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O professor – seus atos e desabafos

Capítulo I As relações entre professores e alunos na História

1.2. O professor – seus atos e desabafos

O período, entre o fim do Império17 e o início da República foi marcado por grandes

17 No Brasil, o fim do tráfico negreiro ocorreu em 4 de setembro de 1850; nesse período, os federalistas, abolicionistas e positivistas iniciam a oposição ao excesso de centralização de poder nas mãos de Pedro II. O desgaste aumentou quando o imperador perdeu o apoio da Igreja e do Exército; os industriais queriam reduzir as importações, reivindicação que não foi acolhida no Parlamento, dominado pela aristocracia agrária; as camadas médias urbanas reivindicavam maior representação social e exigiram o fim do sistema eleitoral indireto e censitário que, nas eleições de 1876, permitiu que apenas 0,25 da população tivesse direito ao voto. Disponível em: <http://www.conhecimentosgerais.com.br/historia-do-brasil/economia-no-segundo-reinado.html>. Acesso em: 10 de jun. 2004.

transformações culturais, econômicas e sociais, e, em São Paulo18, essas modificações foram bastante significativas. Para que os professores se adaptassem a essas mudanças, surgiram as primeiras Escolas Normais, com a finalidade de integrar e melhorar a qualidade do corpo docente.

Analisando os registros encontrados no Arquivo do Estado, referentes às Escolas Normais, nesse período, alguns aspectos nos chamaram a atenção, pelas semelhanças entre fatos que aconteceram no passado e que acontecem no presente. Assim, temas como o policiamento exercido sobre a formação docente e a dimensão técnico-científica, baixos salários, descaso dos poderes públicos com o professor, falta de perspectiva por melhores condições individuais e profissionais, salas de aula com um número elevado de alunos e descomprometimento da família com relação às atividades escolares, há muito tempo cercam os professores.

Ao identificá-los, notamos que esses problemas estão relacionados a questões centrais que interferem diretamente na constituição desse "ser professor", e são agravados pelo fato de o professor percebê-los como "normais" da sua época e, portanto, passíveis de serem solucionados sem a sua colaboração.

Comparando-se os estudos feitos, em nossa volta ao tempo, com a pesquisa documental, não podemos deixar de observar que os interesses econômicos interferiram diretamente sobre a Educação e sobre a formação docente.

No início do século XI, observamos que, quando as navegações e o comércio se expandiram para o Oriente, criaram-se as corporações de ofício, pois havia a necessidade de

18No final do século XIX, São Paulo passou por profundas transformações econômicas e sociais decorrentes da expansão da lavoura cafeeira em várias regiões do estado, entre elas está a construção da estrada de ferro Santos- Jundiaí (1867) e o afluxo de imigrantes europeus. Em 1895, a população de São Paulo era de 130 mil habitantes (dos quais 71 mil eram estrangeiros), chegando a 239.820 em 1900! Nesse período, a área urbana se expandiu para além do perímetro do triângulo composto pelas ruas Direita, XV de Novembro e São Bento, surgiram as primeiras linhas de bondes, os reservatórios de água e a iluminação a gás.

mão-de-obra especializada. No século XIX, para suprir as demandas da sociedade brasileira, a mão-de-obra especializada teve que vir da Europa, já que aqui, devido aos três séculos de escravidão, não havia trabalhador especializado. Assim, nas décadas finais desse século, tem- se, em São Paulo, 54% do total de habitantes de origem estrangeira, que vinham da Europa em busca de melhores condições de vida. Assim, as escolas eram necessárias para que se garantisse que os valores morais, os costumes e as normas fossem, por meio da instrução, seguidos por todos os membros.

Portanto, o professor docente ou discente que ingressava na Escola Normal tinha que comprovar, por meio das provas, além da sua capacidade intelectual, a sua idoneidade, apresentando uma série de atestados, conforme demonstram as citações19 a seguir:

O Vigário da Consolação atesta que o Seu José Luiz Flaquer, alli residente, tem tido bom comportamento e nada há que o desabone.

Freguesia de N.S. da Consolação em São Paulo, dos 4 de janeiro de 1875. O Conego Carlos Augusto Gonçalves Benjamin

Capitão Francisco de Paula de Toledo, Primeiro Juiz de Paz e Subdelegado de Policia em exercicio nesta Freguesia da N.S. da Consolação da Capital de São Paulo.

