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4. Comunicação e Jornalismo

4.2 Profissionalização

O processo de profissionalização do jornalismo brasileiro é apontado por Paula Rocha (2008b) como sendo ainda bastante recente: data das décadas de 30 e 40 do século passado a criação das primeiras associações e sindicatos (o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Pernambuco, que não foi o primeiro no país, foi fundado em 1947) e cursos de ensino superior (a inauguração é feita em São Paulo, também em 47, dez anos depois da fundação do Sindicato naquele Estado; em Pernambuco, o primeiro curso das regiões Norte e Nordeste – terceiro do país – foi criado em 1961 por Luiz Beltrão na Universidade Católica). Mais tarde, em plena ditadura, é publicado o Decreto-Lei 972/1969 que, com as posteriores alterações, regulamentava a profissão, determinando “a exigência de curso superior de jornalismo para o exercício da profissão. Em seguida, aumentou a remuneração salarial e foram criadas editorias, acarretando maior especialização do profissional” (ROCHA, P., 2008b, p.2).

A história da imprensa brasileira é contudo mais antiga: em 200857 foram celebrados os seus 200 anos de existência. Poderíamos considerar como jornalistas os indivíduos que naquela altura a animavam? Essa é uma pergunta que, infelizmente, no presente trabalho terá de permanecer sem resposta. Por duas razões principais: 1) ainda que, como já avançamos, julguemos de suma importância olhar o passado para compreender o presente e pensar o futuro, um empreendimento nesse sentido, para evitar a superficialidade, demandaria mais tempo e espaço de investigação, para além de que provavelmente nos levaria para caminhos demasiado distantes dos objetivos a que aqui nos propomos, 2) é importante neste momento reconhecer as limitações do investigador: enquanto português, os conhecimentos acerca da história do jornalismo brasileiro são demasiadamente limitados para ambicionar abordá-la.

Acreditamos que o último ponto mencionado deve ser contextualizado: defendemos que o conhecimento produzido e, principalmente, divulgado em Portugal – aqui referimo-nos ao jornalismo (e sua história) mas a crítica deve ser percebida de forma mais abrangente: “os silêncios da História de outros povos permanecem num espaço de esquecimento histórico e pedagógico desta nação que se imagina e se narra como europeia, moderna e pós-colonial” (KHAN; MORGADO, 2013, p.79) – é profundamente marcado pelas vozes do ‘norte’, ou seja, vinculado às teorias, realidades e ângulos da Europa e Estados Unidos, ainda construído sobre bases colonialistas. Assim, é perpetuada uma ignorância alarmante acerca de outras realidades (tradicionalmente, de países pobres e/ou colonizados) que eles mesmos ajuda(ra)m a moldar, como é o caso do jornalismo brasileiro, na sua gênese e posterior desenvolvimento relacionado (e limitado) à presença (e ação) da monarquia portuguesa (BARBOSA, s.d). Desta forma, optamos por dar atenção à profissionalização do jornalismo enquanto fenômeno transnacional (TRAQUINA, 2005, p.106), reconhecendo nesta opção inevitáveis limitações, que no entanto julgamos não invalidarem a pretensão de abordar os valores e saberes que ao longo do século XX, por influência do capitalismo, nas sociedades ocidentais se tornaram hegemônicos.

57 A história oficial é unânime em apontar 1808 como o ano inaugural da imprensa brasileira. Continua contudo a ser discutido qual de dois jornais pode ser considerado o seu representante – se o Correio Braziliense, editado em junho daquele ano na Inglaterra (porque proibido no Brasil pela monarquia portuguesa) ou o Gazeta do Rio de Janeiro, impresso pela primeira vez em setembro, tendo-se mantido como único em circulação no país até 1820.

