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PROCESSOS SOCIAIS E REDEFINIÇÕES TERRITORIAIS DO TRABALHO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO *

Fernanda Keiko Ikuta Antonio Thomaz Júnior

Introdução

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) vem vivenciando a passagem de um urbano organizado a partir do trabalho fabril estável, para um urbano que deve conviver com uma representação crescente do trabalho precário e informal.

As mudanças no processo produtivo e nas relações de produção estão gerando um trabalho cada vez mais complexificado, híbrido de: trabalho regulado, com direitos trabalhistas, com o trabalhador em sua maior parte sindicalizado, cada vez mais escasso; e trabalho precário, vivenciado, em grande parte, pelas gerações atuais que começam a se incorporar ao mercado de trabalho.

Essa reestruturação produtiva é acompanhada da reestruturação do metabolismo social, da reestruturação do modo de vida e da socialização. Ou seja, não está ocorrendo apenas uma reorganização do mundo do trabalho, mas acontece, sobretudo, uma reorganização da vida, do cotidiano adequada à nova produção (e reprodução social) capitalista. Trata-se de uma nova ofensiva do capital que não atinge somente a produção, mas também as instâncias da ideologia, da política e da cultura. Neste sentido, o discurso das empresas, que se encarrega da “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital, passa a ser um discurso que se enuncia não apenas para o mundo do trabalho, mas para a vida fora do trabalho (ALVES, 2006b). Esse ambiente ideológico impregnado de valores individualistas de mercado, necessários ao capitalismo flexível, invade os espaços do cotidiano e é formador de mentalidades, inclusive, obviamente, daquelas que estão pensando, vivendo, reivindicando, gestando as cidades.

As intervenções urbanas na RMSP, principalmente na última década, mostram uma específica articulação definida pelos atores que as impulsionam (públicos, privados, nacionais e internacionais) e pelos projetos que as fundamentam. De todas as formas, assistimos a uma priorização das inversões vinculadas ao mercado global que intensificam a precarização do trabalho e da vida dos trabalhadores.

A precariedade estrutural do trabalho e sua segregação/precarização espacial

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um emprego, os trabalhadores já não esperam por direitos trabalhistas e a maioria deles já não tem os sindicatos como referência. Todavia, ainda que a atualidade nos diga que os ”tempos fordistas” se acabaram, “o trabalho não deixa de ser uma dimensão estruturante da vida social” (TELLES, 2006, p. 173), até mesmo porque “as estratégias de sobrevivência recriam o trabalho urbano na metrópole” (SILVA, 2005, p. 42). Ao contrário do que advoga a tese da perda da centralidade do trabalho, vemos a constituição de novos mecanismos do capital para se expandir, modificando a sua forma de explorar o trabalho, por exemplo, ao trazer formas de trabalho consideradas pré-capitalistas para os

seus domínios1. A precariedade estrutural assumiu novos contornos, há hoje uma “nova

precariedade, decorrente, em maior parte, do processo de precarização que atingiu a totalidade viva do trabalho” (ALVES, 2006a, p.1).

Isto é, com a nova ofensiva do capital, o processo de precarização atingiu “a totalidade viva do trabalho” em suas múltiplas formas objetivas e subjetivas. Neste sentido, observamos uma extensão da lógica do capital que não se restringe ao locus empresarial, ao locus de trabalho, mas que abarca todas as dimensões do cotidiano, que cria um modo de vida adequado à nova produção (e reprodução) capitalista. Essas transformações fazem com que o trabalhador brasileiro vivencie (e perceba) outra experiência de trabalho, e concomitantemente, outra experiência urbana.

Seguindo a formulação de Alves (2006a, p. 1 - 2), para explicar esses processos fundados na precariedade estrutural, na precarização e na nova precariedade do trabalho no Brasil, cabe considerar as suas determinações causais de primeira, segunda e terceira ordem. Determinações de 1ª ordem: vinculam-se à natureza do modo de produção capitalista (divisão da sociedadeem classes sociais, fundada na propriedade privada e na divisão hierárquica do trabalho). Determinações de 2ª ordem: são as particularidades concretas do capitalismo no Brasil (natureza colonial-escravista e o caráter dependente e subalterno da economia produtora de mercadoria da nossa formação capitalista). Determinações de 3ª ordem: vinculam-se às mutações estruturais (e de conjuntura) do capitalismo brasileiro nos últimos 30 anos (no bojo da mundialização do capital).

