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3.2 Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público

3.2.1 Processo de Elaboração das NBCASP

O início ao processo de convergência se deu quando o fenômeno da globalização culminou a nova tendência de internacionalização. O mundo passa a ser considerado uma grande unidade econômica e assim, surge como consequência a uniformização da contabilidade, para que a comparação fosse possível entre vários países.

Para que ocorresse esse nível de uniformização era necessária a identificação de uma entidade que regularizasse os registros, estruturação e evidenciação da contabilidade, possibilitando aos países a aderência dos procedimentos para o atingimento da convergência.

No âmbito do setor público a autoridade designada para a padronização foi a IFAC. No sentindo de atender a missão do IFAC, foi criado um comitê, chamado de International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB), ou de comitê de normas contábeis internacionais do setor público. O IPSASB emite pronunciamentos que refletem na apresentação da informação contábil e publica as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas as Setor Público, conhecida como (IPSAS).

O Quadro 9 é evidencia como ocorre o processo da harmonização das normas do setor público, desde a elaboração pelo IFAC até o processo de adaptação pelos entes da contabilidade pública.

Quadro 9 - Processo de elaboração das NBC T SP

FONTE: elaborado pela autora, 2013.

Em 25 de agosto de 2008 iniciou-se no Brasil o processo de convergência, por meio da Portaria do Ministério da Fazenda nº 184. Esta, por sua vez, criou um Comitê Gestor de Convergência no Brasil, composto por contadores da área pública e do grupo técnico de padronização de procedimento contábeis constituído pela Portaria da STN nº 136/2007.

Algumas das premissas utilizadas para a elaboração das NBCASP foram os tratamentos científicos para as transações da área pública, aplicação integral dos princípios de

IFAC edita IPSAS CFC edita NBC T SP

STN

contabilidade ao setor público, harmonização de boas práticas entre os entes federais e a convergência das normas brasileiras às internacionais.

A contabilidade pública considerava com base no artigo nº 35 da Lei 4.320/64, o regime misto, onde o reconhecimento da receita orçamentária era por regime de caixa e a despesa orçamentária pelo regime de competência, assim o seu enfoque era orçamentário. Porém com a convergência das normas internacionais de contabilidade aplicadas ao setor público, a STN editou e atualizou o MCASP baseado na NBCT 16.2, com objeto de enfoque principal o patrimônio. Nesse contexto, o regime de competência passa a ser obrigatório para a escrituração das contas públicas. Portanto, pode ser destacada a mudança do reconhecimento da receita que passou a ser por regime de competência, devido ao reconhecimento dos atos e fatos administrativos serem com observância no princípios da oportunidade e da competência, ou seja, no instante de verificação do fato gerador.

Em 2008 foram aprovadas as Resoluções do CFC nº 1.128/2008 a 1.137/2008, com a intenção de produzir um conjunto de normas que propicie impactos positivos na transparência e no controle social, as quais abordavam as 10 primeiras NBCASP convergentes das Normas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público emitidas pela IFAC.

A princípio as dez primeiras NBCASP passariam a vigorar de forma obrigatória a partir de 2011 para União e Distrito Federal, em 2012 para os Estados da Federação e em 2013 para os Municípios, porém grande parte destes entes públicos não atendeu o prazo estabelecido para a implantação das novas normas. Em virtude deste acontecido, a STN se pronunciou através da Portaria 753/12, onde prorrogou o prazo para todos os entes públicos quanto à adequação da nova realidade do setor público para o exercício de 2014.

No Quadro 10 são expostas as dez primeiras NBCASP: Quadro 10 - As primeiras NBCASP

NBC T SP

Resolução

CFC Conteúdo

16.1 1.128/2008 Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação 16.2 1.129/2008 Patrimônio e Sistemas Contábeis

16.3 1.130/2008 Planejamento e seus Instrumentos sob o Enfoque Contábil 16.4 1.131/2008 Transações no Setor Público

16.5 1.132/2008 Registro Contábil

16.6 1.133/2008 Demonstrações Contábeis

16.7 1.134/2008 Consolidação das Demonstrações Contábeis

16.8 1.135/2008 Controle Interno

16.9 1.136/2008 Depreciação, Amortização e Exaustão

16.10 1.137/2008 Avaliação e Mensuração de Ativos e Passivos em Entidades do Setor

Público

A primeira NBC T, 16.1, após a redação dada pela Resolução CFC nº 1.437/13 conceitua a CASP como sendo o ramo da ciência contábil que aplica, no processo gerador de informações, os Princípios de Contabilidade e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público e expõe como seu principal objetivo o patrimônio público. Define o campo de aplicação como sendo o espaço de atuação do profissional de contabilidade em entidades do setor público (CFC, 2013).

Como inovações trazidas pela NBC T 16.1 à contabilidade pode-se citar: que o objeto da contabilidade assume o foco no patrimônio público, inclusive os bens de domínio público, antes era orçamentário, e a ampliação do campo de aplicação Demais Entidades do Setor Público: Órgãos de Classes, Serviços Sociais Autônomos, Organizações Sociais, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público.

