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1. INTRODUÇÃO

2.3. Determinantes de inadimplência e de recuperação de crédito

2.3.1. Características individuais

2.3.1.8. Valor da renda dos sócios e avalistas

A interpretação da influência da renda dos avalistas e, até mesmo, dos sócios da empresa apresenta-se muito próxima ao entendimento realizado na seção anterior 2.3.1.7, referente ao patrimônio da empresa e dos avalistas.

Pindyck e Rubinfeld (1999) reconhecem que a limitação de renda do indivíduo faz com que haja uma escolha de onde alocar o dinheiro para gastar em diferentes bens. Por consequência, a informação dada pelos sócios e pelos avalistas sobre o valor de suas rendas tende a reduzir a assimetria informacional existente entre os tomadores e os concessores de crédito, permitindo à instituição financeira a analisar a possibilidade de o valor do empréstimo se adequar às restrições orçamentárias dos sócios e avalistas. Afinal, após a concessão do empréstimo a probabilidade de pagamento em dia das parcelas dependerá de a renda do tomador de crédito e de seus avalistas ser, ao menos, superior ao valor das parcelas do empréstimo (SANTOS e FAMÁ, 2006).

Takeda e Dawid (2012, p. 78) destacam que, principalmente em se tratando de crédito pessoal, a renda do tomador de crédito é uma das principais variáveis analisadas pelas instituições financeiras, que se pautam pela capacidade de pagamento do mutuário. De outro lado, no caso de empréstimo a pessoas jurídicas deve-se ter em mente o caráter colateral da renda dos sócios e dos avalistas para o pagamento da dívida da empresa, que ocorrerá apenas no caso de inadimplemento do devedor principal (sociedade empresária).

Neste contexto, identificam-se na literatura modelos que indicam que tomadores de crédito com baixos salários possuem maior probabilidade de inadimplência em razão do maior risco de encarar o desemprego, o que impossibilitaria o cumprimento das obrigações (LOUZIS, VOULDIS e METAXAS, 2012). Tal interpretação pode ser expandida para os avalistas, uma vez que estes possuem responsabilidade solidária81, e, muitas vezes, não possuem relação direta com a empresa, obtendo sua renda mediante a venda de sua mão de obra a outras corporações.

81 A responsabilidade solidária refere-se à possibilidade de se exigir do devedor principal e de qualquer avalista o

Entretanto, reforça-se que a análise separada da renda dos sócios e dos avalistas pode levar a interpretações erradas da influência da renda sobre as probabilidades de inadimplência ou de recuperação de crédito. O valor da renda deve ser analisado sob uma perspectiva relativa, ponderando-se pelo valor financiado pela empresa, que representa o montante que deverá ser pago à instituição financeira.

Portanto, maiores níveis de renda em relação ao valor financiado representam que as parcelas do financiamento encontram-se ou mais próximas ou, mesmo, abaixo da linha de restrição de orçamentária dos sócios e dos avalistas. Assim, espera-se para maior proporção de renda, menor inadimplência.

Entretanto, algumas considerações devem ser feitas, especialmente sobre a abordagem de recuperação de crédito. Em caso de inadimplemento, as razões para o pagamento da dívida contraída pela sociedade empresária se distinguem em relação aos sócios e aos avalistas.

Para os sócios, o pagamento da dívida da empresa pode estar relacionado a diversos aspectos, por exemplo, manutenção da atividade econômica, proteção quanto à inserção da empresa em órgãos de restrição ao crédito, intenção de evitar a incidência de penalidades econômicas pelo atraso (como multas) e, mesmo, a necessidade de pagamento para permitir a baixa da empresa no Fisco e na Junta Comercial. Entretanto, como em grande parte das situações a fonte de renda dos sócios é exclusivamente decorrente das atividades da empresa da qual são proprietários, uma crise econômico-financeira da empresa tende a se propagar para a renda dos sócios, dificultando a regularização dos débitos. Neste contexto, ainda que se reconheça a dificuldade prática, a diferenciação entre a renda do sócio oriunda do próprio negócio e a renda do sócio originada por outras atividades não relacionadas à empresa tomadora de crédito torna-se importante na avaliação de risco de crédito e da capacidade de recuperação de crédito.

Para os avalistas, a razão para o pagamento da dívida da empresa é a responsabilidade pessoal e solidária que recai sobre eles. Uma vez que o avalista é devedor solidário, a instituição financeira pode fazer a cobrança de todo o montante devido do avalista, sem a necessidade de, primeiro, extinguir todos os meios de cobrança da empresa (“benefício de ordem”) (RAMOS, 2012). Assim, a renda do avalista, além de seu patrimônio, pode ser utilizada para o pagamento das obrigações não cumpridas. Em muitas operações de crédito, especialmente

para micro e pequenas empresas, os avalistas da operação são justamente os sócios gestores da empresa, que, desta forma, se responsabilizam pessoalmente (ou seja, com o próprio patrimônio da pessoa física) pelo cumprimento da dívida da empresa. Este fato fortalece o argumento de que no caso de pequenas empresas há uma grande mistura entre patrimônio e endividamento de pessoa física e pessoa jurídica (SILVA, 2006).

É importante destacar também que, por força de norma contida no Código de Processo Civil, as rendas dos indivíduos passíveis de penhora e de expropriação pela via judicial são restritas, conforme o art. 649, do Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo; [...]

X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança.

De forma geral, pode-se esperar que uma maior renda dos sócios e avalistas, especialmente se não vinculada à atividade econômica da empresa tomadora de crédito, represente maior probabilidade de recuperação.