Para o objetivo desse texto, dentro da particularidade histórica do capitalismo no Brasil é preciso considerar ainda a particularidade histórica da cidade de São Paulo e seu entorno metropolitano, para então compreender a historicidade da precariedade estrutural do trabalho e sua segregação/precarização espacial na RMSP.

Desta maneira, vale recordar que da cidade comercial do café no século XIX, São Paulo foi se adentrando num processo de industrialização e urbanização vertiginosos, ganhando uma posição regionalmente dominante que em pouco tempo ganhou dimensão nacional. Suas privilegiadas condições para a localização industrial e a disponibilidade de capitais acumulados no surto cafeeiro, entre outros fatores, atraíram um grande contingente de migrantes, primeiro europeus e mais tarde do próprio país, constituindo-se, em meados do século XX, como metrópole com o status de capital econômica do Brasil.

A relevância do processo de industrialização, iniciado no século XIX, as condições para a localização industrial, e a redefinição da estrutura formal do espaço das cidades

1 Para uma discussão aprofundada sobre a centralidade do trabalho consultar: Antunes (1999); Organista (2006) e Thomaz Junior (2007).

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fazem culminar o processo de metropolização2. A acumulação de capital, cuja oferta de empregos atrai um grande contingente migratório estrangeiro e nacional, é outro fator que dá a Região importância nacional.

Quando a possibilidade do fim da escravatura se torna mais concreta3 a imigração européia explode. Em 1901, treze anos após a declaração da Abolição da Escravidão, é a data em que se considera o início do processo migratório para São Paulo. Neste ano, o Estado de São Paulo contava com cerca de 50 mil industriários e estimasse que 90% dos trabalhadores do Estado eram estrangeiros4.

A intensificação do fluxo de nordestinos, mineiros e fluminenses para o Estado de São Paulo se inicia em 1923. E em 1935, com o estímulo do governo de Armando Salles de Oliveira, as entradas passaram a ser maciças (em 1939 alcançam a casa dos 100 mil). Esses migrantes se espalharam por todo o Estado de São Paulo, mas a Região Metropolitana foi a mais importante área de atração populacional do Estado5. São Paulo passa a concentrar o fluxo migratório interno de trabalhadores expulsos do campo que agora irão integrar-se como mão-de-obra assalariada industrial, e mais tarde, a partir dos anos de 1980, nos serviços.

Mas quais eram as condições gerais de vida e de trabalho desses trabalhadores que viveram a transição da cidade comercial do café para o processo de industrialização e metropolização?

As estruturas desiguais e arcaicas no interior fomentavam o êxodo rural e isso acirrava os conflitos sociais urbanos. A Lei de Terras de 1850 impediuque um imenso contingente de trabalhadores brasileiros tivesse acesso à posse da terra e, conseqüentemente, impediu a pequena produção.

Esses trabalhadores ficam, então, condenados a serem massa subalterna do campo e da cidade: “os que não conseguiram se inserir na indústria e serviços capitalizados, compuseram o contingente de massa urbana marginalizada do mercado de trabalho” (ALVES, 2006a, p. 1). O percentual de trabalhadores sem emprego fixo em 1919, 15% da população; os baixos salários decorrentes, principalmente, de práticas repressivas nas grandes empresas; mas também o achatamento do nível salarial devido ao aumento da participação das mulheres, que chega a 30,8% neste período (NOVY, 2002, p. 210 – 211), são reveladores da peculiar precariedade estrutural de longa data do trabalho no Brasil, da sua condição de historicamente precarizado. Seguindo esta tendência, a integração no chamado mercado formal de trabalho torna-se cada vez mais restrita e

2 A RMSP ganha, então, importância nacional como pólo industrial: “em 1907 a participação de São Paulo [cidade] na produção industrial nacional cifrou-se em 16%, em 1919 em 32% e em 1939 em 41%” (NEGRI et al. 1988, p. 6 apud NOVY, 2002, p. 202).

3 Aqui cabe enfatizar dois elementos: 1. É freqüente a afirmação de que São Paulo tenha impulsionado a transição para o trabalho livre assalariado, todavia, NOVY (2002, p. 210) relativiza essa afirmação: “perseguindo uma estratégia de preservação inercial do poder, os barões do café só tomaram o trem do trabalho assalariado ‘progressista’ quando não lhes restou outra opção”. 2. A natureza colonial-escravista da nossa formação capitalista deixou uma clivagem racial no interior da determinação de classe que marca, “de modo indelével, a desigualdade social no País (os afro-descendentes constituem o maior contingente

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assim, um contingente cada vez maior (tanto de trabalhadores que continuam a chegar à metrópole, quanto de trabalhadores já residentes nela) é submetido ao desemprego, ao subemprego e a toda precariedade das condições de vida.

