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4 IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS DIFERENTES TIPOS DE EMBARQUE

4.4 PROCESSO DE EMBARQUE HÍBRIDO

Segundo Mariano (2013), durante o transporte da soja ocorre o derramamento de grãos nas vias públicas do entorno portuário, bem como no intraporto. Os grãos espalhados pelas vias servem de alimento para pombos e ratos, propiciando a transmissão de zoonoses, e, por ficaram expostos às intempéries, contribuem para a geração de odores desagradáveis, além de poluírem o ambiente (MARIANO, 2013).

Essa situação, somada à ineficiência operacional associada com os terminais graneleiros superlotados e à necessidade de equipamentos auxiliares como piscinas e grabs, conforme descrito nas seções 4.1 e 4.2, favorece a busca por processos inovadores que otimizem o embarque de produtos a granel, como a soja, reduzindo o tempo de estadia dos navios e proporcionando maior segurança operacional e produtividade, bem como contribuindo para a redução dos impactos ambientais e da poluição visual na região portuária associados ao derramamento de grãos (SANTOS BRASIL, [202-]).

Perante o exposto, as próximas seções irão caracterizar o transporte da soja por meio de contêineres, no formato chamado híbrido, em virtude de os recipientes metálicos serem descarregados em navios graneleiros, o qual é similar ao processo Containerized Bulk Handling (CBH), que compreende um sistema que utiliza contêineres e distribuidores rotatórios para carregar navios graneleiros.

4.4.1 Descrição do processo e aspectos a serem considerados

No processo híbrido, assim como no tradicional e no com grabs, o grão é embarcado em navios graneleiros. Todavia, nesse processo não são utilizados equipamentos como shiploaders, piscinas ou grabs, aproveitando a infraestrutura de terminais de contêineres, com o auxílio de portêineres ou guindastes para a movimentação dos contêineres, conforme a Figura 31 ilustra.

Figura 31 – Portêiner auxiliando no embarque de granéis

Fonte: Fornecido pelo Porto de Imbituba durante visita técnica (2021)

Acerca dos contêineres utilizados nessa operação, eles diferem daqueles utilizados no embarque descrito na seção 4.3. Nesse sentido, pode-se citar o open top, o qual possui um teto removível que é fechado com lonas para transportar as cargas (vide Figura 32).

Figura 32 – Contêiner Open Top

Fonte: Fornecido pelo Porto de Imbituba durante visita técnica (2021)

No que tange ao processo em si, o contêiner é carregado com a soja no armazém e um caminhão faz o transporte até o cais do porto, onde um equipamento especializado, como o portêiner, eleva o recipiente e o posiciona no porão do navio. Em seguida, de forma automatizada, as portas laterais ou as escotilhas inferiores do contêiner são abertas e a carga cai no porão (PARANÁ PORTAL, 2019). As etapas descritas podem ser visualizadas na Figura 33.

Figura 33 – Embarque de soja híbrido

Fonte: Santos Brasil ([202-])

Um dos aspectos positivos deste processo é que o produto não entra em contato com outros durante o trajeto, portanto, é particularmente interessante para o transporte de grãos não transgênicos, os quais necessitam de cuidados especiais e devem ser separados dos demais produtos, visto que qualquer contaminação pode comprometer a operação, a qualidade e, consequentemente, o valor do produto (PARANÁ PORTAL, 2019).

Kuznetsov, Kirichenko e Pagodin (2018) em seus estudos sobre a utilização de contêineres para o manuseio de cargas secas em portos marítimos, reforçam o exposto na seção 4.3 que a conteinerização permite reduzir significativamente a geração de resíduos durante o transporte, armazenamento e movimentação de cargas a granel, bem como possibilita o aumento da qualidade da movimentação de cargas “frágeis”, dado o manuseio reduzido.

Ademais, segundo os autores, essa é uma tecnologia flexível, visto que, quando da falta de fluxos de carga, permite a utilização da frota de contêineres em outras aplicações (KUZNETSOV; KIRICHENKO; PAGODIN, 2018).

