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O PROFESSOR NA SALA DE CASA: PRÁTICAS SENSÍVEIS EM DANÇA

No documento PRÁTICAS SENSÍVEIS DE MOVIMENTO NA DANÇA (páginas 99-112)

Isleide Steil (FURB)

Introdução

[...] Ir recebendo um pouco de poesia no peito Sem lembranças do mundo, sem começo... Chegar ao fim sem saber que passou Tranquilo como as casas,

Cheiro de aroma como os jardins [...] Manoel de Barros

A poesia das coisas encanta o mundo, dá sabor a vida e nos possibilita a estesia dos momentos. Em meio ao caos, a poesia colore as salas de casa, traz os aromas dos jardins, acalma os pensamentos e expressa a alegria dos movimentos. Manoel de Barros (2013, p. 40) em seu poema “Singular, tão singular” anuncia a importância de “[...] deixar apenas que a emoção perdure [...], e assim, que nós (docentes) possamos ser singulares, mesmo que invisível aos olhos presentes, para provocar encontros por uma educação sensível”.

Nos encontramos em tempo de isolamento social, em guerra contra algo que não é visível aos olhos, enfrenta-se a pandemia do Coronavírus, causador da Covid-19. A gravidade da situação atingiu vários segmentos da economia, educação, arte e cultura, o que afeta diretamente os modos de fazer, pensar e sentir dança. Vários setores da economia como o comércio, profissionais autônomos e indústria precisaram se reinventar para manter suas atividades durante o enfrentamento do Coronavírus. Com a educação, arte e cultura não foi diferente. Entender como estes corpos que viviam em poesia, em estesia, passariam a ressignificar-se na tentativa de criar novos ritmos afetivos, se tornou um desafio a ser superado. Um território desconhecido começou a ser desvendado por professores das mais diversas componentes curriculares. E como agiria o professor de dança no ensino formal nessa busca de adaptação sem perder a constituição estética que nos é tão preciosa? Que tipo de

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relações passariam a ser estabelecidas com os estudantes sedentos de mover- se? Como se desenvolveria o papel sensorial e a dimensão sensível que se busca desenvolver em sala de aula por meio das telas? Frente a tantos questionamentos, procurou-se nesse estudo, refletir sobre algumas práticas em dança desenvolvidas, por ambiente virtual e de forma síncrona, na disciplina Teoria e Práticas Pedagógicas da Dança Contemporânea I, do curso de Licenciatura em Dança da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB – SC).

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa e se utiliza da metodologia a/r/tográfica, a qual chama a atenção para o entrelugar, “[...] onde o sentido reside no uso simultâneo da linguagem, de imagens, materiais, situações, espaço e tempo” (IRWIN; SPRINGGAY, 2013, p. 138). A Pesquisa Baseada na Prática: A/r/tografia investiga as práticas de artistas ou educadores, considera as relações de corpo e mundo em ações corporificadas, e busca entendimentos a partir dos processos de pesquisa em arte. Dessas relações que acontecem nos entrelugares surgem diferentes modos de saber e fazer enraizados no corpo.

O educador a/r/tógrafo provoca desdobramentos da arte no comprometimento da aprendizagem, ensino, compreensão e interpretação. A arte se apresenta como uma mola propulsora para a orientação dos sentidos, da percepção e das relações que podem ser estabelecidas. “Como metodologia de pesquisa que intencionalmente desestabiliza a percepção e complica a compreensão, a maneira como chegamos a saber e viver no espaço e no tempo é subsequentemente alterada” (IRWIN; SPRINGGAY, 2013, p. 144).

Uma pesquisa a/r/tógrafa se constrói a partir das relações estabelecidas nos entrelugares entre arte, sujeitos, tempo e espaço, tidos como espaços flexíveis e intersubjetivos, os quais produzem significados por meio da arte, da educação e da criação. Nesse sentido, ela é interpretada por seis conceitos denominados renderings, que possibilitam uma análise a partir do processo criativo, os quais brotam na contiguidade que pode se encontrar nas relações entre arte e grafia. Na pesquisa viva, a qual é um encontro da vida com arte e

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como ressignificações podem acontecer a partir dessa relação. Por meio de

metáforas e metonímias é possível trazer outros sentidos para a criação de

significados. Nas aberturas criam-se espaços ativos para novas interpretações e percepções, já nas reverberações observa-se como as práticas por meio da arte atravessaram o sujeito. E por fim, nos excessos percebe-se o que surgiu para além do que está formatado. Esse estudo tem como hipótese que é possível práticas sensíveis em dança por meio de ambientes mediados por tecnologia.

