrões da instituição, momento em que há a deliberação de aprovação ou não do crédito solicitado. Por fim, são realizadas as conferências e desenvolvidos os aspectos legais, para a formalização do financiamento, como a elaboração do contrato, o registro de ônus sobre as garantias, a definição da forma de liberação, a fixação das sanções de atraso e a determinação da forma de cobrança. Uma vez finalizada esta etapa, ocorre a concretização do financiamento, por meio da transferência dos recursos financeiros da instituição financeira para a empresa tomadora de crédito.

Portanto, a análise de crédito clássica vincula a concessão de um empréstimo ao atendimento das normas internas da instituição financeira, resultando na constituição de carteiras fortes de empréstimos a tomadores individuais classificados como de risco aceitável por profissionais prudentes. A análise ocorre da maneira mais aprofundada possível, resultando em maiores custos e menor quantidade de propostas analisadas (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1999).

Conforme Sicsú (2010), a utilização de modelos julgamentais é recomendada em alguns casos, especialmente para situações em que não se têm dados suficientes para elaboração de um modelo quantitativo, como nos casos de novos produtos de crédito, de atuação em uma nova região e de empresas de maior porte, que, em geral, possuem características e organização específicas.

A outra forma de análise de crédito ocorre por meio da utilização de critérios estatísticos (objetivos). A análise estatística, ou análise quantitativa, relaciona-se à avaliação de concessão feita por modelos econométricos, com base em dados objetivos dos solicitantes de crédito e do histórico de relacionamento da instituição com diversos clientes (e destes com outros agentes econômicos), em que se define a aprovação ou não da concessão do crédito (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANA, 1999; SILVA 2006). Os modelos econométricos de concessão de crédito podem ser genéricos: quando desenvolvidos por instituições privadas de serviços de apoio e proteção ao crédito; ou específicos, quando elaborados pelas próprias organizações credoras, sendo mais ajustados à realidade de crédito da concessora de crédito (SICSÚ, 2010).

Segundo Caouette, Altman e Narayanan (1999), os modelos quantitativos de risco de crédito podem ser classificados de acordo com, ao menos, duas dimensões: técnicas empregadas; e domínios de aplicação. As técnicas empregadas variam quanto à metodologia e às ferramentas apresentadas, citando-se como exemplos as técnicas econométricas (modelos de regressão logit e probit, análise discriminante múltipla), as redes neurais, modelos de otimização, simulações computacionais. Quanto aos domínios de aplicação, os modelos de risco de crédito podem ser utilizados para a aprovação de crédito, a determinação de rating de crédito, a precificação de produtos financeiros e as estratégias de cobrança.

Os modelos de credit scoring, como application scoring e behavioral scoring, são as principais ferramentas utilizadas para a classificação das empresas tomadoras de recurso quanto ao respectivo risco de crédito, fornecendo a probabilidade de descumprimento da obrigação a ser contratada, com base nos dados objetivos dos solicitantes (SICSÚ, 2010).

Segundo Medina e Selva (2013, p. 304),

[...] denomina-se credit scoring todo sistema de avaliação creditícia que permite quantificar de forma automática o risco associado a cada solicitação de crédito. Risco este dependente da solvência do devedor, do tipo de crédito, dos prazos de pagamento e de outras características próprias do cliente e da operação que definem cada observação, isto é, cada solicitação de crédito.

Em sentido similar, Santos (2008) define credit scoring como um modelo de avaliação de crédito baseado em dados cadastrais, financeiros, patrimoniais e de idoneidade dos clientes e desenvolvido por meio de fórmulas e conceitos estatísticos. As informações relativas aos sócios e à própria empresa podem ser obtidas em fontes oficiais (como as Juntas Comerciais) e em bureaus de crédito (como SPC e SERASA) ou dos próprios responsáveis das empresas, por meio de formulários elaborados pelas instituições financeiras.

Sicsú (2010) segrega a classificação dos modelos de concessão de crédito em relação à existência anterior de relacionamento com a instituição financeira. Os modelos empregados para a avaliação da concessão de crédito a novos clientes, isto é, clientes sem qualquer relacionamento anterior com a instituição, denominam-se application (credit) scoring.

