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CAPÍTULO 5 RESULTADOS

5.2. Caracterização das Práticas Pedagógico-Didácticas com Orientação CTS

5.2.4. Professora Colaboradora Heloísa

A caracterização das práticas pedagógico-didácticas da professora Heloísa, antes do Programa de Formação, fez-se a partir da análise de uma aula observada e descrita no Diário do Investigador (Anexo 6) e de acordo com a aplicação do Instrumento de Caracterização das Práticas Pedagógico-Didácticas com orientação CTS (ICPP-D CTS), construído por Vieira (2003). Na tabela 7 que se segue é apresentada, para a aula observada desta docente, a data, o tema e a duração da observação.

Tabela 7 - Aula observada da professora Heloísa, antes do Programa de Formação

Data Tema Duração

(minutos) 2 de Maio de 2009 Génese das rochas

sedimentares 45

Tal como é possível constatar pela tabela anterior, a observação das práticas pedagógico-didácticas da professora Heloísa, antes do Programa de Formação, foi de 45 minutos. Esta aula, leccionada numa turma de 7.º Ano constituída por 25 alunos, foi relativa ao tema ―Génese das Rochas Sedimentares‖ e começou com uma breve revisão dos conteúdos abordados na aula anterior. A fim de dar continuidade à aula, a professora solicitou que um aluno fosse ao quadro construir um esquema resumo da ―Génese das Rochas Sedimentares‖. Este fez-se a partir do questionamento focalizado nos conhecimentos científicos, como relata o episódio extraído do Diário do Investigador.

PD1 – Na aula passada, já falamos da génese da rocha sedimentar. Então, nós temos uma rocha e para termos uma nova rocha sedimentar vamos ter vários fenómenos, várias etapas. Alguém se lembra das etapas?

A – Meteorização, erosão, transporte, sedimentação e diagénese.

PD2 – Quem quer vir ao quadro, colocar as etapas. Vamos então recordar o que cada uma delas nos diz. Coloca o título ―Génese das rochas sedimentares‖. Então por onde é que nós vamos começar. Qual é o ponto de partida para uma formação de uma nova rocha sedimentar?

A – A meteorização…

PD3 – Escreve meteorização. E nesta meteorização participa, também, alguma coisa. Não participa? Nós dissemos que eram

A – (Vários) Os agentes erosivos… PD4 - Começamos por aqui? (Silêncio)

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PD5 – Esta meteorização e esta erosão têm que acontecer sobre quem? Como é que isto inicia?

(Silêncio)

PD6 – Temos ali ao fundo uma rocha sedimentar nova ( a professora aponta para o fundo da sala onde se encontram amostras de vários tipos de rochas), o que é que nós temos que ter previamente? Temos os agentes erosivos, temos a meteorização, mas para que é que isto serve? Para actuar sobre quem?

(A professora dirige-se a um dos alunos que está a pedir para falar) A - Sobre uma rocha.

PD7 – Que tipo de rocha é essa? A – Sedimentar

PD8 - Ou?

A – Magmática ou metamórfica

PD9 – Sim, sedimentar, magmática ou metamórfica. Não importa o tipo de rocha que é. Nós dissemos que era…

A – (o aluno acaba a frase da professora) …uma rocha pré existente.

PD10 – Portanto nós temos que ter uma rocha qualquer e agora sobre esta rocha é que vão actuar a meteorização de agentes erosivos provocando a erosão. E a partir daqui é que vamos começar a obter qualquer coisa. O que é que vamos obter desta acção dos agentes erosivos da motorização desta rocha? A – Vamos obter os sedimentos.

PD11 – E o que são os sedimentos?

A – São fragmentos de rocha. (Anexo 6, Maio de 2009)

A professora Heloísa na sua aula tentou, ainda que numa atitude muito envergonhada e tímida, transpor os conteúdos do manual escolar adoptado para a realidade quotidiana dos alunos, de acordo com os princípios defendidos pela Orientação CTS. O episódio seguinte relata a situação referida:

PD 20 – Eu queria saber a diferença entre meteorização e erosão. Isto é, as duas coisas estão interligadas, não estão?

A – A meteorização é composta por processos físicos e químicos. PD21 – Vai alterar a nível físico e a nível químico a rocha…

A – Os agentes erosivos é mais a nível físico.

PD22 –É mais uma operação a nível físico. O que importa é que vai haver ali formação de sedimentos. Portanto a rocha começa a desagregar cada vez mais,

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o que demora muitas centenas de anos. Isto não é de um dia para o outro … A praia, na minha infância tinha um areal maior. A minha avó conta que para sul havia uma capela, que está, agora, submersa.

