• Nenhum resultado encontrado

PRODUÇÃO IN VIVO DE EMBRIÕES EM PEQUENOS RUMINANTES Gustavo Ferrer Carneiro

Instituto Caroatá – Eng. São João s/n – Várzea – CEP: 50.741-520 – Recife/PE – Brasil Correspondência: gustavo@caroata.com.br

Resumo

A caprino-ovinocultura apresenta-se em franca expansão tecnológica, sobretudo nos países em desenvolvimento. O aumento da produtividade agregada ao melhoramento genético está atrelado ao uso das diversas biotecnologias de reprodução assistida. Entretanto, existem ainda pontos críticos que necessitam de avanços, tais como a alta variabilidade no número final de embriões viáveis, nos rendimentos obtidos após criopreservação embrionária, falha na fertilização e importância da regressão do corpo lúteo. O objetivo desse trabalho foi rever algumas das biotécnicas empregadas no dia a dia, relatando a produção de embriões in vivo avaliando suas limitações, destacando possibilidades para melhoria desses protocolos. O aprimoramento destas técnicas podem acelerar a produção e o desenvolvimento tecnológico nessas espécies aumentando assim a eficiência produtiva e incrementando o desenvolvimento de regiões desfavorecidas. Palavras-chave: caprino, ovino, superovulação, embriões, transferência de embriões.

Introdução

O desenvolvimento da caprino-ovinocultura vem apresentando um ciclo de crescimento mundial. Esse crescimento foi intensificado, sobretudo nos países em desenvolvimento nos últimos anos que são detentores dos maiores rebanhos. Projeta-se um crescimento da ordem de 5 vezes o rebanho atual nos próximos 20 anos multiplicando o rebanho atual em mais de 50 milhões de cabeças (Fonseca, 2006). Dentro dessa perspectiva, há uma necessidade da aplicação de técnicas de reprodução assistida com o objetivo de aumentar a eficiência reprodutiva e produtiva do rebanho para que possa haver um aproveitamento mais eficiente dos genótipos utilizados.

As técnicas de reprodução assistida como inseminação artificial (IA) e transferência de embriões foram introduzidas na indústria caprina e ovina com os objetivos principais de acelerar o ganho genético de animais superiores e de superar alguns obstáculos de eficiência reprodutiva (Smith, 1986).

O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão das diversas técnicas de reprodução assistida nos pequenos ruminantes avaliando as perspectivas de futuro do uso da biotecnologia e seu impacto na indústria como um todo.

Produção in vivo

A produção in vivo nos pequenos ruminantes tem apresentado um desenvolvimento considerável nos últimos anos. A transferência de embriões (TE) possibilita a multiplicação de indivíduos geneticamente superiores. Permite ainda a redução do intervalo entre gerações por possibilitar a colheita de embriões de fêmeas caprinas jovens e pré- púberes (Salles et al., 2000). Uma das barreiras para a eficiência do tratamento superovulatório diz respeito à variabilidade individual da doadora em relação à eficiência das gonadotrofinas exógenas no recrutamento, crescimento, maturação e ovulação dos folículos (Cognié et al., 2003). A variabilidade de resposta aos tratamentos hormonais ainda são questões a serem analisadas. As possíveis causas estão relacionadas com fatores extrínsecos (origem, pureza e protocolos de administração das gonadotrofinas) e fatores intrínsecos (raça, idade, estado sanitário, nutricional e reprodutivo). Os efeitos derivados da origem e pureza das gonadotrofinas foram identificados nos primeiros estudos, que descreveram uma alta varibilidade associada as preparações comerciais de FSH, devido a fatores como lote de gonadotrofina utilizado (Wollen et al., 1985) e principalmente com relação ao conteúdo variável de LH nos compostos (Lindsell et al., 1986), que afeta diretamente a resposta superovulatória (Chupin et al., 1987, Torres et al., 1987). Estes estudos favoreceram o uso e a purificação de gonadotrofinas, melhorando a qualidade das respostas. Por outro lado, ficou clara a eficiencia da utilização de doses decrescentes comparadas com doses constantes de hormônios superovulatórios em termos de taxa de ovulação e número de embriões viáveis.

A partir de estudos com ultrasonografia (Gonzales-Bulnes et al., 2002) e endoscopia (Brebion et al., 1992) observou-se que a variabilidade de resposta está intimamente relacionada com a presença de folículos antrais (2-3 mm) nos ovários e que os resultados negativos no número de embriões transferíveis é diretamente afetado pela presença de folículos maiores (> 6 mm) quando do início do tratamento superovulatório (Cognié et al., 2003). Cognié et al. (2003) destacam o uso de agonistas e antagonistas do hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH) associado ao progestágenos com o objetivo de suprimir a liberação endógenas destas gonadotrofinas. Dessa maneira, esse grupo testou um pré-tratamento de 2 semanas com um agonista (Buserelina, 40µg/dia, Receptal®) ou 10 dias

Acta Scientiae Veterinariae 36(Supl. 2): s215-s222, 2008.