A atividade jornalística em solo nacional é pela primeira vez contemplada com direitos trabalhistas em 1943, através da seção XI da Consolidação das Leis Trabalhistas (BRASIL, 1943). Ainda que no documento já conste o compromisso do Governo Federal criar escolas de jornalismo destinadas à profissionalização, tal regulamentação, como referido, apenas surgirá em 1969. Algumas disposições nos merecem especial atenção: a profissão de jornalista pressupõe o exercício de forma habitual e remunerada (sendo o registro profissional passível de ser trancado se, sem motivo legal, o indivíduo não exercer por mais de dois anos), o diploma de curso superior em jornalismo e estágio são exigências e é instituída a definição de ‘noticiarista’, ou seja, “aquêle que tem o encargo de redigir matéria de caráter informativo, desprovida de apreciação ou comentários” (BRASIL, 1969). A década de 60 foi portanto, segundo Dias (2013, p.83), de transição para o jornalismo brasileiro:

existia a necessidade política de controlar a atividade jornalística e a preocupação econômica de gerenciar as instituições de comunicação em um sentido mais empresarial. Havia os seguintes posicionamentos: os provisionados repudiavam a ideia de acesso à carreira pela via exclusiva do diploma e os empresários reivindicam cada vez mais os jornalistas profissionais, por terem perspectiva da notícia como produto (referencial de Objetividade).

A referida transição, contudo, não foi completa nem tranquila, permanecendo em aberto, ainda na atualidade, vários debates referentes à regulamentação, de que é exemplo a (não) obrigatoriedade de diploma e estágio para aceder à profissão. Nesse sentido, julgamos importante lançar algumas questões (sem a pretensão de fornecer respostas): a remuneração e a atividade permanente são fatores que por si só têm força para delimitar quem é, ou não, jornalista? Por outro lado, aquele ou aquela que, de forma contínua e remunerada, pesquisar, selecionar, tratar e divulgar notícias em empresas de comunicação pode imediatamente ser reconhecido/a como jornalista? Se pensarmos outras profissões (e levadas em conta as limitações das analogias), veremos que, por exemplo, a/o médica/o não perde o seu estatuto profissional se durante determinado período de tempo não existirem clientes; tão pouco ganha esse estatuto qualquer pessoa que se auto-medique. Qual é o peso que o exercício da atividade, acumulado ao longo dos anos, tem na profissionalização e reconhecimento de jornalistas? Na preparação de futuros profissionais, qual é o papel atribuído ao ensino acadêmico – é ele valorizado? Como, porquê e em que moldes? Desaguamos aqui no pensamento de João Carlos Correia, quando coloca que

o problema do jornalismo é o sem número de caminhos organizacionais que podem conduzir à carreira e que tornam instável a estandartização da base cognitiva necessária para o exercício da

profissão, conduzindo a problemas de reconhecimento/

autoreconhecimento e de legitimidade (CORREIA, 1998, p.7).

Esta afirmação obriga-nos a perceber o distanciamento do jornalismo em relação à tipologia de profissão apontada por Paula Rocha (2008a)58. Não significa isto, acreditamos, que a classificação de profissão lhe é vedada, mas que é necessário perceber as suas especificidades: em vez de definida pela exigência de rígidas habilitações educacionais ou de regulamentação estatal, aparenta pesar mais o controle sobre o processo de produção, a instituição de normas profissionais e a orientação para o serviço público (CORREIA, 2011, p.143) – o desequilíbrio nos pesos destas últimas em relação às primeiras parece-nos material interessante para problematizar a qualidade do jornalismo.

É, em parte, a multiplicidade de vias de acesso à profissão que, ao colocar em destaque a ausência de uma teoria sistêmica ou linguagem técnica exclusiva, consideradas imprescindíveis ao desempenho das/dos profissionais, dá suporte àqueles/as que defendem as redações como verdadeiras escolas de jornalismo, onde “se aprende fazendo”, desvalorizando ou, em casos (nem tão) extremos, se incompatibilizando com a necessidade de uma suporte teórico multidisciplinar. O caminho inverso também não é raro, ocasionando por parte da academia uma visão demasiado extensiva da socialização profissional acrítica naqueles espaços, rentabilizada pelos interesses econômicos e políticos das empresas.

