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Nasceu Otávio Torres em Mucugê, antiga Vila de Santa Isabel do Paraguaçu, no interior da Bahia, no dia 25 de setembro de 1885, filho de Maria da Purificação França Torres e Tranquilino Leovigildo Torres, desembargador respeitado nos meios jurídicos do estado (SOUZA; 1973; PROFESSOR DR. OCTÁVIO, s/d).

Estudou nos colégios 8 de Dezembro e depois 7 de Setembro, da capital, diplomando-se em Bacharel em Ciências e Letras (SOUZA, 1973). Frequentou o Liceu de Artes e Ofícios e a Escola de Belas Artes, onde optou pelos cursos de Desenho e Escultura (LEITE, 2011).

Formado pela Fameb em 18 de dezembro de 1909, 93ª turma (TAVARES-NETO, 2008), defendendo a tese inaugural ―Contribuição ao estudo dos Anquilóstomos na Bahia‖ (MEIRELLES et al., 2004). Foi Interno da 1ª Cadeira de Clínica Médica de 19 de dezembro de 1907 até 16 de dezembro de 1909, sendo exonerado por ter concluído o curso médico (PROFESSOR DR. OCTÁVIO, s/d). Aluno laureado com o Prêmio Manoel Victorino, juntamente com Almir Sá Cardoso de Oliveira (Ruy Santos apud LEITE, 2011).

Como fez os seus dois irmãos (Mário e Celso) nos cursos de Direito e Engenharia, Octávio, ―na contingência da orfandade paterna, por estrita necessidade econômica,

copiava, à mão, todos os livros textos dos seus primeiros anos na faculdade de Medicina. Cadernos e mais cadernos, caprichosamente manuscritados‖, inclusive com as ilustrações (Ruy Santos apud LEITE, 2011). Não foi por acaso que, mais tarde, ele se tornou professor de anatomia plástica e anatomia artística, na Escola de Belas Artes. Logo depois de formado, por um breve período, serviu como médico da marinha mercante, contratado pela Companhia Lloyde Brasileiro. Ficou muito impressionado com a visita que fez aos EUA.

Sempre esteve sob a orientação do Prof. Gonçalo Moniz, que chamava de ―Souzão‖. Em 1910, um ano depois de formado, foi Assistente Gratuito da cadeira de Clínica Médica da FAMEB, depois em 1911, passou para Preparador de Patologia Geral, nomeado e empossado em 30 de dezembro, fazendo a Livre Docência em 1913. Ensinou Patologia Geral no curso de Odontologia, uma das escolas anexas da FAMEB, até 20 de outubro de 1917, quando passou a ser Professor-Substituto da 6ª sessão (Patologia Geral). De agosto a setembro regeu como Catedrático Interino a cadeira no curso de Odontologia (PROFESSOR DR. OCTAVIO, s/d).

Esteve a serviço do governo federal na capital da República de 06 de setembro a 6 de dezembro de 1918, no combate a Epidemia da gripe espanhola. Nesse mesmo ano tomou parte da 3ª Conferência Sul Americana de Dermatologia e Sifilografia (Ibidem). Ensinou também a cadeira de Patologia Geral e Anatomia Patológica, no curso de Odontologia, e a de Bacteriologia, nos cursos de Odontologia e Farmácia, que eram, na época, escolas anexas da Fameb (Ibid.).

Em 1925 esteve em viagem de estudos nos EUA e em 15 de julho foi nomeado

Professor Catedrático. Nesse período de sua carreira acadêmica, estagiou em

universidades estadunidenses, em especial na prestigiada Havard University. No Instituto Rockefeller estudou como professor japonês Noguchi, radicado nos EUA, especializando-se em doenças tropicais e patologia experimental (SOUZA, 1973). Em 1926, trabalhou nos serviços de saúde de New York, do Alabama e da Georgia; na Louisiania, especializou-se em Lepra; em Washington, fez curso de Higiene; e na Universidade de Columbia, especializou-se em Química Biológica (Santos apud LEITE, 2011).

Em 1933, representou a Bahia na conferência nacional pela uniformização da Campanha contra a Lepra, no Rio de Janeiro (PROFESSOR DR. OCTAVIO, s/d). Instalou o ambulatório para o tratamento das leishmaníases, utilizando o tártaro emético (LEITE, 2011).