ISSN 1678-0345 (Print) ISSN 1679-9216 (Online)

com um antagonista (Antarelix, 0.5 mg/dia, Teverelix®). Os resultados demonstraram uma diminuição dos folículos

maiores, um aumento no número dos folículos menores e um conseqüente aumento na resposta do FSH em até 50% (Brebion et al., 1992; Cognié, 1999).

Quanto aos fatores intrínsecos, o efeito da raça foi prontamente identificado (Bindon et al., 1986). A influência da idade sobre os protocolos superovulatórios é também reconhecida e a relação entre nutrição e rendimento embrionário foi estabelecida em animais subnutridos, comprometendo a competencia de folículos e ovócitos (O’Callaghan et al., 2000), a função luteínica (Jabbour et al., 1991), e o desenvolvimento embrionário (Abecia et al., 1997). Entre os fatores relacionados ao estado reprodutivo, o estado do ovário tem uma importância vital na resposta aos tratamentos superovulatórios. Apesar da origem dos hormônios e do protocolo de administração utilizado, tanto a taxa de ovulação, como o número de embriões coletados estão estreitamente relacionados com o número de folículos capazes de responder às gonadotrofinas que se encontram presentes no ovário no momento da administração da primeira dose de FSH e estão favorecidos ainda pela ausencia de folículos dominantes e presença de corpos lúteos (Gonzales-Bulnes et al., 2004).

Um outro problema a ser transposto diz respeito á formação de anticorpos anti-FSH de origem porcina após sucessivas administrações destas gonadotrofinas no protocolo de superovulação com conseqüente diminuição na resposta ovariana. Esta resposta imunitária provoca uma diminuição considerável no número de ovulações, chegando a atingir 50% das fêmeas a partir do segundo ou terceiro tratamento efetuado a intervalo de 40 a 60 dias em caprinos (Baril et al., 1989) e em ovinos (Torres & Sevellec, 1987). A indução repetida de multiovulações com FSH ovino ou caprino não provoca reação imunológica, em virtude de se tratar de gonadotrofina homóloga à espécie (Baril et al.,1992). Essa reação imunogênica também afeta as receptoras sincronizadas para a transferência de embriões provocando uma resposta negativa após repetidos programas. O uso do FSH-P para indução e sincronização de cio e ovulação nas espécies ovina e caprina tem sido proposto (Isabel Santos, comunicação pessoal) como uma forma de substituição ao uso do eCG. A fonte de FSH é obtida por extrato purificado de hipófise suína, tendo atividade 84% FSH e 16% LH, relação ainda mais segura do que a proporção existente no eCG (75% FSH e 25% LH) previamente utilizado. Ambos hormônios atuam sobre o estimulo e crescimento folicular permitindo um completo desenvolvimento dos folículos e sua ovulação ao término do protocolo. A vantagem do FSH-P, ao contrário do uso do eCG, está na diminuta formação de anticorpos pós tratamento, importante para receptoras e para animais que recebem vários tratamentos ao longo de sua fase produtiva. Em Abril de 2007 realizamos um projeto piloto com sincronização de um grupo de 10 receptoras com 10 mg de FSH-P e um grupo controle contendo 10 receptoras que recebeu 150 UI de eCG apresentando resultados satisfatórios em termos de resposta ovulatória sem diferença estatística entre os grupos experimentais apesar do baixo número de animais dos grupos pesquisados (dados não publicados). Estes dados preliminares nos fornece importantes indícios e nos incentiva a maiores pesquisas na área com o intuito de desenvolver um protocolo que minimize os problemas decorrentes de reação imunogênica.

Outro desafio é com relação a variabilidade individual entre as doadoras e a incidência de regressão luteínica precoce em fêmeas superovuladas interferindo negativamente na taxa de recuperação embrionária e na qualidade e viabilidade dos embriões (Simplicio e Santos, 2000). Esta regressão precoce dos CL’s pode ser prevenida com a utilização de inibidores da síntese de prostaglandina (Salles et al., 1996). A utilização dessas drogas no dia da ovulação e no dia da recuperação embrionária permite uma redução considerável na regressão prematura de CL (Battye et al., 1988) e um aumento no número de embriões transferíveis por fêmea tratada (Traldi, 1995).