Attesto que o Ilmo. José Luis, residente nesta Freguesia mais de um anno, tendo sempre exemplar comportamento, tanto civil como moral, nada me constado que o desabone. E por ter conhecimento e este me der pedido fasso o presente e firmo.

Consolação, 8 de Janeiro de 1875. Francisco de Paula de Toledo

Actesto que o Ilmo ... não se acha soffrendo de molestia alguma contagiosa O que attesto é verdade e eu o confirmo sob a fé do meo gráo.

São Paulo, 2 de fevereiro de 1875. Assinatura ininteligível [Relatórios 1]

Esses atestados referem-se a atitudes, à moralidade do candidato etc. Todos os documentos recebiam um selo contendo a imagem de D. Pedro II. Anexa aos documentos, havia a solicitação do diretor para o inspetor da escola pública, para que este autorizasse a freqüência do professor (a) discente:

Illmo Snr. Dr. Inspector Geral de Instrucção Publica

[...] achando-se legalmente habilitado para frequentar, em termos regulares, as aulas da Eschola Normal desta Cidade, como prova pelos inclusos documentos, vem respeitosamente requerer a V.Sª. que se digne admettil-o, e mandal-o matricular no 1o. anno da mesma Eschola.

Sendo de Justiça [Relatório 2]

Nessas autorizações, o inspetor apenas chancelava o atestado recebido ou negava a admissão, se os documentos apresentados não fossem satisfatórios para provar a competência moral do candidato, mesmo este já tendo passado nas avaliações escritas. Assim, ser admitido na Escola Normal representava passar por um processo seletivo que não poderia ser alcançado por qualquer candidato.

Os professores docentes e discentes sabiam da importância dessa seleção e de uma boa formação e tinham-na como expectativa para a melhoria do ensino e da sua prática:

[...] Atualmente o magistério em nossa província, não satisfaz as necessidades que temos do seu poderoso auxílio, mas esperamos que com as luzes recebidas na Escola Normal de São Paulo possamos remediar os males, do qual está atacado o magistério em nossa província. As escolas normaes são os mais poderosos meios, que temos para o engrandecimento de uma nação, porque como já sabemos a Escola Normal forma bons mestres e este bons cidadãos e tanto isso é verdade que vejamos o que disse o Sr. Bismark20 a um ministro espanhol quando este lhe perguntou quais forão os meios empregados para o rapido desenvolvimento com o que se acha Allemanha, respondeu-lhe o Sr. Bismark: fazer bons mestres porque estes farão bons cidadãos.

José Luis Fhaquer (04.04.1875) - Normalista [Relatório 3] [...] As escholas normaes são instituições indispensaveis para o progresso da instrucção primária, porque só ellas podem dar ou formar bons mestres. Era uma das necessidades que a provincia de São Paulo sentia e que felizmente foi satisfeita.

Parecia uma incoherencia a falta de uma Eschola Normal nesta provincia: para ser mestre de qualquer officio era necessario um aprendizado, ao passo que para ser o educador da mocidade não!

Cezario Laerge Adricaz (07.12.1875) – Normalista

20 Bismark chegou ao poder em 1862, comandou um forte ataque aos católicos, expulsou as ordens religiosas, tornando

o Estado completamente laico, destituiu bispos, e lançou-se numa campanha de hostilização ao Vaticano. Bismark usava argumentos de Martinho Lutero, não pelo seu valor religioso, mas porque lhe convinha a idéia de um Estado alemão conforme a civilização germânica original, não romanizada. Bismark chamaria a esse conjunto de medidas Kulturkampf, ou "luta cultural", no sentido da restauração dos ideais germânicos, independentes do âmbito da autoridade papal. Disponível em <http://www.bmotta.planetaclix.pt/sauniere.html>. Acesso em: 26 fev. 2004.

[Relatório 4]

Os professores docentes e discentes acreditavam que o engrandecimento da nação viria por meio da educação e tinham uma visão crítica dessa formação, apontando que as dimensões técnico-científicas e políticas seriam as alavancas para o progresso brasileiro.

No entanto, observamos que o Programa de ensino21 da Escola Normal de São Paulo, que correspondia à Pedagogia e Metodologia, era permeado de preceitos religiosos, preconizando o desenvolvimento do intelectual por meio de exercícios mnemotécnicos e da moral, nos quais as dimensões técnico-científicas e políticas eram importantes para controlar professores e alunos, assim como ocorreu no século XI.

Os professores discentes também tinham noções de educação cívica e como se portar nas relações entre o professor/Estado/família.

