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LEM I (1980) (2005) 6 2ª inversão de tríades

3.4 Processos do Aprender

Esta seção apresentará os processos pelos quais os conhecimentos são provocados, estudados e amalgamados. Para tanto, entendemos processo como as práxis existentes no curso, e aprender como a intricada teia de sínteses – e os caminhos para estas sínteses – originadas a partir de ações praticadas e sofridas. A idéia de aprendizagem enquanto processo está fundamentada não apenas em pensadores da educação (Freire, 1996; Swanwick, 2003) mas também é coerente com a perspectiva composicional apresentada por Laske (1991).

Laske, em busca de uma epistemologia da composição, fala sobre o ciclo de vida composicional, afirmando que este “compreende todos os processos (mental e material, imaginado assim como factual) que ocorrem durante o ato de fazer arte”, e complementa: “uma rígida separação entre criador e artefato não é frutífera”43

(Laske, 1991, p. 244).

Uma abordagem processual da aprendizagem proporciona uma relação “menos rígida” entre criador e criatura, onde o trabalho final (tanto as obras quanto a formação do compositor) é fruto das trocas e negociações entre ambos, numa espécie de interação onde as vidas da criatura e do criador se transformam mutuamente. O ciclo composiconal proposto pelo autor possui quatro níveis: análise, síntese, especificação e implementação (Laske, 1991, p. 244). Pensar a existência

43 The compositional life cycle comprises all processes (mental and material, imagined as well as factual) occuring during the act of art making. A rigid separation of maker and artifact is not fruitful.

de passos do processo composicional, mesmo sabendo que eles não são rígidos e se comunicam constantemente, contribui para imaginar formas de fomento e treino desses passos. Assim, um esquema descritivo da realização composicional, pode orientar a criação de um modelo útil para descrever o processo de ensino, já que possibilita focalizar sobre “nós da teia” e, a partir deles, compreender os caminhos construídos por cada estudante e/ou fomentar e orientar o seu desenvolvimento.

Vejamos o ciclo de vida composicional proposto por Laske e, em seguida, o vetor temático Processos do Aprender, cujos sub-vetores são construções tipológicas que objetivam evidenciar processos de aprendizagem presentes durante a realização composicional.

Figura 7 – Ciclo de Vida Composicional44 PLANO/ IDEIA M2 M1 DADOS BRUTOS M3 OBRA DE ARTE CICLO DE VIDA COMPOSICIONAL

MODELO DE MATERIAIS MODELO DE DESIGN

[Genérico] NÍVEL DE SÍNTESE P A S S O S D O P R O C E S S O REALIZAÇÃO COMPOSICIONAL NÍVEL ANALÍTICO NÍVEL DE ESPECIFICAÇÃO DESIGN [detalhado] PROT OTIPAG EM RÁPI DA NÍVEL DE IMPLEMENTAÇÃO Fonte: Laske, 1991, p. 245

A figura acima demonstra um esquema baseado em quatro níveis e três modelos. O nível analítico corresponde à compreensão dos dados (materiais e/ou processuais). Este nível do pensamento composicional faz parte do Modelo de Materiais45, o qual é composto por: 1) um quadro de decisões; 2) oferta de opções;

44 Tradução livre.

45 A construção do ciclo de vida composicional composto de um Modelo de Materiais e um Modelo de Design corrobora com a ideia de a composição ser uma atividade baseada em modelos, e é uma tentativa do autor de buscar diálogo entre as teorias que discutem composição enquanto atividade baseada em exemplos e atividade baseada em regras. Para compreender melhor a interdependência entre exemplos e regras na atividade composiconal ver Laske, 1991.

3) um princípio de seleção. A seleção realizada dentre as possibilidades de materiais, processos e decisões, conduzem à limites (escolhas) necessários à efetivação do design composicional, o qual está baseado na ideia inicial. A realização de escolhas e determinação de limites configuram um campo de interpolação característico do nível de síntese, onde o conhecimento analítico construído a partir dos dados estáticos e das condições do processo possibilita o funcionamento do design. Este é um importante momento de transição, onde ocorre a passagem do Modelo de Materiais para o Modelo de Desgin. As funções e relações funcionais oriundas das delimitações dos componentes da obra configuram o nível de especificação, e a aplicação e materialização destas funções e relações funcionais, realizados a partir da escolha de recursos, constituem o nível de implementação. Uma vez a implementação realizada a obra de arte está constituída. (Laske, 1990).