A próxima seção descreverá alguns exemplos dessa operação em portos das regiões Sul e Sudeste do Brasil.

4.4.2 Indicadores de desempenho do processo de embarque híbrido da soja Conforme já mencionado, o embarque híbrido da soja trata-se de um processo relativamente novo, portanto, não foi possível identificar terminais que realizem essa operação de forma recorrente e sistemática. Contudo, algumas operações mais específicas foram identificadas nos Portos de Antonina e Imbituba, as quais são apresentadas nas próximas seções.

4.4.2.1 Porto de Antonina

No Porto de Antonina, localizado no Estado do Paraná, operações de soja com embarque híbrido ocorrem desde de 2015, realizadas pela empresa Terminais Portuários da Ponta do Félix sendo que o produto exportado tem origem no próprio estado e seus principais destinos são a Holanda, a Alemanha e a Noruega (BRASIL, 2018b; PARANÁ PORTAL, 2019).

Figura 34 – Embarque de soja não transgênica no Porto de Antonina

Fonte: (PARANÁ PORTAL, 2019)

Em 2019, o navio Puma (vide Figura 34) recebeu o embarque de 22,5 mil toneladas de farelo de soja convencional, ou seja, não transgênico. A prancha média para o carregamento do navio foi de cerca de cinco mil toneladas por dia8. Dessa forma, para carregar esse volume de farelo de soja (em condições meteorológicas favoráveis) foram necessários quatro dias e meio de operação.

Ademais, até 2019, já haviam sido embarcadas mais de 855 mil toneladas de farelo de soja não transgênica utilizando esse processo (PARANÁ PORTAL, 2019).

4.4.2.2 Porto de Imbituba

No Porto de Imbituba, essa operação ainda se encontra em fase de testes, contudo, o objetivo é no futuro utilizar esse processo para movimentar commodities agrícolas, como a soja.

Nesse sentido, no mês de março de 2020 foi realizado um embarque piloto de coque calcinado no berço 2 do porto (vide Figura 35). Foram cerca de 14 mil toneladas embarcadas no navio Nord Montreal (PORTO DE IMBITUBA, 2021).

Figura 35 – Embarque de coque calcinado no Porto de Imbituba

Fonte: Acervo próprio (2021)

A operação foi realizada pelas empresas Imbituba Logística Portuária (ILP) e Sanry, e o produto, oriundo de Cubatão (SP), seguiu para os portos do Canadá (PORTO DE IMBITUBA, 2021).

Em visita técnica ao Porto de Imbituba observou-se que a prancha média para o carregamento do navio é de cerca de cinco mil toneladas por período, em condições meteorológicas favoráveis.

Ademais, verificou-se também que, uma vez no cais, a operação de elevação do contêiner, descarga nos porões e posicionamento novamente sobre os caminhões leva em torno de três minutos. Entretanto, a produtividade desse processo pode ser influenciada por eventuais atrasos na expedição da carga nos armazéns.

4.4.3 Tendências para a utilização do processo de embarque híbrido

O processo híbrido ainda está em evolução no Brasil, contudo verifica-se que fora do país o CBH, com equipamentos e contêineres mais modernos, vem se expandindo. Nesse sentido, cita-se o Porto Angamos, no Chile, que está na vanguarda com um serviço de exportação de granéis, rápido, eficiente, limpo e mais ecológico, seguindo as mesmas etapas do processo híbrido descrito anteriormente, porém com o auxílio de guindastes móveis e do Revolving Spreader (vide Figura 36) (RAM SPREADERS, [20--]).

Figura 36 – Revolving Spreader (distribuidor giratório)

Fonte: Kuznetsov, Kirichenko e Pagodin (2018)

Ademais, esse processo é flexível, portátil e uma solução de baixo custo, além de reduzir a geração de resíduos. Assim, conforme cita o diretor-gerente da Portside Solutions9, esse processo pode transformar muitos portos de contêiner padrão em portos de manuseio de granéis, o que criaria um novo tráfego de carga e receitas, impulsionando a economia e reduzindo o impacto das operações tradicionais (RAM SPREADERS, [2015]).

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