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INFANTIL EM SITUAÇÃO DE INTERNAÇÃO PÓS-UTI NEONATAL

5. Programação de ensino como condição para promover aprendizagem

Mauruto (1999), ao buscar respostas para a pergunta “por que tecnologias de ensino fundamentadas na Análise do Comportamento não foram mais difundidas e significativamente utilizadas no Brasil?”, entrevistou pessoas que haviam participado de experiências com programação de ensino no país, particularmente com ensino programado individualizado. Encontrou, como resultado, indicações de aspectos que seriam responsáveis pela perda de força da programação de ensino como tendência, no país, relacionados a macrocontingências, ao profissional de educação, à instituição educacional e a características intrínsecas a esta proposta de ensino e a sua aplicação. Nesse último aspecto, o alto grau de exigência que apresenta ao programador, para desenvolver programas de ensino considerando todo o processo comportamental envolvido para garantir relevância e eficácia dos programas, foi considerado como um dos aspectos mais relevantes. A autora não encontrou, contudo, qualquer questionamento à eficácia de programas de ensino produzidos nessa perspectiva, como aspecto potencialmente responsável pelo desuso em que esta tecnologia caiu, a partir dos anos 1980. No que tange a este aspecto, resultados muito melhores foram sempre indicados como resultado de situações em que programas de ensino foram desenvolvidos e implementados com base neste conhecimento, quando comparados com outras formas de implementar processos de ensino, sugerindo que é necessário e relevante, ainda, produzir conhecimento sobre a própria tecnologia e sobre seu potencial para promover aprendizagem humana significativa.

Muitos estudos têm sido produzidos (NALE, 1973; MIRANDA, 1986; JOLY, 1994; 2000; ZANIOLO, 1995; STEFANE, 1996; NASCIMENTO, 1997; FRISANCO, 2001; DAREZZO, 2004, entre outros), mais recentemente, objetivando examinar a eficácia de programas de ensino originados a partir de situações-problema que indiquem a necessidade de implementar aprendizagens consideradas desejáveis nos aprendizes. Em relação a estas situações, são geradas propostas de classes de comportamentos que constituem objetivos de ensino, que os aprendizes devem passar a apresentar após serem expostos às condições de ensino que constituem o programa, como forma de lidar com a situação-problema. Os estudos de Joly (1994), de Zaniolo (1995) e de Stefane (1996) são alguns dos trabalhos que produziram dados positivos sobre a eficácia de programas de ensino aplicados em indivíduos com necessidades educativas especiais. No âmbito da formação de educadores e cuidadores podem ser indicados, entre outros, estudos de Joly (2000) e Frisanco (2001) que, da mesma forma, trazem resultados positivos com a utilização de objetivos de ensino bem definidos,

como garantia de melhores resultados de aprendizagem; há ainda, o trabalho de Darezzo (2004) cujos resultados dizem respeito ao impacto do ensino de canções por cuidadores de crianças em creches como forma de favorecer a apresentação de comportamentos desejáveis por parte destas cuidadoras, implementado por meio de um programa desenvolvido com base em alguns conceitos e procedimentos próprios do processo de programação de ensino.

Joly (1994) avaliou os efeitos da aplicação de um programa de ensino para aquisição de um repertório musical por quatro crianças com necessidades educativas especiais. A partir da identificação de variáveis envolvidas no processo de educação musical, foi elaborado um programa por meio de programação de ensino, para gerar comportamentos considerados importantes na aprendizagem de música, relacionados àquelas variáveis anteriormente escolhidas. A programação consistiu na proposição dos comportamentos explicitando seus componentes, as classes de respostas envolvidas, e na elaboração de condições de ensino oferecidas para instalar esses comportamentos. Segundo a autora, os resultados encontrados indicam que, quando o ensino dos comportamentos musicais é programado, a aprendizagem desses comportamentos se dá de maneira gradual e crescente tanto em termos quantitativos, (aprende mais de sessão para sessão) como qualitativos, isto é, a criança aprende comportamentos cada vez mais complexos, havendo indícios de que a criança aprende de maneira mais lúdica e natural.

Zaniolo (1995), em seu estudo, utilizou procedimentos de programação de ensino para elaborar um programa de capacitação para instalação de repertório de dança em crianças com Síndrome de Down e avaliou este programa. Para cada um dos comportamentos envolvidos nesse processo foi realizada uma descrição e, como parte dela, foram explicitados: as classes de estímulos antecedentes, a classe de respostas e a classe de estímulos conseqüentes; além de elaboradas, a partir destes comportamentos, estratégias de ensino, condições oferecidas pelo professor para aprendizagem, as respostas observáveis do aluno e os resultados programados. Os resultados destes dois estudos indicaram que, quando bem programado, o ensino de novas habilidades ocorre de maneira gradual e crescente.

