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Evoluindo na perspectiva interaccionista de abordagem ao stress, há que fazer referência ao modelo transaccional de Lazarus e Folkman (1984).

Este modelo possui três características principais:

1. o indivíduo e o ambiente são compreendidos numa relação dinâmica, mutuamente recíproca e bidireccional;

2. as características do indivíduo e do ambiente convergem no sentido de permitir novas significações através de processos de avaliação da situação;

3. implica processos de mudança ao longo do tempo, distinguindo entre consequências imediatas e consequências a longo prazo do stress sobre os processos de adaptação.

Neste modelo são contemplados três níveis de stress: o nível social, o nível psicológico e o nível fisiológico, e o fenómeno stress é concebido como um processo constantemente renovado pelas situações de confronto presentes na vivência quotidiana e na avaliação subjectiva que o indivíduo faz dessas situações (De Keyser & Hansez, 1996).

Esquema 4 - Modelo transaccional baseado nos três níveis de Lazarus e Folkman Adaptado de R. S. Lazarus & S. Folkman (1984)

Antecedentes Causais Processos Intermediários Efeitos Imediatos Efeitos a longo Prazo SOCIAL Rede social Suportes sociais Perturbações sociais Crítica social

À i Perfil cultural disponíveis Respostas da direcção Mudanças sociais e Sistema institucional Meios socais ou Pressões socio- culturais

Estruturas do grupo institucionais disponíveis para os melhoramentos

políticas

Alienação do grupo

- Variáveis pessoais Vulnerabilidades Sentimentos positivos Moral valores, crenças, Avaliações-reavaliações ou negativos Forma de estar controlo pessoal, estilos Qualidade do assunto na vida cognitivos de coping - Coping

centrado no problema da situação de confrontação

1 7 - Variáveis situacionais centrado na emoção stressante PSICOLÓGICO exigências da situação procura e utilização de

i i iminência timing ambiguidade recursos sociais e materiais suporte social - Suporte social percebido emocional tangível informacional i i

Factores genéticos Recursos imunitários Mudanças somáticas Doenças crónicas Condicionamento Vulnerabilidade das (precursores de Funcionamento fisiológico (resposta espécies doença) fisiológico alterado

\ 7 individual) Vulnerabilidade Doença aguda Longevidade FISIOLÓGICO Factores de risco para a temporária Recuperação após

saúde Imperfeições adquiridas estado de doença

A análise do modelo de Lazarus e Folkman permite-nos verificar que a concepção do stress prende-se, desde logo, com a relação entre o indivíduo e o seu ambiente, assim como com os processos cognitivos envolvidos na percepção de tal interacção.

Para determinar o grau potencial de stress da relação indivíduo-meio considerada na perspectiva interaccionista, há que ter em conta dois processos essenciais: a avaliação cognitiva e o coping. A avaliação cognitiva refere-se aos processos que permitem julgar porquê e em que medida uma pessoa percebe determinada situação como ameaçadora do seu bem-estar. O coping diz respeito às estratégias comportamentais e cognitivas utilizadas

para fazer face ou enfrentar as exigências de uma situação stressante, assim como as emoções que tal situação suscita (Lazarus e Folkman, 1984).

2.3.1 - A avaliação cognitiva

A avaliação é um processo cognitivo através do qual um indivíduo avalia de que modo uma situação pode pôr em perigo o seu bem-estar e quais são os recursos de que dispõe para lhe fazer face.

Para Lazarus e Folkman (1984), há duas formas de avaliação que convergem para definir o potencial stressante de determinada situação e os recursos de coping que o indivíduo é capaz de mobilizar:

• A avaliação primária é a avaliação que o indivíduo faz, face a uma situação específica. O indivíduo avalia as implicações que a situação terá para o seu bem-estar. Na sequência dessa avaliação, a situação poderá ser considerada irrelevante para o indivíduo e, desse modo, ser por ele ignorada, não constituindo uma ameaça. A situação pode, também, ser considerada benigna, isto é, positiva para o bem-estar do indivíduo, ou, ao contrário, stressante. Nesta avaliação, o indivíduo procura identificar indícios que lhe dêem o significado da ocorrência.

• Na avaliação secundária o indivíduo faz julgamentos respeitantes aos recursos que possui, sejam eles pessoais e/ou sociais, às opções que tem e às limitações de cada uma delas. Esses julgamentos são influenciados pela familiaridade ou novidade da situação, pela possibilidade ou não de se prever a sua ocorrência, pelas recordações da experiência prévia em situações semelhantes, pela clareza ou ambiguidade do seu

significado, pelo custo e probabilidade de êxito das diversas opções, pelo estado de ânimo, temperamento e personalidade do indivíduo, pela disponibilidade de recursos com que pode contar, incluindo a eventual ajuda de terceiros. Esta avaliação orienta as estratégias de coping que serão utilizadas.

Estes processos de avaliação da relação indivíduo-ambiente são influenciados, segundo Lazarus e Folkman (1984), pelo locus de controlo do indivíduo, ou seja, pelas expectativas gerais criadas pelo indivíduo em relação ao meio ambiente. Quando a pessoa admite que as consequências de determinado comportamento são influenciadas por si própria, diz-se que apresenta um locus de controlo interno. Pelo contrário, se admite que dependem de factores do acaso ou da influência de outros mais poderosos, diz-se que tem um locus de controlo externo.

