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CAPÍTULO 4 METODOLOGIA

4.5. Tratamento de Dados

No âmbito da presente investigação, que, como já foi referido, é de natureza qualitativa, tendo em conta o seu problema e os seus objectivos, procedeu-se à recolha dos dados, utilizando a análise de conteúdo, como técnica mais adequada. ―A análise de conteúdo (…) pretende reduzir o volume de dados transcritos sem que com isso (…) se perca informação relevante‖ (Gonçalves, 2006, p. 126).

Entendemos, seguindo Bardin (2008) que a análise de conteúdo é uma técnica para fazer inferências por identificação sistemática e objectiva das características específicas de

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uma mensagem. Ainda de acordo com a autora, esta análise envolve um conjunto de diversos instrumentos metodológicos e/ou técnicas de análise das mensagens, cada vez mais subtis e em incessante aperfeiçoamento, que se aplicam a ―discurso‖ muito diversificados. Então, por meio de procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, procura obter indicadores que possibilitem inferir conhecimentos e conclusões sobre essas mensagens. Podemos desta forma dizer, de acordo com Carmo e Ferreira (1998), que a análise de conteúdo consiste numa descrição dos dados recolhidos e na sua respectiva interpretação.

Tendo por orientação que uma completa e rigorosa análise de dados é fundamental em qualquer tipo de investigação, no presente estudo, no processo de análise dos dados recolhidos, pretendeu-se evidenciar os significados da realidade em estudo que é complexa, dinâmica e que demonstra uma dimensão interactiva e qualitativa (Lüdke e André, 1986). Assim, procedeu-se à análise de conteúdo dos registos das observações realizadas às práticas didáctico-pedagógicas dos docentes envolvidos no estudo, à transcrição das entrevistas realizadas e à posterior análise do seu conteúdo.

Numa primeira etapa da análise de conteúdo foi realizada a descrição para, posteriormente, na última fase, se proceder à interpretação, ou seja, à atribuição de significado aos factos e dados descritos. Entre estes dois períodos deu-se corpo à intenção da análise de conteúdo, ―a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (das) mensagens‖ (Bardin, 2008, p. 44). Portanto, iniciou-se este processo de análise com uma leitura rápida, designada por Bardin (2008) por Leitura ―flutuante‖, de todo o material recolhido, as entrevistas semi-estruturadas e as observações das aulas de cada uma das professoras colaboradoras, com a intenção de captar o sentido global dos registos disponíveis e sem qualquer intenção de classificar ou de fazer inferências sobre os seus conteúdos. Depois, estabeleceu-se o quadro de categorias de análise de conteúdo, identificando-se, posteriormente, os excertos do discurso de cada professor a ser incluídos em cada categoria. Finalmente, leu-se, de uma forma profunda, todos os excertos relativamente a cada categoria para que se possa identificar as ocorrências regulares, as tendências e os padrões considerados pertinentes e importantes para a compreensão e interpretação dos comportamentos (Lessard-Hébert; Goyette e Boutin, 1999; Vieira, 2003). Após estes dois tipos de leituras realizados, procedeu-se à extracção de significados dos dados, estabelecendo-se relações e efectuando-se inferências à luz do quadro teórico de referência realizado para este estudo. Tentou-se, seguindo Guerra (2008), fazer inferências válidas e replicáveis dos

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dados para o seu contexto, superando a simples descrição sobre o assunto, na tentativa de estabelecer conexões e relações que possibilitassem novas expectativas.

No que concerne ao presente estudo, seguindo o preconizado por Carmo e Ferreira (1998) e Vieira (2003), na análise do conteúdo seguiram-se as seguintes etapas: (i) Definição dos objectivos e do quadro de referência teórico; (ii) Constituição de um corpus; (iii) Definição de categorias e de unidades de análise e (iv) tratamento dos resultados obtidos.

Assim, o quadro teórico deste estudo constitui-se do ensino das ciências, dos propósitos da sua concretização e da formação de professores (revistos no capitulo II). A constituição do corpus de dados desta investigação foi o resultado dos dados recolhidos através dos instrumentos usados, sendo estes recolhidos entre Abril de 2009 e Junho de 2009. A nível procedimental, os dados foram tratados de forma a facilitar o manuseamento da informação ao longo da sua análise e apresentação e a permitirem uma descrição exacta das características pertinentes do conteúdo.

