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CAPÍTULO 5 RESULTADOS

5.2. Caracterização das Práticas Pedagógico-Didácticas com Orientação CTS

5.2.3. Professora Colaboradora Cíntia

A caracterização das práticas pedagógico-didácticas da professora Cíntia, antes do Programa de Formação, fez-se a partir da análise de uma aula observada e descrita no Diário do Investigador (Anexo 6) e de acordo com a aplicação do Instrumento de Caracterização das Práticas Pedagógico-Didácticas com orientação CTS (ICPP-D CTS), construído por Vieira (2003). Na tabela 6 que se segue é apresentada, para a aula observada desta docente, a data, o tema e a duração da observação.

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Tabela 6 - Aula observada da professora Cíntia, antes do Programa de Formação

Data Tema Duração

(minutos) 24/03/2009 Meios de defesa contra os

micróbios 45

Tal como é possível constatar pela tabela anterior, a observação das práticas pedagógico-didácticas da professora Cíntia, antes do Programa de Formação, foi de 45 minutos. Esta aula, leccionada numa turma de 6.º Ano constituída por 19 alunos, foi relativa ao tema ―Meios de defesa contra os micróbios‖ e começou com a correcção dos exercícios resolvidos na aula anterior. Esta fez-se oralmente, sem que fossem criadas oportunidades de análise dos erros cometidos pelos alunos, isto porque se aceitavam, apenas, as respostas correctas.

A professora manteve como estratégia a exploração oral de conteúdos já leccionados, com questionamento focalizado nos conhecimentos científicos, como relata episódio extraído do Diário do Investigador.

PC27 - Ora, bem. Na aula passada estivemos a falar dos micróbios. Vimos então que havia os bons e os maus, os chamados micróbios patogénicos. Lembram-se quando falamos onde é que existiam os micróbios?

A – No ar.

PC28 – Sim. Como é que nós podemos apanhar os micróbios? A – Contacto directo

PC29 – Mais…

A - Através dos alimentos A- Pela água

PC30 – Como assim? Que água? A – Da fonte. Imprópria

PC31 – A que esteja imprópria para consumo. E dos alimentos? O que é que nós falamos aqui?

A – Das maioneses, os ovos

PC32 – Das maionese, muito bem, para ter atenção por causa dos ovos. Lembram-se dos ovos. Como é que era o nome

A – Salmonelas.

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PC33 – Também podemos apanhar na terra, no solo. Se existem tantos micróbios assim, por exemplo no ar, se existem micróbios no solo, se existem micróbios

A – Em tudo

PC34 – Se existem, por exemplo, no ar porque é que eles não me vão atacar? A – Tem uma vacina…

A - Porque está protegida…

PC35 – Tenho uma vacina, isso é só se eles entrarem, mas antes de entrarem A – Há os pêlos…

PC36 – E eles só entram pelo nariz?

A – Pela boca. E a saliva não deixa entrar… A – As lágrimas…

PC37 - Sim, a saliva, as lágrimas. E se eles passarem ... muitas vezes eles passam pela boca e chegam ao estômago. Sabem o que é que acontece no estômago? Produz-se um suco, é o suco que ajuda a digestão dos alimentos, mas que contem um ácido e esses vai destruir também os micróbios que entrarem. Porque é que eles não entram pelo resto do corpo?

A – Não dá!

PC38 – Não dá para entrar? A – Dá! Pelos poros.

PC39 – Pelos poros, tarefa difícil? A – A pele está protegida.

PC40 – A pele não está protegida. A pele está-nos a proteger. Nós temos barreiras. Se nós não tivéssemos barreiras imaginem a quantidade de micróbios que entravam. Estamos expostos ao ar, bastava andarem aqui os micróbios já está, mas nós temos barreiras. Temos a pele que é uma grande barreira, temos as lágrimas nos olhos, temos os pêlos, temos o revestimento, as mucosas, que é um revestimento que temos nas vias respiratórias, que vão produzir o chamado muco, sabem o que é muco? Ao longo das vias respiratórias entram poeiras, entram micróbios, mas vão se colar no revestimento das mucosas que produzem muco e depois nós assoamo-nos e sai aquele muco. Que é lixo! Isto são defesas externas. Existem dois meios de defesa: os meios de defesa externos e os internos. Há um bocado alguém falou das vacinas, este meio de defesa é interno. É depois de os micróbios entrarem. Perceberam quais são as barreiras que nós temos?