A – Professora, mas não é só o mar. Também há o vento…

PD23 – Sim, e aqui temos muito vento. É uma desgraça com a nortada, que também será uma forte agente erosivo e que provoca alteração, a nível químico, a nível físico. Então agora nós temos estes sedimentos, e daqui até chegarmos a uma nova rocha sedimentar, com uma estrutura diferente, a nível químico também, temos mais etapas. E agora o que vai acontecer a estes sedimentos? A – Acontece o transporte (Anexo 6, Maio de 2009)

Nesta fase, os alunos, exceptuando-se raros casos em que era nítida a distracção, permaneceram atentos, pelo menos aparentemente, e ouviram a professora. No entanto, não lhes foi dada oportunidade de apresentarem e confrontarem ideias, nem tão pouco esclarecerem as suas dúvidas. Esta situação parece conduzir à conclusão de que a professora em questão toma a aula como um produto pré-determinado, tal como revela o episódio a seguir transcrito:

PD32 – Mais, mais locais… é importante ser um local com água? A – Sim. Eu acho que com água se desfaz mais depressa. PD33 – Desfaz?

A – As fracturas transformam-se em mais do que um tipos de areia e em pedaços mais pequenos.

PD34 - Nós vamos já ver a formação da rocha e depois [Um aluno insiste na sua questão]

A – Oh, professora e se nós tivermos uma coisa qualquer, sei lá, e se tiver muita água vai-se começando a desgastar?

PD35 – Hum. Hum. A – Ok!

PD36 – Vamos já ver e daqui a pouco quando for a informação vamos ver essa questão da água. Vamos por aqui (no esquema do quadro negro), por exemplo, a foz do rio ou o pântano. O tal transporte. E agora eles são transportados e vão ficar no fundo do pântano. E o que é que vai acontecer?

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O esquema construído no quadro negro constituiu um momento de registo dos conteúdos abordados e funciona como forma de síntese que os alunos copiaram para os cadernos diários.

Quanto ao ambiente de sala de aula e apesar de alguns casos de distracção e tentativa de conversa sobre temas alheios aos da aula, salientou-se a iniciativa e o interesse manifestados pela generalidade dos alunos, principalmente no trabalho em grupo sobre a formação de rochas sedimentares biológicas ou biogénicas.

Através da análise da aula da professora D, anteriormente descritas e da aplicação do Instrumento de Caracterização de Práticas Pedagógico-Didácticas com Orientação CTS (Vieira, 2003), é possível referir, tendo como referência duas categorias do referido instrumento, bem como as dimensões correspondentes de análise e respectivos indicadores, que:

Categoria I – Perspectivas do Ensino / Aprendizagem A – Ensino / Papel do Professor

As práticas pedagógico-didácticas da professora Heloísa configuram, em termos gerais, num ensino de natureza transmissiva, centrado no poder expositivo da professora e na valorização do conhecimento científico. A docente deu pouco ênfase à exploração e aprofundamento das ideias prévias dos alunos. Não se verificou uma preocupação em aprofundar conceitos chave fundamentais ou em estruturar o processo de ensino e aprendizagem em torno de situações-problema de pendor CTS.

B – Aprendizagem / Papel do Aluno

Valorizou-se essencialmente o conhecimento disciplinar e a sua aquisição através da memorização, mediante processos de aprendizagem que não contemplam a resolução de situações-problema de cariz CTS. Os alunos não foram chamados a debater ideias, a reflectir, a argumentar e a pesquisar. O aluno teve uma atitude de ―bom ouvinte‖ e ―atento observador‖, para que possa reproduzir os conhecimentos supostamente adquiridos.

C – Concepção de: Trabalho Experimental, Ciência, Tecnologia, Cientista, etc.

As práticas pedagógico-didácticas da professora Heloísa apelaram, sobretudo, à memorização e reprodução dos conhecimentos científicos, não se verificando oportunidades de interacção entre os alunos, de reflexão, de confronto de pontos de

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vista, pois não foram utilizadas estratégias como o debate, a resolução de problemas ou trabalho de grupo, fundamentais em Educação CTS. No trabalho de grupo serviu de único recurso para que os alunos encontrassem ―as ideias essenciais‖ que no entender da professora Heloísa deveriam ―saber‖.

Categoria II – Elementos de Concretização do Processo de Ensino/Aprendizagem D – Actividades / Estratégias / Aprendizagem

Prevaleceu a exposição oral da professora, mediada pelo questionamento focado nos conhecimentos científicos e pelo registo nos cadernos diários da informação a reter. Quase no final da aula foi implementada a estratégia de trabalho de grupo, para proceder à leitura e resumo, nas palavras da professora, de ―duas paginazinhas‖.

E – Recursos / Materiais Curriculares

O manual escolar adoptado foi o único recurso didáctico utilizado e as actividades aí sugeridas como uma proposta a seguir. Assim, centraram-se basicamente nos conhecimentos científicos a transmitir e a sua exploração omitiu qualquer preocupação ou interacção de natureza CTS.

F – Ambiente de Ensino / Aprendizagem

Na aula observada e apesar da empatia entre alunos e professora e do silêncio na sala de aula, o ambiente de ensino e aprendizagem proporcionado não pareceu adequado a contextos de educação CTS. Apelou-se, essencialmente, à atenção dos alunos através de questões de focalização ou confirmação de informação. Apesar do recurso ao trabalho de grupo, num ambiente de participação efectiva dos alunos, de discussão, de condições de concentração, não se pode concluir que efectivamente houve um contexto de interacção CTS, pois o trabalho de grupo centrou-se no resumo das rochas sedimentares de origem biológica, atendendo, somente ao que o manual escolar adoptado sistematiza.