Essas relações precárias de trabalho e de vida não ocorrem sem a presença de conflitos urbanos. Quais são essas mudanças essenciais no espaço urbano e quais eram as políticas públicas? Que conflitos sociais geram? Como é o surgimento da periferização dos trabalhadores e os seus problemas habitacionais?

Ao nos referenciarmos à natureza da sociedade escravista, vemos que, até certo ponto, a segregação espacial não era, então, uma necessidade fundamental. A hierarquização do espaço praticamente se inicia com a sociedade de trabalhadores assalariados livres; a cidade se expande e as classes sociais começam a se separar no espaço urbano, isto é, os trabalhadores são expulsos para a periferia.

O conflito central da época dizia respeito ao uso da terra na cidade. Em uma economia escravista, a segregação das classes sociais não carecia de expressão espacial. Muito pelo contrário, a presença de escravos era insubstituível para a qualidade de vida da camada superior. Mas, em uma sociedade de trabalhadores assalariados livres, o desejo de segregação espacial aumentou nitidamente por parte da burguesia. O conflito urbano transformou-se essencialmente em um conflito sobre o modo de uso privado e público da cidade e a forma da intervenção do planejamento do Estado no nível local. De início, o crescimento vertiginoso se deu de forma desordenada e conduziu a uma mistura de bairros comerciais, industriais e residenciais. Com base nos argumentos dos urbanistas, chamava-se a atenção à situação sanitária e higiênica deficiente nos cortiços dos bairros operários e lamentava-se a corrupção dos costumes nesses bairros “perigosos”. A camada superior buscava uma hierarquização do espaço com uma clara estrutura local de centro e periferia. A classe trabalhadora foi expulsa dos bairros próximos ao centro e recebeu espaço habitacional na periferia da cidade (NOVY, 2002, p. 207 - 208).

Assim, com a expansão da indústria surgem os bairros residenciais nobres, ao mesmo tempo em que começam a surgir os bairros industriais e operários. Nos primórdios da industrialização, final do século XIX e primeiras décadas do século XX, São Paulo tinha um padrão concentrado de urbanização que criou uma interessante associação entre moradia e trabalho, onde o bairro proletário torna-se um núcleo de vida social. Com a consolidação da indústria esses bairros, sobretudo a partir dos anos de 1940, passam por uma profunda transformação com a “dissolução de sua identidade como bairros proletários” (ANDRADE, 2004, p. 172). A malha urbana passa a ser mais dispersa e segregada, com a expulsão de grande parte dos trabalhadores para loteamentos periféricos, sem infra-estrutura adequada e sem serviços básicos, onde eles foram obrigados a buscar aluguel mais barato ou a autoconstruir suas casas. Ou seja, o deslocamento forçado para a periferia significou uma degradação das condições de vida desses trabalhadores que deixaram de ter em seu entorno água, iluminação, esgoto, calçamento, transporte público, educação, saúde.

Como apontamos acima, todo este contexto urbano fundado em uma estrutura profundamente desigual e arcaica acirra os conflitos sociais urbanos expressos, por exemplo, no movimento sindicalista de orientação anarquista que organizou os trabalhadores nas greves (contra

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as más condições de trabalho – perdas salariais maciças; e para “salvar os seus bairros residenciais da ameaça de demolição”6) de 1917 e 1918 (NOVY, 2002, p. 210).

Vale destacar que, como vimos, a formação de bairros industriais e operários, “núcleos de vida urbana aglutinando a parcela maior da força de trabalho” (ANDRADE, 2004, p. 172), está diretamente ligada ao princípio da industrialização na Cidade de São Paulo. Mas quando a Cidade se consolida como pólo industrial brasileiro, impulsionando freneticamente a urbanização, ocorre, mais nitidamente a partir dos anos 1940, uma “transformação profunda desses bairros, no sentido da dissolução de sua identidade como bairros proletários que, ao mesmo tempo em que os distinguira, constituíra elemento de redefinição da própria Cidade” (ANDRADE, 2004, p. 172). Tratava-se de estratégias que visavam fragmentar os trabalhadores (que eram, na sua maior parte, imigrantes) por meio da “dissolução de um elemento fundamental na constituição dos bairros operários – a associação estreita entre moradia e trabalho” (ANDRADE, 2004, p. 183)7.