Esta orientação é apontada nos relatórios22, dos professores da Escola Normal que eram dirigidos ao Diretor da Instrução Pública do Estado de São Paulo, (no período de 1870 a 1896, estes foram o Dr. Arthur Cezar Guimarães e o Dr. Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo23), para cumprir o regulamento de 22 de agosto de 1887.

Escola da Bella-Cintra24

[...] Foi um trabalho enorme montar esta aula pela difficuldade em encontrar casa apropriada e tambem porque as alunnas quasi todas analphabetas e nunca tendo frequentado escola, não sabiam como portar-se na aula, de sorte que foi preciso primeiro ensinar-lhes a ter proposito e dar-lhes noções geraes de civilidade.

21 Apontamentos arquivados na caixa 2-CO 5130 - Escola Normal – Arquivo do Estado de São Paulo.

22Disponíveis no Arquivo do Estado de São Paulo – caixa 13-CO 4931; e caixa 15-CO 4933- Instrução Pública. 23O Professor Thomaz Galhardo era natural de Ubatuba, foi autor da primeira cartilha de alfabetização do Brasil. Disponível em: <http://www.setur.com.br/atracoes/camaramunicipal.htm>. Acesso em 25 fev.2004.

Eliza Rachel de Macedo 25 (30.12. 1893) - Professora [Relatório 5]

Escola de São Miguel

[...] Resta-me em conclusão prestar á V.S. informações referentes a moralidade dos alunnos. Á vigilância que, comquanto penosa, tenho podido exercer sobre os alunnos na escola e ainda fóra d’ella, aos incessantes conselhos e admoestação que opportunamente lhes dirijo.

Antonio Morato de Carvalho (15.06.1891) – Professor [Relatório 6]

Atualmente, muitos professores se queixam de que os pais estão deixando para eles a tarefa de ensinar boas maneiras para os alunos e alegam que a escola não é responsável por tais ensinamentos. No entanto, observamos que nos relatórios estava evidente para o professor a necessidade de tal formação, e a preocupação com a dimensão humano-interacional acontecia na Escola Normal e nas escolas públicas.

Assim, mesmo identificando que as dimensões humano-interacional e política eram também utilizadas como mecanismos de controle, por parte dos governantes, nesse contexto, os professores, ao se preocuparem com essas dimensões, possibilitavam aos alunos, estrangeiros ou brasileiros, melhores condições de inserção no mercado de trabalho e de se adequarem às novas regras sociais.

25Eliza Rachel Macedo de Souza (1875-1965), cursou a Escola Normal Caetano de Campos, foi diretora durante 32 anos do Grupo Escolar Maria José, na Rua Manoel Dutra. As festas de encerramento do ano letivo nessa escola eram famosas, a elas comparecendo quase sempre os presidentes do Estado e seu secretariado. Pelos seus bancos passaram inúmeras e ilustres personalidades do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.leste2.hpg.ig.com.br/lajeado.htm>. Acesso em: 25 de fev. 2004.

Com relação à dimensão técnico-científica, observamos que, na Escola Normal, a grade curricular era bastante extensa e, além dos conhecimentos gerais e específicos, eram abordados assuntos referentes ao ensino religioso. Nas avaliações, os professores tinham que discorrer sobre os seguintes temas:

• Mestres da Santa Madre Igreja

• A oração dominical

• Qual a importância do professor público, em relação aos demais funcionários públicos?

Nessa perspectiva, podemos pensar que o discurso dos professores, ligando a docência ao sacerdócio, era fruto da educação que eles recebiam26. Essa fala deveria ser pertinente aos ideais religiosos, como podemos observar nos trechos das avaliações abaixo:

[...] A eschola é um lugar destinado por Deus para as novas gerações (guiadas por um mestre) desenvolverem as suas verdes intelligencias e por meio desse desenvolvimento, conhecerem a Deus, as leis, seus superiores e mesmo seus inferiores. A eschola toma o lugar de templo de Deus visto que acha-se nella uma reunião de fieis os quaes fazem o papel de Apostolos e os professores o de Jesus Christo.

Francisco Solano Gonçalves (29.11.1875) – Normalista [Relatório 7]

Assim, quando o professor se formava e ia atuar nas escolas primárias, continuava a reproduzir esse discurso, pois se não o fizesse, receberia punições por parte dos inspetores

públicos, se fosse professor primário, ou dos diretores da Escola Normal, se fosse o professor formador. Estes fatos ficaram evidentes nestes relatos:

Bairro do Lavapés 27do município de São Luiz de Parahytinga

Saibamos comprehender a nossa missão de verdadeiros educadores da mocidade, afim de proporcionar-mos a nossos irmãos o inestimavel beneficio de uma educação correta, a base principal do verdadeiro desenvolvimento social que tanto carecemos.

