• Nenhum resultado encontrado

Nasceu em Picos, Maranhão, no dia 30 de setembro de 1908, filho de D. Virgulina Coelho dos Santos e Raymundo Coelho dos Santos.

Formou pela Faculdade de Medicina da Bahia em 14 de dezembro de 1933, 117ª turma, tendo sido colega de Carlos Chenaud, Edson Bezerril Fontenelle, Jorge Vidal Pessoa, professores da FAMEB; e Arnoldo Magalhães Mattos que, no período de 1956- 1959, tornar-se-ia o 7º Presidente da Associação Bahiana de Medicina (TAVARES- NETO, 2008; RUBIM DE PINHO, 2012).

Foi Assistente do curso de desdobramento de Anatomia e Fisiologia Patológicas a partir de 01 de abril de 1934. No mesmo ano, foi designado para a função de Assistente do Museu, em 17 de setembro (PROF. DR. JOSÉ, s/d).

Livre Docente por concurso em 1937 e foi nomeado Chefe do Laboratório da Cadeira de Anatomia Patológica em 1940.

Com o falecimento do Professor Leôncio Pinto, Catedrático de Anatomia Patológica, em 1945, o Prof. José Coelho dos Santos se tornou Professor Substituto de Anatomia e Fisiologia Patológicas e foi nomeado Catedrático Interino em 1946 (PROF. DR. JOSÉ, s/d). Em 1950, foi aprovado por concurso para Professor Catedrático de Anatomia Patológica, concorrendo com vários outros candidatos, e em 11 de dezembro do mesmo ano entrou em exercício (PROF. DR. JOSÉ, s/d; ANDRADE & ANDRADE, 2007). Segundo o Prof. José Tavares Neto, a história desse professor evidencia o poder do Catedrático na FAMEB ―e também os malefícios do corporativismo, quando contrário ao bem comum, pois durante boa parte dos anos 50 e 60 houve várias paralisações e protestos da classe estudantil contra esse docente porque suas aulas eram proferidas com baixo tom de voz, tinham duração às vezes de duas a três horas, as quais eram meramente teóricas ou com escassas lâminas, etc. Mesmo assim, durante quase duas décadas a Congregação da FMB sempre adotou medidas protelatórias e não-resolutivas‖ (TAVARES-NETO, 2008, p.182-183; nota 699).

Há um testemunho no livro de reminiscência de Margot Valente (2008) sobre o seu curso na FAMEB que confirma essa crítica à didática do professor: ―Doutor José

Coelho dos Santos (...) conhecia profundamente a matéria, mas sua aula não era agradável, porque falava baixo, sempre com o mesmo diapasão e assim cansava o ouvinte, chegando mesmo a dar sono‖ (p.63).

Outro testemunho está no artigo sobre a Anatomia Patológica da FAMEB feito pelos professores Zilton Andrade e Sonia Gumes Andrade (2007): ―Tratava-se de uma pessoa honesta, com muita capacidade de trabalho, mas que era arredio, desconfiado e que se tornava muito tenso quando contrariado‖ (p.96). Afirmam também que ele se dedicava a dar aulas teóricas e algumas práticas de microscopia, ―mas falava em tom baixo e os alunos o julgavam com capacidade didática muito pobre‖ (ANDRADE & ANDRADE, 2007).

Ele também não tinha hábito de fazer necrópsia e raramente examinava peças cirúrgicas e, mais raramente ainda, fornecia o laudo das mesmas. Por outro lado, ele próprio fazia as suas preparações histopatológicas trabalhando com muita meticulosidade (Ibidem)

Com grande dificuldade de trabalhar com outros professores, com alunos ou funcionários, trabalhou isolado num pequeno laboratório do Hospital Santa Izabel. Com a inauguração do Hospital das Clínicas (hospital universitário), em 1949, o reitor Edgard Santos não o convidou para chefiar o serviço de Anatomia Patológica, tendo optado pelo professor italiano Raphaelle Stigliani e depois o prof. Franz Von Lichtenberg, um jovem patologista promissor de estadia curta, mas significativa. De início foram dois colaboradores brasileiros: Clarival Prado Valladares e Jorge Studart, depois vieram para se juntar ao serviço os professores Aníbal Silvany Filho (ver nesta galeria) e Zilton Andrade, que tinham feito cursos nos EUA (ANDRADE & ANDRADE, 2007).

Na ficha docente do Prof. Coelho há o registro de sua suspensão em janeiro de 1952, em virtude de resolução da Congregação de 28 de dezembro de 1951. Em fevereiro de 1952, voltou a reger a cadeira (PROF. DR. JOSÉ, s/d). Em 1957, viajou à Europa para estudos. A partir de 06 de junho a 05 de julho de 1959 foi novamente suspenso por 30 dias, com base no Estatuto dos funcionários públicos civis da União (item III do Artigo 210 da Lei n. 1.711) e do Regimento Interno da FMB (Art. 214 e 219). (Ibidem).

A participação nas atividades didáticas do grupo de patologistas no Serviço do Hospital era através de um Curso Equiparado para um grupo de alunos. A participação oficial se deu em 1963, com mais uma das inúmeras greves dos estudantes contra o professor catedrático e sua metodologia didática. Na Congregação, o Prof. José Coelho

reconheceu que o curso era mesmo ruim e justificou porque ele não dispunha do serviço do hospital. Os catedráticos votaram que o serviço fosse dirigido pelo Prof. José Coelho, o que estava de acordo com ―as regras do jogo‖ da época. Como no ensino nada mudou para os estudantes, eles entraram em greve no início de março de 1964. O Prof. Coelho foi removido do Serviço de Patologia do Hospital na véspera do golpe militar de 1964 (ANDRADE & ANDRADE, 2007).

Outro testemunho sobre a cátedra de Anatomia Patológica é do Prof. Rodolfo Teixeira, em sua memória histórica (TEIXEIRA 1999). Ele afirma que a disciplina sempre teve problemas estruturais, sobretudo em razão das características de personalidades, tanto do Prof. José Coelho dos Santos, quanto do seu antecessor Prof. Leôncio Pinto. ―O curso era irregular nas suas disposições, frequentes desavenças internas com a direção da Faculdade e com o alunado‖. Mas ―quando a cadeira passou a ser regida por Zilton Andrade, corrigidas as distorções e postas em prática as grandes qualidades do novo professor (...) passou a ser uma das áreas mais produtivas da Faculdade‖ (p.212)

Em 1970, já pertencendo ao Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal, o Prof. Coelho dos Santos trabalhava no Hospital Couto Maia, antigo Hospital do Isolamento, dedicado ao setor de doenças infecciosa e parasitárias. Ele não mostrou mais interesse em participar do ensino da graduação até a sua aposentadoria.

Ele se aposentou em 1977 e, naquele mesmo ano, faleceu em 02 de junho, na cidade de Conceição do Araguaia, Belém do Pará (PROF. DR. JOSÉ, s/d).

Leituras recomendadas

ANDRADE. Zilton; ANDRADE, Sônia G. A Anatomia Patológica na Faculdade de medicina da Bahia. Gazeta Médica da Bahia, v. 77, n. 2, p.93-100, Jul-Dez. 2007.

PROF. DR. JOSÉ Coelho dos Santos. [Ficha do docente com dados biográficos]. Arquivo Geral da Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade Federal da Bahia. Salvador, s/d.

FLÁVIO DE ARAÚJO FARIA