Foi uma tentativa clara de desterritorializar os trabalhadores. Desterritorializá-los não somente, não necessariamente, deslocando-os. Parte dos trabalhadores foram desterritorializados pelo deslocamento, e a maior parte deles foram desterritorializados mesmo sem ser deslocados, porque, de certa forma, esses trabalhadores perderam, ou tiveram fragilizado, o controle, o comando do seu território, uma vez que os elementos que os agregavam foram dissolvidos. E, partindo de uma interpretação das formulações de Haesbaert (2004, p. 237), essa perda de controle ou comando do território (resultante da estratégia dos grupos hegemônicos que o colocaram em disputa) é também um processo de desterritorialização.

Considerando todo este contexto, nos instiga querer conhecer mais de perto para onde estavam voltados os interesses e ações governamentais e que respostas eram dadas às demandas sociais.

A modernização da infra-estrutura de São Paulo para que ela se tornasse “o centro de um sistema de produção crescentemente integrado no plano nacional”, foi apoiado pelos governos federal e estadual. No plano local, “sucediam-se prefeitos que investiam mais na infra-estrutura física e outros que preferiam ampliar os serviços de natureza social” (NOVY, 2002, p. 214).

De um modo geral, o Estado populista estava mais interessado em viabilizar o processo de acumulação capitalista do que, por exemplo, investir na construção de casas populares. Por essas vias, se consolida, entre os anos de 1940 e 1964, o denominado padrão periférico de crescimento, com a iniciativa privada à frente do grande negócio que era a implantação dos loteamentos periféricos que alavancava a especulação imobiliária a partir da valorização dos vazios urbanos deixados por essa prática de construção periférica. Todavia, a política clientelista utilizava como instrumento essencial para a distribuição de recursos públicos a troca de votos por melhorias locais, ou seja, ela articulava localmente os problemas sociais. A criação das Sociedades de Amigos de Bairro (SABs), que atuou ao lado da Sociedade dos Amigos da Cidade (uma associação de

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profissionais liberais e da camada superior, fundada em 1934) foi um instrumento refinado do clientelismo. Tentava-se introduzir algumas das demandas da população no processo político como contrapartida ao voto, organizado por essas associações, de um bairro em um candidato a vereador (NOVY, 2002, p. 214).

Já o “projeto urbano” da ditadura militar era promover a integração nacional, que significava completar a ocupação e a unificação do país sob uma territorialidade capitalista. Neste sentido, ocorre a institucionalização da Política Habitacional Brasileira, amparada no falacioso discurso da redução do déficit habitacional difundido pela ditadura militar. O esquema Sistema Financeiro Habitacional (SFH)/Banco Nacional de Habitação (BNH) representou a forte intervenção estatal ofertando as condições para o mercado privado se apropriar “da maior parcela do subsídio habitacional favorecendo as classes médias urbanas e, até mesmo, participando de sua consolidação, a qual cumpriu papel fundamental como apoio político ao regime militar” (MARICATO, 2000, p. 162). O BNH entra, então, no regime militar, como uma poderosíssima máquina financeira, econômica, que movimenta as empreiteiras e, de alguma maneira, cria o sonho da casa própria. 80% da produção do BNH estiveram voltados para a população de rendas médias e altas, apesar de anunciar-se como um sistema que deveria atender à população de baixa renda, o que demonstra seu papel de estimulador do mercado imobiliário, das empreiteiras, levando a cabo a especulação imobiliária e a segregação social.

Esta política habitacional e urbana expandiu e aprofundou as tendências já existentes. A metropolização capitalista imprime suas clivagens no espaço urbano: de um lado os trabalhadores que continuam indo para os cortiços e as favelas que se multiplicam, e do outro, os condomínios de classe média e alta. Como os trabalhadores reagem a este processo de favelização e periferização? De imediato não reagem. Segundo Maricato, somente quando a classe média é atingida pela dificuldade de acesso à moradia, e que em 1983, a idéia de crise habitacional começa a ganhar espaço na mídia, é que “há uma clara consciência social sobre ela” (MARICATO, 1988, p. 3).

Além das demandas habitacionais, no período de 1972 a 1984, outras demandas são encampadas, mais especificamente, tratava-se de lutas pela redemocratização do país e acesso aos serviços públicos8.