A relação, nem sempre de fácil equilíbrio, entre prática e teoria, entre a academia e o exercício da profissão nas redações, é estrutural, decorrente de duas instâncias que Eduardo Meditsch (2004, p.26) considera “pouco maleáveis, ciosas de seus costumes, extremamente vaidosas e pouco receptivas às opiniões externas”. Salientamos, contudo, que o íntimo relacionamento entre ambas deve(ria) ser a regra, caso contrário, a prática

58 Firmando-se nas teorizações de Freidson (1996), a autora observa que as profissões são caracterizadas por cinco premissas:1) realizado em tempo integral, e incluindo o mercado informal, é um tipo de trabalho pago; 2) tem base teórica e caráter especializado; 3) em vez de serem baseadas no livre mercado ou controladas por uma administração externa à profissão, caracterizam-se por controlarem a divisão de trabalho, determinada pelas relações que negocia(ra)m as fronteiras jurisdicionais de cada uma; 4) o controle do mercado de trabalho é feito através do credenciamento dos membros da profissão; 5) é exercida pela pessoa que através do ensino superior, fora do mercado de trabalho, obtém conhecimento abstrato e autoridade sobre um campo de saber.

“fica condenada a ser uma prática burra, e a teoria por sua vez se reproduz indefinidamente sem rumo e sem capacidade de agir sobre a realidade” (MEDITSCH, 1999, p.5). Nesse desequilíbrio, que dificulta a afirmação “de uma identidade profissional clara nos seus contornos, forte na sua coerência interna (‘para si’) e especificamente reconhecida na sua relação externa (‘para o outro’)” (FIDALGO, 2005, p.1, grifos do autor), é também necessário ter em conta os interesses que motivam a profissionalização, historicamente ambígua.

Debruçando-se sobre os jornalistas59 que compunham as ‘redações’ pré- industriais, Sousa (2009, p.3) descreve-os como

cidadãos com ambições políticas que fundavam jornais doutrinários ou que colaboravam com estes para progredirem politicamente. Ser redactor, isto é articulista, tendo a missão de redigir os artigos políticos, era, assim, a grande ambição de muitos os que se diziam jornalistas, que usavam o jornalismo para promoção pessoal. […] Outros ainda ambicionavam tornarem-se conhecidos como publicistas, isto é, como divulgadores das novas ideias, como Latino Coelho. Esses “escritores de jornais” não sentiriam, certamente, pertencer a uma classe profissional, mas apenas a uma elite letrada e politizada que usava os jornais para fazer política ou «elevar os espíritos».

Esta fala diz respeito aos jornalistas portugueses, que, com a finalidade de pensarmos as alterações cobradas pela profissionalização, julgamos poder estender a outras latitudes. Motivadas social, econômica, política e tecnologicamente, tais alterações são indissociáveis dos “regimes de verdade marcados pela generalização do capitalismo e das utopias industrialistas que estão na génese do positivismo” (CORREIA, 2011, p.140).

É com o advento do jornalismo mercantil que profundas mudanças se começam a impor aos/às jornalistas, pautadas pela exigência de uma

produção em série; regras precisas de construção da sua mercadoria; existência de uma profissão dotada de uma ética, de saberes e de tecnologias próprias; interesse profundo na recepção e agradabilidade por parte das grandes multidões que animam a vida das grandes cidades com vista à recuperação do onvestimento (sic) efectuado;

59 Referimo-nos pontualmente a esses sujeitos – se não exclusivamente, quase sempre homens – como ‘jornalistas’, ainda que percebendo as suas características, e as dos meios de comunicação em que exerciam atividade, como incompatíveis com as da atualidade. Fazemo-lo por considerar ser difícil colocar uma barreira entre quem pode (ou deve) ser nomeado/a jornalista, principalmente quando a proposta é transportar um conceito recente para uma realidade anterior, política e culturalmente bastante diferente. Esta opção está ainda relacionada à pretensão de reconhecer a importância de tais sujeitos no desenvolvimento do jornalismo, e dos/as jornalistas, como hoje o conhecemos.

dotada de um poderoso efeito integrador nas sociedades modernas (CORREIA, 1998, p. 2).

