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Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas sufocado. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. Clarice Lispector (2011), p. 195 Como me tornei professora? De onde vem esse desejo de ensinar? Recorro a estas e outras perguntas para tentar explicar a escolha do tema para o meu projeto de pesquisa.

Faço parte de uma família de doze filhos, sendo oito mulheres e quatro homens, dos quais quatro são professoras. Meus pais – pessoas simples, mas de muita influência na pequena cidade de Boquim, no menor estado da Federação brasileira, Sergipe – viveram em uma época em que o ensino era o bem mais precioso a se deixar para um filho. Aliás, era a casa em que viveram todos os meus irmãos era o reduto de professores que vinham de outra cidade para lecionar na chamada escola rural.

Esses eram acolhidos em nossa casa, sendo meu pai o “administrador de bens alheios”, nome dado a um tipo de feitor ou pessoa responsável pela ordenação de despesas desses profissionais. Assim vivemos mergulhados num contexto escolar. Minha mãe nunca foi à escola, mas trazia em seu discurso a importância do aprender e, com sua sensibilidade e determinação, encaminhou todos à escola. Deixava claro em seu provérbio a importância de aprender e como esse conhecimento poderia transformar a vida das pessoas. Era com ele que todo o dia nos tirava da cama para nos colocar a caminho da escola.

Filha mais nova desta lista de herdeiros, educados seguindo valores como integridade, união, incentivo, amor, justiça, respeito e muita, muita determinação, recebo meu primeiro diploma da família do curso de Magistério.

Estávamos na década de 1980. Na época, o Magistério era um curso que fazia parte do Ensino Médio. Mal terminei a Educação Básica e já sabia que queria ser professora. Mas de onde vinha essa certeza pela profissão? É impossível não identificar em minha vida a influência de toda essa história familiar em minha escolha profissional.

Retrocedendo no tempo, tenho gravadas em minha memória várias lembranças das diferentes escolas por onde passei. Morando já em São Paulo, desde muito cedo fui inserida no contexto escolar. Nesta época, sem a presença do meu pai, que havia falecido devido a uma doença com a qual conviveu durante muitos anos, a escola era para mim não somente o lugar para aprender, mas também onde era cuidada. Lembro-me da primeira escola de

Educação Infantil, ficava ao lado de um Parque, bem no centro de São Paulo. Recordo-me do medo e de como era difícil deixar os braços da minha mãe e ficar com a tia, que prontamente me acolhia. Chorava muito e, depois de algum tempo, o que para mim, uma criança com apenas quatro anos e meio era uma eternidade, ia brincar.

Era muito tímida e tinha poucos amiguinhos, então corria para perto das grades que cercavam a escola e ia colher hibiscos com os quais adorava brincar. As tias gostavam muito de mim. Minha mãe contava que ficava escondida entre as árvores até que eu parasse de chorar e só depois ia trabalhar.

Ainda nesse período, lembro-me de uma festa da Páscoa, já em outra escola, ainda na Educação Infantil, agora mais perto de casa no município de Guarulhos. As crianças vestidas de coelhinho e minha mãe chegando exausta no final da festa, depois de um dia de trabalho. Ela dava muita importância aos acontecimentos da escola, não faltava a uma reunião de pais, era sempre a última a chegar e ali ficava.

Depois que todos os outros pais iam embora, sentava-se perto da professora e conversava tranquilamente sobre meu rendimento, comportamento, etc. Neste momento, eu não podia estar por perto. Ao finalizar a conversa, me chamava para junto dela e da professora, dizia o quanto a professora era boa, o quanto confiava em seu trabalho e aproveitava para afirmar a importância de ser uma boa aluna, respeitar os coleguinhas, respeitar a professora e fazer as tarefas.

No começo da Educação Básica, meu primeiro ano foi em uma escola na região nobre de São Paulo, escola para elite. Lembro-me de sermos duas, as crianças carentes, negras da escola. Éramos filhas de empregadas domésticas. Nossos uniformes estavam sempre impecáveis, a disciplina era rigorosa e o comportamento tinha que ser exemplar.

