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2- MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E A LUTA POR TERRA E ÁGUA NO

2.2 Processo de ocupação do sertão alagoano

Alagoas constitui-se como parte importante da formação territorial brasileira. Os colonos europeus, sobretudo, atracaram na região Nordeste, e por essas terras começaram a

desbravar e conhecer o “novo continente”. Segundo Cícero Péricles: “os europeus encontraram uma grande diversidade étnica; povos com língua, usos e costumes, religião e crenças bem diferentes das suas” (CARVALHO, 2016, p. 41). A partir do domínio dos povos que as terras habitavam, como também a grande quantidade de pau-brasil que foi encontrado e diversos outros recursos naturais - todos esses atrelados às atividades voltadas tanto à pecuária como a atividades agrícolas - que a fixação do invasor colonial começou a ocorrer. A exploração desses recursos era um grande influenciador para que esse fenômeno ocorresse, conforme Lima (1965, p. 142):

Mas foi a expansão colonizadora, aproveitando as terras próprias para uma atividade pecuarista, completada por uma atividade agrícola, que desenvolveu a fixação do homem em nosso território, e como vimos no sul oriental do nosso atual Estado; em seguida a atividade dos engenhos da área pernambucana começou a se ampliar nas terras conquistadas dos vales orientais, na parte norte-oriental e centro (Lagoas Mandaú e Manguaba), cujos rios foram amplas áreas de terras de aluvião e massapé, sobe influência de um clima tropical quente e húmido.

A colonização, em sua premissa, teve suas raízes baseadas na exportação do pau- brasil, como também a grande faixa litorânea para produção de cana. Com o avanço da colonização, os portugueses partiram com suas expansões colonialistas para o interior do estado. O desenvolvimento agrícola foi dando base para que pequenos aglomerados fossem surgindo e, a partir disso, cidades começassem a se formar, os engenhos também tiveram um papel fundamental nesse processo. A permanência do colonizador foi se consolidando e os índios cada vez mais sendo expropriados de seus territórios. Da mesma maneira que aconteceu no litoral, no sertão também se registrou a dizimação das populações indígenas nativas. O pastoreio do Sertão; a civilização do couro, foi onde aconteceu uma das maiores matanças de índios por degoladura (LINDOSO, 2011). De acordo com Lusa (2013, p. 352),

Outro determinante na formação social de Alagoas é, sem dúvida, a presença significativa de tribos e grupos indígenas, que paulatinamente vão sendo dizimados, ou empurrados para regiões sem interesse econômico. Durante os quase quatro séculos de colonização portuguesa pode-se dizer que ocorreu a dizimação quase total desta população, beirando a sua extinção.

Outra característica marcante que contribuiu para o avanço ao interior foi justamente o espaço das áreas cultiváveis, não se tinha mais espaço para a produção ou criação de animais.

O avanço para o agreste e sertão se dá, sobretudo, devido a essa necessidade, pois o gado criado solto destruía as plantações (CARVALHO, 2016). Andrade (2011) observa que o sertão teve sua ocupação devido a necessidade de criar o gado longe das plantações de cana. Outro fato que impulsionou essa entrada foi o vale do São Francisco, esse foi o grande canal aberto para que o gado chegasse ao sertão (CARVALHO, 2016). Esse avanço proporcionou uma diversificação na produção dos bens agrícolas que eram produzidos, podemos a partir disso observar o desenvolvimento de atividades voltadas a pecuária e a produção de algodão. De acordo com Lima (1965, p. 142-143):

Assim, o Agreste e o Sertão foram alcançados pelo vale do São Francisco; nessas zonas, a vegetação de gramíneas existente nas caatingas, facilitou o povoamento e as fazendas determinaram, depois da fase de nomadismo, a fixação do homem nos centros de criação e, principalmente, nas manchas de solos em que se desenvolveu o algodão, secundado pelo milho e o feijão [...]. Nem mesmo as secas conseguiram limitar, tanto esse avanço para o interior, quanto a atividade de negros dos Palmares, obrigando aos colonizadores povoarem o interior de alagoas, subindo o São Francisco, desde a foz até as cachoeiras de Paulo de Viveiros Afonso [...].

Com isso podemos perceber a importância e influência que o vale do São Francisco teve para a expansão e formação do estado de Alagoas, “o mesmo foi o caminho hídrico das conquistas sertanejas” (LINDOSO, 2011, p. 21). Com essa entrada, diversos ramos de produção foram surgindo, devido à influência que cada aglomerado de pessoas ia exercendo nos lugares.

Com o fomento da criação do gado e sua entrada para o interior do estado, formou-se no sertão alagoano uma sociedade que apresentava características próprias que a diferenciava da formada no litoral. Uma característica que aproxima a sociedade sertaneja da do litoral alagoano é justamente a questão da concentração das terras. O sertão também foi palco de apropriações de grandes extensões de terras por um número limitado de pessoas, onde estes utilizaram a mão de obra dos trabalhadores livres para o fomento da criação de gado. Sendo assim, a concentração fundiária no sertão alagoano existe e mescla-se com os minifúndios onde vivem populações indígenas e quilombolas, como explica Lusa (2013, p. 355):

O modo de vida mais simples, com a presença de pequenas e médias propriedades rurais é mais frequente. A concentração fundiária e a dominação dos grandes proprietários também existem, todavia mescla-se, inclusive, com as terras das populações indígenas e quilombolas. Assim, o semiárido alagoano torna-se espaço

de compartilhamento dos traços presentes em todo o território alagoano, ao mesmo tempo em que produz traços próprios da realidade local.

Podemos perceber que o processo de ocupação do sertão alagoano também tem suas raízes marcadas profundamente pela expropriação, onde observa-se a dos povos nativos. O sertão também é marcado pela exploração dos trabalhadores livres, pois os mesmos desde o início tiveram que trabalhar nas criações de gado, visto que desprovidos de prestígios ou poder econômico, não podiam receber terras da Coroa.

Todos esses fatos que configuraram a formação territorial para o sertão alagoano, nos mostra e fazem-nos entender a atualidade territorial sertaneja. As relações de trabalho insalubres, a falta de acesso à terra para trabalhar, a presença de minifúndios, todos eles são fruto de um processo de formação histórica que tem desde sua gênese marcas negativas para a população sertaneja. Essas condições fizeram com que trabalhadores rurais sertanejos se organizassem e buscassem superar essas disparidades existentes no campo.

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