A sala de casa

Diante da pandemia, um grande desafio se apresentou para os docentes de todas as áreas. Na distância da presença física, do contato e da troca de olhares, professores e alunos se ressignificaram para a nova realidade da educação. Em um cenário de isolamento social, o espaço da sala de aula foi transferido para a sala da própria casa, e nesse contexto, as práticas em dança foram ressignificadas.

As relações corporais se modificaram, e dentro de um contexto de práticas de dança nas quais o corpo é elemento fundamental para o conhecimento pessoal, coletivo e do mundo, foi necessário adentrar outros caminhos para que as mediações em dança continuassem a ser provocadoras de experiências como anuncia Larrosa (2018). Para o autor, a experiência “[...] é o que nos passa, o que nos acontece, ou o que toca” (2018, p. 18), ela reverbera, provoca outros sentidos, ressignificações, faz o corpo pensar e sentir concomitantemente. O fazer a experiência por meio da dança permite outros olhares e sentires para o que está adormecido ou naturalizado no corpo, possibilita trilhar novos caminhos para outros modos de fazer, pensar e sentir dança.

Como estabelecer práticas sensíveis em dança pelo meio virtual? Provocar experiências como nos propõe Larrosa (2018)? Como proporcionar atividades que caminhem por processos de ensinagem? Anastasiou (2015, p. 20) anuncia a ensinagem como um processo que passa pelo apreender, o qual “[...] exige um clima de trabalho tal que se possa saborear o conhecimento em

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questão”. Nesse contexto, tornou-se necessário pensar em práticas de degustação em dança apartadas da proximidade do calor humano. O saborear uma vivência, seja pelo gosto, cheiro, olhar, toque ou pelo movimento é um modo de apreender conhecimentos, e assim o processo de ensinagem também se torna uma experiência como anuncia Larrosa (2018).

Nossa casa é um espaço familiar e compartilhado com pessoas de diferentes idades, e em tempo de pandemia, uns trabalham na sala, outros estudam no quarto, ou ainda dividem o mesmo espaço para diferentes funções. Professores precisaram se reinventar para que a degustação do ensino ultrapassasse as telas dos computadores, e os estudantes de dança necessitaram se permitir ao movimento do corpo em um espaço marcado por significações afetivas, de família, e vazio de colegas de estudo. Por estarem em processo de formação de professores, forçadamente tiveram que compreender o significado da arquitetura destas novas sala de aula que se estabeleciam, em casa, sem que o afeto se perdesse. Foi necessário buscar outras associações para que as aulas não parassem. Foi necessário colocar em prática a generosidade com o grupo, pois o sucesso das aulas dependeria diretamente do envolvimento e comprometimento com a situação.

O ensino mediado por tecnologia pede por mediações potencializadas que provoquem encontros, estranhamentos e vivências estésicas. Duarte Jr. (2010) discute sobre a educação estésica, a qual provoca um encontro com os sentidos do corpo e que é potencializado pelo diálogo com a arte. O autor anuncia que é primeiramente pelos sentidos que apreendemos o conhecimento.

A educação estésica refere-se primordialmente ao desenvolvimento dos sentidos de maneira mais acurada e refinada, de forma que nos tornemos mais atentos e sensíveis aos acontecimentos em volta, tomando melhor consciência deles e, em decorrência, dotando-nos de maior oportunidade e capacidade para sobre eles refletirmos. (DUARTE JR., 2010, p. 185)

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A educação do sensível articula os saberes sensíveis e inteligíveis, na qual razão e sensibilidade se complementam e se igualam em busca de novos olhares, percepções e entendimentos sobre si e sobre o mundo. E é nesse caminho da educação do sensível e de processos de ensinagem que esse estudo buscou desenvolver a dança mediada por tecnologia, a dança na sala de casa.