Respondendo à necessidade de estandardização com que o mercado opera – não ao nível dos produtos mas dos processos (reconhecemos nesta lógica uma contrariedade que nos pode ajudar a refletir sobre a qualidade do jornalismo atual) –, a notícia é desenvolvida e instituída como o mais nobre produto jornalístico, orientando-se pela verdade dos fatos – com validade e grau de relevância internas –, independente dos valores e crenças dos produtores, que se limitariam a espelhar a realidade tal como ela é. Para alcançar essa objetividade, neutralidade e independência, que legitimam o jornalismo noticioso (simultaneamente ‘desinteressado’ – nos assuntos que trata – e ‘engajado’ – na construção de um espaço social integrador e formador da opinião pública), o profissionalismo revela-se fulcral:

os meios jornalísticos industrializados queriam repórteres polivalentes que se devotassem a tempo inteiro ao jornalismo e não “políticos de jornal” nem “escritores de jornal” (apesar da importância dos folhetinistas), que faziam do jornalismo uma ocupação e não uma profissão e da escrita uma arte literária e/ou persuasiva mais do que uma competência técnico-profissional. Os jornalistas começaram, em consequência, a adoptar critérios profissionais de elaboração da notícia, abandonando um estilo pessoal, emotivo ou literário. O lead noticioso, a técnica da pirâmide invertida, a factualidade no relato, os procedimentos de objectividade, fizeram, nessa época, a sua aparição […] contribuindo para a autonomização destes profissionais, para a consolidação do jornalismo como profissão e para a edificação de uma cultura e de uma ideologia próprias (SOUSA, 2009, p.3/4).

Desta forma, a ideologia da objetividade e a ideologia do profissionalismo são identificadas como as principais construtoras de notícias, funcionando em prol dos poderes instituídos (SOUSA, 2005, p.12) e impondo

um padrão de relações de trabalho coerente com as novas ideologias

yuppies, que justificam e enaltecem a luta do indivíduo contra seus companheiros de trabalho, erigindo a competição e o sucesso profissional como valores superiores, no lugar da solidariedade e da identidade de classe (KUCINSKI, 1998 apud MORETZSOHN, 2001,

p.11, grifo da autora).

Consideramos necessário aumentar essa visão do jornalismo, complexificando-o, desde logo porque esses mesmos processos possibilitaram um trajeto no sentido oposto: melhorando o estatuto de jornalistas, aumentando a autonomia enquanto classe e cultivando uma cultura com valores e competências específicas, pois a crescente percepção de que o jornalismo se vinculava, cada vez mais, à ideia de negócio, acaba

produzindo uma separação entre proprietários e jornalistas, que, no caso dos últimos, à semelhança do que acontecia com outros/as trabalhadores/as, estimula a ideia de uma necessária proteção sindical e legal (SILVEIRINHA; CAMPONEZ, 2012, p. 61).

Defendemos que é necessária a problematização acerca da profissionalização de jornalistas, mas que compreendê-la de forma estritamente funcional, onde os/as mesmos/as são definidos/as como executantes autômatos, perfeitamente, e sempre, acomodados aos mecanismos organizacionais, tem motivações ideológicas – nomeadamente acerca da (redução de) importância e agência desses/as profissionais (MORETZSOHN, 2001) –, essas sim operando em favor da renúncia à crítica e pluralidade da realidade (não só do jornalismo).

O capital, motor de arranque, com todas as incongruências que pode significar ao ser relacionado à procura de uma sociedade mais justa, ajudou a inculcar, perante a sociedade e perante jornalistas, a missão que os/as viria a legitimar:

O jornal assume, diariamente, a responsabilidade de converter-se em defensor da cidadania frente aos hipotéticos abusos e injustiças do poder. A sua arma será a objectividade, esgrimida como modo de compromisso com uma audiência que julga diariamente os actos e ideias publicamente difundidos (GARCÍA GONZÁLEZ, 1999 apud SOUSA, 2009, p.6).

