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Programação da rádio Clube de Goiânia

CAPÍTULO I – UMA ANÁLISE DA COMUNICAÇÃO, DO RÁDIO E DO

4.3. Programação da rádio Clube de Goiânia

Em dezembro de 1942 a sua programação estava organizada da seguinte maneira: Das nove horas da manhã até as nove e quinze eram transmitidas músicas variadas, locais, nacionais e internacionais através do programa “Bom Dia”. As nove e quinze através do programa “Minha Terra” começavam a veicular músicas sertanejas de cunho local cujos principais cantores eram Zé Micuim e Chico Onça. Das nove e trinta às dez horas iniciava o programa “Hora do Estado” com noticiários diversos, principalmente com informações das ações de Getúlio Vargas e de seu interventor em Goiás Pedro Ludovico, e intercalando às informações veiculavam-se músicas interpretadas por orquestras. Das dez horas às dez e quinze, havia o programa “Solos Vários” com músicas instrumentais interpretadas por bandas e orquestras nacionais e internacionais.

Das dez e quinze às dez e trinta iniciava o “Programa da Vitória” com crônicas e músicas patrióticas. Através deste programa ocorria a divulgação, fundamentalmente, de cantores cujas músicas eram divulgadas pela rádio Nacional do Rio de Janeiro. Com este programa a emissora conseguia popularizar a música de cunho nacionalista e priorizar uma cultura estatal voltada para a propaganda do Estado através da música. Às dez e meia

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iniciava o programa “Daqui, Dali” que finalizava às onze horas. Através deste programa a emissora divulgava músicas variadas, locais, nacionais e internacionais e intercalando às músicas, transmitiam informações de cunho local e propagandas comerciais. Das onze horas às onze e meia era a vez do programa “Almoço Musicado” com a divulgação de grandes orquestras.

De onze e meia às onze e quarenta e cinco havia o programa “Canta Brasil”, um programa exclusivo para divulgação de músicas nacionais. Novamente, outro programa para divulgação dos artistas propagados pela rádio Nacional. De onze e quarenta e cinco até doze horas era veiculado o programa “Humorismo” com gravações humorísticas. Interessante que através deste quadro a emissora colocava em público gravações enviadas pela rádio Nacional. Essas gravações eram impressas em discos grandes que ainda não se tratava do disco de vinil, os quais eram denominados pelos locutores da emissora de

bolachões, por ter um formato e uma aparência de uma grande bolacha. Lia Calabre ao

discutir as técnicas de gravações existentes nesta época descreve como eram esses discos. Segundo ela,

A técnica de gravação disponível na época utilizava discos que tinham sua base de alumínio recobertas por uma camada de acetato. Durante a Segunda Grande Guerra, com a utilização do alumínio para fins bélicos, as fábricas passaram a produzir discos de vidro. Como o risco de danos desses discos era grande, o método de distribuição de programas para as diversas regiões do país foi menos usado, voltando somente após o fim da guerra (CALABRE, 2004, p. 136).

Segundo um dos locutores que entrevistamos as gravações não tinha uma qualidade muito boa, chiavam muito, mas, mesmo assim, ouvia-se com clareza o que estava gravado. Para Goiás vinham, portanto, os representantes da RCA vídeos Colúmbia trazendo esses discos com as gravações de músicas norte-americanas, francesas, italianas. “Eram discos chapados, com agulha. Depois veio o vinil” (Silvio Medeiros, entrevista realizada em janeiro de 2004).

Às doze horas iniciava o programa “Sinfonia das Américas” que terminava às doze e trinta, cujas músicas veiculadas eram exclusivamente norte-americanas, enviadas por gravadoras dos Estados Unidos para a rádio Nacional, que as divulgava e posteriormente,

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enviava as mesmas músicas para várias emissoras de rádio do interior do Brasil. Para Goiás, chegava para a rádio Clube de Goiânia, na época, a única emissora legalizada a funcionar no Estado. Às doze e trinta, nesta época, a emissora parava. Era a hora do almoço dos funcionários e a sua programação ficava fora do ar, ou seja, não veiculava nada.

Às quatorze horas voltava a programação da rádio Clube com o programa “Goiaz em Foco” através do qual veiculava informações de todo o Estado e intercalando às informações havia músicas de artistas brasileiros. Das quatorze e quarenta e cinco às dezesseis e quinze acontecia o programa “Presente Musical”, criado para estar à disposição do público que poderia oferecer músicas pedidas através de cartas, no próprio local ou ainda, através de telegramas que eram enviados através de códigos Morse recebidos na emissora através de um telégrafo ali instalado. Das dezesseis e quinze às dezesseis e trinta era a vez do programa “Hora Certa” novamente com músicas exclusivamente norte- americanas.