Práticas de dança na sala de casa

O professor na sala de casa necessita assumir a função de mediador para propor uma educação do sensível. Para Martins (2005, p. 54) “mediar é estar entre. Um estar, contudo, que não é passivo e nem fixo, mas ativo, flexível, propositor”. O professor/mediador na sala de casa se torna propositor de encontros, diálogos e de pesquisa, seja teórica ou prática, com o corpo ou com textos. Um encontro apartado do toque e do olhar presente, mas próximo da fruição, da pesquisa, da prática e da discussão.

Entende-se que a mediação do professor é essencial para que corpos estejam disponíveis para a dança em espaços não convencionais para essa prática, e nesse caso, a sala ou qualquer outro espaço da casa. Em aulas mediadas por tecnologia, o aluno não tem a obrigatoriedade de estar com sua câmera aberta, e esse é um dos primeiros desafios do professor, ou seja, sensibilizar os alunos para a proposta da aula. Antes mesmo de colocar em prática seu planejamento pedagógico, o professor/mediador está entre... os alunos, a dança e o meio digital, e assim, o convite à prática com os educandos, se torna uma tarefa diária. Para Soares (2016, p. 161),

[...] a mediação pode ser encontro, ampliação de conhecimento, conexão de conteúdos e interesses, ir além, ir ao encontro de um repertório cultural e aos interesses do outro, aproximação, reflexão, percepção aflorada, experimentação, diálogo, conversação, provocação, recepção, compartilhamento, reflexões que se desdobram em novas provocações artísticas e estésicas. (SOARES, 2016, p. 161)

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Nesse sentido, o professor/mediador é um provocador de experiências estéticas, mostra caminhos para encontros, constrói saberes por meio da arte, ressignifica conhecimentos, permite a criação, instiga a autonomia e a reflexão. E quando todos estão nas suas salas de casa, o professor/mediador é potencializador de corpos disponíveis para a prática isolada no presencial, mas coletiva no meio digital.

Durante o período da pandemia do Covid-19, o curso de Licenciatura em Dança da Furb adequou suas atividades pedagógica para aulas mediadas por tecnologia. Na disciplina de Teoria e Práticas Pedagógicas da Dança Contemporânea I, optou-se pela utilização da plataforma Zoom por essa possibilitar a visualização das imagens das câmeras de todos os estudantes. Sendo assim, buscou-se proporcionar a degustação da dança por meio de leituras, discussões de textos e dos conteúdos apresentados, mas também praticar, se perceber, sentir, compartilhar, observar e se estesiar. Aulas práticas aconteceram durante todo o período de isolamento social, entre atividades de percepção do corpo, das articulações, do peso, das bases corporais, e no estudo sobre a relação de práticas pedagógicas com outras linguagens. Nesse estudo, ressaltaremos duas práticas sensíveis em dança que aconteceram por meio digital.

Figura 1 – Escultura Tri Resina com Cargas, de Elisa Zattera

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A obra de Elisa Zattera denominada “Escultura Tri Resina com Cargas”23

foi um dos temas estudados, e teve como objetivo corporificar a sensação do encontro com a obra. Mas como sensibilizar os alunos para a apreciação de uma obra por meio de uma tela de computador? E ainda os provocar a releitura por meio do corpo? O professor/mediador estimula seus alunos a buscarem o conhecimento pelo caminho da educação do sensível, provocando a razão e a sensibilidade. Para isso, ocorreram momentos de observação, na qual a professora disponibilizou a imagem da obra, e foi discutido sobre as percepções e sensações de cada aluno. Foi debatido sobre a forma, cor, material da escultura e quais sensações e intenções de movimento surgem a partir das percepções e discussões. Para Barbosa (2012, p. XXXIII), “[...] o fazer arte exige contextualização, a qual é a conscientização do que foi feito, assim como qualquer leitura como processo de significação exige a contextualização para ultrapassar a mera apreensão do objeto”.

Refletir sobre o que está sendo apreciado torna o conhecimento significativo, e a discussão no coletivo apresenta a diversidade dos olhares sobre a obra. A escultura deixa de ser um mero objeto de arte e passa a ser um objeto propositor para a arte da dança, o qual possibilita a ressignificação da obra de arte, assim como da dança.