Qualquer falha e os pais eram chamados a responder pelos seus filhos e, no nosso caso, corríamos o risco de perder a vaga, que era uma concessão cedida por pessoas de influência. Neste ano, tomei minha primeira suspensão e minha primeira surra, por causa de uma briga na escola.

Menti para minha mãe, sabia o quanto ela ia ficar triste se soubesse do acontecido, tinha medo de eu não ser mais aceita na escola. Lembro que ela chorou muito, dizia o quanto foi difícil conseguir aquela vaga, o quanto a escola era boa, tentava mostrar-me a importância dos estudos. Mas também não deixou por menos, durante aquela semana de suspensão passava todos os dias na escola e trazia as lições para que eu fizesse em casa. Esta é a única lembrança que tenho do primeiro ano de escola.

Aprendi a ter responsabilidade com os estudos desde muito cedo. Lembro-me de cuidar de dois sobrinhos que iam para escola comigo. Época difícil essa. Pegávamos ônibus e quando voltávamos, era responsável por ajudar os dois nos deveres de casa. O diretor dessa escola era um senhor simpático, chamava-se professor João, a quem encontrei anos atrás e o qual foi responsável pelo processo de aprovação do recurso para custear meu curso do Mestrado.

Lembro-me também da caseira da escola que cuidava de mim a pedido da minha mãe. Já na sala de aula os problemas eram só meus. Cometia um mesmo erro ortográfico constantemente e de nada adiantava aquelas repetidas listas de palavras para copiar.

Nessa época quase perdi o ano, éramos duas, eu e minha amiga Claudia, a sofrer com a perseguição da professora sobre nossas fragilidades em Língua Portuguesa. Em matemática, nem se fala, castigo não nos faltava.

Estava na segunda etapa da Educação Básica quando tomei meu primeiro zero. Recebia prova de matemática corrigida, ou melhor, totalmente rabiscada e logo nas linhas iniciais um “zero” escrito em vermelho, que ocupava grande parte da folha. Esperei a professora se afastar um pouco, peguei a prova, amassei e enfiei debaixo da carteira.

Pensei que a professora não tivesse visto, mas me enganei, não só viu como mandou chamar minha mãe. Chegar a casa naquele dia não foi fácil, lembrava do ocorrido anos antes. Dessa vez não apanhei, mas no dia seguinte estava eu, a pedir desculpas à professora na frente da minha mãe, que mais uma vez deixou muito claro o valor da escola e a importância do aprender. Durante esta conversa da minha mãe com a professora ficava pensando: Será que, se tivesse tirado dez, a professora teria sido tão enfática na escrita da nota?

Assim fui caminhando nos estudos, sempre uma aluna regular, “nota C” mesmo, sempre ouvindo o provérbio da minha mãe: “Lenha verde mal acende, quem muito dorme pouco aprende.” Não entendia ao certo o que queria dizer, mas sabia exatamente que era lá na escola que estaria à chave para o meu futuro, ela acreditava nisso e eu também. Sabia que a escola podia mudar a minha vida.

Já nas séries de final de ciclo, continuava sem entender o objetivo de tantas cópias em Estudos Sociais, com a professora Eunice. Nessa época, na sala de aula chegou uma aluna com deficiência visual chamada Paula. Fui colocada ao seu lado como leitora oficial durante as aulas. Minha função era ditar os inúmeros textos colocados na lousa, e foi assim durante todo a segunda etapa da Educação Básica. Lembro que por muitas vezes éramos as últimas a sair da sala de aula.

Nesse período já comecei a trabalhar, cuidava de uma criança e era responsável inclusive por acompanhá-la em suas lições. Anos depois, para o ingresso no Ensino Médio, escola técnica muito concorrida, era preciso fazer o tal vestibulinho. Embora tenha sido aprovada para o curso do Magistério, não pude efetuar matrícula porque estava trabalhando.