Por fim nos perguntamos, como segue, no plano macro, a conjuntura das relações de produção? Consolida-se a acumulação fordista fundada no tripé capital, Estado e trabalho, até que a crise estrutural do capital dá sinais de que ele precisa se reorganizar no seu sistema ideológico e político de dominação. Esta resposta do capital para sua crise, isto é, a adoção do toyotismo e suas formas de acumulação flexível, de gestão organizacional e de avanço tecnológico, tem repercussões

8 GOHN (1997, p. 379 - 380) aponta as seguintes lutas: Movimentos nacionais: movimento pela anistia; ciclo de greves generalizadas; movimento feminista; mobilização nacional contra o regime militar envolvendo partidos políticos, sindicatos, movimentos populares, etc.; “diretas já”. Movimentos sociais populares urbanos: “custo de vida-carestia”; movimento pelos transportes públicos; movimento pela saúde; movimento de luta por creches; movimento dos professores das escolas públicas de 1º e 2º grau; movimento de associações de moradores; CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) da Igreja católica; movimento de moradia; movimento dos desempregados. Movimentos populares rurais: CPT (Comissão Pastoral da Terra; MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Movimentos sindicais: ENCLAT (Encontro Nacional da Classe Trabalhadora; CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores); CUT (Central Única dos Trabalhadores); CONTAG (Confederação Geral dos Trabalhadores da Agricultura). Movimento estudantil: UNE (União Nacional dos Estudantes); UBES (União Nacional dos Estudantes Secundaristas).

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diretas para o trabalho, até porque cumpre o papel de ser uma ofensiva do capital para recuperar a sua hegemonia, o que significa controlar as lutas sociais (o conflito).

Mas antes de entrarmos na discussão da reestruturação do capital e sua nova ofensiva sobre a classe trabalhadora, vale a síntese/balanço que Alves nos oferece sobre este momento de formação das determinações histórico-particulares do Brasil:

Além da via colonial-escravista, de cariz oligárquico, a formação social capitalista no Brasil é marcada pelo caráter dependente e subalterno da economia produtora de mercadorias. O Brasil surge no cenário do capitalismo industrial mundial subsumido aos interesses imperialistas, primeiro da Grã-Bretanha e depois dos EUA. Ora, diante da irresolução estrutural da questão democrática, tendo em vista a exclusão de imenso contingente de trabalhadores do campo e da cidade do acesso à propriedade da terra e ao mercado de trabalho com direitos sociais reconhecidos por lei e uma estrutura de poder oligárquico, que impediu qualquer movimento de contestação à ordem senhorial ligada ao latifúndio e a grande indústria, a questão nacional tornou-se irremediavelmente inconclusa, não apenas devido à marginalidade de imensos contingentes da PEA [População Economicamente Ativa] que caracterizou nossa formação capitalista, mas à subalternidade candente do País aos interesses dos centros imperialistas (ALVES, 2006a, p. 2).

Nova precariedade do trabalho: as múltiplas configurações do proletariado precário

De 1968 a 1973, a Grande São Paulo vivia o pleno vigor de seu crescimento acelerado, quando, nos anos 1970 inicia-se uma política de desconcentração econômica e industrial da Grande São Paulo ou, como aponta Novy (2002), uma inversão da polarização.

A relocalização industrial é estimulada, em São Paulo e no Brasil, por meio de políticas públicas tanto estaduais quanto federais9. Estimulou-se, então, a “localização industrial em novas ou antigas cidades industriais, localizadas ao longo das vias de circulação, num raio de 150 km da capital” (FRANCESCONI, 2004, p. 122).

O que ocorre então é uma desconcentração10 com centralização do capital e

aumento da importância da cidade na medida em que aumentam suas funções de controle econômico e dos serviços financeiros. Mas é basilar entender aqui que a industrialização do interior não foi uma simples extensão de aglomeração da cidade de São Paulo, na verdade, o estado se especializou por funções. A RMSP se concentrou em ramos de alto valor e o interior do estado no setor agroindustrial. A cidade de São Paulo melhora qualitativamente a estrutura de produção, mas aumenta sua participação no setor financeiro, bancário e securitário, desenvolvendo o papel de metrópole financeira do Brasil e, conseqüentemente, funções de uma metrópole internacional.

O que este processo significou em termos de problemas urbanos e condições de vida dos trabalhadores? Quais os sentidos e lugares do trabalho nesta metrópole cada vez mais financeira

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