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PROFESSOR CATEDRÁTICO DE TERAPÊUTICA CLÍNICA

Nasceu no dia 30 de maio de 1887, no arraial de Pacatu, Santa Bárbara, na época município de Feira de Santana, filho de Joaquina Mônica de São Paulo e Patrício José de São Paulo (FERNANDES, 2004).

Concluiu os estudos iniciais em Santa Bárbara, depois se mudou para Salvador. Estudou no Ginásio São Salvador, mas concluiu os preparatórios no Liceu Alagoano, em Maceió.

Em 1904 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia e graduou-se em Medicina no ano de 1909, 93ª turma (TAVARES-NETO, 2008). Sua tese doutoral ou inaugural foi ―A vida sexual dos condemnados‖ (MEIRELLES et al., 2004).

Iniciou a vida profissional em sua terra e arredores, viajando a cavalo para visitar seus clientes. Depois, a convite do Professor Prado Valladares, retornou para Salvador onde, num humilde consultório localizado na Rua da Misericórdia (LEITE, 2007), reuniu numerosa clientela clínica, obtida com uma prática médica humanizada, feita com a complexidade da adequada relação humana e competência técnica: “identificação

acurada do cliente e uma anamnese bem conduzida, seguida de exame físico exaustivo, tudo registrado no livro, como se fora tabelião, além de, com frequência, realizar o exame microscópico da urina” (BARROS, 1993).

Dentre seus clientes famosos, destacamos Ruy Barbosa, de quem foi fiel admirador, acompanhando-o em sua campanha de candidato à Presidência do Brasil (LEITE, 2011).

Agnóstico, converteu-se ao catolicismo, graças ao Padre Luiz Gonzaga Cabral e, como católico fervoroso, foi médico de seminaristas, padres, freiras, monges e do próprio Cardeal Dom Álvaro Augusto da Silva, depois Arcebispo Primaz, com quem dialogava em latim.

Em 1915, fez Livre Docência de Terapêutica Clínica. Em 1918, foi Professor Substituto de Farmacologia. Em 1919, foi Catedrático da cadeira de Farmacologia, depois se transferiu e foi Professor Catedrático de Terapêutica Clínica.

Seu desempenho pedagógico era pautado na experiência clínica que vivenciou não só na prática médica urbana, mas também na sua experiência em área rural (TEIXEIRA, 1999; SILVEIRA, 1978). Essa experiência vivida que ele levou para o hospital de ensino é fundamental num campo em que é imprescindível o conhecimento tácito, aquele que só se aprende fazendo; e que seria exatamente a prática que os futuros médicos teriam que fazer.

De suas numerosas publicações, destaca-se ―Linguagem médica popular no Brasil‖ (SÃO PAULO, 1970), editada em 1970, obra pioneira que ainda hoje é referência em antropologia médica, conforme depoimento feito ao memorialista pelo historiador Cid Teixeira.

Purista da língua, com profundo conhecimento do latim, como já referido, Fernando São Paulo era amante das letras e das artes, detentor de invejável cultura geral. Foi ele que forneceu, a pedido da Academia Brasileira de Letras, valiosa contribuição para o ―Dicionário Ortográfico da Língua Portuguesa‖.

Foi o 3º Presidente (1964-1968) da Academia de Medicina da Bahia (TAVARES- NETO, 2008) e pertenceu à Academia Nacional de Medicina (LACAZ, 1966).

Lutou pela conclusão das obras do Hospital das Clínicas, a tal ponto que, certo dia, bateu às portas do Governo do Estado, a fim de solicitar recursos para a conclusão das obras. “À sua saída a autoridade maior comentou para um de seus auxiliares

imediatos: “É a primeira vez que este professor, por todos os títulos, merecedor do nosso respeito, sobe as escadarias desse palácio para um pedido e o faz não em benefício próprio mas em favor de sua instituição de ensino” (BARROS, 1993).

Disse Sá Menezes: “Clinico à Miguel Couto – de quem foi amigo e admirador –

todas as virtudes mais próprias ao apostolado clínico. Virtudes a que juntava uma grande cultura científica, esta acompanhada de vastos conhecimentos gerais, que o tornaram um perfeito humanista, de visão global e profunda” (SÁ MENEZES , 1994).