A realização composicional, no percurso da figura apresentada, origina-se no plano da ideia, a partir do qual dados (materiais) são gerados, sendo estes, recursos para três modelos de obra de arte: Modelos de Materiais (M1), Modelo de Design [genérico] (M2), Modelo de Design [detalhado] (M3). A interpolação existente entre M1 e M2 concentra a passagem do pensamento analítico para o sintético, onde, a compreensão dos dados que fundamentam o conhecimento analítico possibilita o delineamento da forma musical baseada na ideia. O aprofundamento do pensamento sintético a partir de especificações conduz ao M3. Segundo o autor, a ligação direta da ideia ao M3, funcionando como uma prototipagem rápida, desconsidera as várias etapas de modelagem por qual a ideia passa, sendo assim, um caminho que ignora a comunicação existente entre os vários modelos e é,

portanto, errôneo. Apesar deste esquema induzir ao pensamento de que há um sentido no qual ocorre o processo composicional, o autor pondera dizendo que o ciclo pode começar de qualquer um dos pontos mencionados, a exceção da obra pronta. Iniciar uma obra a partir de pontos diferentes faz com que as funções e significados dos quatro níveis sejam modificadas (Laske, 1990).

O ciclo de vida composicional indica que cada ideia composicional conduz a necessidades de aprendizado distintas, uma vez que a transição entre cada nível é dependente dos materiais e processos gerados a partir dela, havendo, portanto, um constante e estreito relacionamento dialógico entre compositor e composição. Os processos de aprendizagem necessários à realização composicional, então, são construídos pelas relações existentes entre o compositor e a obra. Estes processos também estão ligados à relacionamentos entre o compositor e o meio externo, uma vez que a própria ideia composiconal (e portanto suas derivações) é oriunda do arcabouço sociocultural do qual o compositor compartilha (Laske, 1991), assim, a vivência experenciada pelo estudante-compositor no convívio no espaço do curso de composição desencadeia processos de aprendizagem importantes em seu desenvolvimento. A partir dos níveis presentes no ciclo de vida composicional e da experiência apresentada pelos sujeitos do curso de composição, agrupamos cinco categorias que proporcionam aprendizagens desencadeadas durante o curso.

Figura 8 – Processos do Aprender

Os tópicos presentes neste modelo são transversais, apesar de atuarem de formas específicas e mais enfaticamente em alguns pontos do ciclo composicional. É fácil imaginar que Experimentações podem desencadear processos de Informação e/ou Sensibilização, e não é difícil imaginar a diferença de foco de atuação de cada uma delas. Estas categorias também são coerentes com o conceito de composição aqui adotado, e apresentado anteriormente, a saber: processo perene e transversal que proporciona orientação para experimentação, improvisação ou suporte físico (partitura, gravação ou equivalente) e suas execuções, e que sustenta percurso da idéia até a sua realização, passando pelos métodos utilizados, formas de resolução de problemas, execução e ressignificação.

Os Processos de Informação dizem respeito aos conhecimentos teóricos que subsidiam a realização composicional. São exemplos destes processos aulas expositivas, audições comentadas e/ou acompanhadas de partituras, análises, leituras, e também conversas, discussões abertas, emissão de opiniões; portanto podem ser vivenciados a partir de experiências nas dependências formais e informais do curso. Em geral, o que se objetiva a partir do desenrolar deste processo é que uma série de informações estejam disponíveis ao compositor, aumentado o

Processos de Informação Processos de Sensibilização

Experimentação

Processos de implementação Avaliação/síntese

referencial pelo qual as ideias surgem e a oferta de opções para o desenvolvimento dessas ideias, assim, atua principalmente sobre o nível analítico, e proporciona saberes necessários ao desenvolvimento de toda a obra. Estes processos estão diretamente ligados à experiência de Expansão de Horizontes, uma vez que ampliam o leque de atuação do estudante-compositor e proporciona contato com novas concepções e práticas.

Os Processos de Sensibilização são desencadeados a partir de experiências que provocam surpresas e novidades conceituais e sonoras, de maneira a modificar a condição afetiva entre o estudante e o objeto da experiência. Eles atuam sobre a motivação do estudante e ampliam seus referenciais para compor, podendo ser desencadeados a partir de várias atividades, por exemplo: audições, histórias de vida de professores, improvisações, orientações e discussões. Estes processos proporcionam relações de identificação entre o estudante e curso, bem como o estudante e suas composições, contribuindo para suas idealizações e concepções sobre o processo composicional.

Experimentação enquanto processo de aprendizagem proporciona ao estudante, via experiência empírica, descobertas que ampliam seu repertório de materiais e processos disponíveis durante o seu compor. Durante experimentações o exercício de síntese é constante, onde o compositor procura formatar um material inicial numa nova estrutura significante, via seu desenvolvimento ou combinação com outros materiais. Ela pode gerar necessidades de manipulação de materiais – e portanto desenvolvimento ou descoberta de técnicas – bem como inovações conceituais e sonoras, exercitando a dimensão de idealização do compor.

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