Conclusão, foi preciso mudar os planos, fiz matrícula em uma instituição de ensino particular que tinha o curso do Magistério à noite e foi aí que encontrei uma professora que muito me influenciou. Ela dava aula de didática e era apaixonada pelo magistério. Não perdia uma aula, estranhamente não lembro seu nome, mas tenho sua fisionomia em minha memória.

Os inúmeros trabalhos dedicados à aprendizagem do ofício de professor colocam em evidência a importância das experiências familiares e escolares anteriores à formação inicial na aquisição do saber-ensinar. Antes mesmo de

ensinarem, os futuros professores vivem em salas de aulas e nas escolas – e,

portanto, em seu futuro local de trabalho. [...] Ora, tal imersão é necessariamente formadora, pois leva os futuros professores a adquirirem crenças, representações e certezas sobre a prática do ofício de professor, bem como sobre o que é ser aluno. Em suma, antes mesmo de começarem a ensinar oficialmente, os professores já sabem de muitas maneiras, o que é o ensino por causa de toda a sua historia escolar anterior. (TARDIF, 2010, p. 20)

Cansada do trabalho como babá, fui ser secretária em um consultório de advocacia, não tinha muita escolha, precisava trabalhar, foi um período de frustração. Eram três advogados, de áreas diferentes, odiava aquelas correspondências judiciais, agendamento de audiências, controle de agendas etc. Sentia-me entediada, aprisionada. O serviço não rendia e o tempo não passava. Minha mãe me incentivava e dizia para eu não abandonar meu sonho, que acredito também era o dela: ser professora.

Nesse mesmo período recebi um convite para dar aula numa escola de Educação Infantil, a diferença de salário era enorme, mas não me importei, larguei o escritório e aceitei o convite.

Lá faltava tudo: diretora, funcionários, material didático, parque para as crianças. Era preciso improvisar. Sobrava o sonho de ensinar, de ser professora. Comecei como professora auxiliar e torcia para que a professora regente faltasse, para poder dar aula. Adorava estar diante do quadro negro, preparar as aulas. Na verdade, reproduzir as aulas, pois tínhamos um caderninho com tudo pronto para cada turminha, era só copiar.

Não gostava muito daquele caderno, era o modelo que tínhamos, mas isso não mudava meu desejo de ensinar. Foi assim que descobrir a relação que existia entre aquele caderno e muito do que fazíamos nas aulas do magistério. Aquelas atividades lembravam uma linha de

produção, onde tudo tinha um padrão. Isso me incomodava, queria inovar, criar minhas próprias atividades. Juntas eu e minha amiga Conceição, a que me ofereceu o emprego, tínhamos ideias revolucionárias para a época, mesmo com pouca experiência já acreditávamos numa escola onde o conhecimento não é algo pronto e acabado, pois:

Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento. (BECKER, 2009, p. 2)

Defendíamos a ideia da interação no processo de aprendizagem e do lúdico como forma de a criança comunicar-se com o mundo, percebendo a existência do outro, estabelecendo relações sociais, o que contribui para o seu desenvolvimento integral. Assim organizávamos atividades que envolviam diferentes linguagens. Numa festa nessa escola da qual minha mãe participou, ouvi-a dizer o quanto se orgulhava de ter uma filha professora. Eu era a primeira a me formar na família!

Cinco anos mais tarde, mudança de percurso: casei e fui morar em outro município, deixei a Educação Infantil e fiz um concurso para ajudante do desenvolvimento infantil. Passei em segundo lugar e logo fui chamada a assumir a função. Durante a entrevista, Soraya, a psicóloga e assistente social, ficou surpresa ao examinar meu pequeno currículo e estranhou o fato de ter feito tal concurso, pois ali não poderia atuar na minha profissão: “Você é professora, precisa dar aula, não cuidar de bebês”, dizia ela.

Precisava trabalhar, era o sonho da estabilidade. Estava numa creche da prefeitura, onde tudo era extremamente organizado, tinha espaço para diversas atividades, área de lazer, farto material didático e pedagógico. Inconformada, a psicóloga encontrou uma atividade exclusiva para mim. Fui indicada para assumir uma sala de atividades direcionadas.