Faleceu em 12 de agosto de 1973, com oitenta e seis anos de idade (PROF.FERNANDO JOSÉ, s/d). Após sua morte, a família doou a biblioteca do ilustre mestre à Universidade Estadual de Feira de Santana (LEITE, 2007).

Em sua Memória Histórica, o Prof. Rodolfo Teixeira (199) faz um sincero perfil do professor Fernando São Paulo: ―dono de um estilo especial e próprio, embora, muita vez, incompreendido. Contudo, voltando o tempo, acredita o memorialista que poucos

terão exercido tanta influência na vida profissional de gerações de médicos formados na Faculdade, como este professor, ‗pequeno e esquisito‘‖ (p.165; grifo nosso).

Teixeira faz referência a um depoimento de José Silveira, quando afirma que foi preciso ter saído da faculdade, ter abandonado ‗a Medicina sofisticada das cátedras, a prática médica instrumentada e modulada dos hospitais de ensino, para compreender o sentido real e objetivo das prescrições de Fernando São Paulo. Esse depoimento está no seu livro ―Vela Acesa‖:

Só o contato direto com a triste e lamentável condição sanitária do povo brasileiro, reinante em imensas regiões do país, onde continua a faltar tudo e só os remédios e as providências caseiras têm aplicação; só os que vêm como é cruel receitar medicamentos caros para os que não têm o mínimo para comer; só os que se metem por esses sertões adentro, como ele próprio fizera, poderão compreender quanto de útil, válido e oportuno havia no proceder daquele homem pequenino, empertigado, tez pálida e bigode curto, cabelos negros e repartidos ao meio; cheio de esquisitices, rigorismos e insistências nas suas dietas e nos regimes (SILVEIRA, 1980, p.110-111).

Para concluir esta breve biografia de um professor que, encantado, merece ser lembrado, ainda este comovente depoimento de seu aluno e depois colega na FAMEB, Prof. José Silveira (1978): ―Lamentavelmente, depois de uma atuação respeitável e luminosa pela Faculdade, na sua vida particular e pública; após ter conquistado uma das maiores clientelas da Bahia, tão pouco ganancioso fora, a pobreza lhe bateu às portas... Seus últimos dias – ajudados por Fernanda e Ângelo, seus queridos filhos – foram passados na humildade de um Asilo, onde todos o queriam e acarinhavam... A esclerose não lhe permitiu sequer sentir as provas de apreço e admiração que lhe tributavam...‖ Aqui nesta galeria, manifestamos o nosso apreço ao mestre que, pelas fontes consultadas e pelos depoimentos colhidos, era possuidor, além de uma sólida cultura médica e geral, de grande sensibilidade social.

Obras:

SÃO PAULO, Fernando. A vida sexual dos condemnados [Tese doutoral. Cadeira de Higiene]. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia, 30 de outubro de 1909.

SÃO PAULO, Fernando. Linguagem médica popular no Brasil. 2 volumes. Salvador: Itapuã, 1970.

Leituras Recomendadas

BARROS, Nelson. Fernando José de São Paulo. Anais da Academia de Medicina da

Bahia, v. 9, setembro de 1993.

FERNANDO José de São Paulo. Médicos ilustres da Bahia. Salvador, 29 de janeiro de 2011. Disponível em: <http://medicosilustresdabahia.blogspot.com.br/2011/01/126- fernando-jose-de-sao-paulo-fernando.html > Acesso em 15 de Nov. 2012

LEITE, Geraldo. Depoimento de um discípulo e admirador. Reminiscência. Universidade Estadual de feira de Santana. Feira de Santana, abril de 2007. Disponível em: <http://medicosilustresdabahia.blogspot.com.br/2011/01/126-fernando-jose-de-sao- paulo-fernando.html > Acesso em 15 de Nov. 2012

PROF. FERNANDO JOSÉ de São Paulo. Arquivo Geral da FMB-UFBA. Salvador, s/d. SILVEIRA, José. Fernando São Paulo. Sinopse Informativa. Universidade Federal da Bahia, Vol. II, n. 2, outubro. Salvador, 1978

ALEXANDRE LEAL COSTA