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137 A – Sim (Anexo 6, Março de 2009)

Posteriormente deu-se, um momento de registo dos conteúdos abordados, através de uma síntese que os alunos copiaram para os cadernos diários que havia sido construída basicamente pela docente. Este momento antecedeu a leitura, observação de imagens e resolução das questões da página 78 do manual escolar adoptado, sobre ―As primeiras defesas do organismo – defesas externas‖. Para a correcção das questões a professora, verificou se o aluno tinha dado a resposta correcta e de seguida solicitou que a registasse no quadro para todos os outros copiarem.

Durante toda a aula houve um ambiente caracterizado por um nível geral de desinteresse, embora as conversas bilaterais decorressem em tom de voz baixo, não perturbando o funcionamento global da aula. Os alunos ora participavam na aula, ora conversavam com o colega de carteira sobre assuntos distantes da mesma.

Através da análise da aula da professora Cíntia, anteriormente descritas e da aplicação do Instrumento de Caracterização de Práticas Pedagógico-Didácticas com Orientação CTS (Vieira, 2003), é possível referir, tendo como referência as duas categorias do referido instrumento, bem como as dimensões correspondentes de análise e respectivos indicadores, que:

Categoria I – Perspectivas do Ensino / Aprendizagem A – Ensino / Papel do Professor

As práticas pedagógico-didácticas da professora Cíntia configuram, em termos gerais, uma perspectiva de ensino por transmissão. Valorizam-se, sobretudo, os conteúdos programáticos, em termos de conhecimentos científicos, que por várias vezes foram repetidos e que a docente vinculou de forma essencialmente expositiva. As questões colocadas visavam basicamente a reprodução da informação transmitida, não sendo valorizados os erros dos alunos.

B – Aprendizagem / Papel do Aluno

Valorizou-se essencialmente o conhecimento disciplinar e a sua aquisição através da memorização, mediante processos de aprendizagem que não contemplam a resolução de situações-problema de cariz CTS. Os alunos não foram chamados a debater ideias, a reflectir, a argumentar, a pesquisar, a cooperar. Desempenharam um papel de

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reprodutores dos conhecimentos supostamente adquiridos. Os registos e esquemas sintetizados pela professora e que os alunos registam no caderno diário, nada parecem acrescentar à informação contida no manual escolar.

C – Concepção de: Trabalho Experimental, Ciência, Tecnologia, Cientista, etc.

As práticas pedagógico-didácticas da professora Cíntia, tiveram subjacente uma visão internalista da Ciência e encararam o conhecimento científico como sendo absoluto/ definitivo. Não recorrem ao trabalho experimental nem contemplam a Educação CTS. As inter-relações Ciência, Tecnologia e Sociedade não foram consideradas.

Categoria II – Elementos de Concretização do Processo de Ensino/Aprendizagem

D – Actividades / Estratégias / Aprendizagem

Prevaleceu a exposição oral da professora, mediada pelo questionamento focado nos conhecimentos científicos e pelo registo nos cadernos diários da informação a reter. Não foram implementadas estratégias/actividades como debates, resolução de problemas, trabalho de grupo, entre outras, capazes de promover a interacção, a reflexão, a pesquisa, etecetera, fundamentais em Educação CTS.

E – Recursos / Materiais Curriculares

O manual escolar adoptado foi o único recurso didáctico utilizado e as actividades aí sugeridas como uma proposta a seguir. Assim, centraram-se basicamente nos conhecimentos científicos a transmitir e a sua exploração omitiu qualquer preocupação ou interacção de natureza CTS.

F – Ambiente de Ensino / Aprendizagem

Na aula observada apelou-se, essencialmente, à atenção dos alunos através do questionamento. A distracção dos alunos era visível e as conversas sobre assuntos alheios ao tema da aula ocorreram com alguma frequência. Num clima pautado pela reduzida interactividade, não foram verdadeiramente proporcionadas condições de concentração, de trabalho cooperativo, de discussão, indispensáveis em contexto de interacção CTS, apesar da empatia entre alunos e professora.

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