Às dezoito horas acontecia o programa “Crepúsculo” com crônicas religiosas e intercaladas às crônicas, músicas no ritmo de valsa. Às dezoito e quinze começava o programa “Bom Apetite” com músicas no ritmo de congas e rumbas. As dezoito e quarenta e cinco iniciava o programa “Novidades Musicais” com músicas enviadas pela rádio Nacional as quais não haviam ainda sido veiculadas pela rádio local. Das dezenove horas às dezenove e quinze, novamente outro programa para divulgação de músicas norte- americanas denominado “Brodway”. Este se tratava de programa pronto, produzido e enviado à emissora pela embaixada americana aqui do Brasil. Segundo Walter Meneses “era um serviço de divulgação cultural dos Estados Unidos que tinha representantes”. Além desse programa havia ainda um outro denominado Hits Parade, Frank e Maria (uma radionovela em que Frank era norte-americano e Maria cubana). Das dezenove e quinze às dezenove e trinta transmitiam músicas como tangos, rumbas e boleros. Das Dezenove e trinta às vinte horas transmitiam o programa “Recordando” através do qual transmitiam músicas antigas.

Às dezenove e quinze iniciava o programa “Comparações” criado para comparar músicas. Assim, veiculavam, por exemplo, uma música norte-americana e uma música local, e faziam comparações entre as mesmas. As vinte e uma hora e quinze às vinte e uma

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e quarenta e cinco aconteciam os programas de estúdio. Com este programa divulgavam poesias criadas por escritores goianos, radionovelas, crônicas literárias e crônicas cômicas, havia também a divulgação de escritores goianos com a leitura de trechos de seus livros, piadas dialogadas, e radioteatro. Os programas deste horário eram: “Hora Sertaneja”, “Neste Mundo em que Vivemos”, “Caminho Sem Fim”, “Lar, Doce Lar”, “Páginas Goianas”, “Skets” e “Radioteatro”. Walter Meneses nos contou um conto que fazia sucesso nesta época, principalmente no meio rural que era um conto inspirado em Romeu e Julieta de Shakespeare, contudo, adaptado para a vida rural, denominado Lenço Preto32.

As vinte e uma e cinqüenta iniciava o programa “Encantamento” que terminava às vinte e duas horas, no qual eram divulgadas crônicas literárias produzidas por escritores do Estado. Das vinte e duas às vinte e duas e quinze havia a veiculação do programa “Serenata” com orquestras de salão. Das vinte e duas e quarenta e cinco às vinte e três horas era a vez do programa “Boa Noite” com músicas românticas de artistas locais, nacionais e norte-americanas, momento em que eram desligados os aparelhos da emissora que voltavam a ser ligados novamente no dia seguinte às nove horas. Com esta programação da emissora pode-se visualizar o seu funcionamento e o modo sistemáticos que era produzida a sua programação.

Um fato curioso em relação à gravação das propagandas que intercalava a programação da rádio Clube é que até o final da década de 1940, era realizada no próprio

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“Lenço Preto”. Todas moças que ele via até briga elas fazia pra ser sua namorada. “Lenço Preto” não ligava, e a vida ele levava sem saber o que era amor. Mas, um dia de tardinha, por uma linda moreninha seu coração se apaixonou. Então se disse como quem ama:

_ Como te chamas? Tu quer ser minha mulher?

_ Eu sou a Rosa! (Ela responde). Sou filha do Zé Marconde e sua serei se você quiser.

Depois teve o namoro. E quando foi no casamento, a capela tava cheia de gente. Na hora do casamento o padre muito alegre disse:

_ Quem souber alguma coisa que fale agora ou cale para sempre.

Quando todo mundo tava preparando para os negócios da aliança entra uma pessoa correndo e no ouvido do padre ele falou alguma coisa que o padre amarelou. E o padre continuou:

_ Meus irmãos!

O padre falou assim solenemente

_ Um momento! Tá suspenso o casamento. Isso é duro eu bem sei, mas é contra a nossa lei se casar irmão com irmão.

Alguém foi lá e falou que os dois eram irmãos. Porque a Rosinha separou-se do irmão. O irmão foi doado para outra família de origem pobre, foi criado sozinho, depois quis o destino que os dois se encontraram. É a versão camponesa de Romeu e Julieta. Só que o Romeu e Julieta, os dois não eram irmãos, e esses dois eram de fato. Então continuou a declamação do poema dele, depois aconteceu o seguinte. Os dois se amavam tanto. _ Quando foi no outro dia, todo mundo já sabia, o que na cidade acontecia. Encontraram os dois defunto e um bilhete assim dizia: Vice nóis não poder se casar, resorvemos morrer juntos.

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estúdio através de um gravador de fio, uma tecnologia anterior à fita cassete que conhecemos atualmente. Para esta época, ouvir a própria voz sair de um desses gravadores despertava a atenção das pessoas. Sílvio Medeiros conta sua experiência com este gravador.

Eles gravaram lá, naquele tempo era gravador de fio, gravador grande, gravador de fio. Não era nem de fita, gravador de fio. Gravador alemão. Eles gravaram minha locução. Eu ouvi minha voz pela primeira vez fiquei emocionado. Naquele tempo não tinha a tecnologia de hoje, de você ouvir sua voz. Maravilha.