Transferência dos embriões

O objetivo final das biotecnologias da reprodução é a transferencia dos embriões para receptoras devidamente sincronizadas. O sucesso está determinado por diversos fatores relacionados tanto a receptora como com a qualidade do embrião. A colheita dos embriões pode ser feita por três métodos, laparotomia, laparoscopia e pela via transcervical. A laparotomia e laparsocopia tratam-se de procedimentos cirúrgicos que limitam a possibilidade de repetidas colheitas em uma doadora, em virtude da ocorrência de aderências entre o sistema genital e tecidos circunvizinhos, principalmente o epiploon (Pinheiro et al.,1996). A coleta de embriões pela via transcervical vem sendo largamente utilizada no Brasil na espécie caprina sem diferença significativa quando comparado com o método cirúrgico (Carneiro, 2007).

A técnica transcervical para a recuperação de embriões em caprinos utiliza a fêmea em estação, mediante a administração de anestesia epidural e aplicação de prostaglandina F2-a, 12 horas antes do início da colheita, com o objetivo de aumentar a miocontractilidade uterina facilitando assim a recuperação embrionária. Esta técnica (Salles et al., 2000) utiliza circuito fechado, permitindo um lavado contínuo e asséptico, minimizando assim a contaminação ou perda dos embriões recolhidos.

Criopreservação dos embriões

Associar a Transferência de Embriões à criopreservação, oportuniza aos produtores, técnicos e à sociedade em geral, a possibilidade de vencer as barreiras do tempo e do espaço, transformando-a numa técnica de grande importância zootécnica e econômica (Simplício & Santos, 2000). O congelamento dos embriões favorece a importação Carneiro G.F. 2008. Produção in vivo de embriões em pequenos ruminantes. In vivo embryo production in small ruminants.

e exportação de germoplama, dispensando o transporte de animais e suas implicações; a preservação de embriões colhidos excedentes; a adequação da época de partos, independentemente da data da colheita dos embriões; formação de banco de germoplasma de espécies e/ ou raças em perigo de extinção, a comercialização, o transporte e a disseminação de material genético entre produtores, regiões e países, com o mínimo de risco de introdução e/ou disseminação de doenças (Simplício & Santos, 2000).

Os embriões de pequenos ruminantes podem ser preservados através da congelação clássica ou através da vitrificação. No sistema de congelação tradicional, a viabilidade dos embriões é afetada por diversos fatores tais como o crioprotetor utilizado, estágio embrionário e a curva utilizada no procedimento de congelação e de descongelação (Gonzáles-Bulnes, 2007). A velocidade da congelação/descongelação permanece como um fator limitante de fundamental importância. Diversos estudos tem demonstrado que a alta velocidade permite melhores resultados, colocando assim a vitrificação como opção de escolha em detrimento ao procedimento clássico que provoca uma desidratação gradual com um resfriamento/aquecimento (Gonzáles-Bulnes, 2007).

Conclusões

Transferência de Embriões é um somatório de detalhes. O sucesso obtido nos programas de TE está intimamente relacionado ao manejo sanitário e reprodutivo destinadas a doadoras e receptoras; ausência de estresse; protocolos de superovulação utilizados; qualidade e número de corpos lúteos da receptora; transferência de embriões morfologicamente viáveis.

Referências Bibliográficas

Abecia JA, Lozano JM, Forcada F, Zarazaga L. Effect of level of dietary energy and protein on embryo survival and progesterone production on day eight of pregnancy in Rasa Aragonesa ewes. Anim Reprod Sci 1997; 48:209- 218.

Baril B, Casamitjana P, Perrin J, Vallet JC. Embryo production, freezing and transfer in Angora, Alpine and Saanen gotas. Zuchthygenoloy 1989; 24:101- 115.

Baril B, Remy B, Vallet JC, Beckers JF. Effect of repeated use of progestagen - PMSG treatment for estrus control in dairy goats out breeding season. Reproduction of Domestic Animals 1992; 27, n.3:161-168.

Battye KM, Fairclough RJ, Cameron AWN, Trounson AO. Evidence for prostaglandin involvement in early luteal regression of the superovulated nanny goat (capra hircus). J Reprod Fertil 1988; v.84:425-430.

Bindon BM, Piper LR, Cahill LP, Driancourt MA, O’Shea T. Genetic and hormonal factors affecting superovulation. Theriogenology 1986; 25:53-70.

Brebion P, Baril G, Cognié Y, Vallet JC. Transfert d’embryons chez les ovins et les caprins. Ann Zootech 1992 ; v.41 :331-339.

Carneiro GF. Biotecnologia de reprodução na espécie caprina: perspectivas atuais. Rev Bras Reprod Anim 2007 ; v.31, n.2:268-273.