Tratava-se de um espaço em que as crianças iam uma vez por dia fazer atividades lúdicas. Possuía diferentes materiais, entre eles os didáticos para o ensino da Língua Portuguesa e da Matemática. Respeitando a idade de cada turma e o grau de interesse, ia proporcionando contato com o mundo das letras e dos números para aquelas crianças. Fiquei neste emprego por apenas um ano e, mais uma vez movida pelo desejo de ser professora, abandonei a estabilidade do cargo na prefeitura e resolvi aventurar-me como estagiária na rede pública estadual.

Era 1992, fui participar de uma atribuição de classe/aulas, tudo aquilo era novo e assustador. Depois de algumas horas de espera, finalmente me fora atribuída uma escola na periferia de Guarulhos, município vizinho ao que morava. Fiquei muito feliz e, seguindo as instruções, fui rapidamente me apresentar à escola. Durante o percurso ficava pensando em como seria recebida. Lembrava dos estágios ao longo do curso do Magistério, em que sempre permanecia no fundo da sala observando o professor realizar sua aula. Lembrava-me de Dona Áurea, professora que abriu as portas de sua sala para eu cumprir minhas horas de estágio. Junto a essa lembrança vinha também à da sala de aula, onde os alunos eram divididos por fileiras, classificados por seu nível de aprendizagem, em forte, média e fraca em sua maioria. Afastava essa ideia da cabeça e logo pensava: Vou fazer diferente! Era minha primeira experiência como professora de Educação Básica, atual Anos Iniciais, ou seja, professora iniciante. Finalmente estava dando entrada na carreira, vivendo o momento da descoberta. Neste contexto afirma Hubermam:

(...) o aspecto da “descoberta” traduz o entusiasmo inicial, a experimentação,

a exaltação por estar, finalmente, em situação de responsabilidade (ter a sala de aula, os seus alunos, o seu programa), por se sentir colega num determinado corpo profissional. (Hubermam, 1989, p. 39)

Na escola, fui recebida pela secretaria que formalizou as questões burocráticas e me encaminhou à sala dos professores. Fui informada que a diretoria chegaria mais tarde. Lembro-me de ter recebido uma rápida orientação sobre questões organizacionais e mais nada. Nos meses que se seguiam, ficava na sala dos professores e só ia pra sala de aula quando faltava um professor, o que acontecia muito raramente. Cumpria metade da carga horária do professor e tinha uma ajuda de custo, em dando aula, ganhava por horas adicionais. A escola era precária, espaços mal acabados, pessoas mal humoradas e de pouca conversa. Na sala dos professores o assunto eram políticas partidárias e direitos sindicais. O pedagógico nem passava por perto. Na hora do intervalo, as queixas eram a respeito dos alunos, do quanto eram indisciplinados, desinteressados e não aprendiam.

As reuniões de professores giravam em torno dos mais variados assuntos e sempre terminavam com nada decidido. Nesta época ouvi de uma professora chamada Escolástica, uma das professoras mais velhas da escola, que tinha a liderança no grupo, que influenciava nas decisões da administração e que nunca tinha dirigido a palavra a mim – aliás, fato este muito comum entre todos os professores –, a seguinte frase: “No magistério é assim, enquanto

uns choram, outros riem”. Estava ali tendo contato com o que diz Tardif, quando cita as três fases que constituem o início da carreira docente referindo-se ao coletivo da escola.