As variáveis ambientais influenciam igualmente os processos de avaliação. As características da situação (natureza e iminência do perigo, por exemplo) e o suporte social (ajuda e conselhos de outros, por exemplo), terão alguma influência na forma como a pessoa percebe a situação, assim como na avaliação das suas capacidades de controlo. A percepção de controlo resulta da avaliação que o indivíduo faz das circunstâncias, tendo em conta os recursos de que dispõe: se os recursos forem superiores às exigências, o indivíduo tem a percepção de ter controlo sobre a situação; se as exigências são superiores aos recursos, o indivíduo percebe que não detém controlo sobre a situação. O grau de controlo percebido em determinada situação é um factor que será determinante para a escolha das estratégias de coping. O conhecimento da nossa capacidade de controlo pode, deste modo, moderar o nível de stress da relação indivíduo-meio.

A avaliação cognitiva da situação, equivale a uma apreciação, a um julgamento dessa situação. O significado que a situação tem para o indivíduo é, logo à partida, determinante para a avaliar como stressante ou não, ou seja, a situação é ou não considerada benigna segundo o grau de controlo que o indivíduo julga ter sobre ela. A percepção de controlo gera alternativas de resposta e emoções com capacidades motivacionais que influenciam o comportamento subsequente. Deste modo, tanto as emoções como as alternativas de resposta estabelecem uma interacção mútua.

Esta apreciação ou julgamento vai depender das condições externas e dos meios de que o indivíduo dispõe, nomeadamente das suas capacidades de coping.

2.3.2 - As estratégias de coping

Falamos de coping para designar o modo como o indivíduo se ajusta às situações difíceis. Com efeito, confrontado com um acontecimento percebido como ameaçador, o indivíduo não se mantém passivo, antes pelo contrário, tenta enfrentar a ameaça percebida. Assim, o termo coping comporta uma dimensão activa, pois o indivíduo põe em acção uma resposta para fazer face a uma situação geradora de stress.

Lazarus e Folkman (1984), referem que coping representa os esforços cognitivos e comportamentais realizados pelo indivíduo para lidar, reduzir ou tolerar exigências específicas, internas ou externas, que ameaçam ou vão para além dos seus recursos. O coping pode, assim, consistir tanto numa actividade como num processo mental.

Ao coping são atribuídas duas funções principais: a resolução do problema e a regulação das emoções acompanhantes.

Neste sentido, distinguem-se dois grandes tipos de coping segundo as estratégias postas em prática, ou seja, se se centram no problema ou na emoção.

O coping baseado na emoção refere-se a todas as acções e pensamentos que têm como função a regulação interna das emoções. O coping centrado no problema, traduz-se nas actividades que dão ao indivíduo os meios para transformar a situação, de modificar a relação indivíduo-meio.

Deste modo, o coping é percebido como uma estratégia cuja finalidade é a mudança, seja esta mudança a da situação, a da representação que o indivíduo tem dela ou a da emoção associada à situação stressante.

O coping é, com efeito, um esforço de adaptação posto em prática pelo indivíduo face à situação, de modo a reduzir ou a evitar o stress. Mais concretamente, consiste na gestão das exigências impostas pelo meio. Fortemente influenciado pelo contexto situacional, o coping, longe de ser algo estático, é, antes pelo contrário, um processo em movimento. As estratégias utilizadas são alteradas e diversificadas segundo a natureza da preocupação. O comportamento demonstrado pelo indivíduo vai alterando a própria situação o que, por seu turno, constitui um processo de feed-back que indica ao indivíduo se está no bom ou no mau caminho, interferindo com o desenrolar subsequente dos acontecimentos.

Após a resolução da situação, dá-se uma reavaliação dessa mesma situação, avaliando o indivíduo os resultados obtidos em função dos mecanismos usados. Assim, quando face à mesma situação inicial que lhe originou um determinado tipo de comportamento, o indivíduo poderá mudar a sua forma de avaliação permitindo-lhe obter resultados mais favoráveis.

A avaliação cognitiva que o indivíduo fez da situação stressante depende, obviamente, da sua percepção de múltiplos e variados factores, como por exemplo, o seu grau de controlo sobre a situação, a sua capacidade de adaptação, a aprendizagem, a experiência e a interacção familiar, social e cultural. Para além destes factores necessariamente subjectivos, há ainda que contar com a própria personalidade do indivíduo que influencia directamente a forma como as situações são percebidas e os factores nela envolvidos são avaliados, nomeadamente se se trata de um indivíduo com personalidade tipo A ou tipo B.

O processo de avaliação da situação, bem como o processo de avaliação das estratégias de coping utilizadas e, da sua eficácia ou ineficácia, são extremamente importantes na medida em que interferem na percepção da relação indivíduo-meio. Neste sentido, parece necessário ter um modelo de stress no trabalho que inclua a avaliação cognitiva e as estratégias de coping.