Outro estudo em que houve a implementação de um programa de ensino com crianças com Síndrome de Down foi o de Stefane (1996), que, preocupada com a formação de profissionais de Educação Física e com o ensino de comportamentos relevantes neste campo, e fazendo uso de conceitos da Análise do Comportamento, objetivou demonstrar que comportamentos pré - requisitos, organizados em forma de um programa de ensino, permitem que essas crianças aprendam com facilidade os comportamentos básicos do basquetebol. Este programa foi dividido em unidades de ensino, constituídas por conjuntos de habilidades

motoras hierarquizadas em seqüências, segundo ordem de complexidade e funcionalidade. Para cada habilidade motora ou conjunto de habilidades foram criadas condições facilitadoras de aprendizagem. Os resultados encontrados mostraram que os participantes apresentaram desempenho considerado correto, e que o professor teve a possibilidade de identificar com rapidez e facilidade as habilidades envolvidas nos comportamentos e o grau de dificuldade que os aprendizes apresentavam na aquisição desses comportamentos, o que permitia escolher e modificar as estratégias para o ensino de cada um dos objetivos.

Quanto a educadores e cuidadores, a eficácia de um programa para formar professores de educação infantil para adaptar procedimentos de ensino às características e necessidades dos alunos em situação real foi objeto de estudo de Joly (2000). Esse programa pretendeu ensinar o professor de música a observar seu aprendiz, identificar suas características, suas facilidades, dificuldades, preferências e reações diante de procedimentos musicais e, a partir dessas informações, elaborar o seu planejamento e executar as atividades previstas. O referido programa foi desenvolvido com base na descrição de classes de comportamento envolvidas no processo de planejar, executar e avaliar aulas de musicalização infantil, e os resultados encontrados indicam que os participantes desenvolveram autonomia e domínio de resolução de problemas por meio da adaptação e modificação de procedimentos, assim como da repetição de procedimentos considerados satisfatórios em situações de ensino anteriormente desenvolvidas.

Frisanco (2001) investigou, em seu estudo, os efeitos da aprendizagem de comportamentos de programar o ensino de Artes com dois professores de alunos com necessidades educativas especiais, prevendo a apresentação sucessiva de condições de ensino destinadas à capacitação dos sujeitos em relação a cada um dos comportamentos de programação propostos e observação contínua do desempenho dos professores nas salas de aula de Arte. Os resultados mostraram que houve diferente impacto no desempenho dos dois sujeitos nas situações consideradas para os comportamentos de programar relativos à área em que o ensino deveria ocorrer (arte), sugerindo que aprender comportamentos de programação de ensino influencia no comportamento de ensinar.

O estudo de Darezzo (2004), por sua vez, objetivou verificar em que medida alguns recursos musicais poderiam interferir de maneira favorável na conduta de adultos que cuidam de crianças pequenas em creches ou escolas, quando distantes da mãe. Duas participantes foram expostas a três etapas de um programa de ensino destinado a prepará-las para interagir com bebês com ajuda de canções. Por meio da filmagem de situações de banho de bebês conduzidas por estas cuidadoras, foram obtidas informações em relação ao

desempenho destas profissionais, como: baixa freqüência de condutas favorecedoras, mudanças nos padrões de conduta relacionadas à sinalização de manipulações e de condições para aprendizagem dos bebês acerca de seu próprio corpo, com redução na freqüência destas condutas no decorrer do estudo (baixo grau de manutenção das condutas). Foi observado, também, aumento na freqüência de uso de canções ensinadas no decorrer do programa que podem ser favorecedoras de interação gratificante para os bebês e para as cuidadoras.

De modo geral, os resultados encontrados nos estudos relativos à formação de educadores e cuidadores indicam que um investimento em programação de ensino pode ser uma forma eficaz de capacitá-los para resolver problemas relativos à necessidade de adaptar, de modificar o procedimento ou a estratégia de ensino em função do que é necessário para ensinar os aprendizes. É possível afirmar ainda que o procedimento de programar o ensino possibilite delinear o que é necessário ensinar, a partir da análise de objetivos de ensino.

O conhecimento produzido em estudos como os mencionados, com ou sobre o uso da programação de ensino para o desenvolvimento de programas destinados a promover aprendizagem em diferentes áreas, parecem assegurar a utilidade do uso de programação de ensino em outros contextos. Segundo Botomé (2000), algumas tendências contemporâneas ressaltam aspectos que podem orientar esforços na construção de uma sociedade em benefício de todos e de uma educação capaz de contribuir para construí-la. O conhecimento existente em diferentes áreas e produzido por diferentes processos possibilita o acesso a conceitos orientadores que merecem ser utilizados como princípios importantes para o trabalho educacional. Tais princípios e as relações entre eles referem-se aos aspectos que permitem construir a relação entre os processos de ensinar e aprender e o desenvolvimento de aprendizagens importantes para o futuro, sendo eles: 1) participação ativa dos aprendizes em cada unidade de aprendizagem, 2) exigências feitas em pequenos passos ou etapas da aprendizagem de interesse, 3) conseqüências informativas para cada passo ou etapa realizado pelo aprendiz, 4) encaminhamento imediato de acordo com o que é realizado pelo aprendiz em cada etapa ou passo, e 5) condições apropriadas às características de aprendizagem de cada aluno. De acordo com o autor os desafios da sociedade não são relativos às informações que os indivíduos dominam ou apresentam, mas ao que são capazes de fazer, a partir delas ou em relação a elas, para transformar as circunstâncias existentes em outras melhores para todos.

6. Promoção de comportamentos de mães para estimulação do desenvolvimento de seus