Candido Tertuliano dos Santos (01.06.1890) - Professor [Relatório 8] [...] Sim, o professsorado primario tambem é um sacerdocio; o professor é obrigado pela lei a ensinar seus alunnos o Cathecismo da Doutrina Christã, a narrar-lhes as sublimidades da vida do Redemptor, a dar-lhes bons exemplos, etc. [...] O Professor é o pai de seus alunnos, porque si não lhes dá a vida do corpo, da-lhes a instrucção que é, por assim dizer, a vida da alma. Nem um outro empregado público esta neste caso.

João Niberto de Santa Rosa (04.12.1875) – Professor [Relatório 9]

A idéia de uma educação correta era sustentada pelos ensinamentos cristãos, assim o cuidado com o corpo e com a alma representava a base do verdadeiro desenvolvimento.

26Regulamento de 30 de Junho de 1880. [...] Capítulo IV Art. 10 - Os professores deverão: [...] 6º - Dar caracter

practico ao ensino, e inspirar aos alunnos sentimentos moraes e religiosos que os habilitem as virtudes e dotes necessarios a carreira a que se destinão.

27O bairro do Cambuci desenvolveu-se em torno do caminho do Lavapés, uma das primeiras estradas que conduziam ao litoral. A denominação, de origem popular, lembra o hábito de, ao entrar na cidade pela baixada do Glicério, lavar os pés no córrego ali existente. Disponível em: <http://www.ajorb.com.br/hb- bixiganome.htm.>. Acesso em: 6 de fev. 2004.

Esses cuidados requeriam um controle rigoroso da disciplina, tanto dos professores, quanto dos alunos das escolas primárias e normais, e era exercido pelo diretor e pelos inspetores.

Aos tres28 dias do mes de Setembro do anno de mil oitocentos e oitenta, n’esta Imperial Cidade de São Paulo e Escola Normal da mesma provincia, reunidos em Congregação [...] O Doutor Director comunica haver recebido officio do D. Inspector do thesouro Provincial, reclamando contra o arruido feito pelos alunnos da Escola, arruido que alterava o serviço da repartição a seu cargo.[...]

Antonio da Silva Jandeiro

No entanto, apesar de todo o rigor disciplinar, os diretores das escolas normais desejavam que, por meio da lei, pudessem exercer um domínio maior sobre as práticas dos professores, para que se evitassem fatos como os relatados29 abaixo:

[...] Entendo que, embora seja pela nossa Constituição do Imperio garantir a liberdade de pensamento e de consciencia, e portanto tenhão os Professores o direito de seguir este ou aquelle systhema philosophico e scientifico - este direito tem limites estabelecidos pela própria Constituição e mais Legislação do Imperio. [...] Os Professores acima referidos transpõem taes limites porque sabendo do terreno puramente methodologico - attacão diretamente os principios fundamentaes da Religião do Estado para pregar a Religião da Humanidade fazendo um verdadeiro curso de philosophia primeira de A. Comte. Diversas provas escriptas ha de alunnos em que, em vez de theorias de Physica ou Chimica, vê-se reproduzidas as prelecções de puro positivismo do respectivo Professor. Estes factos de propaganda já tem

28 Estes apontamentos estão registrados na folha 4 do livro de Atas, disponíveis no Arquivo do Estado de São Paulo. EO 1178. Instrução pública. Escola Normal, 1880.

29 Relatórios n. 9/10. Disponíveis no Arquivo do Estado de São Paulo. caixa 3.CO 5131. Escola Normal, 1886- 1889.

produzido resultados maus entre o Professor Publico. É pois urgente necessidade reprimir tal propaganda. Por isso ha necessidade de uma reforma no Regulamento de 30 de Junho de 1880, dando-se ao Director meios dos quaes actualmente não dispõe.