Já os modelos de behavioral scoring são aqueles aplicados a clientes ou ex-clientes da instituição financeira. Portanto, há um histórico anterior de relacionamento (SICSÚ, 2010).

Segundo Blatt (1999, p. 129), “behavioral scoring (crédito por comportamento/desempenho) é um sistema dinâmico de pontuação de crédito, que combina informações de crédito com dados anteriores de relação e desempenho comercial”.

A diferença entre os modelos citados consiste no fato de o behavioral scoring utilizar, além das variáveis consideradas no application scoring, informações relativas ao histórico dos créditos anteriores (SICSÚ, 2010). Neste sentido, reconhecem Santos e Famá (2006, p. 96) que, “à medida que o relacionamento vai se estendendo, os credores passam a dispor de uma quantidade maior de informações dos tomadores e, assim, suas tomadas de decisões se ajustam mais adequadamente ao risco de crédito e seleção de garantias”.38

Em síntese, os tradicionais modelos de credit scoring e os de behavioral scoring procuram atribuir a determinados fatores dos solicitantes de crédito pesos estatisticamente predeterminados, permitindo a geração de uma pontuação de crédito, que é comparada a um valor de corte para a aprovação do crédito. Desta forma, o que se pretende é diferenciar clientes com baixa probabilidade de inadimplência (clientes „bons‟) de clientes com alta probabilidade de inadimplência (cliente „ruins‟) (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1999).

Figura 2 - Distribuição dos escores de crédito em modelo de credit scoring

Fonte: Elaborada pelo autor, adaptada de Caouette, Altman e Narayanan (1999, p. 182).

38 Entretanto, conforme reconhece Sicsú (2010, p. 10), deve-se ter cuidado na utilização de behavioral scoring,

uma vez que as condições do proponente ou do mercado podem ter se alterado em relação ao cenário passado.

Escore de crédito

Clientes ruins Clientes bons

Portanto, identificam-se vantagens na utilização de modelos quantitativos de avaliação de crédito, especialmente para empresas de menor porte, em razão do alto custo relativo de avaliação pelo critério julgamental (BERGER e FRAME, 2007). Segundo Silva (2006), em créditos massificados, como aqueles concedidos para pessoas físicas e pequenas empresas, especialmente quando de pequeno valor, pode-se esperar uma maior utilização de métodos estatísticos na avaliação das solicitações, justificando-se tal escolha principalmente em razão dos custos envolvidos e da margem de lucro absoluta da operação.

Além dos modelos de escore de crédito, os sistemas de rating podem ser caracterizados como forma de análise objetiva para a concessão de crédito. Segundo Silva (2006), o rating é uma avaliação do risco de crédito realizada por meio da mensuração e da ponderação de variáveis determinantes do risco de uma empresa, pessoa, título ou país. De forma geral, a classificação é dada com base em uma escala de letras ou de números (códigos) definidos pelo órgão classificador, de modo a fornecer uma gradação do risco (SANTOS, 2008). O desenvolvimento do sistema de rating tanto pode ocorrer internamente à instituição financeira, como pode utilizar as avaliações divulgadas por agentes externos, com as agências de rating. De forma geral, estão associados à avaliação de empresas de maior porte e podem alinhar critérios objetivos e subjetivos (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1999).

Conforme reconhecem Caouette, Altman e Narayanan (1999), a utilização de modelos quantitativos de risco de crédito contribui para um melhor desempenho de bancos e demais instituições financeiras, por meio da redução de custos fixos associados à análise de créditos, do auxílio à gestão ativa de carteiras de crédito e do estabelecimento de consistência de avaliação e precificação de risco de crédito.

Porém, como já ressalvado, a utilização de modelos de previsão também apresenta algumas desvantagens, como: aplicabilidade a casos distintos da amostra de desenvolvimento, perda do poder preditivo com o passar do tempo, carência de dados para as adequadas estimações, uso de forma indiscriminada e acrítica e possibilidade de incoerência com as políticas de crédito da instituição financeira (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1999).