• Nenhum resultado encontrado

Notifi cação Compulsória de Doenças e Agravos no Brasil: Um Breve Histórico sobre a Criação do Sistema de Informação de

PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO

No início da última década do século XX, diante dos já avançados recursos computacionais dis- poníveis e da demanda crescente por informações úteis e oportunas como subsídio indispensável para as atividades de vigilância epidemiológica, ao Cenepi coube a tarefa de construir um sistema de informações, denominado Sistema de Informação de Agravos de Notifi cação (Sinan). O sistema teve como objetivo padronizar a coleta e o processamento dos dados sobre agravos de notifi cação em todo o território nacional, fornecendo informações para a análise do perfi l da morbidade e contri- buindo, dessa forma, para a tomada de decisões nos níveis municipal, estadual e federal. Tal sistema deveria ser hierarquizado coerentemente com a organização do SUS e sufi cientemente ágil para viabilizar análises de situações de saúde em curtos espaços de tempo.

Durante os anos de 1991 a 1993, já sob a direção do Dr. Pedro Chequer, foi iniciado o processo de discussão, desenvolvimento e implantação do Sinan, contando com apoio do então já criado serviço de processamento de dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e da Empresa de Processamento de Dados da Prefeitura de Belo Horizonte (Prodabel). No entanto, essa implantação foi realizada de forma heterogênea nas unidades federadas e nos municípios, não havendo coordenação e acompa- nhamento por parte dos gestores de saúde, nas três esferas de governo.

O conjunto de informações referentes a cada um dos agravos notifi cáveis incluídos no Sinan foi fruto de um processo de discussão entre a Coordenação de Informação e cada uma das coordenações específi cas, não havendo uma participação efetiva das secretarias estaduais e municipais de saúde nesse processo. Ao longo dos anos, foram incluídas no Sinan as fi chas de investigações para agravos não constantes da lista de notifi cação compulsória nacional, sem que fossem estabelecidos critérios para essas inclusões ou padronização dos instrumentos de coleta desses agravos, o que acarretou uma sobrecarga de dados e, conseqüentemente, problemas de operacionalização do sistema.

Em sua concepção inicial, o Sinan continha um módulo de notifi cação e outro de investigação, ambos com identifi cador único do registro, tendo o primeiro informações básicas para identifi cação e localização do caso, além da doença de suspeição e registro do grau de instrução do paciente. O segundo módulo contemplava as informações pertinentes à investigação epidemiológica de cada caso e seria, obviamente, remetido para os níveis superiores do sistema, posteriormente, enquanto que o primeiro módulo seria de remessa imediata. Imaginava-se que, com tais fl uxos, poder-se-ia obter um sistema ágil na consolidação dos dados de notifi cação, atualizando-os com a incorporação das informações provenientes da investigação, incluindo o descarte dos casos não confi rmados. No entanto, características de algumas doenças ou agravos, ou mesmo práticas consolidadas no âmbito dos programas de controle, não permitiram a implementação dessa lógica, condicionando, assim, a notifi cação do caso ao avanço do processo de investigação epidemiológica (BRASIL, 2006). Isso tornou o Sinan menos ágil do que se desejava, não atendendo adequadamente às demandas dos diversos níveis do sistema, principalmente no que se refere ao monitoramento oportuno dos casos notifi cados em períodos epidêmicos.

Ainda foram identifi cados vários problemas relacionados ao uso do Sinan de forma sistemática: au- sência de clareza quanto ao objetivo primário do sistema e conseqüente mau desempenho global; con- comitância de fl uxos de informações (e lógicas) de diferentes naturezas: doenças crônicas transmissíveis e não transmissíveis e doenças agudas transmissíveis e não transmissíveis; gestão múltipla do sistema, ou seja, cada área técnica (ou “programa”) era responsável pela sua parcela do Sinan; limitações do pro- grama informatizado ausência de padronização de tabelas, a não utilização tanto das fi chas de notifi ca- ção pré-numerada quanto das rotinas de consistência e validação dos dados (CARVALHO, 1997).