A proposta da aula seguiu com a pesquisa de movimento na busca de perceber como a obra reverbera no corpo de cada sujeito. No seu espaço familiar, cada estudante dançou a partir de suas sensações e percepções sobre a escultura, “é como se acontecesse [...] um trâmite entre o existente e o imaginado. Neste viés, é sempre o signo (algo que representa algo para alguém) que invoca um nexo entre práticas, coisas e as inúmeras possibilidades de relações entre elas” (GREINER, 2005, p. 97). As relações que foram estabelecidas surgiram da apreciação da obra, da discussão, da prática, e também ao contemplar o movimento em outro corpo.

Observar a dança no outro também é um momento de aprendizagem, pois percebe-se como a experiência se organizou em outro corpo, como ele se

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relacionou com a obra, e é possível vislumbrar outras possibilidades e percepções. Esses momentos que acontecem em aulas presenciais, também ocorreu no meio digital, no qual um grupo de alunos observou os movimentos do outro grupo, e vice-versa, para uma posterior discussão sobre o que foi observado. Nesse contexto, a obra visual promoveu o acesso à cultura da dança, assim como a pesquisa de movimentos, o diálogo, a apreciação, e a relação entre artes visuais e dança. Cabe ressaltar que durante toda a aula os alunos permaneceram com as câmeras abertas, para melhor interação entre estudantes e professora, e para poderem apreciar o trabalho dos colegas.

Duarte Jr. (2010, p. 12) anuncia que “[...] tudo aquilo que é imediatamente acessível a nós através dos órgãos dos sentidos, tudo aquilo captado de maneira sensível pelo corpo, já carrega em si uma organização, um significado, um sentido”. A educação do sensível pela dança caminha em busca de descobertas na relação com o outro e com o mundo, na qual razão e sensibilidade se equilibram na construção do conhecimento. Nesse sentido, as atividades síncronas, desenvolvidas via ambiente virtual, buscaram o despertar dos sentidos e da razão, e o ressignificar em forma de movimentos dançados.

Seguindo na busca de caminhos provocadores da experiência, também foi trabalhado a grafia do movimento, atividade assim denominada pela professora da disciplina. Por meio de um quadro branco disponibilizado no ambiente virtual Zoom, a docente foi desenhando traços de várias maneiras (Figura 2), e simultaneamente, os discentes se movimentavam a partir da leitura que faziam dos traços que se formavam. A relação entre grafia e dança acontece no momento presente da criação dos traços que reverbera nos movimentos dançados, é um diálogo instantâneo, um acontecimento em forma de performance, pois “as grafias apresentam certa estrutura coreográfica [...] que tecem uma gramaticalidade bastante singular como modo de comunicação.” (MARQUES, 2012, p. 70).

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Figura 2 – Tela do computador da pesquisadora

Fonte: Arquivo da pesquisadora

A reflexão e discussão sobre como foi o processo de corporificar os traços se torna importante para entender como se deu a relação dos diferentes corpos com o desenho, pois “o corpo vivo é mais o que uma coisa estendida num espaço visual, e sim todas as relações que suscita e que em certa medida são absolutamente singulares” (GREINER, 2005, p. 101), sendo assim, as percepções e relações estabelecidas pelo outro se torna aprendizagem, pois aponta outros olhares para o mesmo objeto.

A criação de cada sujeito é singular pois é fruto da relação que se estabeleceu com a obra e da experiência que se fez. “A criação irrompe por diferentes vias de acesso, a partir das quais a sensibilidade é chamada quando encontra clima propício de confiança para se manifestar” (MEIRA, 2009, p. 126). O clima propício é gerado pelo professor/mediador que busca o aflorar dos pensamentos e dos sentidos em prol do encontro do sujeito com a arte, e nesse caso, a dança.

