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2.2 Cadeia de suprimentos

2.2.4 Processo de transporte

O sistema de transporte de cana-de-açúcar agrega valor de espaço e tempo, deslocando o produto do campo para a usina nos momentos em que ela é necessária para a moagem. No Brasil, embora haja casos de outros modos de transporte como o hidroviário, predomina o transporte rodoviário, diferente de outros países produtores de cana como a Austrália, onde predomina o ferroviário. O ciclo dos caminhões compreende as etapas mostradas na Figura 6.

Figura 6: Etapas do ciclo do caminhão canavieiro Fonte: LogTrac (2010c)

O desempenho dos veículos nos percursos de ida e volta depende, principalmente, dos seguintes fatores:

Condições do sistema viário, em termos de condição de conservação das estradas e do relevo que impactam na velocidade dos veículos e conservação da frota, bem como de fluxo de tráfego e de trevos de acesso às fazendas, que podem causar tempos de espera para a passagem dos veículos.

 Organização dos percursos vazios e carregados pelos gestores da usina, para evitar cruzamento de veículos em pistas estreitas e sinalizando para que o motorista não se perca no caminho.

Já o desempenho dos veículos com relação ao tempo no campo, ou tempo de palhada como é conhecido no setor, depende da capacidade de produção das frentes de colheita. Se forem enviados caminhões com capacidade de transporte maior que a capacidade de colheita da frente, é esperado o surgimento de filas de espera, aumentando o tempo de palhada. Quanto ao tempo de usina, ele está diretamente relacionado com a taxa de moagem, bem como com o dimensionamento dos estoques reguladores na usina, como estoques sobre rodas, os pátios e os barracões de cana, os dois últimos condenados pelo comprometimento da qualidade da matéria-prima, que não acontece no primeiro tipo de estoque, caso o tempo de armazenagem seja curto (STUPIELLO, 1987).

2.2.4.1 Tecnologia de transporte

A tecnologia adotada no transporte de cana vem se modificando consideravelmente nos últimos 20 anos, obedecendo à legislação de trânsito. Para a maximização da capacidade de carga dos veículos, há a necessidade de optar por veículos mais potentes com maior custo de aquisição. Sendo assim, torna-se relevante o aumento da utilização destes equipamentos para uma maior diluição de seus custos fixos.

As configurações de caminhões mais utilizadas em usinas de cana-de-açúcar são separadas por dois tipos de caminhões plataforma e cavalo mecânico, bem como pelo número de cargas rebocadas (HAHN; RIBEIRO, 1999). Estas configurações podem ser visualizadas esquematicamente na Figura 7. No caso do cavalo mecânico, quando é composto por dois semi-reboques, o dole é o equipamento que possui dois eixos e suporta a segunda unidade de carga.

As resoluções 210 e 211 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), de 13 de novembro de 2006, regulamentam o comprimento máximo do veículo (30 m), bem como seu peso bruto total combinado, que é função da sua quantidade de eixos. Neste sentido, o rodotrem possui grandes vantagens, já que tem nove eixos frente aos sete eixos do treminhão, além da maior eficiência no sistema de troca de unidades rebocadas, denominado bate-e-volta no setor. Uma alternativa ao dole é a utilização do reboque com rala fixa, ao invés de dole mais semi-reboque, todavia, nessa configuração, a segunda unidade de carga perde a intercambiabilidade com o semi-reboque.

Figura 7: Tecnologias de transporte utilizadas no transporte de cana-de-açúcar Fonte: LogTrac (2010a)

O rodotrem também possui desvantagens em relação ao treminhão, pois necessita de maiores raios de manobra devido ao arraste da última carreta, devendo isto ser previsto na definição da circulação no parque industrial, bem como nas estradas internas da usina.

2.2.4.2 Sistema de intercâmbio de carretas, “bate-e-volta”

O sistema “bate-e-volta” é um jargão do setor que se refere ao intercâmbio de unidades de carga (carretas), visando aumentar a utilização da unidade tratora por meio de estoques pulmões sobre rodas com as cargas rebocadas. Desta forma, na palhada e na indústria é possível executar o carregamento e o descarregamento das unidades rebocadas sem vincular com o processo das unidades tratoras.

O rodotrem é a tecnologia de transporte mais beneficiada com este tipo de operação, já que a unidade tratora não é nem carregada nem descarregada. No caso da tecnologia do caminhão plataforma, também é possível realizar o “bate-e-volta”, todavia, pelo fato de a unidade tratora também ser uma unidade de carga, é necessário que ele entre na palhada para o carregamento para o caso da colheita com corte manual, ou espere o transbordo no caso do corte mecânico e também descarregue na usina. Entretanto, sistemas que priorizam o processamento do caminhão podem reduzir os tempos de palhada e descarregamento.

O benefício deste sistema está em aumentar a utilização do caminhão, que é o recurso mais caro, além de reduzir a complexidade no gerenciamento dos motoristas. Em

contrapartida, é necessário o investimento em unidades rebocadas e em doles necessários para transportar as unidades de carga por tratores.

O estoque sobre rodas também possui importante função no sistema logístico, regulando eventuais descontinuidades passageiras do fluxo de entrega de cana. Anteriormente, eram utilizados barracões e pátios de cana para esta mesma função, no entanto, eles vêm sendo gradualmente substituídos devido às perdas de qualidade da matéria- prima neste tipo de armazenagem. Outro mecanismo de regulação de estoque é feito por meio dos próprios caminhões, porém, incorre em custos mais elevados por aumentar seu tempo de ciclo e, consequentemente, reduzir seu rendimento.

2.2.4.3 Potencial de transporte

O cálculo de potencial de transporte adotado neste estudo é o mesmo utilizado pela Empresa e proposto por Milan et al. (2006). Este potencial associado às áreas de colheita é função das seguintes variáveis:

Tempo de ciclo (tc): corresponde ao tempo de ciclo (em horas) dos caminhões, e é composto pelas variáveis mencionadas anteriormente na Figura 6 tempo de ida, composto pela velocidade de ida (vi) e distância de ida (di), tempo de palhada (tp); tempo de volta, composto pela velocidade de volta (vv) e distância de volta (dv); e tempo de usina (tu): = + + + (4)  Densidade de carga (dc): corresponde à quantidade líquida de cana trazida por uma

unidade de carga, em toneladas, para a usina. Cabe ressaltar que este parâmetro pode variar conforme a época do ano, se a cana-de-açúcar secar muito durante o período de seca.

 Número de cargas (nc): corresponde ao número de cargas trazido pelos veículos canavieiros.

Assim, o potencial de transporte (pt), em toneladas por hora por caminhão, é calculado da seguinte maneira:

= ∗ (5)