Director José E. de Sá Benevides30 (26.12.1885) [Relatório 10]

Dirigido para o Ilmo. Sr. Senador João Alfredo Correia de Oliveira - Presidente da Provincia de São Paulo

[...] O professor da 5a. cadeira que nenhum compendio propunha não só porque segundo os principios da eschola philosophica que seguia e por motivo para elle de muito peso o compendio devia ser a palavra do mestre, [...] e o Professor da 2a. Cadeira, que propunha como compendio as obras de Condorcêt31 e Lacroix unicamente porque Comte as recomendava. [...] Aproveito o ensejo para mais uma vez chamar a attenção de V. Exª. sobre a necessidade urgente de ser reforçado o actual Regulamento que dá o lugar a este e outros factos resultantes de sua imperfeição.

Director José E. de Sá Benevides (10.08.1886) [Relatório 11]

30 O Dr. José Estácio Corrêa de Sá e Benevides nasceu na cidade do Rio de Janeiro, a 31 de julho de 1856. Freqüentou a Escola Normal de S. Paulo, onde se diplomou em 1879. Foi nomeado diretor da Escola Normal em 1884. Era conservador em política e nos costumes, sendo filiado ao Partido Conservador, então no poder. Tomou a decisão de exonerar-se da direção interina da Escola, em plena hegemonia dos positivistas, no ano de 1887. Faleceu em São Paulo, a 12 de agosto de 1914. Disponível em: <http://www.fe.usp.br/laboratorios/cmemoria/prof15.html>. Acesso em: 25 fev. 2004.

31 Marquês de Condorcet (1747-1794) - A hostilidade pessoal do filósofo à educação dos jesuítas fez com que Condorcet se tornasse ideólogo das modernas pedagogias da liberdade. Disponível em: <http://www.folhablu.com.br/ler.noticia.asp?noticia=9017&menu=27>. Acesso em: 6 de fev. 2004.

Nesse contexto, foi elaborada a Ata32 da Congregação extraordinária de 15 de setembro de 1886, para atender tais reivindicações:

Os professores ficam subjeitos ás seguintes penas: 1º. - Admoestação, 2º. - Reprehensão, 3º. - Suspensão do exercício e dos vencimentos por uns tres meses e 4º. - Perda da carteira por demissão.

Art.15 -- As penas de admoestação e de reprehensão serão impostas pelo Director e as de suspensão e demissão pelo Presidente da Provincia em virtude de representação do Director.

[...] 2º - Quando o professor der maus exemplos ou inculcar seus principios aos alunnos;

3º - Quando faltar ao respeito devido ou desobedecer as ordens de autoridade superior.

Art.19 - A pena de demissão será imposta: 1º - Quando inefficazmente tiver sido suspenso o professor mais de uma vez, 2º - Quando formalmente desobedecer as ordens do governo, 3º - Quando fôr condennado por crime de furto, estellionato ou outra qualquer oppinião da moral publica e da religião do Estado.

Aos professores das escolas anexas primárias são extensivas as disposições d’este Capitulo exceto quanto a substituição reciproca.

[...] Art.71 - Si a indisciplina consistir em injurias ou calunnias verbaes ou escriptas ou em tentativa de agressão ou violencia contra qualquer das mencionadas funcionarias, o delinquente e seus cumplices serão punidos com dous a tres annos de punição de frequencia e de exame na Escola.

32 Os apontamentos abaixo estão registrados nas folhas 59 a 67, do livro de Actas de 1880 – EO 1178 – Instrução pública – Escola Normal – Arquivo do Estado de São Paulo.

Art.72 - Si, finalmente, a violencia se realizar ou o facto consistir em offensa á moral, o culpado alem de incorrer na penna de expulsão da Escola será entregue a autoridade policial para o devido effeito.

Art.73 - A pena de expulsão inhabilita a que si ella incorrer de novamente matricular-se como alunno da Escola, e de em qualquer tempo ser professor publico nesta Província.

Antônio Militão de Souza Aymberé

Mesmo sofrendo tantas pressões, os docentes ousavam colocar suas idéias e concepções, contrariando, portanto, as falas que apontam a ausência de reflexão e criticidade dos professores, ao longo da História. Parece que os relatórios a seguir ratificam tal hipótese:

Escola dos Campos Elyseos

[...] O grande educador suisso que hoje serve como de pharól a todos que se dediccam á nobre missão de ensinar já dizia “ser a observação a base de todos os conhecimentos”. Este sábio preceito de Pestalozzi, confirmado por todos os pedagogistas modernos era tambem sustentado por Commenius quando dizia que “o que de facto se vê, mais depressa se imprime na memoria que o que é verbalmente expendido ou anunciado cem vezes”. Um grande museu escolar para o ensino de sciencias é, pois, a mais urgente