A influência do capital verifica-se portanto não apenas ao nível da procura de lucro, e assim numa perspectiva de mercado, mas também ao nível da institucionalização de regras técnicas e deontológicas que socialmente o legitimam. Essas duas vertentes estão intimamente relacionadas, mas não são equivalentes – em verdade, não raras vezes deixam transparecer a sua conflitualidade, sublinhada, principalmente, pelos movimentos sociais, mas também pelo restante público e até mesmo pelos/as jornalistas, sujeitos que, tal como outros, são constituídos por uma multiplicidade de identidades – não apenas a de jornalista –, as quais não nos deixam perceber essa classe como uma massa amorfa e homogênea, que no dia-a-dia se assujeita de forma completa e imediata aos imperativos comerciais.

Apropriando-nos da colocação de Bourdieu (1997, p.30), consideramos que “o mundo dos jornalistas é um mundo em que há conflitos, concorrências, hostilidades”, não apenas diante dessa cultura hierárquica que é o jornalismo, mas também face a si mesmos/as, quando no exercício da profissão, entrando em contato com fontes e realidades múltiplas, umas mais desafiantes que outras, lhes é cobrada a

responsabilidade de constantemente tomar decisões, nem sempre técnica, moral e eticamente previsíveis. Assim, defendemos que “o jornalista é uma entidade abstrata que não existe: o que existe são jornalistas diferentes segundo o sexo (sic), a idade, o nível de instrução, o jornal, o meio de informação” (BORDIEU, 1997, p.30).

Esta postura, ainda que nos possa ajudar a compreender a produção e divulgação de informação como potencialmente mais aberta à pluralidade, condicionada também à ação dos sujeitos e não apenas à do sistema alimentado por dinheiro e poder, direciona- nos para outros questionamentos: quem, com diploma ou não, tem acesso à profissão de jornalista? Que características socioeconômicas estão associadas a essa classe profissional? Como, porquê, quem ocupa as posições hierarquicamente mais elevadas? Analisando o racismo presente na produção jornalística da mídia mainstream da europa ocidental, Van Dijk (2005, p.84) salienta que poucos jornais

têm jornalistas das minorias étnicas, sem falar de minorias em posições editoriais mais altas. Neste aspecto, os media (tanto de esquerda como de direita) são pouco diferentes de outras instituições de elite e de negócios corporativos, que bloqueiam o acesso e a promoção dos “estrangeiros” com argumentos transparentes sobre a “falta de qualificações” ou os “problemas culturais” que culpam basicamente a vítima. Em resultado, a redacção, as reuniões editoriais e as rotinas da recolha de notícias estão centradas predominantemente nos brancos. A consequência previsível é que as organizações das minorias ou os seus porta-vozes raramente são abordados como fontes credíveis […]

Estas conclusões, acreditamos, podem ser facilmente transportas para pensarmos a presença (e ausência) de pessoas trans na mídia brasileira.

Sendo inegável a relação entre jornalismo e capitalismo, é preciso notar que as disputas pelo monopólio do mercado profissional exigem, para o seu reconhecimento,

“1) que um conjunto de conhecimentos esotéricos e suficientemente estáveis relativamente à tarefa profissional seja ministrado por todos os profissionais, e 2) que o público aceite os profissionais como sendo os únicos capazes de fornecer os serviços profissionais” (SOLOSKI, 1999, p.93).

Significa isto dizer que o jornalismo depende da legitimidade (e credibilidade) outorgada pelo público aos seus valores e saberes. Nesse sentido, apontaremos algumas das mais importantes críticas de que o jornalismo (ainda) é alvo na atualidade, as quais, no limite, reclamam a falência, mas também a renovação, das premissas que orientam a profissão. Fazemo-lo por considerarmos essencial a problematização da legitimidade do

discurso jornalístico, o qual, pelas funções de mediação, socialização e interpretação, ocupa um papel fundamental na democracia. Assim, como bem coloca Moretzsohn (2003, p.2), se o que pretendemos é a recuperação dessa legitimidade, “num sentido crítico à sacralizada idéia de ‘quarto poder’”, necessitamos “desmistificar o trabalho da imprensa e demonstrar que o processo de mediação se insere num campo de luta simbólica passível tanto de atuar na reprodução de estereótipos quanto no sentido oposto”.