Chupin D, Cognie Y, Combarnous Y, Procureur R, Saumande J. Effecto of purified LH and FSH on ovulation in the cow and ewe. In: Roche JF, O’Callaghan D (eds). Follicular growth and ovulation rate in farm animals. The Hague: Martinus Hijhoff, 1987; 63-71.

Cognié Y. State of art in sheep-goat embryo transfer. Theriogenology 1999; v.51: 105-116.

Cognié Y, Baril G, Poulin N, Mermillod P. Current status of embryo technologies in sheep and goat. Theriogenology 2003; v.59:171-188.

Fonseca, JF. Estratégias para o controle do ciclo estral e superovulação em ovinos e caprinos. In: Congresso Brasileiro de Reprodução Animal, 16, 2005, Goiânia, GO. Anais... Goiânia: CBRA, 2005.

Gonzales-Bulnes A. Avances em transferência de embriones em pequeños ruminantes. Acta Scientiae Veterinariae 2007. 35 (Supl.3):905-912.

Gonzales-Bulnes A, Baird DT, Campbell BK, Cocero MJ, Garcia-Garcia RM, Inskeep EK, Lopez-Sebastian A, McNeilly AS, Santiago-Moreno J, Souza CJ, Veiga Lopez A. Multiple factors affecting the efficiency of multiple ovulation and embryo transfer in sheep and goats. Reprod Fertil Dev 2004; 16:421-435.

Gonzales-Bulnes A, Santiago-Moreno J, Cocero MJ, Souza CJH, Groome NP, Garcia-Garcia RM. Measurement of inhibin-A and follicular status predict the response of ewes to superovulatory FSH treatments. Theriogenology 2002; 57:1263-1272.

Jabbour HN, Ryan JP, Evans G, Maxwell WM. Effects of season, GnRH administration and lupin supplementation on the ovarian and endocrine responses of merino ewes treated with PMSG and FSH-P to induce superovulation. Reprod Fertil Dev 1991; 3:699-707.

Lindsell CE, Rajkumar K, Manning AW, Emery SK, Mapletoft RJ, Murphy BD. Variability in FSH:LH ratios among batches of commercially available gonadotrophins. Theriogenology 1986; 25:167 (abstr).

O’Callaghan D, Yaakub H, Hyttel P, Spicer LJ, Boland MP. Effect of nutrition and superovulation on oocyte morphology, follicular fluid composition and systemic hormone concentrations in ewes. J Reprod Fertil 2000; 118:303-313.

Carneiro G.F. 2008. Produção in vivo de embriões em pequenos ruminantes. In vivo embryo production in small ruminants.

Andrioli A, Salles HO, Simplicio AA, Soares AT. Dose do hormônio Folículo estimulante (FSH) suíno capaz de induzir superovulação em caprinos. Relatório Técnico do Cnpc 1987 1995, Sobral- Ceará, p. 116-117, 1996. Salles HO, Soares AT, Moura Sobrinho PA, Moraes MAJ, Andrioli-Pinheiro A, Azevedo HC. Redução do número de

aplicações do flunixin meglumine no controle da regressão pré-matura de corpos lúteos em cabras superovuladas. In: Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, 24, 1996, Goiânia, GO. Anais … Goiânia: Sociedade Goiana de Veterinária, p. 113-114.

Salles HO, Santos DO, Simplício AA. Superovulação em fêmeas caprinas pré-puberes e púberes da raça Anglo- Nubiana. Ciência Animal 2000; v.10, Supl. 1:137-138.

Simplício AA, Santos DO. Transferência de embriões em caprinos no Brasil – Estádio atual e perspectivas. In: I Simpósio Internacional sobre caprinos e ovinos de corte, 1, 2000. Anais … João Pessoa: p.169-182.

Smith C. Use of embryo transfer in genetic improvements of sheep. Anim Prod 1986; 42:81-88.

Torres S, Cognie Y, Colas G. Transfer of superovulated sheep embryos obtained with different FSH-P. Theriogenology 1987; 27:407-419.

Traldi AS. Superovulação com a gonadotrofina da menopausa humana (hMG) e prevenção da regressão pré-maturas dos corpos lúteos em caprinos. 1995. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995.

Wollen TS, Schultz RH, Newkirk HL. Use of handling of drugs and biologicals in embryo transfer. Theriogenology 1985; 23:31-43.

Carneiro G.F. 2008. Produção in vivo de embriões em pequenos ruminantes. In vivo embryo production in small ruminants.

IN VIVO EMBRYO PRODUCTION IN SMALL RUMINANTS

Outline

Documentos relacionados