O grupo informal de professores inicia os novatos na cultura e no folclore da escola. Diz-se claramente aos novatos que devem interiorizar esse sistema de normas. Os novatos são também inteirados a respeito do sistema informal de hierarquia entre os professores. Embora não sendo reconhecido pela administração, esse grupo, em particular aqueles que estão no topo dessa hierarquia, exerce uma profunda influência sobre o funcionamento cotidiano da escola. Os novos professores, principalmente os mais jovens, compreendem rapidamente que estão na parte mais baixa da hierarquia, sujeitos ao controle de diversos subgrupos acima deles. Em contato com esses grupos, eles ficam por dentro de elementos como a roupa apropriada, assuntos aceitáveis nas conversas e qual o comportamento adequado. Essas regras informais, que tratam essencialmente de assuntos não acadêmicos, representam um segundo choque com a realidade para os novos professores. É na famosa (ou infame) sala dos professores que essas normas são inculcadas e mantidas. (EDDY, 1971, p. 186, apud TARDIF, 2002)

Meses depois fui informada que assumiria uma sala de aula, cuja professora tinha tirado licença por tempo indeterminado e motivo não informado. Fiquei muito feliz, pois estava diante de mim a possibilidade de torna-me então professora em uma escola estadual, ter uma sala de aula minha e alunos meus. Fui encaminhada para a sala.

Era uma turma considerada a “escória” da escola. Alunos repetentes, fora da idade/série, marginalizados, rotulados por uma história de fracasso escolar, desacreditados da família, da escola e da sociedade. Tinha terminado o Magistério havia exatamente dois anos, estava iniciando na profissão, diante de uma realidade cruel e solitária. Vivi neste momento o chamado “choque da realidade” (TARDIF, 2002), pois tinha diante de mim alunos que em nada lembravam o aluno ideal, almejado durante o curso do Magistério.

Estava diante da minha falta de experiência, sentia-me sozinha, não conseguia estabelecer o diálogo na sala de aula, envolver os alunos em atividades. Muitas vezes ficava por horas observando todos aqueles meninos e meninas, sentados nas últimas fileiras da sala de aula, com instrumentos de percussão nas mãos que eles mesmos traziam, cantando, batucando. Meninos que tinham o meu tamanho e resolviam seus problemas muitas vezes na base da violência.

Havia também os mais novos, era a minoria e sentavam sempre nas primeiras fileiras. Esses conversavam comigo e diziam que queriam aprender coisas que os outros alunos aprendiam, sentiam-se acuados e intimidados pelos mais velhos. Sentia-me frente ao que dizia Wallon em relação aos grupos:

O grupo é indispensável à criança, não somente para a sua aprendizagem social, como também para o desenvolvimento de sua personalidade e para a consciência que ela terá desta última. O grupo a coloca entre duas exigências opostas. Por um lado, há a afiliação ao grupo como conjunto, senão o grupo Perse sua qualidade de grupo. A criança deverá assimilar seu caso a de todos os outros participantes; deverá identificar-se com o grupo em sua totalidade, ou seja, com indivíduos, interesses e aspirações. Por outro lado, só poderá agregar-se verdadeiramente ao grupo se entrar em sua estrutura, ou seja, assumindo um lugar e um papel determinado, diferenciando-se dos outros, aceitando-os como árbitros de suas façanhas e fraquezas. Em resumo, assumindo entre os outros membros a postura de indivíduo distinto que tem sua autoestima e suja autonomia, consequentemente, não pode ser ignorada. (WALLON, 1986, p. 176)

Chegava à escola e o medo me assolava. Tentava conversar com os professores mais velhos, mas isso era impossível, não havia um coordenador pedagógico que pudesse me apoiar. O jeito era encarar a turma e os desafios. Recorro aqui aos pressupostos wallonianos que afirmam ser “o conjunto afetividade a disposição do indivíduo de ser afetado pelo mundo interno/externo por meio de sensações de tonalidades agradáveis e desagradáveis.” (ALMEIDA, 2012, p. 87)

A ordem da diretora era a de manter o aluno na sala de aula e garantir o silêncio para não atrapalhar os demais professores. Na hora do intervalo era constantemente chamada para resolver problemas de agressão contra alunos menores, de outras salas. Lembro-me de que ficamos uma semana sem partilhar o tempo do recreio por conta da indisciplina. Saíamos antes, a merenda era servida, havia cinco minutos para banheiro e voltávamos para a sala de

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