Não obstante, a partir da implantação do Sinan, foi estabelecido um fl uxo para as Fichas Indivi- duais (documento básico de coleta), que têm origem nos serviços locais de saúde, passando pelas

Ministério da Saúde

Organização Pan-Americana da Saúde Fundação Oswaldo Cruz

42

instâncias regionais das secretarias municipais de saúde, indo até os níveis centrais dessas secreta- rias e, daí, para as secretarias estaduais de saúde, responsáveis pelo envio dos dados de cada estado para o Cenepi. A forma de transmissão de dados, entre cada um dos níveis do sistema, bem como a capacidade de consolidação e análise de cada um desses níveis variavam de um lugar para outro, em estreita consonância com o quadro de profundas diferenças regionais observado no Brasil.

Vale ressaltar que, mesmo diante dos problemas mencionados, o Sinan desde sua implantação in- corporou a idéia de uma lista de doenças de notifi cação compulsória para o nível federal, admitindo inclusão de doenças específi cas de interesse dos estados, preenchendo a lacuna que se apresentava, e consolidando-se como referência para as atividades da vigilância epidemiológica.

Diante dessa situação, a partir de 1998, o uso do Sinan foi regulamentado (Portaria MS/GM nº 1.882, de 18 de dezembro de 1997), tornando obrigatória a alimentação regular da base de dados nacional pelos municípios, estados e Distrito Federal, bem como designando o Ministério da Saúde como gestor nacional do sistema.

O Cenepi ainda constituiu uma “Comissão de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento de Nova Ver- são do Sinan” (BRASIL; FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 1998), com as fi nalidades de adequar o sistema existente às demandas dos usuários, bem como desenvolver um novo sistema com vistas à ampliação da capacidade de execução das ações de vigilância e de análise da situação nas três esfe- ras de governo. Para melhor delineamento da proposta, participaram da referida comissão as áreas técnicas usuárias do sistema em nível nacional e o DATASUS. Iniciou-se, assim, o projeto “Sinan Win- dows”, parceria envolvendo o Cenepi/Funasa e o DATASUS, sendo o Cenepi responsável pela elabo- ração do desenho do sistema sob a perspectiva da vigilância epidemiológica, ou seja, padronização de conceitos, defi nição de fl uxo, instrumentos e relatórios gerenciais, e o DATASUS responsável pela elaboração de programa computacional adequado aos vários níveis de complexidade (LAGUARDIA et al., 2004).

Este grupo considerou que os subsídios dos técnicos incorporados à vigilância epidemiológica nos níveis estadual e municipal, bem como dos profi ssionais de referência pertencentes a institui- ções acadêmicas da área de saúde pública, muito contribuiriam no processo de elaboração da pro- posta. Nesse sentido, formou-se um grupo específi co para discussão dessa temática na “Ofi cina de Trabalho de Reformulação do Sinan”, ocorrida em setembro de 1998. O relatório fi nal dessa ofi cina norteou a padronização de conceitos, a defi nição de fl uxo e a concepção de formulários para coleta de informações, a partir de um diagnóstico da implantação do Sinan DOS nos diversos níveis de gestão do SUS.

A ausência de rotinas de revisão e correção de registros inconsistentes se fez notar, sobretudo, no momento de migração da base de dados do Sinan DOS para o Sinan Windows, pois só foram impor- tados os casos que não apresentavam críticas de inconsistência, quer seja em relação às variáveis consideradas como chaves para a identifi cação do caso no Sinan Windows (número da notifi cação, data da notifi cação, município de atendimento e unidade de saúde), quer seja em relação àquelas defi nidas como campo de preenchimento obrigatório ou, ainda, àquelas em que foram introduzidas críticas na entrada de dados.

Dentre os avanços alcançados na versão do Sinan Windows, em comparação ao Sinan DOS, pode- mos relacionar os mais importantes:

• Ampliação das chaves do sistema;

• Inclusão das notifi cações dos agravos agudos e crônicos em um único banco de dados, e geração de arquivos separados para os dados de investigação de cada agravo;

• Aprimoramento das rotinas de duplicidade, consulta, transferência e recebimento, tornan- do-as mais adequadas às demandas dos usuários;

• Otimização da rotina de vinculação dos registros de tuberculose e hanseníase com mais de uma entrada no sistema;

• Inclusão de saídas padronizadas para a construção de indicadores; • Interface com o Tabwin;

• Possibilidade de identifi car as principais inconsistências na base de dados;

• Rotina de conferência mais otimizada, sendo que o produto dessa avaliação pode ser salvo em outros aplicativos;

• Inclusão de rotina para descentralização da base de dados.