Assim, para os dados relativos às concepções sobre CTS das docentes envolvidas, as categorias foram estabelecidas a partir dos dados recolhidos, de acordo com os tópicos a que correspondem as diferentes questões VOSTS e da literatura existente. Como procedimento de codificação adoptou-se como código o número do item, seguido do seu código original e da designação do tópico da versão abreviada do VOSTS (versão portuguesa de Canavarro, 2000), por exemplo Item 16 (70212) – ―Tomada de decisão sobre questões científicas‖.

Quanto à caracterização das práticas didáctico-pedagógicas com orientação CTS, antes da implementação do programa de formação, obtidos com a entrevista, seguiram-se procedimentos de codificação considerados os mais ajustados. Na transcrição das entrevistas seguiu-se as convenções utilizadas por Martins (1989) e numeraram-se as interacções verbais do entrevistador (E) e da professora entrevistada (P seguido da inicial do pseudónimo), por exemplo, na entrevista à professora de pseudónimo Cíntia temos (E2) quando o entrevistador realiza a sua segunda intervenção, (PC2) quando o entrevistado responde. Quanto ao capítulo seguinte, são apresentados para cada professora episódios relativos à respectiva entrevista. Estes fazem-se acompanhar de uma referência ao anexo em que se encontram transcritos e à data correspondente, por exemplo: Anexo 3, Abril de 2009.

No que diz respeito aos dados relativos às observações das práticas pedagógico- didácticas registadas no Diário do Investigador, seguiu-se também as convenções utilizadas por Martins (1999) e procedeu-se à transcrição baseada na gravação áudio e

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nos registos recolhidos pela investigadora nas aulas de cada uma das professoras, utilizando-se os seguintes códigos: P (para a professora); A (aluno); Alguns (quando a transcrição corresponde à intervenção de dois ou mais alunos); Todos (nos casos em que o registo se aplica à totalidade dos alunos); entre parêntesis recto - [ ] - registos relativos a outros aspectos das práticas pedagógico-didácticas presenciadas e alvo de descrição por parte da investigadora deste estudo. Quando se referiram os dados do Diário do Investigador, explicitou-se o anexo em que se encontram transcritos, o nome desse instrumento, o número da aula e a data correspondente – por exemplo: Anexo 6 – Diário do Investigador, 1.ª aula 26/04/2009.

Por fim, para realizar o tratamento das informações contidas nos materiais didácticos construídos pelas professoras colaboradoras no decurso da frequência do Programa de Formação Contínua em Didáctica das Ciências, foi utilizada a análise de documentos, já que, segundo Cohen, Manion e Morrison (2000) e Bardin (2008), se constitui uma técnica que visa representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original a fim de facilitar a sua consulta. No que respeita ao procedimento relativo à análise documental, ele foi realizado no decurso dos seguintes momentos:

1.º momento – recolha dos documentos (materiais/recursos didácticos) produzidos da 8.ª à 12.ª sessão da formação de professores. Cada professor colaborador, durante o período acima referido, desenvolveu no mínimo três materiais/recursos didácticos com foco CTS. Todos os documentos produzidos pelos professores colaboradores foram sujeitos a uma validação, efectuada pelas duas investigadoras.

2.º momento – A documentação organizada foi sujeita a uma crítica externa (avaliação individual dos documentos), efectuada por especialista, na tentativa de clarificar a validade, tendo em conta os critérios aos quais os materiais /recursos didácticos devem seguir para concretizarem uma abordagem CTS (revisto no Capítulo II). De seguida os documentos foram sujeitos a uma crítica interna, realizada pelas investigadoras, procurando interpretar o seu conteúdo, perceber o seu processo de construção, bem como entender as hesitações, as dúvidas, as dificuldades na sua concepção. Este momento da análise documental permitiu a posterior redacção dos aspectos relativos à interpretação dos dados.

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