A NBC T 16.2 constitui o conceito do patrimônio público como sendo o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, que seja portador ou represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações. Também define a estrutura do patrimônio público em ativo, passivo e patrimônio líquido e classifica sob o enfoque contábil em circulante e não circulante (CFC, 2013).

Conforme o Quadro 11 será exposto como o sistema contábil deve ser estruturado da forma:

Quadro 11 - Estrutura do Sistema Contábil aplicado ao setor público

SISTEMA CONTÁBIL

Subsistema Conteúdo

Orçamentário Registra, processa e evidencia os atos e os fatos relacionados ao

planejamento e à execução orçamentária. Patrimonial

Registra, processa e evidencia os fatos financeiros e não financeiros relacionados com as variações qualitativas e quantitativas do patrimônio público.

Custos Registra, processa e evidencia os custos dos bens e serviços, produzidos e

ofertados à sociedade pela entidade pública, consoante a NBC T 16.11. Compensação

Registra, processa e evidencia os atos de gestão cujos efeitos possam produzir modificações no patrimônio da entidade do setor público, bem como aqueles com funções específicas de controle.

Fonte: Adaptado do CFC (2013) pela autora, 2013.

A inovação desta norma se dá pela mudança da divisão do Balanço Patrimonial, de ativo e passivo financeiro e ativo e passivo permanente para a nova divisão em circulante e não circulante devido à alteração do foco orçamentário para o patrimonial. Quanto aos

sistemas contábeis a novidade é a eliminação do sistema financeiro e o surgimento do novo subsistema de custos que dará origem a DRE.

A NBC T 16.3 estabelece as bases para o controle contábil do ciclo de planejamento, indispensável à gestão e ao controle da Administração Pública. Também evidencia os planos interligados hierarquicamente o PPA, LDO e LOA, considerados instrumentos de planejamento do orçamento no Brasil.

No que diz respeito a evidenciação, esta norma, prevê que deve haver uma comparação das metas previstas com as realizadas e evidenciar em notas explicativas as diferenças relevantes. Essas orientações assemelham-se com as previstas na IPSAS 24, que trata da apresentação da informações orçamentárias nas demonstrações financeiras.

A NBC T 16.4 estabelece conceitos, tipificação e natureza quanto às transações no setor público. Conceitua que as transações podem ocorrer por meio de fatos e atos que podem ou não alterar o patrimônio do ente público. Determina que as transações que envolvam valores de terceiros não afetam o PL e que são considerados como fiel depositário. Estas transações devem ser representadas de forma segregada nas contas de ativo e passivo compensado, no balanço.

A NBC T 16.5 estabelece critérios para o registro contábil dos atos e dos fatos que afetam ou possam vir a afetar o patrimônio das entidades públicas embasados em documentos hábeis, os quais são utilizados como comprovantes do registro. Esses registros devem atender ao princípio da oportunidade e da competência, para despesa e receita.

A NBC T 16.6 determina as demonstrações contábeis que devem ser elaboradas e divulgadas pelas entidades públicas. Após as alterações ocorridas pela Resolução CFC nº 1.437/13, os demonstrativos passam a ser, o BP, o BO, BF, DVP, DFC, DMPL e as notas explicativas.

Comparado a Lei 4.320/64, a qual dispõe que os principais demonstrativos são o BP, BO, BF e DVP, a inovação fica a cargo dos novos demonstrativos.

A NBC T 16.7, aborda os procedimentos para a consolidação das demonstrações contábeis de todas as entidades do setor público, com o objetivo de avaliar as ações do governo de forma global e homogênea. Nesta norma não há inovações pertinentes à consolidação dos demonstrativos, visto que, a Lei 4.320/64 no art.111 e na LRF no art. 56 tratam da mesma forma a consolidação dos demonstrativos das três esferas de governo.

A NBC T 16.8, trata do controle interno na área pública com o objetivo de garantir a eficácia e a eficiência do sistema de informação contábil. Tem como visão o atingimento do objetivo da entidade pública através da busca por anulação dos riscos e da

efetividade às informações da contabilidade. Quanto à classificação o controle interno é dividido em operacional e normativo.

A NBC T 16.9 propicia ao ente público a atualização do patrimônio através da aplicação da depreciação, amortização e exaustão. Essas práticas buscam encontrar valor real do patrimônio, pois se encontrava subavaliado. Esta norma é uma das grandes inovações trazidas ao setor público, uma vez que a maioria das entidades não consideravam esses procedimentos no momento da aquisição de um bem permanente.

A NBC T 16.10 estabelece critérios de avaliação e mensuração dos ativos e passivos dos entes públicos. A inovação ocorre em virtude da mudança de foco antes orçamentário, agora patrimonial, fazendo com que a mensuração e avaliação patrimonial sejam mais pertinentes.

Logo após foi ampliado à NBCASP a NBC T 16.11 que traz a implantação do subsistema de informação de custo no setor público.

Essas normas foram elaboradas com a intenção de fornecer um novo modelo de contabilidade pública visando a uniformização das práticas contábeis e a consolidação das informações.

Assim, após a convergência o Brasil alcançará patamares de países desenvolvidos através de informações fidedignas, possibilitando maior comparabilidade, e melhor embasamento para a tomada de decisão dos gestores públicos.

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