De modo concomitante, foi Professor Catedrático da Escola de Belas Artes da Bahia, da cadeira de Anatomia e Fisiologia Artísticas. Em sua aula inaugural do curso de medicina em 1942, o Prof. Estácio de Lima, Catedrático de Medicina Legal, disse: ―Que mal pode haver para a ciência que Otávio Torres, o beneditino das pesquisas microscópicas, seja na Escola de Belas Artes, tão querido quanto aqui‖ (LIMA, 1992, p.82).

Entre suas inúmeras atividades, uma lhe perpetuou seu nome: a campanha contra a hanseníase, tendo fundado a Sociedade Baiana de Combate à Lepra. Tornou-se ao lado dos Drs. Antonio Aleixo, em Minas Gerais, e de Alfredo Augusto da Mata, no Amazonas, os precursores nos estudos e no combate ao Mal de Hansen. ―O que realizou nesse campo daria para ser contado e exaltado em alguns livros‖ (SOUZA, 1973, p.282). Sobre esta realização enfatizou o historiador Carlos Lacaz (1966): ―Que os moços saibam enaltecer a obra científica e social do Prof. Otávio Torres, brasileiros dos mais ilustres, trabalhador infatigável, o grande animador da campanha pró-lázaros em terras da Bahia‖. Na Bahia, contruiu em Águas Claras o leprósário denominado Hospital D. Rodrigo Menezes (Ruy Santos apud LEITE, 2011). Há um busto seu, em bronze, à entrada da colônia, como gratidão da Bahia.

Ele também se incursionou para além da medicina, pela literatura e publicando mais de cem trabalhos sobre história, genealogia, geografia, folclore, sociologia. Aos 66 anos, exatamente em 1951, o prof. Octávio Torres apresentou ao I Congresso Brasileiro de Folclore, realizado no Rio de Janeiro, então capital federal, um ensaio sobre arraias (pipas). Ele que nunca empinara uma arraia sequer, pela saúde precária na infância, condição que, conforme o testemunho de Ruy Santos, ―o levou a deserdar dos folguedos de quintal, ao ar livre, principalmente no entardecer e à noite; o sol quente também não lhe era permitido e as brincadeiras e esfogueamentos de rua... nem pensar‖.

Como profissional ou diletantemente, ele foi patologista, leprólogo, higienista, geógrafo, demógrafo, genealogista, folclorista, polígrafo, desenhista, escultor, professor emérito de duas faculdades, membro de academias, esteio de sociedades médicas e outras agremiações científicas (LEITE, 2011). É o autor do livro ―Esboço histórico dos acontecimentos mais importantes da vida da Faculdade de Medicina da Bahia (1808- 1946)‖ (TORRES, 1946), alentado livro sobre a história da Fameb, bem como do livro ―Biografias resumidas dos professores da Academia e da Escola de Belas Artes da Bahia. Desde a sua fundação em 1877 até hoje, 1955‖ (TORRES, 1955).

Casou-se em primeiras núpcias, já cinquentão, com Maria Carolina Gomes Pereira, sua ex-auxiliar no Laboratório de Patologia. Viúvo, Octávio Torres voltou a se casar, aos 65 anos, com uma ex-aluna e colega médica Carmem Mesquita, também presente nessa galeria.

Em 1941, começa o registro de seus sucessivos licenciamentos para tratamento de saúde, mas o mestre se manteve produtivo até 1953, ano de sua aposentadoria. Recebeu a medalha de ouro ―Oswaldo Cruz‖, que lhe outorgaram como reconhecimento nacional (Ruy Santos apud LEITE, 2011).

O Professor Octávio Torres foi o 2º Presidente (1960-1963) da Academia de Medicina da Bahia, num mandato interrompido pelo seu falecimento, em Salvador, no dia 31 de maio de 1963 (TAVARES-NETO, 2008, p.178, nota 539). Seu nome agora pertence à Galeria dos Professores Encantados da Fameb.

Leituras recomendadas

SOUZA, Antônio Loureiro de. Octávio Torres. In: SOUZA Antônio Loureiro de.

Baianos ilustres (1564-1925). 2.ed. Bahia: Secretaria da Educação e Cultura-Governo

do Estado da Bahia, p. 281-282, 1973.

TORRES, Esboço histórico dos acontecimentos mais importantes da vida da Faculdade

de Medicina da Bahia (1808-1946). Ministério da Educação e Saúde. Bahia: Imprensa

JOÃO AMÉRICO GARCEZ FRÓES