A grafia como ação propulsora para o movimento foi explorada no primeiro momento da aula, e na sequência, o movimento impulsionou a criação do desenho. Foi solicitado para um aluno fazer um improviso em dança, e para o restante da turma desenhar esse movimento. A relação entre dança e grafia se modifica, pois são instigadas outras percepções, no primeiro momento a

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atenção se concentra no desenho, já no segundo ela se volta para o movimento no outro, porém ambos os processos provocam a relação entre corpo, grafia e dança, as percepções e sensações estão ativas nos três segmentos, e assim, “[...] o particular e o coletivo constroem-se mutuamente o tempo inteiro” (GREINER, 2005, p. 103).

O fechamento da proposta da aula se deu pela pesquisa de movimento a partir do desenho de um estudante criado na atividade anterior. Na primeira proposta da aula, a criação do movimento se deu concomitantemente com a do desenho, porém aqui, ao final da aula, houve a apreciação da obra e discussão sobre o processo de criação dos traços e o que resultou. Nesse sentido, o caminho para a criação da dança se torna outro, pois as informações são diferentes, mas a poética da dança surge de forma singular no corpo e na proposta. A experiência do desenho para o corpo e do corpo para o desenho, traz reflexões de como ocorrem diferentes leituras tanto no corpo como nos traços, e como ambos se organizam quando colocados em relação. A obra visual ou dançada surge a partir das leituras e ressignificações singulares de cada indivíduo.

Nas duas propostas de aula de dança, ou seja, na relação com a escultura e com a grafia, a apreciação, discussão e criação foram potencializadas no ambiente virtual, a partilha de movimentos e entendimentos foi constante. A construção do conhecimento se deu a partir de práticas sensíveis, nas quais razão e sensibilidade são afloradas para o despertar do corpo. Essas práticas se tornam viáveis pela mediação do professor que se propõe a desbravar caminhos e a caminhar ao lado de seus alunos, instigando uma educação do sensível e possibilitando encantamentos, mas também estranhamentos.

Considerações finais

Esse estudo teve como objetivo refletir sobre algumas práticas em dança desenvolvidas, por ambiente virtual e de forma síncrona. Conclui-se que é possível desenvolver práticas sensíveis em dança por meio digital, nas quais constroem-se significados na relação entre dança, educação e criação, e se

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ressignificam no diálogo do corpo com o outro e com o mundo, se o comprometimento for algo assumido pelo coletivo.

O estudo constatou que é possível práticas sensíveis em dança por ambiente virtual, porém é preciso despertar corpos e torná-los disponíveis, e isso dependerá da mediação sensível do professor. É preciso ressaltar que não há como garantir que essas práticas afetem o sujeito, garantia que não se consegue ter, também, em aulas presencias, pois o sujeito é único e carrega a sua história de vida. Mas pode-se afirmar que a arte ajuda no processo de sensibilização, como anunciam os autores citados no início do texto, e se o corpo estiver presente, ele abre caminhos para o afetamento e para ser atravessado pela arte da dança.

Por ser uma pesquisa a/r/tógrafa os dados são interpretados por meio dos renderings, os quais são: contiguidade, pesquisa viva, metáforas e metonímias, aberturas, reverberações e excessos. Contiguidade remete a palavras como proximidade ou vizinhança, e o diálogo entre as linguagens artísticas ressignificou as obras de arte, tanto da dança como das artes visuais, e a mediação da professora se fundiu aos fazeres artísticos dos alunos.

A pesquisa viva representa o movimento entre vida e arte, e como essas relações permeiam os modos de ser do sujeito. Os movimentos dançados de cada aluno manifestaram a sua singularidade que contém uma história de vida que se relaciona com sua percepção e entendimento sobre a arte apresentada. Essa “[...] tem a pretensão de capturar a vida onde ela se esconde ou se camufla para o olhar, mesmo nas coisas banais e simples” (MEIRA, 2009, p. 122). As propostas apresentadas ofereceram uma degustação de pesquisa, discussão, questionamentos, criação e compartilhamento, uma pesquisa-viva em dança.

As metáforas e metonímias surgiram como recursos para a criação de novos significados, e como elemento facilitador para a relação entre imagens e movimentos. Já as aberturas foram identificadas quando os processos artísticos provocaram rupturas de significados, e nesses entre-lugares abriu espaço para novos olhares, entendimentos e relações.

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As reverberações se apresentaram no trabalho em rede, na construção de significados no coletivo, pois cada percepção e apontamento de um

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